Griots - imagem Wikipédia |
Antonio Rocha
Em 1983, se não me falha a memória, veio ao Rio o diretor de Etnomusicologia da Unesco, o camaronês Francis Bebey (1929-2001). Por motivos acadêmicos encontrei com ele e fizemos matéria que foi publicada no antigo Segundo Caderno de O Globo, quando o editor era o querido Fuad Atalla e o colunista de Livros, o também querido, já falecido, Carlos Menezes.
Uma das perguntas que fiz a Bebey foi como era viver sob o colonialismo francês. Sorrindo ele me disse, mais ou menos assim:
“Veja você, nasci na República dos Camarões, e quando criança, na escola, os livros didáticos vinham de Paris e diziam que os antepassados dos franceses eram os gauleses, brancos de olhos azuis. Nós, a criançada negra, olhávamos uns para os outros e não podíamos rir, mas lá fora no recreio a gente ria para descontar os absurdos. Eles diziam que éramos franceses e não camaroneses”.
Bebey era violonista conceituado e se apresentou no Teatro da UFF, em Niterói. Era profundo conhecedor da música brasileira e gostava muito de Clementina de Jesus.
Outra coisa interessante que me falou: “a meninada adorava os ritmos africanos, mas os franceses diziam que não podíamos ouvir, pois era coisa do Demônio...”
(No Google o leitor encontra bom material sobre o etnomusicólogo Bebey. Além do citado Globo, a matéria também foi publicada na revista mensal portuguesa A Razão, de Lisboa, num período em que compartilhei com amigos lisboetas alguns textos. No Rio, até hoje existe o jornal mensal A Razão, fundado em 19/12/1916, quase centenário. Pertencem à Filosofia Espiritualista Racionalismo Cristão, presente em vários países.)
Uma coisa que Francis me contou e me chamou bastante atenção eram os “griots”, quando na antiguidade africana, poetas-músicos andavam pelo continente cantando e encantando em várias aldeias, me fez lembrar nossos cantadores do nordeste e a literatura de cordel.
No show, só ele e o violão no palo, e mais um banco onde sentava, cantava, tocava violão e para ritmar, às vezes batia na madeira do instrumento. Na verdade, ele era um “griot”, poeta andarilho se apresentando em vários países. Hoje, certamente, continua fazendo o mesmo, lá no céu ... na presença de muitos anjos e boas almas.
Boa noite, vizinho
ResponderExcluirVou ler a respeito do poeta andarilho.Se você tiver um tempinho e ainda não tiver sido apresentado à escritora nigeriana Chimamanda Adichie , vale a pena ouvir o que ela tem a dizer sobre os perigos da "história única"
https://www.youtube.com/watch?v=EC-bh1YARsc
Abraço
Salve Moacir, gostei da palestra da Chimamanda, conhecia-a só de nome, quanto ao Chinua Achebe, que ela cita pelo menos duas vezes me fez das aulas de Literatura Africana que assisti na Universidade Clássica de Lisboa,1979/1980.
ResponderExcluirPor outro lado, a reflexão da "História única" me fez lembrar do Allan Kardec, pedagogo e fundador do Espiritismo, certa feita ele abordou o tema e disse que a História do Espiritismo seria re-escrita muitas vezes.
Paul Harris, o fundador do Rotary Club, início do século XX, nos EUA também falou parecido.
Abração !
Antonio
O grande cantor Altemar Dutra cantava uma canção, que foi um grande sucesso, denominada O Trovador.
ResponderExcluir"Sonhei que eu era um dia um trovador ..."
Dizem os estudiosos que a arte nos aproxima de Deus, falamos com Ele, dialogamos através do talento e vocação para um tipo de manifestação que não é comum, como cantar, pintar, fazer uma escultura, poesia, escrever um livro ...
A arte seria a elevação do espírito humano, a sua liberdade daquilo que nos prende ao mundo material, à realidade da vida, e nos faz compreender a grandiosidade da existência em seus vários aspectos, tanto o real quanto o imaginário.
A questão é equilibrar essas duas formas de se viver:
A realidade, que nos deixa atrelados às circunstâncias, às nossas limitações, e a mente, que nos liberta, que nos faz viajar para fora de nós mesmos, que não pode ter mais importância que a realidade que nos cerca.
Obrigado pelo artigo, Rocha, que me deixa pensativo quanto aos motivos que me impediram eu sequer saber sintonizar um rádio, quanto mais tocar um instrumento ou cantar ou escrever ou pintar ... em ser um artista, e poder falar com o Criador, para perguntar por que não são todos os humanos que conseguem Dele se aproximar!
Um forte abraço, Rocha.
Saúde e Paz!
Moacir, o que fica claro nos seus textos fantásticos é que tanto quanto você as suas viagens , você está curtindo escrever sobre elas. E isto é muito bom de ler.
ResponderExcluirO amor à vida e a fé na humanidade que você comunica. Vamos em frente!!