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Dulce Regina
Nas minhas meditações já pelo Tempo do
Advento, estão vindo à minha memória várias lembranças deixadas por minha mãe.
São muitos ensinamentos. Alguns valorizados só depois de adulta e mãe, às vezes
me pegava falando com meus filhos, igual ela falava conosco. Guardei muitas
frases e citações que eram ditas por ela no dia-a-dia:
"Um lugar para cada coisa, cada coisa em seu lugar", para que mantivéssemos a casa em ordem;
"Quem em sua casa está em paz, boa romaria faz", quando queríamos ficar na casa das amigas;
"Sabe que está errando, mas continua metendo o chifre na
parede", referindo-se às cabras que enfiam o
chifre na parede;
"Em uma discussão, coloque um copo d'água na boca", para que evitássemos mais confronto;
“Acorda prá cuspir", quando tínhamos preguiça para levantar.
E por aí vai...
Ela nos revelou o amor pela natureza, as
flores, a lua, o pôr do sol, as borboletas e... as Rosas!
Ah!!!
As rosas...
Ela se encantava nos jardins de rosas.
Nunca soube a razão de sua preferência por rosas e, conversando com minha irmã
mais velha, descobri o porquê. Desde pequena, nos idos de 1890, mamãe
freqüentava a casa de seu padrinho, grande amigo de meu avô e fazendeiro de
plantações de café em Campo Grande-
região agrícola daquela época. Em 1910, ele adquiriu uma grande área no “Império
do Maringá”, atual região da Praça Seca. Nela construiu, primeiro, uma casa
simples e cultivava roseiras, cujas rosas eram destinadas ao mercado das
flores. Imagino mamãe, pequena, passeando pelos jardins floridos e perfumados.
Em 1940, ele ampliou sua casa, construindo
um torreão, conhecido pelo nome de "castelinho". O casamento de mamãe
foi realizado nessa casa. Nessa década não existiam clubes na região. As
reuniões sociais e esportivas eram realizadas em algumas residências e a casa
do Sr. Filgueiras era uma delas. Possuía uma excelente quadra de tênis. Nas
reuniões sociais havia muitos saraus, serestas e declamações de poesias com
artistas moradores locais. Entre eles, Jacó do Bandolim, pai do compositor Sérgio
Bittencourt, cuja mãe, Adília, era muito amiga de mamãe. E o português Mattos
(que tocava guitarra muito bem).
Assim, mamãe, entre rosas e canções,
cresceu, passou sua juventude, casou e levou, ao longo de sua vida, várias
amizades. Mamãe nos falava muito de Chiquinha Gonzaga, Catulo da Paixão
Cearense, Nelson Gonçalves, Vicente Celestino, Carmem Miranda, entre outros.
Lembro-me dos versos de "Flor Amorosa", que ela tanto cantava:
Flor amorosa,compassiva,sensitiva,vem porque
É uma rosa orgulhosa,presunçosa, tão vaidosa
pois olha a rosa tem prazer em ser beijada, é flor, é flor
Oh, dei-te um beijo, mas perdoa, foi à toa, meu amor
Em uma taça perfumada de coral
Um beijo dar não vejo mal
É um sinal de que por ti me apaixonei
Talvez em sonhos foi que te beijei
E os versos do "Luar do Sertão",
também de Catulo. Esses eram muito repetidos:
Ah, que saudade
Do luar da minha terra
Lá na serra branquejando
Folhas secas pelo chão
Este luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade
Do luar lá do sertão
Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão
Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão
Por fim, deixo o amor pelo violão, que
tanto a encantava, em uma canção do famoso violonista Dilermano
Reis, ilustrado com lindas rosas...
Sei que você pensa e sente exatamente o que escreveu sobre sua mãe. É bom ter saudades e lembranças das pessoas queridas, presentes e que partiram.
ResponderExcluirVocê me conhece bem e sabe todos os meus pensamentos e nessas datas em familia, cada detalhe, vem sempre acompanhado de boas lembranças . Que nós dois possamos ainda, por muitos anos, reunir a familia ao redor da mesa para partilhar o Pão da Vida, que é o Amor, que é Jesus. Beijos
ExcluirQue lindo ! Tudo que ela amava...
ResponderExcluirOi caçulinha. É lindo mesmo....e nós continuamos amando. Beijos
ExcluirNão sei o que é melhor: as rosas ou a doce lembrança... Encantada doce Dulce
ResponderExcluirDulce, um belo e sentido tributo a sua mãe.
ResponderExcluirUm abraço do
Mano
Belas e saudosas lembranças de uma filha. Suaves pensamentos nesses tempos agitados de antes do Natal.
ResponderExcluirFelicidades.
Monica querida, obrigada pelo carinho. Garanto a você que tudo é maravilhoso, doces e eternas lembranças. /////////// Wilson, fiquei feliz pela crônica ter saído hoje, pois a exatos 12 anos mamãe se encantou e deixou-nos sua presença marcante de uma mulher forte, guerreira e muito feliz com seus nove filhos, genros, noras, netos e muitos bisnetos. Noventa e sete anos lúcida, independente nas suas tarefas e locomoção. Foi e É um exemplo de Vida. Obrigada ! ////// Ana, você acertou ao dizer " suaves pensamentos " . Foi isso mesmo que mamãe deixou de herança para todos nós, sempre otimista e de bem com a vida. Uma pessoa iluminada ! Obrigada querida, pelo seu carinho. Abraços fraternos para vocês. Dulce Regina
ExcluirRosas, Terê e Borboletas.....tudo a ver com vc, Mãe.
ResponderExcluirOi meu filho, fico e sou muito feliz e grata pela familia que tenho. Você é especial e amoroso. Que bom que serei lembrada por essas maravilhas. Beijos para os três filhos, noras e netos, através de você. Mamy
Excluir1) Parabéns Dulce, belo texto. Significativa mensagem do Advento.
ResponderExcluir2) Minha mãe tb falava: "Boa Romaria faz, quem em sua casa fica em paz".
3)Escreva-nos mais. Gostei da parte antiga de Jacarepaguá (Praça Seca) e Campo Grande.
Oi Antônio. Se você se interessar em saber mais sobre Jacarepaguá , veja o livro " O Vale do Marangá " de Waldemar Costa. Na segunda edição, mamãe contribuiu com mais detalhes e fotos para o livro, o nome dela está lá Maria José Carvalho dos Santos. As fotos do " castelinho " ela quem forneceu, ali estão : seu Filgueiras, sua esposa - madrinha de mamãe , que nós chamávamos de Dindinha - minha madrinha Maria Emília, o barão e baronesa da Taquara. É bem interessante ver como aquela região modificou-se. Abraços e obrigada pelo comentário. Dulce
ExcluirPrezadíssima Sra. DULCE REGINA,
ResponderExcluirParabéns pela belíssima crônica lembrando sua ilustre Mãe, as Rosas e a sabedoria condensada em belos Provérbios de Sabedoria.
Eu também, nesta época de Advento ao Natal, lembro-me de minha Mãe que faleceu aos 88, que nesta época enfeitava enorme pinheirinho, com um presépio de porcelana em baixo no canto da sala de estar, das bolachas de Natal, da expectativa dos presentes, da Magia do Natal e sua Ceia com toda a família.
Olá Flávio. Bom ver gente nova entrando na conversa é muito bom partilhar nossas alegrias, principalmente nesse período do Advento até chegarmos ao grande dia da Esperança celebrado pelo nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Realmente, o Natal é mágico ! Abraços, Dulce
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