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Antonio
Rocha
Da
mesma forma que a minha amiga fazia a “taxiterapia” que escrevi aqui em outra
crônica, com o tempo fui percebendo que os motoristas de táxi também fazem a
“passageiroterapia” que acabei de inventar.
Isso
percebi porque ando muito de táxi, e cada vez mais. Explico:
Em
2009 tive uma grande percepção, um insight. Cheguei à feliz conclusão de que
não queria mais dirigir carro. Dirigi durante trinta anos e estava com outras
prioridades na vida.
Um
colega do trabalho me disse:
- Você devia dirigir mal e porcamente !
- Não, ao contrário –
respondi – Sempre dirigi muito bem
excelentemente, mas agora cansei, larguei essa vida.
Sempre
fui um motorista do tipo “caxias” para estacionar, estacionava certinho,
bonitinho; não parava em fila dupla, não avançava sinal vermelho, inclusive nas
madrugadas (minha mulher e minha filha reclamavam) mas o compromisso com a Lei
era maior.
Nunca
provoquei acidentes e as duas vezes que bati foi no primeiro mês de carteira de
habilitação, em 1978; a primeira em uma rua vazia, consegui quebrar o farol do
nosso fuskinha no muro e depois, prendi o meu pára-choque no pára-choque do
vizinho, outro fuskinha.
A
percepção citada coloquei em prática em 2010. Minha filha já morava no exterior.
Conversei com a esposa e falei-lhe da minha decisão: se ela quisesse continuar
com o carro tudo bem (nessa época era um Gol), mas eu estava encerrando minha
brilhante carreira de motorista B.
Ela
também não queria e resolvemos doar o veículo para uma instituição de caridade
idônea. Para a venda e documentação, colocamos um valor simbólico.
A
síndica do prédio onde moramos exclamou: “Vocês
vão lá, na semana que vem buscar o carro de volta, não consigo entender como,
depois de ter carro, a pessoa se desfaz do carro, assim...”
Não
foi só ela que não entendeu, foram muitos amigos e conhecidos que, eu percebia,
sentiam-se incomodados com o nosso “desapego”.
E,
confesso-lhes, feliz da vida, cada vez mais felicíssimo por não ter carro. Uma
das coisas mais saudáveis que já fiz na vida. Andar despreocupado sem ter
problemas de estacionar, do pardal eletrônico, da multa, do engarrafamento. É
uma libertação!
Respeito
os que gostam e tem automóveis. Sou um democrata!
Quando
às vezes, como já aconteceu, em bancos ou em promoções de supermercados tem
sorteios de automóveis, eu passo longe e se me oferecem, polidamente agradeço:
- Graças a Deus, não, obrigado.
- Mas se o sr. não quer o carro, quando ganhar
vende!
- Obrigado, desejo-lhe boa sorte com o próximo
cliente. Almejo que você consiga realizar o negócio.
E
assim, desde 2010, ando de táxi diariamente. Fui compreendendo então que
passageiros e motoristas revezam-se nas terapias. Nas próximas crônicas vou
lhes contar algumas histórias interessantes, na qualidade de passageiro,
usuário.
Tem
histórias antes e depois do Uber, o calcanhar de Aquiles de taxistas
inconsolados, eu sempre reflito: “Há espaço para todos. O mercado não é
específico de ninguém. A vida é feita de mudanças. Gostemos ou não, o melhor é
aceitá-las com maturidade”.
Olá Antônio,
ResponderExcluirSenti inveja (boa, se é que existe) da sua libertação. Um dia chego lá e vou ser muito feliz. Mas por enquanto adoro o gosto da liberdade que sinto no meu pequeno carro. Me sinto a dona do mundo...até ter que enfrentar o engarrafamento das horas de pique ou tentar estacionar quando estou com pressa!
Também gosto de andar de ônibus, posso olhar as ruas eas casas e as pessoas com calma, e minha alma de pobre fica em festa. Claro, sei que seria diferente se fosse meu único meio de transporte.
Por enquanto vale muito poder escolher, carro, taxi, ônibus, andar a pé, ou chutar e balde e ficar em casa!
Esperando as suas taxiterapias de usuário!
1)Obrigado Ana.
ResponderExcluir2)Na sua listagem de veículos, estou treinando "levitar", já pensou que maravilha ... deslocar-se de um lado para o outro com o poder da mente.
3) Ainda não consegui, estou só treinando.
Se conseguir, me ensine,por favor!
ExcluirCaro Rocha,
ResponderExcluirQuando fui motorista de táxi - faz sete anos que me aposentei -, conheci várias pessoas que fizeram os cálculos de quanto custava um carro na garagem, e decidiram vendê-lo para andar de táxi, pois era muito mais em conta!
Sem financiamento, IPVA, multas, riscos de acidente, conservação, manutenção, garagem, combustível, ter um veículo é dispendioso, ainda mais para aqueles que não o utilizam profissionalmente, ou seja, o carro é só para passeio.
No frigir dos ovos essas pessoas têm razão.
Se considerarmos apenas a paz de espírito que não ter um carro e suas preocupações inatas ocasionam, o lucro é muito grande, praticamente incalculável.
Afora a comodidade de se ir a festas, bailes, bares, restaurantes, ingerir bebida alcoólica mesmo que "socialmente", e torcer para não ser flagrado em algum bafômetro!
Por enquanto conservo o meu "tomate", um golzinho 1.0 vermelho, que me leva à capital para exames e me transporta para supermercados e farmácias ao longo do mês.
Tanto estou em perfeitas condições de dirigir - reflexos, técnica, domínio do carro, conhecimentos excelentes sobre mecânica, Física, lembro que o carro é matéria, e meus limites -, como ainda me sinto bem sentado no assento do motorista.
No entanto, eu já disse para mim mesmo que não mais renovarei a Carteira de Habilitação, que vence em 2020, quando completo 70 anos, dentro de mil dias, aproximadamente.
E não terei falta de dirigir, pois me desapego facilmente daquilo que entendo não ser mais útil ou que não esteja mais sob o meu comando, as minhas determinações.
Acho que, nesta idade, depois dos 70, passarei a ser um motorista inseguro, sem os reflexos de hoje, obrigando que as demais condutores cuidem de mim, diante das vacilações perceptíveis no trânsito que deverei ocasionar, principalmente a lentidão.
Valeu, Antônio. Os teus relatos como passageiro de táxi corroboram os meus na condição de motorista, quando eu os conduzia pelas ruas de Porto Alegre.
Um abraço.
Saúde e Paz!
1) Concordo plenamente com vc Chicão.
Excluir2)Eu tinha virado "domingueiro" há bastante tempo. O carro ficava parado.
3) Além disso, em páginas de Economia, li em dois jornais diferentes que andar de táxi no Rio de Janeiro é mais barato do que manter um automóvel. Então fiz minha bela opção.
4) Cada vez mais, por onde ando, ouço pessoas dizendo que, ou se libertaram do carro ou estão em vias de.
A vida é mesmo feita de mudanças, Antonio. Esquecer e lembrar, lembrar e esquecer é uma delas.
ResponderExcluirSe eu digo, parece inverossímil. Mas hoje o Boechat, no seu Café com Jornal, contou que primeiro esqueceu o prêmio recebido recentemente. Não lembro em qual lugar, sei que alguém achou.
Depois perdeu as meias, era de manhã bem cedo. Partiu uma maçã em quatro, que também perdeu, para encontrá-la fatiada dentro do sapato que levava para devolver. Também não me lembro pra onde. Ah, e na porta de casa encontrou dois táxis.
Acontece mais do que se imagina.
Bom é que Boechat levita no bom humor.
Mas, sabe, Antonio? Eu preciso me desapegar disto aqui. Quando vejo, olha eu chegando sem querer para botar as letrinhas no meio.
1) Pois é Ofélia, sou muito apegado à minha "computadora" como escrevem os espanhóis.
Excluir2) Tenho outros apegos ...
3) Continuo com a minha habilitação em dia, pois é um documento, mas estou felicíssimo com a minha desapegada decisão.
Você tem outros apegos? Também tenho. Quem não os têm?
ResponderExcluirEu, por exemplo, me sinto 'garrada aqui', por mais que faça força pra sair. Vou e volto, volto e vou.
Hoje fiquei feliz. Minha cabeça não está tão ruim assim.
Que bom. Vou até dormir melhor. Bem, nesse sentido, dormir, nada é garantido.
Mas estou aliviada. Deus meu, se estou.
Abraço
Ofelia
PS: Do carro ainda não consegui me desapegar. Posso usar menos. Desapego total ainda não. Eu chego lá.