O Constellation da Panair Bandeirante Domingos Jorge Velho no Museu da TAM - fotografia Wilson Baptista Junior |
Wilson Baptista Junior
Voei pela
primeira vez com dezesseis anos de idade.
Num
Constellation da Panair. Talvez o avião comercial mais bonito que já foi
fabricado. Foi de Belo Horizonte para o Rio. Os Constellation estavam sendo
retirados das linhas internacionais, onde estavam sendo substituídos pelos
primeiros jatos de passageiros e passados para as linhas internas. Naquele
tempo os aviões tinham nomes – cada um deles tinha o nome de um bandeirante. Não
me lembro mais do nome daquele, já faz tanto tempo. Quatro motores radiais a
gasolina, cada um com dezoito cilindros arranjados em duas estrelas. Um rugido
impressionante que já não se ouve mais, substituído pelo assovio rouco das
turbinas.
O voo não
foi lá muito auspicioso. Depois da maravilha da decolagem por cima de Belo Horizonte e da Serra do Curral pegamos uma
tempestade por quase o caminho todo, o avião não podia voar mais baixo do que
ela e a viagem era curta demais para voar acima dela. Passei uma parte dele
agarrado àquele saquinho que encontramos no encosto das cadeiras à nossa
frente. Mas o mal estar não foi bastante para amortecer uma paixão que tinha
começado de pequeno, com os aviões de madeira que meu pai fazia para eu
brincar, e que depois continuou nos aeromodelos que eu construía e fazia voar.
Foi uma
tripla primeira vez: meu primeiro voo, a primeira vez que vi o mar, o primeiro
campeonato brasileiro em que atirei. Uma festa, para o garoto que
eu era.
Depois
desse voo voei minha vida inteira. Cinquenta e cinco anos de voos mais ou menos
frequentes. Voei em todos os tipos de aviões de carreira que operaram no Brasil
desde aquela época, com exceção do Bandeirante, e mais alguns diferentes lá
fora. Voei em planador de alta performance, um dos voos mais lindos que se pode
fazer, em teco-teco, em helicóptero, em jatinhos. Houve épocas em minha vida
profissional em que eu voava quatro a seis vezes por semana. Houve vezes em que
vim à nossa casa apenas para trocar de mala. Meus amigos brincavam que eu
acordava de manhã e consultava minha agenda para saber onde eu estava.
E, como
acaba acontecendo com todo o mundo que voa um bocado, tive também meus sustos.
Turbulências fortes. Tempestades em aviões grandes e aviões menores. Falhas
mecânicas. Fumaça dentro de um avião. Aterrissagens de emergência.
Despressurizações, as máscaras de oxigênio caindo e aquele alvoroço geral. Uma
porta que explodiu uma vez. Perder uma turbina em cima da floresta amazônica e
voar seis horas torcendo para que a outra não pifasse também.
Mas
sempre tive a confiança de que se acontecesse alguma coisa de ruim seria porque
não tinha mesmo jeito, porque o fio da minha vida, que vinha sendo fiado, tinha
sido medido e afinal cortado pelas três irmãs. Sempre acreditei que voar era,
quilômetro por quilômetro, passageiro por passageiro, o transporte mais seguro
que existia. Para isso precisava ter, e tinha, confiança em muita gente. Porque
cada voo que a gente faz significa confiar no trabalho de uma quantidade enorme
de pessoas. Os que projetaram e construíram o avião (é bom voar em aviões que
um de meus filhos ajudou a fazer). O pessoal que faz a manutenção da aeronave e
dos motores (é bom pensar que eles usam ferramentas que meu outro filho ajudou a fazer). Os técnicos que verificaram a qualidade do combustível. Os pilotos e
a tripulação que nos levam. Os despachantes que revisaram e registraram o plano
de voo. O pessoal que abasteceu o avião na pista. Os controladores de voo que
acompanham todos os aviões segundo a segundo. Os pilotos dos outros aviões que
estão no ar perto do nosso. Os meteorologistas que acompanham e transmitem aos
controladores e às tripulações as condições de tempo pelo caminho. As nossas vidas guardadas nas mãos de cada um deles.
E de
repente sou surpreendido pela notícia de que um avião, um bom avião, com mais
de setenta pessoas a bordo caiu e matou quase todo o mundo a bordo porque o piloto,
dono da empresa aérea, para baixar um pouco os custos e aumentar o lucro da
empresa resolveu fazer um voo no extremo limite da capacidade de combustível do
avião sem parar para reabastecer. Pior, que o piloto já tinha feito isso três
ou quatro vezes nos últimos meses. Confiando na sorte. Quando todo bom jogador sabe o quanto a sorte é volúvel. E nesse dia a sorte
acabou junto com o combustível. E um time inteiro de futebol com seus jogadores e sua comissão técnica, um
punhado de jornalistas e uma tripulação que tinham confiado no piloto morreram
por causa da aposta irresponsável dele.
Que,
aliás, morreu junto, vítima também da sua decisão. E que talvez tivesse o
direito de arriscar a sua vida e o avião que era dele, mas nunca, em hipótese alguma, o de arriscar assim a vida dos passageiros que depositaram nele a sua
confiança.
O piloto
não traiu apenas a confiança dos que caíram. Traiu a minha, a sua e de todos os
milhões de pessoas do mundo que viajam de avião. Que quando entrarem agora num
avião não terão mais, talvez durante muito tempo, a mesma esperança de que
todas aquelas centenas ou milhares de pessoas fizeram o melhor trabalho que
sabiam e podiam fazer para que o voo chegasse bem ao seu destino.
Não vai
mais ser a mesma coisa.
Mano Wilson, bom dia.
ResponderExcluirJá não era a mesma coisa desde que o alemão (era alemão?) trancou a porta da cabine e decidiu suicidar todos os que estavam com ele no voo.
Houve uma inversão de valores. O transporte considerado mais seguro, a se levar em conta as estatísticas até então, foi contaminado pela mão humana. Trouxe para bordo a pior insegurança possível, a que vem da cabeça e das decisões das gentes.
Santos Dumont jamais poderia prever tal coisa, ainda que ele mesmo tenha se matado. Mas matou-se sozinho. Não espetacularizou a cena de horror.
Tristes tempos o que vivemos, em todas as direções.
Abç
Ofelia
Bom dia, Ofélia!
ResponderExcluirSim, já tinha havido o suicídio do maluco austríaco, como o dos terroristas com os aviões do onze de setembro. Mas estes foram assassinatos deliberados, uns com finalidades terroristas, outro por desequilíbrio do piloto. Coisas a que nós todos, nestes tempos malucos, sempre estamos sujeitos. Mas a minha confiança era no trabalho, na dedicação, na responsabilidade desses milhares e milhares de pessoas que cooperam para que possamos subir a bordo dos aviões pensando não num desastre mas na beleza do voo e no que faremos após a chegada. E de repente uma delas falha tão estupidamente. Todas as mortes são mortes, todos os acidentes são terríveis, mas este foi, sei lá, tão desnecessário, tão simplesmente evitável, tão idiota, por uma motivação tão rasteira que chocou minha confiança muito mais do que os outros.
Um abraço do
Mano
Mas não menos maluca, Mano. Botar a própria vida na roleta russa não é coisa de quem é são.
ResponderExcluirAliás, o que é a sanidade?
Ontem à noite, por acaso, assisti a um filme sobre a Dra. Nise da Silveira, a psiquiatra do Museu do Inconsciente, que entrevistei há muito enquanto um gato passeava sobre a mesa da sala em que conversávamos.
A loucura manifesta não é perigosa. É como o ataque de um felino, previsível para os domadores, enquanto o ataque do urso não se distingue antes porque ele não retesa um músculo sequer. A loucura não manifesta, a que não se exterioriza, é o X da questão.
Esse último piloto sofria de um tipo de loucura não manifesta. Ninguém são arrisca a própria vida por alguns litros de combustível. Em terra, talvez.
Costuma-se dizer que nossa parte mais sensível é o bolso. A mais sensível não, fortemente sensível. A mais sensível é a cabeça, diretamente ligada às emoções, que uns controlam mais e outros menos.
A loucura manifesta é triste de ver. A loucura não manifesta é triste de sofrer.
Ser frio é a solução? Não é. Onde entra o humano há riscos.
Como dizia meu pai, onde mora o homem mora o perigo. Alguma dúvida?
Em um futuro não muito distante os aviões voarão sozinhos, acho. E ainda assim estaremos inseguros. Cem por cento das decisões nas mãos das máquinas também causa desconforto.
Eu me estendi, talvez motivada pelo filme sobre a Dra. Nise que vi ontem. Desculpa.
Até
Ofelia
Olá, Wilson. Muito triste mesmo perder a confiança. Estamos vivendo numa época onde tudo acontece. O transporte aéreo é seguro, confio nele. O ser humano é que está se perdendo numa atitude egoísta, onde existe somente o EU, os outros que se dane. Falta respeito, compreenção, solidariedade sempre. Assim como morreram essas pessoas, num desastre horrível, onde predominou a ganância , morrem milhares de crianças por falta de alimentos, pessoas morrendo na fila de hospitais, por negligência médica, por balas perdidas, jovens envolvidos com drogas cujo fim todos nós sabemos qual é. Triste, muito triste. Ainda mais nessa época. Vamos viajar de avião no final do mês, e entrego todas as minhas orações para aqueles que você mencionou como células mater para um vôo tranquilo. Sempre fiz isso. Aproveito para desejar muitas bênçãos de Deus nesse dia dedicado às famílias. Que Nossa Senhora da Imaculada Conceição proteja e dê forças e coragem a todos. Abraços, Dulce
ResponderExcluir1) "Voe sempre pela PanAir do Brasil": era a publicidade nas emissoras de rádio que eu ouvia qdo criança. Ainda hoje, cumprimento ou me despeço das pessoas usando o slogan acima.
ResponderExcluir2) Eu penso, Mano, que o transporte aéreo continua seguro.
3) O que, infelizmente aconteceu, foi uma queima de "carma coletivo". O irresponsável piloto foi a triste chance para a queima desse carma coletivo.
4) Yama, o Deus da Morte, no Budismo, assim diz... é uma falange de espíritos que cuida dessa parte.
5) Abraços.
Você me assusta, Antonio, com essa falange de espíritos, com carma coletivo.
ExcluirEu não gosto de viajar com freiras, elas que me perdoem. Tampouco com padres. Sei lá, cisma.
Abç
Ofelia
Antonio, eu continuo achando que o voo é seguro. Mais seguro do que os outros meios de transporte. E, claro, vou continuar a gostar de voar. A minha perda de confiança é mais a tristeza de ver essa confiança traída por uma irresponsabilidade tão desnecessária, tão evitável.
ExcluirE a "queima de carma" me lembra aquela velha história, alguém diz ao outro: "Eu não tenho medo de voar, ninguém morre antes da hora", e o outro responde, "é, mas e se for a hora do piloto?"
Um abraço do
Mano
1) Ofélia, respeitosamente sugiro não termos medo de nada. Cada um tem a sua hora e a equipe de Yama, às vezes, combina para que a volta seja coletiva.
Excluir2)Desculpem, não quero assustar ninguém, mas essa "conversa" de carma coletivo ou não, informa Yama é matemática...
3)Wilson, vc é engenheiro, conhece as matemáticas bem melhor do que eu.
4) Os sobreviventes do voo da Lâmia explicam essa "Matemática Divina".
5) Bom fim de semana a todos.
Antonio, então a equipe de Yama é como as três moiras dos gregos, as três irmãs, Clotho, Lachesis e Atropos; a primeira fia o fio de nossas vidas, a segunda o mede, e, quando chega na medida certa, a terceira o corta. Só que a equipe de Yama parece que é mais eficiente, às vezes agrupa os fios para fazer um corte só...
ExcluirNão adianta ter medo, Antonio, eu sei, todos sabem. Mas a gente tem, nem que o medo seja breve.
ExcluirTive uma amiga que cansava de me chamar para ir à Ilha Grande. Eu não ia. Aquele marzão besta todo à minha frente me angustiava.
Sabe o que ela me dizia? "Não tenho medo de nada. Sou como a minha mãe. Se acontecer alguma coisa, na hora a gente vê o que faz."
Viveu e morreu assim. Acho que foi feliz.
Abç, Antonio
Ofelia
PS: E não me assuste com a sua matemática. Não entendi nada, estou muitos degraus abaixo do seu conhecimento.
Realmente, parece que o trágico voo da Lamia terminou em pane seca, e no último morro antes da cabeceira da pista.
ResponderExcluirTambém considero o voo de Planador, o mais lindo de todos, ( Mão no fio pé no vazio), o assovio do vento, a tremura na ponta de uma asa quando sentimos o efeito de uma corrente de ar ascendente... a busca por nossos Mestres do voo planado, os Urubus...
Prezada Sra. OFÉLIA,
Apenas lembrando que nosso "Maior dos Pais da Aviação" (Único que trabalhou e ganhou prêmios com o Mais leve que o Ar ( Dirigíveis), e com o mais pesado que o ar ( Aviões ), ALBERTO SANTOS-DUMONT, tirou sua própria Vida com 60 e poucos anos, porque desde os 40 anos era portador de uma doença no cérebro progressiva e sem cura na época, que começou por interferir no equilíbrio/visão espacial e o impediu de pilotar bem antes de seu falecimento.
Abração a TODOS(AS) desse espaço especial da Internet.
Bortolotto, é sempre muito bom te ver por aqui. Obrigado pelo comentário. O voo de planador é uma comunhão com o ar. Você percebeu, claro, que a minha perda de confiança é retórica, é mais para uma expressão de tristeza por ver alguma coisa, de certa maneira, conspurcada pela estupidez humana.
ExcluirUm abraço do
Mano
Sim, entendi perfeitamente. Mas escrevestes muito bem, e nunca é demais lembrar que na Aviação, especialmente na Comercial, devemos rigorosamente cumprir os Regulamentos.
ExcluirLeio sempre esse espaço excelente, embora comente pouco. Parabéns pelo excelente Espaço Oasis neste mundão da Internet.
Abrs.
Salve Bortolotto! Que bom ver você por aqui!
ResponderExcluirAmei sua informação. Ninguém nunca me disse nem eu li sobre os motivos que levaram SDumont ao suicídio.
Era uma paixão, não é, Bortolotto? Por que continuar vivo longe dela?
Você é minha enciclopédia, amigo.
Sabe o nome da doença?
E se eu puder pedir um favor, dá para aposentar o Prezada Sra.?
Eu não tenho essa cara. Tá, sei que todo mundo você chama assim. Mas eu não vou chamar você de Prezado Bortolotto, ok?, rsrs.
Obrigada mesmo.
Abç
Ofelia
Estimada Sra. OFÉLIA,
ExcluirSANTOS-DUMONT +- aos 40 anos começou a sentir os sintomas de Esclerose Múltipla, o que o impediu de voar. +- 22 anos depois essa doença incurável e progressiva indiretamente o levou a morte.
Logo, todos estavam voando, mas quem abriu o caminho tanto nos Dirigíveis, como no voo Mecânico, o que foi o mais COMPLETO de Todos, foi aquele a quem o grande Ás da Aviação de Caça Inglesa Ten-Brigadeiro RAF, Sir PETER WYKEHAM em seu excelente Livro: " SANTOS-DUMONT a Study in Obsession", chama com muita justiça de: " O coração de Leão Brasileiro ALBERTO SANTOS-DUMONT, " O MAIOR DOS PAIS DA AVIAÇÃO". Abrs.
Ih, o texto sumiu.
ExcluirEu havia dito a você que intuí que a doença seria esclerose múltipla.
Lá atrás, bem lá atrás, entrevistei uma senhora portadora da doença. Ela sentia desequilíbrio e dificuldade para andar.
Suspiro...
Eu era jovem e não tinha noção do que essa doença representava.
Ainda hoje não tem cura.
Obrigada, Bortolotto. Você sempre foi muito gentil comigo.
Bom dia pra você.
Abç
Ofelia
Caríssimo amigo Wilson,
ResponderExcluirExcelente o título que deste para teu interessante artigo sobre a confiança perdida.
E não se aplica tão somente aos voos, naturalmente, mas em qualquer área do transporte que conduz pessoas.
Não sei se andas de ônibus agora, mas no passado quantas viagens fizeste que o motorista abusou da velocidade, foi descortês ou agressivo no trânsito?
E quantas vezes andaste de táxi com o coração na mão?
O problema das pessoas que têm esta responsabilidade, de cuidar de vidas alheias é a sua onipotência, ou seja, “eu resolvo tudo”, “eu sei o que faço”, “não admito que me dizem o que devo ou não fazer”.
Resultado:
Tragédias como esta que vitimou 71 pessoas e o time da Chapecoense!
Com exceção do avião, várias vezes impedi que o ônibus ou o táxi seguissem comigo pela forma absurda como dirigiam seus “bólidos”.
Certa feita cheguei a colocar em ponto morto a palanca de câmbio de um coletivo, até o motorista parar e deixar o assento!
Eu e alguns passageiros chamamos a polícia, claro, e até a empresa para denunciar o irresponsável.
Enfim, falta educação, preparo técnico, consciência profissional, e responsabilidade quanto às vidas que se leva.
Penso que esses motoristas de transporte coletivo, incluindo táxi, que seria um transporte individual, mas público, deveriam ter cursos a cada semestre a respeito da importância de se sentar no assento de motorista ou piloto, e estar sobre o seu comando dezenas de vidas alheias, que basta qualquer descuido ou negligência para que desapareçam quase que instantaneamente!
Eu te parabenizo o tema escolhido porque de certa forma complementa aquele que escrevi sobre a vida ser uma tragédia, que foi muito criticado pelo meu pessimismo ou coisa que o valha.
Pensei até em dar uma folga no blog, Wilson, por “fadiga de material”, isto é, até eu reformular alguns conceitos. No entanto, o tema que abordaste complementa aquele por mim registrado, então o meu comentário te elogiando a oportunidade do texto escrito.
Um forte abraço.
Saúde e Paz!
Caro Chico,
ExcluirAndo de ônibus, sim, ainda que menos do que antes. Ando também de táxi, em geral prefiro deixar nosso carro na garagem porque para a maioria dos destinos dentro de Belo Horizonte não se consegue mais estacionar.
Uma vez, aí pelos dezessete anos, tive um acidente muito sério, viajando de ônibus, mas não foi culpa do motorista, um pneu da frente furou do lado de fora de uma curva, pneu novinho, era a primeira viagem de um ônibus da Scania, e voamos barranco a baixo. Graças a Deus saí quase inteiro, eu viajava na cadeira junto à porta de entrada, naquele tempo não havia a separação que há hoje da cabine do motorista, eu estava quase ao lado dele e vi o esforço que ele fez para evitar o desastre. Mas o pneu saiu do aro, e aí você sabe que ninguém segura. O ônibus acabou se espatifando na parede do depósito de tijolos de uma olaria.
Aliás, o motorista, que ficou gravemente ferido pelo volante batendo no peito, deu um exemplo de corajosa responsabilidade recusando-se a ser transportado enquanto todos os passageiros não tivessem sido socorridos. Tempos depois tive a alegria de saber, por colegas dele, que ele se recuperou e voltou à profissão.
Depois disso, até hoje não consigo relaxar e dormir numa viagem de ônibus rodoviário, e as evito sempre que possível.
Mas já testemunhei, sim, muita irresponsabilidade de motoristas de ônibus e de táxi. Inclusive, no caso dos ônibus urbanos, comprometendo gravemente a segurança dos passageiros que viajam em pé. E falta de treinamento, por aqui estamos tendo uma quantidade de acidentes com os ônibus biarticulados do BRT, porque os motoristas ainda não se acostumaram com o tamanho e peso dos bichos.
Mas um pouco da culpa é das empresas de ônibus, urbanas e rodoviárias, que muitas vezes fazem os motoristas trabalhar mais do que seria prudente, dobrando horário ou tendo que completar um número excessivo de viagens no dia. E quanto aos motoristas de táxi muitas vezes são permissionários correndo para completar a diária que devem pagar aos donos dos táxis antes de poderem retirar algum dinheiro para suas despesas. Você que viveu no meio sabe disso melhor do que eu.
Então também acho, como você, que os motoristas de transporte público deveriam ser melhor e mais frequentemente treinados. E acho também que deveríamos ter penalidades severas para as empresas e os donos de táxis que os alugam para outros para assegurar que as condições de trabalho dos funcionários e permissionários sejam mais humanas.
No fundo, no fundo, Chico, tudo acaba se resumindo ao velho problema de querer ganhar o máximo gastando o mínimo...
E não me venha com essa conversa de tirar folga do blog e fadiga do material, que esse blog precisa de você tanto como autor como comentarista! Nem sempre as pessoas concordam com a gente, e isso é saudável para nós todos.
Um abraço do
Mano