Cecília Meireles (imagem Wikimedia) |
Antonio
Rocha
Sempre
que leio os ótimos relatos de viagens do Moacir Pimentel, aqui neste blog
maravilhoso, eu lembro das “Crônicas de Viagem” de Cecília Meireles, em três
volumes, publicadas pela Editora Nova Fronteira, em 1999. Compiladas por
Leodegário A. de Azevedo Filho (1927-2011), foi professor da UFRJ.
Ao
todo, oitocentas e setenta páginas com um belo conteúdo, muitas dessas crônicas
publicadas em diversos órgãos da imprensa, desde a década de 1950.
O
primeiro volume apresenta sessenta e sete artigos falando de cidades diversas
brasileiras e também de Bariloche, Montevidéo, Buenos Aires, Lisboa, Senegal,
França, Estados Unidos.
O
volume dois nos remete a Itália, Holanda, Índia. Um de seus poemas dedicados ao
Mahatma Gandhi foi traduzido para vários idiomas da Índia e ela recebeu o
título de “Doutora Honoris Causa” pela Universidade de Delhi, a antiga capital
daquele país.
Diga-se
de passagem que a professora Cecília Meireles foi a primeira no Brasil, anos 1930, a lecionar na então
Universidade do Distrito Federal, hoje UFRJ: Literaturas Asiáticas, Literaturas
Orientais, na então Faculdade de Letras.
Uma
boa pesquisa é, no âmbito da Literatura Comparada, estudar os seus livros:
“Poemas Escritos na Índia” com as “Crônicas de Viagem” em suas longas
caminhadas pelas poeirentas estradas daquela multimilenar Nação. Cecília fez a
pé os trechos da Caminhada de Buda até a cidade de Bodhigaya, quando obteve o
Estado de Iluminação, de Santidade. Semelhante ao que muitos fazem na Europa:
“O Caminho de São Tiago de Compostela”.
Uma
vez, quando o Moacir Pimentel escrevia aqui sobre suas experiências na Índia,
nas Grutas de Ajanta e Elora, eu parecia ver também nossa poeta mor Cecília
Meireles caminhando por lá e visitando as câmaras dessas grutas repletas de
imagens de Buda e outros seres do Hinduísmo.
No
volume três ela nos fala de Israel, da Caminhada por onde Jesus andou. Textos
realmente magníficos.
Vejamos
dois parágrafos da abertura, no volume um:
“A arte de viajar é uma arte de admirar, uma arte
de amar. É ir em peregrinação, participando intensamente de coisas, de fatos,
de vidas, com as quais nos correspondemos desde sempre e para sempre. É estar
constantemente emocionado – e nem sempre alegre, mas ao contrário, muitas vezes
triste, de um sofrimento sem fim, porque a solidariedade humana custa, a cada
um de nós, algum profundo despedaçamento”.
“(...) E o viajante apenas inclina a cabeça nas
mãos, na sua janela, para entender dentro de si o que é sonho e o que é
verdade. E todos os dias são dias novos e antigos, e todas as ruas são de hoje
e da eternidade: e o viajante imóvel é uma pessoa sem data e sem nome, na qual
repercutem todos os nomes e datas que clamam por amor, compreensão,
ressurreição”.
A
citada editora também publicou, ao longo daqueles anos as “Crônicas de
Educação”, em cinco volumes.
Cecília
Meireles (1901-1964). Peço licença ao Wilson, editor deste blog magnífico e aos
leitores, mas irei voltar mais vezes, a falar desta grande mulher.
Agora,
em bom momento, a Editora Global, republica estes três tomos “Crônicas de
Viagem”, encaixando-os em belo estojo de papelão.
O seu
espólio literário não está totalmente publicado, ainda repousam em caixas na
Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, três volumes com estudos sobre
“Folclore”; mais dois tomos sobre “Tipos Humanos e Personalidades” e outros de que,
oportunamente falarei com muita satisfação.
Antonio, primorosos os dois parágrafos da grande Cecília que você mandou. Mostram a diferença entre uma verdadeira viagem e um passeio turístico. O viajante está inteiro na viagem, nos lugares, nas pessoas. Despe-se de suas defesas para mergulhar no mundo, deixa que o mundo flua em volta e através dele, e para isso paga o preço do despedaçamento de que ela fala, em vez da posição cômoda de simples observador do turista.
ResponderExcluirUm abraço do
Mano
1)Concordo Mano, ela se dizia viajante e não turista.
Excluir2) Ela se integrava na região, os pés ficavam empoeirados nas longas caminhadas. Interagia com as pessoas do local.
3) Abraços.