26/04/2012
Esta semana estou asilado na casa de meu pai e meu irmão Paulo,
enquanto se refaz o sinteco de nosso apartamento. Hoje no café da manhã,
conversando com o Paulo (ele é fotógrafo, mestre em Artes Visuais e
doutor em Artes, e a conversa com ele é sempre interessante) falávamos
sobre a aceleração exponencial da produção de informação no mundo de
hoje, e sobre como a geração atual é talvez a primeira que consegue ver
essa aceleração acontecendo de dia para dia.
Uma porção de coisas
que, quando éramos garotos, líamos nos livros de ficção científica hoje é
realidade e muitas já estão até mesmo ultrapassadas, e nós nos
perguntávamos sobre o que os escritores de ficção científica de hoje vão
escrever agora.
Todo o mundo já percebe a revolução que a World
Wide Web e os mecanismos de pesquisa, dos quais o Google é o mais
conhecido, produziram na maneira de procurar informações. Mas o mais
interessante agora é ver a expansão do acesso a estas informações pelos
telefones celulares, e agora pelos óculos de realidade virtual de que o
Google lançou um protótipo. Com a transmissão de dados em alta
velocidade pelas redes de telefonia sem fio não precisamos mais estar
perto de um computador para estarmos permanentemente conectados à Web.
Podemos nos informar o tempo todo do que nos interessar, e, mais ainda,
sermos influenciados e dirigidos o tempo todo por informação contextual
"empurrada" para nós por sistemas que sabem, graças ao GPS de nossos
telefones, por onde estamos passando (na verdade, perto dos
estabelecimentos de quais anunciantes :)
E essa tecnologia vai
aumentando sua penetração; hoje, mesmo com a distribuição de renda tão
desigual que tem (ou talvez até por causa dela) o Brasil já tem mais
telefones celulares do que habitantes; quem poderia ter previsto isso há
dez ou quinze anos? E o caminho da conexão à internet é se popularizar
assim também.
Quantas vezes ouço dizer: "Para que ter livros hoje,
para que guardar informações, se quiser saber alguma coisa está tudo na
internet".
Se agora para procurar uma informação o usuário médio
acha que basta procurar no Google, e se com essa conectividade aumentada
essa facilidade vai se tornar quase um outro sentido dele, como a visão
e a audição, o que isso vai gerar na evolução, até mesmo genética, da
espécie? Caminharemos para seres humanos quase desprovidos da memória
(porque não precisarão mais dela) e com um arranjo de sinapses otimizado
para conexão em vez de raciocínio?
Um complemento interessante a
essa conversa é descobrir que da imensa quantidade de informação hoje
armazenada na Web, por estranho que pareça a maior parte dela não está
facilmente acessível aos mecanismos normais de pesquisa.
Michael
Bergman, em 2001, num artigo intitulado "The Deep Web: Surfacing Hidden
Value", criou o nome "A Web Profunda" para designar essa grande
quantidade de informação por cima da qual os mecanismos de pesquisa
passam sem penetrar. Outros pesquisadores já a tinham chamado de "A Web
Invisível". Ele comparou o pesquisar na Web a passar uma rede pela
superfície de um mar de informações, apanhando uma grande quantidade
delas mas sem nem tocar nas guardadas nas médias e grandes profundezas.
O
problema deste acesso consiste em que os mecanismos indexadores,
conhecidos como "web crawlers", programas que percorrem a web a partir
de um ponto qualquer de entrada e vão seguindo as ligações entre um
artigo e outro e estabelecendo os caminhos para que os buscadores os
encontrem, dependem para funcionar de poderem seguir as ligações que
encontram de um artigo para outro. Um artigo sem ligações com os que já
foram pesquisados não será alcançado pelos crawlers.
Depois do
artigo de Bergman diversos pesquisadores e companhias comerciais, como o
próprio Google, tem se dedicado a desenvolver mecanismos que permitam
penetrar e indexar as profundezas da Web. Podemos esperar que
eventualmente suas profundezas sejam integradas à superfície. Mas ainda
falta muito trabalho, e é uma corrida entre o avanço dos novos
mecanismos e a quantidade de informação diariamente acrescentada ao
imenso repositório da Web.
Como diziam os antigos chineses, vivemos em "tempos interessantes" :)
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