19/04.2012
Acabo de ver um anúncio, publicado no site de um jornal conceituado
de Belo Horizonte, de um seguro de vida com valor de até 390 mil reais,
sem exigir declaração pessoal de saúde e sem nenhuma restrição conforme a
profissão do segurado.
Parece muito tentador. Afinal, os seguros
de vida que conheço consideram o estado de saúde do candidato e suas
doenças existentes antes da contratação para fixar os prêmios, e não
valem, ou então custam mais caro, para profissões de risco, o que aliás
faz muito sentido se você pensar no que é um seguro de vida, que é uma
aposta que a seguradora faz, com o dinheiro do prêmio que você paga,
sobre a probabilidade de você morrer ou não durante o prazo de vigência
do seguro.
O anúncio diz "Faça agora uma simulação!". Curioso,
entrei no link. Aí vi que o site pede, além da minha idade, meu nome,
endereço, telefone, endereço de email e nome do banco em que eu tinha
conta para fazer a simulação. Não deveria precisar de nada além da minha
data de nascimento, e o sexo (que não pede) porque as estatísticas de
morte variam entre homens e mulheres da mesma idade. Não vou sair por aí
dando estes dados sem saber para que, então informei todos os dados...
fictícios. E o site aceitou. Pediu ainda para escolher um valor mensal
para investir. Escolhi.
Em baixo do formulário, abaixo do botão
"Próximo", para continuar a simulação, havia um lugar para confirmar
que eu tinha lido e concordado com os termos da política de privacidade.
O link sublinhado para ler a política não funcionou, nem no Firefox nem
no Internet Explorer. Eu clicava nele e ele apenas preenchia o
quadradinho (que eu não tinha clicado) dizendo que tinha lidoe concordado com a política...
Bom,
aí cliquei no "Próximo" para ver o que acontecia. Aí apareceu um valor
de seguro e a informação de que alguém entraria em contato comigo para
conversar sobre o seguro.
Aí voltei para a página do seguro, e lá
em baixo, na última linha, numa letrinha tão pequena que quase não dava
para ver, estava escrito (com um quadradinho já ticado): "Aceito a política de proteção de dados e que o meu contacto seja utilizado para futuras campanhas ***** (omiti aqui o nome da companhia) e
eventualmente comunicado a outras entidades para efeitos de marketing
direto". O que quer dizer que eu tinha dado autorização, sem saber que estava dando,
para que os dados que eu tinha informado fossem distribuídos para quem
eles quisessem para usarem como quisessem, isso com a justificativa de
uma "política de proteção de dados" que não me tinha sido mostrada e que
não está disponível em nenhum lugar do anúncio para ser vista.
Isso,
meus amigos, está completamente errado. É uma armadilha para coletar
dados pessoais que além de serem usados para tentarem vender a você o
tal seguro de vida depois serão distribuídos, e provavelmente vendidos,
para terceiros que você não sabe quem são nem para que vão usá-los, com a
desculpa de "marketing direto".
Não
estou culpando o jornal, que é um jornal sério e provavelmente não sabe
como funciona o anúncio que o usaram para divulgar. E nem a seguradora,
porque é uma seguradora antiga e conceituada no mercado, e o seguro que
está anunciado deve existir e funcionar. A enganação está no método que o
anúncio está usando para pescar dados pessoais dos incautos.
É
por essas e outras que é importante participarmos da discussão do "Marco
Civil da Internet". Esse tipo de coisa é um dos que tem que ser
disciplinado por ele. Quando alguém pede seus dados pessoais deve ter a
obrigação de dizer muito claramente para que os está pedindo, como vai
(ou não) protegê-los, para quem vai ou não repassá-los, e dar a você uma
opção muito clara de aceitar ou recusar as condições desse pedido.
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