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23/12/2016

Feliz Natal

Ana Nunes - Os Reis Magos





Desejamos a todos vocês um Natal muito feliz, rico de carinho, de encontros, de saúde, e que 2017 nos seja leve.

Agradecemos a todos os nossos leitores e aos nossos autores pelo carinho durante este ano. Agora o blog entra de férias para voltar logo depois do Ano Novo.

Um grande abraço. 
Mano e Ana.

22/12/2016

Então... É Natal!





Dulce Regina

Faltam poucos dias para a grande festa da Esperança, dia 25 de dezembro!
O dia em que o Menino Deus nasceu. O dia em que Jesus Cristo, Deus de Deus e Luz da Luz tornou-se homem.

Mt 1,25 – “Maria deu a luz a um filho. E José deu a ele o nome de Jesus”
Vivemos um tempo de esperança, de alegria e de festa, porque o Filho de Deus está entre nós.
Para todos os cristãos é motivo de muita Graça, pois com o nascimento de Jesus, veio a salvação da humanidade. Deus Se Fez Homem.
Mt 2, 11 – “Quando os Reis Magos viram o Menino Deus com Maria, sua mãe, ajoelharam-se diante Dele e renderam-lhe homenagens, ofertando-O: mirra, ouro e incenso”
Assim deve ser, nesse dia, a nossa homenagem. Devemos abrir nosso coração e louvar à Deus com agradecimentos, orações e gratidão. Deixo, para esse momento, um canto gregoriano que nos ajuda a entrar no clima de oração e louvor.
Natal não é uma festa de papai Noel. Natal é o nascimento de Jesus Cristo nosso Deus e Senhor. Nossa atitude de presentear o nosso irmão, amigo ou parente é dizer: “Jesus esteja em seu coração, e através deste presente eu também quero ser presente em sua vida.”
Natal é festa, motivo de alegria ao redor da mesa, numa celebração de comunhão em uma ceia repleta de Amor e União. Nesse espirito natalino deixo uma mensagem do Papa Francisco, mostrando o que é o Natal. E os meus votos de uma Noite Abençoada.
O Natal costuma ser sempre uma ruidosa festa; entretanto, faz-se necessário o silêncio, para que se consiga ouvir a voz do Amor.
Natal é você quando se dispõe, todos os dias, a renascer e deixar que Deus penetre em sua alma.
O pinheiro de Natal é você quando, com sua força, resiste aos ventos e dificuldades da vida.
Você é a decoração de Natal quando suas virtudes são cores que enfeitam sua vida.
Você é o sino de Natal quando chama, congrega e reúne.
A luz de Natal é você quando, com uma vida de bondade, paciência, alegria e generosidade, consegue ser luz a iluminar o caminho dos outros.
Você é o anjo do Natal quando consegue entoar e cantar sua mensagem de paz, justiça e de amor.
A estrela-guia do Natal é você quando consegue levar alguém, ao encontro do Senhor.
Você será os Reis Magos quando conseguir dar, de presente, o melhor de si, indistintamente, a todos.
A música de Natal é você quando consegue, também, sua harmonia interior.
O presente de Natal é você quando consegue comportar-se como verdadeiro amigo e irmão de qualquer ser humano.
O cartão de Natal é você quando a bondade está escrita no gesto de amor, de suas mãos.
Você será os “votos de Feliz Natal” quando perdoar, restabelecendo, de novo, a paz, mesmo a custo de seu próprio sacrifício.
A ceia de Natal é você quando sacia de pão e esperança qualquer carente ao seu lado.
Você é a noite de Natal quando consciente, humilde, longe de ruídos e de grandes celebrações, em silêncio, recebe o Salvador do Mundo.
Um Feliz Natal a todos que procuram assemelhar-se


(Papa Francisco)

21/12/2016

Big Data Analógico

imagem: www.furysmile.com



Heraldo Palmeira

Sou um homem urbano e, como tal, padeço das vaidades urbanas. Vivo numa das maiores cidades do mundo, onde tudo tem – do melhor e do pior. Ambiente mais do que preparado para a “tecnologização” do mundo e da vida, como se isso fosse normal e inevitável.

Passei a vida inteira aprendendo a desenvolver o afeto e, exatamente quando a velhice já namora comigo, estou sendo obrigado a conviver com a desafeição coletiva. Afinal, gente moderna, tecnológica, autossuficiente pensa que não precisa das antiguidades humanas.

Vamos vivendo assim, sendo treinados para acreditar nessas verdades absolutas, nos mantras que nos chegam de pedaços mais desenvolvidos do mundo como se fossem padrões. O Vale do Silício foi transformado no novo Éden que gera milionários do nada. Uma Terra Santa onde poucos podem viver, mas de onde brotam os novos mandamentos que deverão guiar a humanidade pelos próximos segundos.

Algo como se as Tábuas de Moisés fossem decompostas em bilhões de telas azuladas espalhadas pela terra prometida aos devotos digitais, que acreditam piamente que todo mundo tem acesso a todas as informações disponíveis. Um pensamento distorcido que se forma no isolamento de quartos e mundos resumidos a teclados, monitores e redes sociais.

Nestes tempos tecnológicos e de comunicação digital, chegamos ao ponto de alguns bares e restaurantes oferecerem desconto na conta, se o grupo desligar suas bugigangas eletrônicas. De repente, gente menos disposta a seguir como rebanho cunhou um novo ditado popular: “A melhor rede social ainda é uma mesa de amigos”.

Comece a pensar se não vale a pena apostar menos no desconto puro e simples por desligar uma quinquilharia digital num boteco, e mais nos dividendos das boas relações fraternas que permitem estar ao lado de pessoas que valem a pena. Afinal, o tempo voa, a vida é curta e a gente pode não ter a próxima oportunidade de estar numa boa roda de amigos sendo apenas gente.

Dia destes, li por aí que “deixar apenas o tempo passar é um risco, pois ele não usa anestesia”. Portanto, faça alguma coisa comum de grande valor, não se acanhe de ser chamado de antiquado, de se emocionar à toa, de dizer palavras doces. Aproveite seu tempo enquanto é tempo.

Veja nestes vídeos abaixo (basta clicar nos links) que ainda há pessoas que não sabem direito quem é Papai Noel, mas nem por isso são infelizes ou menores. Pessoas tão grandes que, mesmo sem ter quase nada, dividem com alegria o essencial que recebem de forma inesperada:

Coca-Cola no Piauí

Adidas e Fundação Benfica em Porto Mosquito (Cabo Verde)

Lembre-se: “O Natal é uma atitude”. Tome a sua, como se fosse seu presente.

Feliz Natal para todos nós. E que essas cenas nos ajudem a acreditar nos nossos melhores sonhos para o ano-novo. Afinal, mesmo que as cenas do mundo nos informem que ele sempre será desigual, a gente sabe que tudo pode ser muito melhor. Com carinho,

Heraldo Palmeira
São Paulo (SP), Natal de 2016



20/12/2016

A Mística do Parentesco

Antonio Parreiras - A Bênção das Bandeiras na Revolução de 1817


Antonio Rocha

Costumo dizer, vez por outra, em uma conversa informal, que cem anos antes da Revolução Russa, um tataravô da Heloisa proclamou a República lá no meu querido Recife, no episódio conhecido como “Revolução Pernambucana de 1817”.

É fato histórico. E o título acima é uma obra em oito volumes que tem como subtítulo “Uma genealogia inacabada – Domingos Pires Ferreira e sua descendência”, publicação da Marques e Marigo Editora com o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, o autor chama-se Edgardo Pires Ferreira, meu cunhado.

O primeiro volume é dedicado a Pernambuco, o segundo ao Piauí e ao Rio de Janeiro, o terceiro divide-se em dois tomos: a) Piauí e Maranhão e b) Piauí, Maranhão e Rio de Janeiro; o quarto volume trata do Piauí, Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo; o quinto fala dos “entrelaçamentos com os Castello Branco e o sexto, volta novamente a Pernambuco.

Até agora, são mais de vinte e cinco mil nomes. O primeiro volume foi lançado em 1987 e contou com apreciações de Antonio Houaiss, Afonso Arinos de Melo Franco, Barbosa Lima Sobrinho, João Cabral de Melo Neto, Américo Jacobina Lacombe, Francisco de Assis Barbosa e José Antonio Gonsalves de Mello.

A pesquisa vem desde 1725 chegando aos nossos dias.

Edgardo é sociólogo formado no Rio e em Paris, com estudos de pós-graduação em Museologia, Arqueologia e Zooarqueologia, investigações essas feitas em Jerusalém e EUA. Durante duas décadas fez pesquisas para a CNRS da França em Israel e no Irã e depois, através da Universidade de Michigan realizou pesquisas no México, Peru e Equador.

Ele conta como começou os primeiros passos nesta obra:

“Em março de 1961, falecia no Rio de Janeiro, meu avô, Fernando Pires Ferreira Filho, aos 87 anos. Deixou-me em herança seus manuscritos, anotações de família feitas ao longo de sua vida. Em outubro de 1962 fui estudar em Paris e deixei esse papelório em casa de meus pais em Santa Teresa no Rio de Janeiro.

Quase vinte anos mais tarde, estando eu no Equador, sou convidado para um jantar na casa do Poeta-embaixador João Cabral de Melo Neto. Eis que de repente Sua Excelência comenta minhas origens pernambucanas, o grande republicano Gervásio Pires Ferreira, sua glória e seus feitos. Qual não é sua surpresa e creio até irritação, ao perceber minha ignorância.

De sua residência em Quito, saí envergonhado, com o livro de Francisco Muniz Tavares sobre a “História da Revolução de Pernambuco em 1817”, debaixo do braço.

Voltando ao Brasil encontrei os empoeirados manuscritos à minha espera, e com eles decidi empreender esta tarefa e redimir minha ignorância. Caro João Cabral, muito obrigado.”

Até agora, são mais de duas mil páginas impressas e Edgardo afirma: “O autor agradece de antemão o envio de qualquer informação complementar que será devidamente incluída numa próxima edição”.

E atualmente é mais fácil, com o site indicado abaixo.

Independente do valor científico, acadêmico, no campo da Historiografia, Geografia e Arqueologia, tem umas notas curiosas. Por exemplo.

Belo dia o escritor Paulo Rangel, irmão do teatrólogo Flávio Rangel, falecidos, ambos colaboradores do semanário Pasquim, que marcou época na imprensa brasileira me telefona e diz:

“Pesquisei o livro do teu cunhado, o Edgardo, somos primos em oitavo grau”. E então fomos almoçar comemorando o parentesco.

Uma outra senhora da família Clark, habitante do aprazível bairro de Santa Teresa, portanto vizinha, que por acaso  pertence também à PL – Perfeita Liberdade, telefona e avisa que é prima da Heloisa e as duas ficaram felizes da vida !

Não existe acaso nem coincidência, o psicanalista Carl Gustav Jung chama de Sincronicidade.



19/12/2016

Os Doces da Consoada

fotografia Moacir Pimentel



Moacir Pimentel

Ah, a doçaria lusitana. Aquele buffet de doces da foto foi elaborado para a chegada de um sobrinho, mulher e filho de Dubai, onde  trabalham fugindo da tal da crise. Mais comuns nas mesas portuguesas na época natalina, os doces foram feitos em casa segundo receitas familiares, à exceção da rosca de nozes em primeiro plano. Não, não são rabanadas as delícias nas taças de vidro. À esquerda e mergulhadas em calda estão as filhoses de abóbora - receita de uma cunhada - e à direita, recheados de doce de leite, se encontram os sonhos - receita da minha saudosa sogra. Note à direita a presença de um saboroso e cremoso queijinho da Serra.
Na noite de Natal que na t'rrinha é chamada de Consoada, depois do "fiel amigo" dos portugueses - o bacalhau de primeira! - cozido em postas com legumes variados e servido com um molho levemente picante feito com azeite e alho e cebola e pimenta... ai jizuzzzzzz!... vai rolar um número bem maior de sobremesas: pudim, rabanadas, formigos, aletria, lampreia de ovos, pão de ló inteiro e escangalhado, bolo rei e de amêndoas e... o leite-creme!
Na família portuguesa da minha vida o leite-creme é feito no dia 24 mas só é servido no almoço do dia 25 depois da roupa-velha, um prato típico do Norte que feito com os restos do bacalhau e dos legumes sobreviventes da Consoada. Tenho um afeto muito grande por esse creme que provei pela primeira vez no Natal de 1985, feito pelos pais da minha mulher.
Sim, nesta casa portuguesa os homens participam da elaboração do prato. Após o cozimento o leite-creme é colocado em travessas e coberto por açúcar e então é preciso queimá-lo para que adquira uma cor dourada. Usa-se para tanto uns ferros antigos feitos sob encomenda com desenhos diversos que moram numa parede do sótão e que, é claro, antes precisam ser limpos e desenferrujados pelos machos do clã.
Depois que os doces esfriam, os ferros são esquentados na lareira e, em brasa, com eles vão sendo queimadas as sobremesas nas travessas. Mas só no dia seguinte o doce é liberado para consumo, com o açúcar queimado já derretido e o creme nadando nele. Antigamente a queimada do açúcar era tarefa do meu sogro. Hoje passou a ser do meu cunhado.
Eu gosto mesmo não é nem do doce. É do cheiro do fumo que sobe dos ferros em contato com o açúcar. Do cheiro do Minho! Da fumaça  subindo e perfumando a casa de caramelo, misturada com outros aromas tão bons: lenha, chouriços e presunto da Serra, castanhas, bacalhau sendo demolhado, alho e cebolas sendo picados para as vinhas d'alho e molhos e  vinho do Porto usado para temperar outros pratos da Consoada.

Acho que jamais passou pelas cabeças dos tugas usar um desses maçaricos modernosos. Sem os ferros e seus arabescos de estimação enfeitando a guloseima, o leite- creme não seria o deles, famoso e disputado por todos os membros de uma família cada vez maior.


18/12/2016

Crônicas de Viagem = Cecília Meireles

Cecília Meireles (imagem Wikimedia)



Antonio Rocha

Sempre que leio os ótimos relatos de viagens do Moacir Pimentel, aqui neste blog maravilhoso, eu lembro das “Crônicas de Viagem” de Cecília Meireles, em três volumes, publicadas pela Editora Nova Fronteira, em 1999. Compiladas por Leodegário A. de Azevedo Filho (1927-2011), foi professor da UFRJ.

Ao todo, oitocentas e setenta páginas com um belo conteúdo, muitas dessas crônicas publicadas em diversos órgãos da imprensa, desde a década de 1950.

O primeiro volume apresenta sessenta e sete artigos falando de cidades diversas brasileiras e também de Bariloche, Montevidéo, Buenos Aires, Lisboa, Senegal, França, Estados Unidos.

O volume dois nos remete a Itália, Holanda, Índia. Um de seus poemas dedicados ao Mahatma Gandhi foi traduzido para vários idiomas da Índia e ela recebeu o título de “Doutora Honoris Causa” pela Universidade de Delhi, a antiga capital daquele país.

Diga-se de passagem que a professora Cecília Meireles foi a primeira no Brasil, anos 1930, a lecionar na então Universidade do Distrito Federal, hoje UFRJ: Literaturas Asiáticas, Literaturas Orientais, na então Faculdade de Letras.

Uma boa pesquisa é, no âmbito da Literatura Comparada, estudar os seus livros: “Poemas Escritos na Índia” com as “Crônicas de Viagem” em suas longas caminhadas pelas poeirentas estradas daquela multimilenar Nação. Cecília fez a pé os trechos da Caminhada de Buda até a cidade de Bodhigaya, quando obteve o Estado de Iluminação, de Santidade. Semelhante ao que muitos fazem na Europa: “O Caminho de São Tiago de Compostela”.

Uma vez, quando o Moacir Pimentel escrevia aqui sobre suas experiências na Índia, nas Grutas de Ajanta e Elora, eu parecia ver também nossa poeta mor Cecília Meireles caminhando por lá e visitando as câmaras dessas grutas repletas de imagens de Buda e outros seres do Hinduísmo.

No volume três ela nos fala de Israel, da Caminhada por onde Jesus andou. Textos realmente magníficos.

Vejamos dois parágrafos da abertura, no volume um:

“A arte de viajar é uma arte de admirar, uma arte de amar. É ir em peregrinação, participando intensamente de coisas, de fatos, de vidas, com as quais nos correspondemos desde sempre e para sempre. É estar constantemente emocionado – e nem sempre alegre, mas ao contrário, muitas vezes triste, de um sofrimento sem fim, porque a solidariedade humana custa, a cada um de nós, algum profundo despedaçamento”.

“(...) E o viajante apenas inclina a cabeça nas mãos, na sua janela, para entender dentro de si o que é sonho e o que é verdade. E todos os dias são dias novos e antigos, e todas as ruas são de hoje e da eternidade: e o viajante imóvel é uma pessoa sem data e sem nome, na qual repercutem todos os nomes e datas que clamam por amor, compreensão, ressurreição”.

A citada editora também publicou, ao longo daqueles anos as “Crônicas de Educação”, em cinco volumes.

Cecília Meireles (1901-1964). Peço licença ao Wilson, editor deste blog magnífico e aos leitores, mas irei voltar mais vezes, a falar desta grande mulher.

Agora, em bom momento, a Editora Global, republica estes três tomos “Crônicas de Viagem”, encaixando-os em belo estojo de papelão.

O seu espólio literário não está totalmente publicado, ainda repousam em caixas na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, três volumes com estudos sobre “Folclore”; mais dois tomos sobre “Tipos Humanos e Personalidades” e outros de que, oportunamente falarei com muita satisfação.



17/12/2016

O Comedor de Barro

fotografia Moacir Pimentel



Moacir Pimentel

Não foi tarefa fácil chegar na Oficina Francisco Brennand há poucos dias atrás, numa segunda-feira nublada. Além do trânsito neurótico eu precisei driblar a agenda, mas, estando na cidade dos arrecifes e, o que é mais grave, lendo e escrevendo sobre o artista, valeu a pena. Testemunhar mais uma vez a sua imensa obra era preciso. Eu não poderia “conversar” a respeito de Brennand sem ter estado na Várzea, e tido um novo diálogo com as esculturas e telas do artista.

A obra de Francisco Brennand ultrapassa a biografia do criador, sobre a qual já conversamos, e continua sendo definida por sua insaciável curiosidade e por suas inquietudes intelectual, filosófica e literária. Não é tarefa fácil tentar “traduzir” a vera “floresta escura” de símbolos das suas realizações como escultor e pintor.
Aliás é preciso atravessar alguns quilômetros - se não de floresta pelo menos de Mata Atlântica - por uma estradinha de barro castigada pelas chuvas para chegar ao santuário do artista. Nessa trilha enlameada, no entanto, ele não se perdeu, não tomou o “caminho errado” uma das metáforas usadas por Dante no primeiro Canto do Inferno, naquele terceto que deve ser dos mais conhecidos da literatura ocidental...

“Da nossa vida, em meio da jornada,
 Achei-me numa selva tenebrosa,
 Tendo perdido a verdadeira estrada”

Aos quarenta e quatro anos, exatamente na metade da idade que hoje tem, em 1971, de volta às ruínas da antiga olaria, Francisco Brennand reencontrou o seu menino e, desde então, segue no caminho certo.


fotografia Moacir Pimentel

“Confesso que eu mesmo comi barro, como toda criança. Não existe o provérbio do amarelinho comedor de barro?”


Quando escuto falar sobre a fantástica obra de escultura de Francisco Brennand, via de regra deparo-me com dois grandes equívocos: que ela teria cores regionais e que seria erótica.
Tais esculturas são nordestinas na origem sim: o barro pernambucano. Mas as ideias e temas que as originam vão muito além do regionalismo e até mesmo da nacionalidade.
Há artistas que não cabem na sua obra, transbordam-na, por mais obras que façam e caminhos que inventem como, por exemplo, Pablo Picasso, que dizia que os seus quadros eram o seu diário e que passeou por todos os ismos, indo e vindo, sempre experimentando como bem entendeu, absolutamente indiferente ao que dele dizia a crítica.
O pernambucano Francisco Brennand também não cabe nos rótulos que lhe inventam nem no que faz, por mais que o faça e olha que não tem feito pouca coisa, em diversas linguagens: a da cerâmica, a da escultura, a da pintura, a do desenho e até mesmo a da arquitetura, na transformação que operou na antiga fábrica de cerâmica da família, tornando-a um museu para a sua arte

A primeira escultura nascida do cinzel do pernambucano - então com 19 anos! - foi concluída em 1946 e chama-se A Cabeça de Deborah. Trata-se de um perfil da então namorada e futura esposa do jovem artista, a poetisa Deborah Moura Vasconcelos, que o jovem Brennand conhecera nas bancas escolares do Colégio Oswaldo Cruz e para quem também ilustrava os versos, publicados no jornal literário do colégio, dirigido pelo amigo Ariano Suassuna.
O rapaz chegou a ter aulas de escultura com Abelardo da Hora e de pintura no atelier do pintor Murillo la Greca, mas foi o pintor Cícero Dias que, maravilhado com o talento promissor do aluno, convenceu-o a se aperfeiçoar na França.
Sabemos que em 1947 Brennand ganhou o primeiro prêmio no Salão de Arte do Museu de Pernambuco, com essa escultura e que bisou o feito, em 1948, com uma pintura, de nome A segunda Visão da Terra Santa, inspirada pela beleza das terras do antigo engenho São João. No ano seguinte, o talentoso artista casou-se com a linda poetisa e juntos mudaram-se para Paris.




Corre a lenda que formavam um casal de rara beleza, ela miúda e delicada ele imponente do alto de seu um metro e oitenta e sete centímetros.

Ao chegar na Europa, Brennand estava convicto de que o seu destino era a “grande arte”, a pintura a óleo sobre tela e a escultura em mármore. E então, de saída, percebeu que não era bem assim - logo na primeira exposição que visitou em Paris, deu de cara com nada menos do que oitenta obras cerâmicas de Pablo Picasso.

Picasso - Cerâmicas



Podemos afirmar que ali, diante do barro transformado em arte sublime, enquanto Brennand contemplava aquelas cerâmicas feitas por Picasso em Vallauris, no sul da França, foi selado o seu destino. Em seguida Brennand estudou as viagens por paragens cerâmicas realizadas por Chagall, Matisse, Braque, Gauguin e, muito principalmente, Miró. E, é claro, ele foi muito marcado pelas experiências surpreendentes de Jean-Michel Rolon, ao visitar a Capela de Saint-Paul de Vence, onde se enamorou pelas admiráveis obras modernas projetadas pelo artista belga, durante trinta anos, pelas paredes e tetos de uma construção de vários séculos de idade.

Brennand chegou a voltar ao Brasil mas já em 1952 decidiu aprofundar-se nas técnicas da cerâmica, fazendo um estágio em uma fábrica de cerâmicas majólicas, a faiança italiana do Renascimento, na cidade de Deruta, na província de Perúgia, na bela Itália. Durante esse estágio, Brennand iniciou suas experiências com o uso dos seus famosos esmaltes cerâmicos e queimas sucessivas da peça, em temperaturas variadas. A cada entrada da peça no forno, é aplicada uma camada diferente de esmalte grosso, o que dá à superfície uma grande variedade de cores e texturas.
Antes da temporada italiana, é preciso registrar que, em 1950, Brennand resolveu ver de perto o trabalho de Antonio Gaudí. De queixo caído diante da Casa Batló, em Barcelona, segundo suas próprias palavras, Brennand perguntou ao motorista do táxi que o apresentava à cidade:

“Que diabo é ISSO?”

“ÀQUILO” seguiram-se a Sagrada Família e o Parque Guell,

imagem barcelona-city-travel.com


e todas aquelas formas curvilíneas, coloridas e estranhas, os dragões, os azulejos fragmentados em mil pedaços, o ferro forjado e a cerâmica onipresente.

Como se diz em Pernambuco: “Danou-se!”

Brennand resume melhor do que eu a narrativa basca:

“Dois fantasmas me acompanham nesta vida: o de meu pai e o de Gaudí.”

Mas também é evidente, no trabalho do pernambucano, a influência das pinceladas de Matisse e a presença de Gauguin, cujos quadros chegam a “inibir” Brennand. Ele e Gauguin têm ainda em comum a opção pela solidão criativa. Ambos se isolaram do mundo, como reclusos, Paul nos mares do Sul e Francisco à beira do Rio Capibaribe em meio à natureza luxuriante.

Brennand - Adão (fotografia Moacir Pimentel)


Sob a sua batuta as ruínas da antiga olaria ganharam um quê transcendental desde que foram tomadas de assalto por uma legião de estranhas figuras nascidas dos fornos do artista mas que parecem fugitivas de templos pagãos, não se sabe se egípcios, babilônicos ou gregos.
As esculturas que nos recebem naquelas paragens não são deuses, são criaturas nunca vistas antes, que possuem traços em comum com as gentes, a flora e os animais, porque emergiram do inconsciente profundo do artista, dos seus labirintos de tantas entradas e saídas, de suas fantasias, de seus sonhos e pesadelos, de desejo, de culpa e de medo.

fotografia Moacir Pimentel



Se passou pela cabeça para lá de criativa de Brennand erguer para si mesmo algo parecido com uma catedral, então ele imaginou-a como uma ode ao mistério, uma sinfonia às “estranhezas”, aquelas que são belas por serem terrivelmente verdadeiras.

Acontece que Brennand tem essa coisa chamada talento. E sucede que o talento é só uma potencialidade. Para ser concretude, para se tornar efetivo, o talento depende do dono, da formação e das opções intelectuais, ideológicas e estéticas de quem o possui.
Na arte desse homem, nascido de uma família tradicional que dos canaviais chegou à fabricação urbana de cerâmica, ressoam os ecos aristocráticos dessa herança que ele renega nas figuras inusitadas que inventa e que certamente horrorizariam a seus antepassados.

fotografia Moacir Pimentel


Talvez um poema da lavra de Brennand chamado Feliz Desaniversário nos ajude a perceber o sentido dessa inscrição com a qual nos deparamos de cara, logo que chegamos à alameda que conduz à Oficina:

“Oh, o horror... o horror!...
Tudo embola no extravio
Do pecado.
Como quem esqueceu os trapos de uma branca
Túnica que nos cobriu
Na saída dos dourados portões do paraíso.
Nada escapará
Desse oráculo contrariado:
Nenhum só dos homens,
Nenhum só dos anjos,
Nem mesmo os deuses que se afastam
Em silêncio”

Não, não nos apressemos ao julgar o conjunto de figuras infelizes de Brennand como se fosse um filme de terror habitado por mortos-vivos. O artista é só um “oráculo”, torcendo para ser contrariado. Há lirismo na história que ali nos é narrada, na qual, é claro, encaramos a vida e a morte, Eros e Tanatos. Como dizia o poeta Charles Baudelaire, frequentemente citado por Brennand nas suas entrevistas:

“Um dos maravilhosos privilégios da arte é que a expressão de horror e dor pelo artista, se rítmica e cadenciada, enche de calmo júbilo o espírito.”

O fato do artista continuar criando aos oitenta e nove anos os quadros de uma exposição que fará no próximo mês de dezembro, nos indica que aconteça o que acontecer o sol continuará nascendo no leste. Brennand, ao olhar para o presente e tentar materializá-lo, enxerga todas as coisas: as passadas e as futuras. Talvez por isso planeje revestir com sua bela cerâmica o frontispício da velha fábrica do pai e nela - de um jeito que nos surpreenderá! - personificar a Velha Senhora ao lado dos versos de Salvatore Quasímodo:

“Cada um está só sobre o coração da terra
 traspassado por um raio de sol:
 e de súbito anoitece”.

Ora, já que os homens - entre eles os artistas - se inventam de acordo com suas possibilidades e necessidades, concluímos que se Francisco Brennand, mesmo sendo quem é, tivesse tomado outros rumos diversos dos que escolheu, seria um artista diferente daquele que hoje conhecemos, há mais de quarenta anos sonhando no silêncio de seu refúgio.

Enquanto Brennand tiver saúde, a Oficina continuará um trabalho sem final, pois cada peça soma e se integra às anteriores potencializando a força e o sentido de cada uma e do conjunto onde a natureza também faz arte. Aquele espaço é o projeto de vida do seu dono e a sua única ambição é continuar, aos poucos, a invadi-lo mais e mais com suas obras, descendo pela relva afora como as suas serpentes, até à beira do rio Capibaribe, que corta a propriedade.

fotografia Moacir Pimentel


Confessadamente ignorante de todas as religiões a não ser a católica, Brennand escolheu o arco e flecha de Oxóssi como marca da sua Oficina, como vimos na foto da “porteira” de entrada.
Muitos insistem que essa escolha de um símbolo do Candomblé seria um prova inconteste da “brasilidade do artista”. No entanto, Brennand escolheu a imagem pela verticalidade, para contrastar com a orientação arquitetônica da Oficina que, ao contrário, é horizontal. As setas apontam hoje para o céu por todos os lados da Várzea, porque têm um sentido vertical, que Brennand identifica com a tensão e a virilidade, o sentido da vida e do crescimento. Ao saber através de um amigo que Oxóssi é um orixá caçador, à procura pelas florestas da vida da caça que antemão sabe que nunca encontrará, o artista filosofou:
“Essa caça não é o anseio desesperado do ser humano em busca da verdade, da beleza e até do Absoluto? Então eu verifico o quanto minha visão havia se identificado com as intenções obscuras existentes nessa “marca”, contida geometricamente no interior de um triângulo equilátero, uma forma perfeita e de alta espiritualidade, pois sendo uma forma fechada é símbolo de conclusão”.

O fato é que nas últimas três décadas, a cada vez que chego naquela Várzea, a encontro mudada. Foi assim com o Jardim de Burle Marx - de dois mil metros quadrados - plantado em 1992 e mais tarde com a Accademia, que foi erguida em 2003 veneziana na origem e serena nas linhas, no local onde antes o barro era armazenado. Nela se encontram a pintura e o desenho de Brennand, seus papéis e telas, que antes ele não tinha onde expor na Oficina.

fotografia Moacir Pimentel


Do nada também surgiu, em seguida, o Templo do Sacrifício, uma denúncia à morte das culturas e civilizações antigas latino-americanas. Neste novo espaço figuras gêmeas enfileiradas sobre as paredes laterais são os “sacrificados” enquanto que no centro da instalação e atrás de grades, moram o azteca Montezuma e o inca Atahualpa, tão sofridos e contidos que parecem ecoar aquele grito icônico de Edvard Munch.

As diversas linguagens do artista estão presentes em todas as esquinas: no Auditório Villa Lobos onde são dadas palestras, no monumento de nome Teorema, no imenso Estádio onde são realizados eventos, nos mínimos detalhes do Café - onde até a mais simples das sobremesas pernambucanas, a cartola que mistura a banana, o queijo de coalho, o açúcar e a canela é feita por quem faz da cozinha outra arte - e da Loja onde é comercializada a cerâmica utilitária e decorativa de grande beleza, que leva a marca da Oficina.

Algo de místico está presente também, no Anfiteatro cuja mandala central desenhada no maravilhoso piso é rodeada por degraus que nos fazem pensar nos velhos banhos romanos.

fotografia Moacir Pimentel
 Isolado do mundo nessas paragens, saindo muito raramente da propriedade no volante de carangos de maioridades conquistadas, foi envelhecendo o criador de “estórias” sempre a trabalhar mergulhado no silêncio do seu espaço, criando novas esculturas e pinturas - bem distintas das produzidas por ele em outras décadas - para misturá-las com as máquinas antigas, por exemplo...

fotografia Moacir Pimentel


Com as pedras mós de remotos engenhos, os tijolos carcomidos pelo tempo, os antigos fornos convertidos em pequenos santuários ou capelas e até com aquele triturador de argilas que hoje se chama, do lado externo, a Cúpula Azul...
No principal pátio adjacente à Oficina o artista criou um conjunto que tem a magia de locais sagrados muitíssimo antigos, no qual misturou lagos, totens, colunas, deusas, pássaros, batráquios e santos, entre altos muros inteiramente revestidos em cerâmica e uma arquitetura híbrida e meio delirante à qual não falta sequer o arco romântico. O impacto é indizível.

fotografia Moacir Pimentel


Diz o artista:

“As ruínas balizaram tudo. As ideias me chegavam à medida que o trabalho de restauração progredia. Por isso o lugar é uma Oficina, palavra originada de ofício, querendo dizer lugar de trabalho e evitando o francesismo ateliê”.

O ofício de Brennand pode até parecer glamoroso para os menos atentos mas, ao contrário, a Oficina é o retrato de um trabalho árduo e solitário. Nos onze primeiros anos de reclusão voluntária, o artista confessa que ali foi visitado por uma única criatura: o pai. Pudera! Há quarenta anos os muitos quilômetros da estradinha ainda hoje de barro que serpenteia pela mata até a propriedade dos Santos Cosme e Damião, debaixo de chuva deveriam ser intransitáveis.

Talvez a obra de Brennand também tivesse sido outra se esse pai fosse diferente, menos presente na vida do filho. E parece que estamos diante de um paradoxo. Pois se a arte deste homem tem por alicerces - além, é claro, da sua personalidade inquieta e criativa - as ruínas da olaria onde passou a infância, então não tivesse ele sido o filho de um usineiro que, por acaso, também era um fabricante de cerâmica, não teria sido capaz de construir o seu próprio mundo da lua e de desenvolver todas as suas promessas artísticas.
Estamos escrevendo em círculos nos quais o Universo parece ter conspirado para juntar as pontas soltas do talento deste artista. Mais do que uma olaria em ruínas, o pai deu ao filho o seu irrestrito apoio e asas para que pudesse voar, como se pode constatar por esta carta:

“Recife, Engenho São João, 1978
Francisco,
Você, o arqueólogo que desenterrou peças de milenares feitios, e deu às mesmas o seu caráter pessoal, no poderoso cadinho do seu cérebro criador,
Você, que teve a inspiração de conservar inteiro, ora escondido, ora bem visível, o erotismo, que não morre, enquanto existir o homem sobre a terra,
Você, que transformou num templo de artes plásticas essas velhas e desmanteladas ruínas de uma antiga olaria, hoje, um verdadeiro e inigualável museu,
Agora, em Camocim de São Félix, esse pequeno paraíso, de belíssima paisagem, onde impera o silêncio, tão propício para a criatividade,
Você, volta a pintar. E que pintura! A meu ver, a melhor que tem saído da sua paleta. Pintura cheia de força, de maravilhoso colorido. Não sendo eu um expert, tenho a sensibilidade para sentir o que verdadeiramente é belo (...)”

Sem um pai desse tamanho talvez Francisco Brennand fosse sim um dos grandes PIBs pernambucanos, jogando tinta nas telas nas mornas horas vagas entre suas atividades empresariais. Nos intervalos dedicados a bocejar um hobby na atmosfera tropical brasileira, com o gosto da terra vermelha de mata, com o tom do mormaço das praias e com as cores suculentas e quentes dos mares, das flora e fauna do Recife.
Brennand, em vez, o fruto inevitável dessa história pessoal e familiar mas somado ao resultado de sua capacidade criadora e de uma personalidade forte e original, tornou-se um grande artista. Por isso, hoje quase nonagenário, o último dos herdeiros da falida aristocracia canavieira pernambucana está ainda “comendo barro”, sozinho, “sequestrado” por sua arte, ocupado em povoar até a ribeirinha o mundo onírico que inventou para lhe servir de santuário...

fotografia Moacir Pimentel



16/12/2016

O Zen e a Delação Premiada

Logotipo da Polícia de Tóquio (Wikimedia)



Antonio Rocha

Ele é brasileiro, carioca, nascido e criado na Zona Sul, beira da praia de Copacabana; não vou citar o nome, pois ele não gosta de badalação.

Formado em Engenharia pela UFRJ, belo dia encantou-se pelo Zen-Budismo, no início da década de 1970, fez iniciação com um monge japonês que estava no Rio, fez as malas e foi para o Japão. Mora lá até hoje. Fala, lê, escreve e traduz fluentemente o japonês para o português e o inglês.

A característica do Budismo Japonês é que os monges podem casar, ter suas profissões e famílias. Ele casou com uma japonesa, tem três filhas, hoje, na casa dos trinta anos.

Nos anos 1990 houve uma crise econômica no Brasil e muitos brasileiros foram tentar a vida no Japão. Muitos deram certo, prosperaram, outros não, tiveram de voltar. Infelizmente alguns brasileiros que ficaram desempregados lá, enveredaram pela criminalidade, tráfico de drogas, violências e a famosa máfia Yakuza.

Uma vez, matando as saudades e passeando pelo Rio ele me contou que era um dos capelães da Polícia de Tóquio e uma de suas funções era atender / encaminhar / aconselhar / etc. os delinqüentes brasileiros.

Então contou que certa feita prenderam um meliante carioca. A alegação do rapaz é que mal entendia inglês e não falava nada de japonês. Depoimento praticamente nulo. Nisso chega o nosso amigo, com a característica roupa dos monges Zen, que em outra sala estava ouvindo tudo.

E em bom carioquês disse para o jovem:

- Aí xará, também sou brasileiro, nascido e criado na Praia de Copacabana, conheço toda a malandragem daquelas bandas ...

Surpreso o prisioneiro questiona:

- Mas... mas osenhor não é monge?

- Sim, sou monge budista, mas também sou um dos capelães da Polícia de Tóquio, com muito orgulho.

- Não contava com essa! – exclamou o indivíduo.

- Portanto, olha só, é bom você responder tudo o que o pessoal te perguntar e eu vou acompanhar todo o teu processo, te visitar na prisão, logo meu chapa, conte tudo o que sabe.

Por essas e outras atividades, a Polícia de Tóquio respeita muito o “monge brasileiro”.

O tema me fez lembrar que, vez por outra, as TVs no Brasil mostram que no Mosteiro Zen-Budista de Ibiraçu, no Espírito Santo, faz parte do curso de formação da Polícia Militar, treinamento em meditação. Os policiais fazem um retiro espiritual. Acordam de madrugada como os monges, cumprem todos os rituais e horários e no final elogiam muito.

A polícia no Japão utiliza essas técnicas de autocontrole da mente, desenvolvidas pelo Budismo, e em outros países idem. Até a NASA, no treinamento dos candidatos a astronautas utiliza a meditação budista, que não tem nada de religião, é Ciência.

Uma outra do nosso amigo monge é, quando ainda morava no Rio e trabalhava em uma empresa de engenharia os colegas lhe fizeram um desafio:

- Se você mexe com essa história de poder da mente, aqui está um volante da Loteria Esportiva, concentra e marca aí, que dividimos o prêmio.

Ao longo do dia ele, aos poucos, à medida que vinha a intuição, marcava o volante e, no final do expediente o “boy” da firma foi na casa lotérica fazer o jogo. Nessa época eram treze jogos, não sei como é hoje, só se ganhava com os treze pontos. Ele acertou doze, não ganharam nada e ele deduziu: “É uma lição pra mim, o Zen não é para essas coisas materiais”.