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22/06/2016

Meu Avô e os Ciganos




Ciganos chegando (Look and Learn)
Antonio Rocha       

A língua dos ciganos é o romani (ou romanês, romaneske, romanê), que possui inúmeros pontos de correlação com o sânscrito e é somente oral, já que os ciganos não escrevem em romani com vistas à publicação. Na Europa, por causa das inúmeras organizações representativas do povo cigano, existem algumas publicações que divulgam a língua por meio de cartilhas de alfabetização, gramáticas, além de diversas revistas e jornais dessas organizações que, mesmo escritos na língua local (espanhol, francês, italiano, inglês, russo etc),  apresentam vocábulos ciganos.

Por meio de formas dialetais (manuche, calão), ciganos das mais diversas partes do mundo podem, contudo, se entender razoavelmente, considerando-se que tem como base lingüística o romani.

A língua romani possui um sistema de declinações que não difere muito do latim ou do grego clássico, e menos ainda do sânscrito, com que, como já vimos, ela é aparentada.

Quando o romá saiu da Índia, havia no romani três gêneros, como em alemão, mas o neutro desapareceu durante a Idade Média, provavelmente por influência do persa.

Os parágrafos acima encontram-se nas páginas 48 a 52, do livro Os Ciganos Ainda Estão na Estrada, lançado pela editora Rocco, de Cristina da Costa Pereira, graduada em Letras pela UFRJ.

Cristina afirma, logo no início que, embora não tenham Pátria, nem pertençam a uma nação, os ciganos constituem uma etnia através da União Romani Internacional, reconhecida pela ONU, em 28 de fevereiro de 1979.

A origem dos ciganos encontra-se no noroeste da antiga Índia, onde hoje é o Paquistão. Eles não aceitavam o sistema de castas e então, em 1500 antes de Cristo começaram a deixar o solo indiano.

Especialistas em Ciganologia afirmam que a Bíblia faz referência a este povo nômade.

São 176 páginas bem escritas e bem pesquisadas por esta contista e poetisa que já representou o Brasil no Congresso Internacional de Ciganos, em 2006, na Itália.

E agora eu lembro do meu avô, Manoel Pereira Rocha, não o conheci, ele faleceu quando meu pai tinha 14 anos, lá na cidade de Bezerros, PE, idos de 1938...

Vez por outra aparecia na região uma caravana de ciganos, geralmente um ou dois caminhões e mais um ou dois carros antigos, armavam as barracas e as mulheres com suas saias maravilhosas, começavam a ler as mãos, fazerem profecias e afins...

Meu avô paterno ficava animadíssimo, saía de casa, largava o trabalho no roçado, tinham um pequeno sítio e ficava com os amigos ciganos. Ele também, por afinidade era cigano, ou então vidas anteriores/renascimento/reencarnação podem explicar.

Na ocasião o meu pai era o mais velho de cinco irmãos, e vinha uma caçula, ainda no ventre de minha avó. Ela ficava braba e ia atrás do marido, buscá-lo para as tarefas da lavoura.

Numa dessas, uma cigana disse para minha avó: “Eu já li a mão dele, não brigue tanto com ele, logo ele vai embora”.

Minha avó pensou que meu avô iria se separar, largar a família e seguir com a caravana de ciganos andarilhos. Nada disso. Uma semana depois ele teve um ataque fulminante do coração e morreu em questão de segundos.

Se o meu avô descende ou não de ciganos não sei. Só sei que simpatizo muito com este povo. Vai ver ... está no DNA ...

4 comentários:

  1. Caro amigo Rocha,

    Os ciganos me fascinavam.

    Quando surgia um acampamento, eu chegava perto para bisbilhotar, e ao saberem das minhas investidas curiosas, meus pais me desciam a lenha!

    Alegavam sequestro, que comiam crianças, que eram pessoas místicas e com tendências malignas, um preconceito odioso, mas existente à época contra esta gente que vivia diferente do modelo que nos ensinavam e que os escravizavam, ao mesmo tempo!

    Lembro-me dessas vestimentas coloridas nas mulheres, seus lenços nos cabelos, os homens com correntes de ouro, e os dentes também de ouro que mostravam orgulhosos!

    Interessante que, ao se instalarem, as mulheres é que saíam para vender seus objetos em cobre ou na cor deste metal, ler as mãos de pessoas que gostariam de saber o seu futuro, mas os homens não faziam nada, ficavam nas barracas ou arrumando seus carros enfeitados e que os levavam para qualquer destino que quisessem.

    Certamente esta liberdade é que me prendia a atenção, a ponto que deixei a Polícia do Exército em pleno regime militar, 1.973, para me dedicar à minha vida, à minha promoção pessoal, à minha decisão de eu ser o que quisesse, e não limitada por divisas nos braços ou estrelas ou gemadas nos ombros.

    Evidente que admiro quem tenha seguido a carreira militar pela persistência, denodo, vontade, mas também reverencio quem tenha se sentido forte o suficiente para enfrentar as dificuldades de uma existência sem qualquer anteparo, proteção, apenas com base na gana de vencer, de se ser alguém que ela mesma se orgulhasse!

    Os ciganos sabiam do quanto tínhamos medo deles, mas jamais eu soube de ciganos terem cometido algum mal, algum roubo, sequestro, ou tentativas de crimes COMUNS entre os civilizados, que tinham suas casas, seus empregos, a sua cultura, tradição, que, no entanto, não evitavam que a bestialidade volta e meia aflorasse no meio deste gente que se sentia superior.

    Bela crônica, Rocha.

    Acho que o DNA do cigano está na nossa essência, que somente um que outro se dá conta e atende o apelo do seu destino, de ser livre, de morar como quer, de vestir o que gosta, de comer o que tem, mas ser o dono do seu nariz, da sua vida, de si mesmo!

    Um forte abraço.
    Saúde e Paz!

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  2. Moacir Pimentel23/06/2016, 16:58

    Caro Antônio,
    São maravilhosas estas histórias antigas que nos lembram dos bons tempos , quando tínhamos quem nos dissesse, sem vacilar ,quem era quem nos velhos álbuns de fotografia.Jamais ouvi falar de lendas ciganas na minha enorme família, mas como não posso ouvir uma boa canção romani sem ficar mexido e tenho , você sabe, essa mania de dar pernadas pelo vasto mundo, pode apostar que cigano eu sou, na alma funda,e desde que era "minino buxudo". Falando em nordestês quero lhe parabenizar pelo belo post e desejar-lhe um Bom São João!
    Aos copos!

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    Respostas
    1. É mesmo Moacir, amanhã é Dia de São João Batista. Grande Ser Espiritual que muito venero.Uma vez, a esposa de um pastor batista, deputado e dono de emissora evangélica no Rio disse a um grupo e eu entre eles: "A Igreja Batista vem antes de Jesus". De fato, foi João Batista, primo de Cristo, quem o batizou nas águas do rio Jordão.Visitei algumas vezes a rádio e posso lhes garantir, equipamentos de primeira, eles tem garra e por isso crescem. Feliz Dia de São João, 24/06, para todos(as).

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