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04/03/2017

A Invasão de Marajó

fotografia Domingos Ferreira

Domingos Ferreira
O Chefe do Estado-Maior (CEM) tirou os óculos e afastou-se da mesa. Ele, o Comandante da Flotilha do Amazonas (FlotAm), o Comandante da Corveta e o Oficial de Inteligência do 4ºDistrito Naval estiveram discutindo a operação por um bom tempo, debruçados sobre a carta (mapa) de navegação da foz do Amazonas. Nela, se destacava o tamanho da ilha de Marajó, encravada na boca do rio imenso, como um órgão vivo enlaçado pelo intrincado cipoal de canais, furos (canais estreitos, sinuosos e fundos) e igarapés.
Além da carta, estavam sobre a mesa fotografias aéreas de um casario baixo e outras tiradas a partir do rio, formando um pequeno mosaico da área de interesse, a sede da fazenda Tracajá, no município de Chaves , na costa Norte da grande ilha. Ali, se destacava uma edificação maior, com duas antenas grandes. Era uma estação de rádio clandestina, o objetivo da operação.
Ela era a chave de uma rede de contrabando e descaminho (inverso de contrabando), em embarcações de certo porte, a vela e a motor, transportando gado para a Guiana e o Suriname. De lá, voltavam carregadas com todo tipo de contrabando, que desaparecia no sistema vascular de Marajó e baixo Amazonas.
Estava em discussão a “Operação Búfalo”.
O Comandante Alfredo assumira a corveta havia poucos meses. Essa seria sua segunda comissão (viagem) nos rios. O trecho a ser navegado até o Norte de Marajó era raramente frequentado pelos navios da FlotAm. A maior parte do percurso seria pelos furos; o de Breves aparecia como o principal e mais conhecido, servindo de acesso ao rio Amazonas. Além disso, o trecho ao Norte, entre a enorme ilha e as irmãs Caviana e Mexiana, era muito largo e sem qualquer informação detalhada na carta de navegação.
A alternativa de atingir o local da estação de rádio, contornando Marajó pela costa oceânica, fora liminarmente abandonada pela mesma razão da falta de um levantamento hidrográfico confiável. O acesso teria de ser “por dentro”, bem mais conhecido, apesar das dificuldades existentes.
O Almirante Barros veio até a sala de operações para se inteirar do que fora discutido. O CEM discorreu sobre o planejamento da operação, com pequenas interrupções do ComFlotAm, do oficial de Inteligência e do próprio almirante. Alfredo ouvia atento e calado. Ao final, O Almirante Barros se deu por satisfeito e ressaltou a relevância da operação e da necessidade de sigilo, por envolver valores elevados e personalidades importantes da região. Em seguida, perguntou ao Comandante da corveta se ele tinha alguma dúvida sobre o que fazer e como fazer. Ao que Alfredo retrucou:
- Almirante, eu gostaria de saber qual o procedimento a adotar em caso de reação violenta por parte de algum proprietário ou empregado da fazenda Tracajá.
Seguiu-se um silêncio demorado na sala. O Almirante perguntou aos demais oficiais se esse tópico já havia sido discutido. Diante da resposta de que o problema ficara para ser tratado em sua presença, ele os levou para o gabinete, fechou a porta e disse ao assistente para não serem interrompidos.
A reunião durou algum tempo, pois o assunto era delicado. Em princípio, iriam a bordo dois inspetores da Receita Federal, a quem caberia dar voz de prisão a algum suspeito de contrabando. Uma intervenção em seu apoio, à viva força, a ser executada pelos fuzileiros navais, poderia degenerar em conflito com contrabandistas. E havia o problema maior da população da vila, sede da fazenda, a ser atravessada pela tropa para atingir a estação de rádio, ao final da pequena rua perpendicular à praia.
Ficou decidido, pelo Almirante, que a força bruta só deveria ser usada para dominar os contrabandistas e capangas, em caso de reação violenta. O emprego de armamento teria caráter exclusivamente defensivo, se eles abrissem fogo contra a tropa. Além disso, era imperativo ter extremo cuidado para não atingir ou machucar moradores, em quaisquer circunstâncias, em especial crianças. Essas diretrizes deveriam ser bem claras na “Ordem de Movimento”. Foi, ainda, determinado reforçar o setor médico do navio, para atender eventuais feridos, ou o pior.
Como a “Operação Búfalo” contribuiria para o desmantelamento de uma extensa rede de contrabando, tomaram-se várias precauções em sua montagem, incluindo uma falsa “Ordem de Movimento”, para despistar eventuais interessados. Ela previa a ida do navio a Santarém, para participar de um exercício com o Exército. Somente os oficiais superiores envolvidos sabiam do seu verdadeiro destino. A real finalidade e as características da operação só seriam divulgadas à tripulação após a desatracação.
Pela manhã seguinte, embarcaram o Comandante Terêncio, oficial de inteligência do Distrito Naval, dois médicos e mais um enfermeiro, além do existente a bordo. Chegaram também os inspetores da Receita Federal e dois “práticos”. Os fuzileiros navais, comandados pelo Tenente Di Palma, apresentaram-se logo após o almoço. Como sempre, era uma tropa impressionante, em seus impecáveis “camuflados”, armados até os dentes e “pintados” para a guerra. Foram concentrados no convés de ré, sob um grande toldo, onde poderiam se acomodar e armar as macas para passar a noite.
A corveta suspendeu (partiu) às 16:00 do mesmo dia. Isso daria tempo para atingir a fazenda Tracajá às 04:30 da madrugada seguinte. A tropa deveria chegar à praia às 05:00. Previa-se a invasão da estação ocorrer até 06:00.
Ela deveria ser inspecionada, fotografada em detalhe, e os equipamentos identificados, catalogados e apreendidos, conforme o porte e condições de operação. Toda a documentação, indicativa das atividades da estação, seria recolhida. Por fim, seus operadores seriam presos e trazidos para o navio.
Uma reunião de oficiais de bordo foi convocada assim que o navio entrou no rio Pará, antes de chegar aos furos, onde a navegação se complicaria. O Comandante Alfredo e o Comandante Terêncio expuseram toda a operação. O assunto foi aberto à discussão, as dúvidas foram esclarecidas e se coordenaram as providências finais a tomar. Após isso, o Comandante foi ao “boca de ferro”(sistema de som) e falou à tripulação sobre o que deveria ocorrer nas próximas horas, ressaltando a importância e o sigilo da operação.
Em seguida, Alfredo se isolou na câmara, para descansar um pouco, concentrando-se no que teria pela frente até à tarde do dia seguinte. Sentia um misto de orgulho e preocupação pelo inusitado da situação, ao mesmo tempo em que a encarava com confiança, julgando-se preparado para enfrentá-la. Rememorava os inúmeros documentários da 2ª Guerra Mundial, que vira adolescente, e se sentia comandando um desembarque em uma ilha perdida no Pacífico, sob forte reação de um inimigo implacável... Seus devaneios foram interrompidos pelo aviso da aproximação do furo de Breves, o que o levou ao passadiço (área de comando) onde deveria permanecer nas próximas 24 horas.
A corveta chegou pontualmente às 04:30 em frente à fazenda Tracajá. A madrugada era clareada pela lua e dava para ver o casario junto à praia. Ao largar o ferro (lançar a âncora n’água), a rotina previa apitar, porém não foi cumprida. O apito iria acabar com o sigilo da aproximação, tão bem guardado. De qualquer forma, o silêncio já vinha sendo quebrado pelo ruído dos motores da corveta, bastante alto para o silêncio reinante. Qualquer caboclo saberia que tinha um “barco grande” nas proximidades...
As lanchas foram arriadas no rio. Uma com motor de centro e a outra com motor de popa, emprestado pela Base Naval. Ambos eram nada confiáveis, pelo que o imediato mandara colocar remos nas duas embarcações. O corveta estava afilada a uma forte correnteza, portando muito pelo ferro (puxando muito a âncora). A maré alta era de sizígia (máxima), devido à lua cheia, que se punha majestosa.
Assim que as lanchas tocaram n’água, a violenta correnteza exigiu um esforço enorme para segurá-las junto ao navio. Efetuou-se, então, o embarque dos fuzileiros pela amurada do convés de ré. A lancha com motor de centro largou (partiu) primeiro, levando o comandante do pelotão, mais treze praças. Ainda estava escuro e o motor parou mal ela abriu (afastou-se) do navio.
O Comandante Alfredo, angustiado, viu a lancha se afastar, levada pela maré. Em poucos minutos, quase não dava para notar a luz do lampião que ela portava. O motor voltou a funcionar e a lancha se aproximou. Parou outra vez e ela se afastou novamente. Na terceira tentativa, a lancha chegou à popa da corveta e o proeiro pegou no chicote de um cabo (ponta de uma corda grossa) ali existente, enquanto se tentava dar um jeito no motor.
O Tenente Di Palma, comandante da tropa, abandonou a primeira lancha, subiu no convés do navio e embarcou na outra, com motor de popa. A embarcação largou em seguida, com fuzileiros, o Comandante Terêncio e os dois inspetores da Receita Federal. Seu motor era muito fraco e ela não conseguia se dirigir para a praia sem cair muito para ré. Mal dava conta de navegar na correnteza em rumo paralelo à corveta.
O dia já clareava e o Comandante viu, pelo binóculo, uma aglomeração na praia. Estava perdido o efeito da surpresa!...Pacientemente, ele resolveu esperar a correnteza diminuir mais, com a maré atingindo a estofa da preamar (altura máxima). Dessa forma, cerca de 6h30, em pleno dia, as duas lanchas se aproximaram da areia, em águas paradas. Uma com o motor de popa funcionando. A outra a remo, graças aos esforços do imediato. Aliás, ela quase não chegava lá, pois os fuzileiros nunca tinham usado um remo.
O desembarque da tropa na praia foi assistido, em tempo real e em cores, pela maioria da população adulta da vila, mantendo cautelosa distância do grupo, sem entender o que se passava. Já as inúmeras crianças e os muitos cachorros, alvoroçados com o que viam, infiltraram-se no meio dos soldados sem a menor cerimônia, apesar dos gritos das mães. Preocupadíssimo, o Comandante observava tudo do passadiço, pelo binóculo.
Enquanto os fuzileiros esperavam na praia a segunda lancha - que fora buscar o restante da tropa, mais um médico e um enfermeiro - apareceu o administrador da fazenda, querendo saber o que se passava. Era Seu Margarido(!?), um sólido português, nos seus cinquenta anos, muito esperto e gentil. Ao lhe ser dita a razão daquilo tudo, informou que os proprietários da fazenda estavam ausentes. Em seguida, foi buscar a chave da estação de rádio e se colocou à disposição para acompanhá-los até lá. O Comandante do navio era mantido informado pelo tenente fuzileiro naval sobre o que se passava através de um telefone de campanha, bisavô dos atuais celulares.
 
fotografia Domingos Ferreira
O grupo completo de FNs, em atitude agressiva, subiu a pequena rua até a estação de rádio, acompanhado pelos intrigados moradores, crianças e cachorros, agora mais calmos. Para abrir um provável cadeado grande, um sargento trouxera um portentoso alicate - seguramente o maior do Pará - emprestado pelos bombeiros de Belém. Com grande frustração, ele viu a porta, sem cadeado, ser aberta com a chave do Margarido.
A estação tinha um aspecto de abandono, com equipamentos velhos cobertos de poeira, papéis amarrotados pelo chão, infiltrações nas paredes e gavetas remexidas. Era evidente que ela não operava havia bastante tempo. Uma única bancada, mais nova e vazia, apresentava marcas de equipamentos retirados mais recentemente. No piso, ao lado de dois transmissores antigos e sucateados, havia sinais de outro equipamento mais novo, também removido.
O Comandante Terêncio e os inspetores da Receita Federal, auxiliados por sargentos especialistas, começaram a cumprir o ritual determinado pelas instruções recebidas. Isso incluía fotografias, coleta de registros e documentos, listagem de material e preenchimento de termos de vistoria. Além disso, a “Inteligência” levantou, mais tarde, que a estação de rádio fora desmantelada havia cerca de nove meses, depois de a fazenda ter sido sobrevoada algumas vezes por aeronaves militares.
Essa faina iria levar tempo, enquanto a tropa mantinha o prédio cercado. Ajudado pelo desconforto dos uniformes camuflados, o sol começou a castigar os soldados. Em pouco tempo, o frustrado tenente Di Palma remanejou a tropa, deixando guardas só nas portas da frente e dos fundos da estação e junto às duas janelas.
O restante do grupo de FNs foi concentrado, à vontade, na sombra de uma enorme mangueira próxima. Logo apareceu uma bendita jacuba (refresco) de maracujá, distribuída para a tropa por três alegres e enfeitadas cunhãs-porangas (moças bonitas), animadíssimas com tantos invasores “lindos”.
Uma das mães (sempre elas...), ao ver a cruz vermelha em uma caixa de medicamentos, logo descobriu a existência de médicos no grupo. Em poucos minutos, formou-se uma fila de mulheres e crianças, debaixo de outra mangueira, para serem atendidas pelos jovens doutores. Iniciava-se a inevitável confraternização, para gosto dos moradores e dos militares, com a benção do português.
Enquanto isso acontecia em terra, três montarias (canoas rasas) largaram (saíram) da praia e se aproximaram do navio, pedindo licença para atracar a contrabordo (ao lado) do navio. Uma delas trazia peixe fresco, carne de jacaré e tartarugas de diversos tamanhos. Outra carregava araras, papagaios, periquitos, cotias, lagartos, etc..., inclusive uma respeitável jibóia. A terceira vinha com cerâmica marajoara de diferentes formatos e desenhos. As canoas foram autorizadas a atracar no costado de ré da corveta. Era uma oportunidade imperdível. A tripulação compareceu em peso.
O oficial de Inteligência participou ao Comandante que havia terminado a inspeção da estação de rádio e passou o fone para o comandante da tropa de FNs. O Tenente Di Palma, um pouco sem jeito, solicitou autorização para descarregar as armas da tropa, “sem alvo designado”, em uma “progressão no terreno”, a fim de levantar-lhes o moral, meio baixo pelo anticlímax da operação. Havia uma área, dizia ele, com mato ralo e pouca água, boa para isso. Era afastada da vila e da lagoa que abrigava os búfalos da fazenda.
Por essa, Alfredo não esperava. Ele disse a Di Palma para aguardar e perguntou a opinião do Imediato sobre a inusitada solicitação. Ambos estavam relaxados com o desenlace da operação e riram muito do assunto. A autorização foi dada, com a recomendação de ter muito cuidado com os moradores e com os búfalos.
Decorrido algum tempo, começou um violento tiroteio um pouco distante da vila. Com duração de uns dez minutos, ele levantou fumaça e uma infinidade de pássaros de todos tamanhos e cores, assustados e barulhentos, além de provocar mugidos dos búfalos e gritos dos macacos.
Di Palma estava muito emocionado, quando falou com o Comandante, logo após o tiroteio. Ao fundo, ouvia-se a gritaria dos seus comandados e dos moradores, homens, mulheres e crianças, e os latidos dos cachorros, todos vivendo um descarrego, uma catarse, uma epifania. Para eles, um momento histórico, naqueles confins do imenso Brasil. Alberto também se emocionou, mas sua primeira reação foi perguntar se estava tudo bem com as pessoas e com os búfalos!...
A próxima chamada foi do Comandante Terêncio, passando o fone para o feitor Margarido. O português, também emocionado com o tiroteio, disse que havia mandado matar uma vaca velha, dois leitões e uns frangos, para um churrasco em homenagem aos marinheiros do Brasil! E fazia questão de que “Vossa Excelência comparecesse...”.
Alfredo já decidira suspender às 19:00, para chegar a Belém no meio do dia seguinte. Haveria bastante tempo para o churrasco. Agradeceu o convite, alegando não poder sair de bordo, mas disse que seus oficiais iriam, bem como boa parte da tripulação. Assim, foi dada licença até as 18:00. Como a correnteza ainda era pouca, as lanchas puderam levar e trazer o pessoal, à vontade, sem uniforme.
Seguiram também três caixas de cerveja gelada e os instrumentos do conjunto musical de bordo. O churrasco foi na praia. Houve pelada, Corveta x Tracajá (3x1 para o navio, reforçado por FNs), carimbó, forró e umbigada (com as cunhãs-porangas da jacuba e outras), e muita descontração.
O comandante e o “quarto de viagem” ficaram a bordo, a postos. Alfredo, sem dormir desde a véspera, e com a perspectiva da próxima noite no passadiço, aproveitou para descansar um pouco, ao som da batucada distante. Acordou com o barulho do regresso do pessoal, muito alegre e falante.
Trouxeram, como presentes do Margarido para o navio, um quarto da vaca do churrasco, um leitão temperado para assar, uma garrafa de vinho do porto para o comandante e outra, de tinto, para a praça d’armas (refeitório dos oficiais).
Vieram, também, pedidos do administrador para ser deixado o que fosse possível de medicamentos com ele e para haver alguma interferência, junto às autoridades do Estado, solicitando apoio à escola improvisada na vila, com mais de cinquenta crianças.
Em consequência, a partida do navio foi atrasada e uma lancha voltou à terra (praia), com o máximo de medicamentos úteis, retirados da enfermaria de bordo. O comandante também mandou avisar ao Margarido que buscaria a interferência do almirante para a escola ser apoiada pelo governo.
Vieram histórias de todo tipo, que se incorporaram ao folclore da Flotilha. Uma das melhores era sobre o português, que cativara todo mundo. Era “casado” com “Nhá Margarida”, uma senhora negra enorme, o dobro do marido, com quem tinha uma ruma de filhos. Constava ela ser descendente direta de uma princesa de afamada tribo de canibais, existente no meio da costa de Angola. Decididamente, quem mandava era ela, cujas habilidades e autoridade se evidenciaram no churrasco, onde nada se fazia sem sua aprovação, expressa com um olhar inquisidor ou meneio de cabeça.
O nome do português era, obviamente, Manuel. Por osmose, passara a Margarido, desde o “casamento”. Além disso, muito gentil..., tinha meia dúzia de filhos com outras mulheres da comunidade, de diversas idades. Nada diferente, desde 1500...
fotografia Domingos Ferreira

Naquela noite, o navio enviou mensagem para o Comando da Flotilha do Amazonas, com informação ao Distrito Naval, dizendo:
“Estação radio inspecionada ptvg sem problemas pt retorno à Base”.
No dia seguinte ao regresso, o Almirante Barros convocou uma reunião com os oficiais envolvidos na “Operação Búfalo”. Os Comandantes Alfredo e Terêncio fizeram um relato do desenrolar da operação, secundados pelo Tenente Di Palma, seguindo-se um debate.
Ao final, o Almirante considerou satisfatórios os resultados, por terem atendido às solicitações da Receita Federal, apresentadas ao Distrito Naval, algumas semanas antes. Ele também aprovou a iniciativa do Tenente Di Palma de descarregar as armas em uma “progressão no terreno”. Além disso, se comprometeu a tratar do assunto da escola com o Secretário de Educação do Estado.
Quanto às outras ocorrências, incluindo a “feira das montarias (canoas)”, o churrasco, a pelada, o forró com as cunhãs-porangas e as proezas do Margarido, elas foram deixadas para o almoço que se seguiu. O Almirante Barros, acostumado a ouvir histórias singulares da Amazônia, aceitou-as com bom humor. Em sua opinião, esses fatos serviriam para afastar qualquer viés policialesco e agressivo das ações da Marinha, em um lugar perdido e carente de tudo. Principalmente, por envolverem frágeis e assustados cidadãos, naquele imenso e dramático território, tão importante para o Brasil.
“O Comandante Alfredo e o Tenente Di Palma estão de parabéns”, disse o Almirante, ao brindá-los pelo sucesso da “Operação Búfalo”...



10 comentários:

  1. Francisco Bendl04/03/2017, 09:47

    A versatilidade do extraordinário blog Conversas do Mano é sensacional!

    Pois agora estamos diante de um artigo sobre uma operação militar bem sucedida, otimamente relatada pelo autor, Domingos Ferreira.

    Parabéns pelo texto. Diferente, informativo quanto ao trabalho que a Marinha desenvolve nos confins brasileiros, e a preparação dos homens que constituem a equipe daquele navio, bem treinada e orientada sobre como deveria agir contra o contrabando, objetivo naquela data e operação cumprida exitosamente.

    Valeu, Ferreira. Aplaudo o artigo com admiração e reverência.

    Um abraço.
    Saúde e paz.





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    1. Estimado Chico
      Fico-lhe muito grato por mencionar a versatilidade que este texto traz ao blog. De fato, ao começar esta colaboração, me senti inibido em "invadir" um ambiente erudito, com estórias de marinheiro. Contudo, por experiência própria, sei que elas atraem as pessoas pelo ineditismo, diversidade, aventura e romance.
      Vou insistir.
      Um grande abraço
      Domingos

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  2. 1)Bom texto, boas informações sobre a defesa do território brasileiro pela nossa Marinha.

    2)Me fez lembrar das aulas de Geografia, lá na saudosa cidade satélite do Gama, DF.

    3) O professor falava da maior bacia hidrográfica do mundo, das ilhas de Marajó, Mexiana e Caviana, da Foz do Rio Amazonas, do fenômeno da Pororoca = o encontro das águas do rio com as águas do mar.

    4) E eu, viajando mentalmente por aquela maravilhosa região.

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    1. Amigo Rocha
      De fato, falar da Amazônia, sempre nos transporta a um mundo diferente e espetacular.
      A Marinha Brasileira navega regularmente nos seus rios infinitos desde 1868. Naquela ocasião, foi criada a Flotilha do Amazonas, com sede em Belém. Em 1974, ela foi transferida para Manaus, deixando um Grupamento Naval do Norte em Belém. Quase sempre, ela tem sido equipada com navios projetados e construídos no Rio de Janeiro. Esse foi o caso em sua fundação, quando o Estaleiro Mauá, criado pelo incrível Barão, foi quem atendeu às necessidades da Marinha, tanto para Guerra do Paraguai quanto para a Amazônia.
      Um grande abraço.
      Domingos

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  3. Wilson Baptista Junior04/03/2017, 14:04

    História muito interessante. Muito boa a evolução do estilo da narração que leva o leitor da seriedade da preparação de uma operação de intervenção militar até a descontração do final sem preocupações. Uma ótima leitura.

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    1. Amigo Mano
      A essa altura da vida,não faltam histórias para contar.
      E o mar é um celeiro infinito.
      "Máquinas adiante toda força."
      Abraço fraterno
      Domingos

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  4. Heraldo Palmeira04/03/2017, 20:51

    Querido Domingos,
    Que história, meu amigo!
    Há alguns poucos anos, estive pela enésima vez na Amazônia, desta feita num rincão perdido no meio da selva. A missão juntou Exército e Banco do Brasil, para fazer circular a moeda brasileira e garantir a soberania nacional. A minha modesta função: filmar tudo para imortalizar mais uma pequena saga brasileira. Abraço.

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    1. Irmão Heraldo
      Espero que você volte sempre à Amazônia. Não existem funções modestas no que fazemos lá. Todas são parte importante do que podemos e devemos fazer por essa epopeia permanente.
      Abraço fraterno.
      Domingos
      é UMA epopéia

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  5. Olá Domingos,
    Gosto muito das suas histórias. Elas falam de coisas e lugares que não conheço, de uma maneira calma e gostosa.
    Escreva sempre.
    Até mais.

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    1. Estimada Ana
      Muito obrigado por suas palavras.
      Tive uma vida muito diversificada e aventurosa, na condição de marinheiro dos sete mares.
      Há muito o que contar...
      Domingos

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