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27/05/2012

Dilma e as montadoras - o problema é maior do que parece

Notícia publicada na "Folha de São Paulo" de hoje nos diz que a presidente Dilma quer forçar as montadoras de automóveis a abrirem suas contas e margens de lucro, para que o governo possa eventualmente cobrar reduções mais agressivas de preços. Diz ainda que o governo avalia que dá incentivos às montadoras sem conhecer sua real situação.
Embora não deixe de ser animadora por ver o governo afinal reconhecer publicamente que está fazendo alguma coisa sem saber direito como, a notícia deve nos preocupar por várias razões:
Os incentivos dados às montadoras sob a justificativa de reduzir os efeitos da crise são questionáveis não apenas porque incentivar o aumento da venda de automóveis antes de fazer os investimentos necessários na infraestrutura das cidades e das estradas, que já não são capazes de suportar o tráfego atual, é simplesmente aumentar o caos, mas também porque uma parte destes incentivos é feito pela pressão sobre montadoras e bancos para aumentar o crédito ao consumidor num momento em que a população brasileira atinge recordes de comprometimento de sua renda e consequentemente da inadimplência.
O aumento do crédito que se tenta realizar através do aumento do prazo de pagamento é uma medida potencialmente perigosa, porque considera apenas a fração da renda mensal consumida pela prestação e não a grandeza real do saldo devedor; numa economia com emprego assegurado isso funciona, mas qualquer aumento do índice de desemprego deixa o comprador desempregado com um saldo devedor grande em situação muito mais difícil para sair do buraco; no caso específico do financiamento de automóveis, provavelmente a desvalorização do veículo não vai deixar mais que a sua venda cubra o que o proprietário ainda deve se a compra foi feita a longo prazo.
Por outro lado, o discurso atual do governo de "forçar as empresas" (leia-se aí, até agora, as montadoras e os bancos) a reduzirem suas margens de lucro, embora seja de enorme apelo popular, vem na contramão dos princípios da economia de mercado e do bom senso desde o momento em que não vemos o governo fazer a sua parte, reduzindo seus custos e desperdícios para diminuir a carga de impostos e aumentar os investimentos, sabidamente insuficientes, em infraestrutura, saúde, segurança e educação.
Se esta condição tivesse sido colocada como pré-requisito para a concessão dos incentivos faria algum sentido, mas depois que eles foram dados já não faz nenhum. Como a maioria das montadoras é de capital fechado, pela legislação brasileira não há como obrigá-las a abrir os seus balanços.
Volto a bater na tecla de que para ter um crescimento sustentado uma economia depende de poupança e do investimento, e o único caminho para isso é o governo e a população conseguirem ter despesas menores do que suas receitas. No caso da população, uma carga tributária justa e um salário capaz de cobrir o custo de vida e ainda sobrar um pouco para investir. No caso do governo, despesas de custeio contidas no mínimo indispensável e investimentos feitos onde são necessários e sem desperdício. O resto é conversa fiada. Não há milagre em economia.



Um comentário:

  1. Pois é, tio, e se for parar pra pensar, de agora em diante (no calendário deste ano) é que o brasileiro começa a "ganhar" dinheiro de verdade, depois de pagar os impostos.

    Se ao menos fossem aplicados corretamente...

    Quanto ao volume de veículos e infraestrutura, eu concordo com a política européia, de que carros com certa idade devem ser demolidos, compactados, desmontados ou reciclados, enquanto que veículos novos possuem preços atrativos.

    Isso sem contar que por lá a fiscalização de trãnsito é feita de forma bem mais pesada que aqui, resultado de uso dos impostos coletados ao longo dos anos, sendo bem aplicados pelos governos.

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