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14/03/2017

E nem assim ele ficou com ela...

Camille Claudel em seu atelier - fotografia de William Elborne (Wikimedia Commons)

Ofélia Alvarenga
A infelicidade mexe comigo. De que adianta um casal tão brilhante, tão apaixonado se não consegue levar adiante a sua (deles) história?
Ah, eu torço por finais felizes. E a cada ponto de desajuste, de bem querer distante, de corações que se desejam mas não ficam perto e não constroem, isso me machuca.
Não é só uma história inventada. É uma história real, construída a quatro mãos e duas almas, dois corações que doeram, cada um a seu modo.
Quando penso na Camille, acho que ela sofreu mais. Era bem mais jovem, talvez sonhasse em ter Rodin ao lado dela, não ocasionalmente, ou parte do dia, mas como a outra, sua 'companheira de vida', nome que insisto em esquecer. Mas vou dar uma subida rápida na tela para conferir. ROSE BOURET! E ela tinha um filho com Rodin. A Camille nem esse direito foi dado. O mundo costumava ser mais cruel com as mulheres. Hoje ainda é? Menos, bem menos.
Camille deixou de ganhar e ainda perdeu. Sábia a minha amiga de jornal que me desaconselhou a trazer para casa o quadrinho dela, Camille. Sempre que olhasse pra ele eu me lembraria do que a vida da jovem poderia ter sido e não foi. Do que a vida lhe negou.
Não há caminho do meio na paixão, na admiração profunda. A paixão não enxerga caminhos. Só entende e percebe UM. E nele se atira, se joga.
Creio que Rodin sofreu porque queria bem à sua jovem amante e escultora. Mas podia prescindir dela, e foi o que ele fez. Não sem culpas e roído de remorsos futuros ao relembrar a quase menina com quem trocou sexo, carinho, amor, talento e admiração.
Deve ter doído nele, mas como Rodin tinha companhia para os dias e as noites, sentia menos aflição, ele partilhava. E partilhar é um verbo soberano.
O destino do sozinho é sempre mais doloroso, embora eu ache que Camille não quisesse outro companheiro além de Rodin, que já estava com Rose quando conheceu Camille, tinham uma história juntos. Tudo de Camille estava por construir. Isso me maltrata a imaginação.
Nem tudo de Camille me agrada mais do que as peças de Rodin. Não. A velha de Rodin me fala mais aos olhos e à emoção. A de Camille me parece uma velha louca, de desgrenhados cabelos. Há uma tal conformação no espectro da velha de Rodin, que se aceita assim tal como ficou, que chega a me causar ternura.
Estou muuuuito longe de me tornar essa velha, mas, dia desses, ao conversar com a secretária do meu médico, que me disse, ELE, que eu estava muito bem, acabei enviando pra ela, por e-mail, uma foto minha aos dezoito anos. Ele elogiou meu vestido amarelo estampado, claro, quis me botar pra cima (o vestido é realmente agradável aos olhos). Sei que ele foi sincero quanto à roupa, mas sinto a vida se despedindo de um corpo que ainda teria bastante a oferecer. E se não tem, não consigo entender por que motivo não tem.
Eu me imagino como aquele velha, Deus meu!, e creio que pouco suportaria ao me perceber tão definitivamente acabada, no fim. Ainda assim acho que estou no fim de uma vida que me doeu tantas das vezes e me alegrou em outras, como ocorre com a maioria das vidas.
Não sou fútil. Mas beleza é fundamental, como dizia... o Vinicius? É, foi ele, quando pediu perdão às feias. Feia nunca fui, me diziam olhares e espelhos. Mas essa beleza de que falamos, e que está estampada nas esculturas de Rodin e Camille, foi o que levou King Kong a se apaixonar pela mocinha do filme e a protegê-la. Beleza é o quinto poder? Talvez o primeiro. É o que chega na frente, o que todo mundo olha.
Isso tudo é só uma ficção? “Pai, você sabe o que é ficção, não é?”, perguntou a filha ou filho do Moacir, na garotice.
Todos sabemos o que é ficção. O problema é que a vida pra valer não passa longe dela. Pelo menos não muito.
Quedar-se diante da beleza, seja do que for, é possível até para um gorila gigante. Quem não se toca com isso, não pode ver o filme King Kong. Ou não valerá a pena ver. A emoção da história está toda ou quase toda encerrada nesse deslumbramento, nesse amor impossível da bela e a fera.
Por que Rodin não poderia sentir amor pelos trabalhos de Camille?, por seu talento que ele tão bem conhecia?
Era uma paixão, um amor espraiado, que ia muito além do calor do sexo, das belas formas e da juventude da pupila.
Eram seres unos, inteiros, desejantes, que se admiravam mutuamente.

E nem assim ele ficou com ela.

13 comentários:

  1. Moacir Pimentel14/03/2017, 09:15

    Ofélia,
    Suas pretinhas bem que mereceram o post. Parabéns! Sim, todos nós ficamos mexidos pela infelicidade e torcemos por finais felizes . E a vida é muito mais surrealista do que os screenplays. Lembro de ter assistido certa vez um filme com a Barbra e o Redford. O Google acaba de me dizer que o título foi O Nosso Amor de Ontem. Eles se amavam tanto e eram tão certos um para o outro que, quando começaram os créditos, a galera não acreditava que não tinham terminado juntos.
    Mas acontece e não é culpa de ninguém na maioria das vezes."Não era para ser" como dizem os mais velhos.
    Tudo o que rola entre um homem e uma mulher conscientemente é válido, desde que ambos queiram a mesma coisa. Passar uma chuva ou construir uma vida e formar uma família , maravilha! O que não pode dar certo e só gera sofrimento é ir passar uma chuva achando que vai chover para sempre ou casar achando que, se não der tudo bem, foi só uma chuva.
    Quem sabe se na vida de Rodin a Camille não chegou tarde demais? Sempre haverá uma mulher que , chegando inesperadamente , só de olhar e ser olhada impressiona, instiga e balança. No entanto se a primeira opção , lá atrás , continua valendo , então não vale a pena fazer escalas na viagem. É como se, mesmo profundamente encantado com a possibilidade , a gente pensasse : Que pena! E virasse as costas. Mas não vou atirar pedra em Rodin por ter desembarcado na Camille.
    Outro filme que me marcou foi o E. T. que assisti na Ásia onde a paisagem física e mental e espiritual era tão estranha que eu me sentia como o pobre alienígena apontando para as estrelas: Home! Eu estava ali de passagem mas conhecia pessoas formidáveis. Deveria me privar de suas amizades por que jamais as veria de novo? Acho que não. Quando as criaturas se conectam nessa vida, verdadeiramente , não é uma questão de tempo ou de espaço. Lembra do final do filme?
    O garoto e o E.T. se dizem adeus.Um diz : Venha! O outro responde: Fica! Mas é impossível uma coisa ou outra. E então o sábio extra- terrestre toca com um dedão brilhante a testa do moleque e diz:

    "Eu estarei bem aqui!"

    https://www.youtube.com/watch?v=75M1XXEZciU

    Sim é complicado sentir o corpo envelhecendo enquanto a cabeça ainda daria conta de praí mais uns cem anos mas a gente vai se equilibrando e cuidando da saúde. Sempre seremos dentro de nós um moleque mochileiro e um E.T., uma garota de vestido amarelo estampado e uma foca pela primeira vez numa redação capazes de nos surpreender e encantar a qualquer momento e sim, a beleza é fundamental: as portas estão sempre abertas para os belos. Mas a beleza é efêmera e quem disse tudo a respeito disso foi um melancólico Bandeira:

    O que eu adoro em ti
    Não é a tua beleza
    A beleza é em nós que existe
    A beleza é um conceito
    E a beleza é triste
    Não é triste em si
    Mas pelo que há nela
    De fragilidade e incerteza

    O que adoro em ti lastima-me e consola-me:
    O que eu adoro em ti é a vida!

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  2. Olá Ofélia,
    Você escreve que é um encanto. Tinha mesmo que virar post.
    Gosto dos seus comentários, é como se estivesse vendo você falar.
    E sinto as mesmas tristezas suas quando leio sobre Camille. E acho o Rodin, assim como Picasso, um destruidor de mulheres!
    Parabéns!
    E que belo comentário ganhou do Moacir, hem?
    Até mais.

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  3. 1)Parabéns Ofélia pelo comentário que virou ótimo artigo.

    2)De acordo com o "Caminho do Meio" amizades são todos aqueles (as) que nos encontramos e reencontramos em vidas anteriores = antepassados (não apenas os parentes).

    3)Casamento, afetividade, amor é Carma (pode ser positivo ou negativo)e foi acertado antes de nascermos, lá em um plano/colônia espiritual.

    4)A questão é que, em geral, ao (re)nascermos na carne, esquecemos de tudo...

    5)E só aos poucos vamos identificando no cônjuge a "cara metade".

    6) Digamos, Camille e Rodin eram amigos de outras vidas e assim ... não rolou ficarem juntos ... não eram "caras metades

    7) Bela foto Mano !

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  4. Tanta coisa você guardou, não foi, Moacir? Pareço REler você. A gente é mesmo assim, de guardados que não são perdidos. E de guardados que se perdem no tempo.

    Você parece ter guardado tanto ou mais do que perdeu. Que bom.

    Queria eu ter aquele dedo luminoso do E.T. para tocar uma cabeça e nela acender lembranças, memórias, enquanto ao mesmo tempo me pergunto 'por que mais?', se "logo ali adiante, tão perto, acaba-se a terra bela", como escreveu Cecília Meireles. Que sabia o que dizia quando finalizou: "Isso são coisas que digo, que invento, para achar a vida boa. A canção que vai comigo é a forma de esquecimento do sonho sonhado à toa".

    O que a gente não quer, Moacir, é ser esquecido. Ninguém quer. E você me fez ver que fui lembrada. De que adianta? Não sei, mas é melhor que nada.

    Talvez fosse esse o mesmo sentimento experimentado por Camille. E pra mim ficou claro que Rodin, apesar do conforto emocional proporcionado por sua companheira de vida, nunca deixou de pensar em Camille com um certo carinho e reverência.

    Tudo é da vida, tudo vem da vida, escolhidos que somos para viver isso ou aquilo quando aqui chegamos.

    A cada dia mais me convenço que viemos a este mundo com a chave de uma única caixinha. Nela estão contidos todos os sortilégios possíveis de uma existência. E não adianta querer mais do que o tudo que nos espera.

    É como perguntava o 'aluninho' na hora da merenda, ainda com espaço na barriga para receber mais alimento: "Tia, tem repetição?"

    Muitas das vezes não tinha.
    A vida é assim.

    Abraço indizível.
    Ofelia

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  5. https://www.youtube.com/watch?v=TTvvperpF00

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  6. Obrigada Mano, Ana, Antonio, Moacir. Pelas palavras, pelo espaço, pela surpresa de me saber aqui como post.

    Um dedo luminoso na testa de vocês.
    Ofelia

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    1. Moacir Pimentel15/03/2017, 09:31

      Ofélia,
      Essa canção do filme é quase tão bonita quanto Memories -pelamordedeus ! - na voz da Barbra.
      Se eu tivesse meia chance faria de tudo novo?
      É claro que sim! Dei o melhor de mim, fiz o melhor que soube e pude. O que mais se pode pedir a um cara? Então mil vezes de novo e de novo cada uma das minhas bobices! Até porque delas, como diz a canção, só guardei o riso e o aprendizado. A dor eu já esqueci. E porque de tudo, o pior é ter saudade do que não fizemos.
      Tem uns versinhos que me perseguiram a vida toda e não consigo descobrir quem os escreveu.
      "Estão cheios de folhas secas
      O horto e de palavras mudas o coração.
      Tempo é que já não tenho
      Para varrê-las ou dizê-las".
      Ainda temos tempo sim senhora mas não deveríamos desperdiçá-lo a essa altura da vida. Tempo para a lida, para os nossos, para os amigos, para as viagens , para fazer exames e cuidar do corpo e da mente, para tudo que nos faz bem . E tempo para ler e rascunhar as pretinhas que amamos tanto e que não deveriam emudecer. O nome do filme não deve ser 8 ou 80.
      Sabe? Beatlemaníaco que sou , deles uma canção me conforta ao dizer haverá uma resposta e repetir: Let it be!

      https://www.youtube.com/watch?v=u6T5C-jzSH0

      Cuide-se beeeeeem direitinho mas não deixe de escrever, Ofélia.
      Seria um pecado cabeludo.
      Abraço

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  7. Francisco Bendl14/03/2017, 19:26

    Minha querida Ofélia,

    (O meu comentário foi feito em duas partes)

    Saí de casa às 5;30h para Porto Alegre, e cheguei neste momento.

    Abri o micro e havia mais de duzentos e-mails, que fui selecionando até chegar no Mano, alertando sobre um post de tua autoria.

    Bom, não vi o resto da correspondência e tampouco paguei a conta do telefone - dá para pagar até às 21h -, e cliquei neste blog extraordinário para ler o teu texto.

    Pois valeu a pena a minha pressa.

    Se a mulher traz consigo a sensibilidade, a sensualidade, a inteligência, a sagacidade, esperteza, visão de mundo, efetivamente a minha querida Ofélia iria me brindar com um artigo fascinante, emocionante, e não foi diferente!

    Independente de Camille e Rodin não terem dado certo no romance que chegaram a ter, importante e interessante foi a forma como descreveste esta frustração.

    E, mais, a beleza é fantasticamente relativa, caso contrário as feias e os feios não casariam e, no entanto, o que vemos de pais que jamais seriam modelos não tá no gibi (expressão da minha época jurássica)!

    Se o Rodin é aquele homem ao lado da Camille, pô, o nariz do gajo, credo?!

    E Camille não era nenhuma "femme fatale", convenhamos.

    Certamente o que uniu e desuniu a ambos foi a excelência de suas obras e egos de difícil equalização, natural em artistas cujas vontades sobrepujam sentimentos e emoções.

    A arte os deixa em outro mundo, representado por suas obras, ainda mais se possuem o reconhecimento mundial da genialidade, da unanimidade.

    Olha, Ofélia, acredito que um artista não ama como nós, seres terrenos, amamos.

    Não, não que sejam diferentes, mas a profissão que transformaram em arte, os elevou a tal estágio que seus espíritos ou vontades não são mais aquelas que nos movem para frente, mas necessariamente devem satisfazê-los depois de uma obra que construíram e deram como estupenda!

    Não foi Miguel Ângelo que depois de esculpir Moisés, extasiado com a sua própria obra não jogou o cinzel no rosto da estátua berrando por que não falas?!

    A beleza reúne obrigatoriamente uma série de fatores que, em conjunto, uma mulher que passaria despercebida em qualquer rua de cidade grande, pode ser muito mais atraente que a top model Giselle Bündchen depois de minutos de uma conversa.

    Ora, nesta sintonia, Camille para Rodin não seria uma peça esculpida, não seria uma obra sua, não seria de sua autoria aquela mulher que tanto o amava, que justamente por não tê-la feito, este amor jamais seria correspondido conforme desejo de Camille!

    Mas brilhante foi ler como interpretaste esta relação e como são teus sentimentos quanto a finais tristes, diga-se de passagem a maioria dos “passa a régua e me dá a conta”!

    Final feliz requer uma lista interminável de aptidões, paralela a outra talvez maior ainda de incompatibilidades!

    Mesmo em menor número item por item, as qualidades devem superar os defeitos, devem aparar arestas, devem aplainar o terreno para que o casal transite pela trilha da vida unidos, juntos, de mãos dadas, e intervalos para fazerem amor de modo incessante e trepidante!

    O sexo deve ser desbragado, exagerado, com muita sede e fome, pois será a grande compensação diante das dificuldades no futuro, onde um casal se separa porque o sexo é comum.
    Ela não ouviu tocar os sinos e ele não viu estrelas.

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  8. Francisco Bendl14/03/2017, 19:29

    Camille e Rodin – estou chutando, mas depois de ler Pimentel e o teu texto, perfeito, sobre esta relação interrompida ou que não tenha tido um final feliz – mais sentiam prazer nas obras que erigiam que no “rala e rola”; mais sentiam-se realizados com as peças inigualáveis que construíam que uma noite ininterrupta de sexo, de lençóis molhados, banhos tomados e a água em poças sobre o piso do quarto e encharcando o colchão!

    E, se este amor carnal, que sufoca, que somente deixa a pessoa respirar se o cara agarra a amada e ... não tiver esta característica, de paixão irresistível, aquele amor platônico lá adiante não se formará!

    Espia, eu com 67, 46 de casado - mas não sou mais o mesmo nem se eu fosse diretor do Senado e com salário nababesco!

    Bom, o que leva a mim e a mulher permanecermos unidos, e quando saímos as mãos estão juntas – jamais ela me deu o braço -, gostamos de estar na presença um do outro, de deitarmos lado e lado, de conversarmos, e muito, e LEMBRARMOS de quando eu era incendiário e ela a bombeira, este amor hoje piano, quieto, de admiração recíproca, tem como combustível que nos trouxe até o presente momento, aquele período de ... quero mais!

    Lotamos a caixa d’água, basta agora mantê-la, claro isso de pouco tempo para cá, mas um espaço onde a velhice bateu a porta, o peso – meu, pois ela casou com 52 e pesa 55, eu, no entanto... -, a fase das dores, das doenças e, sim, das lembranças, recordações, da juventude!

    Como não fui artista e jamais o serei, amo a Marli humanamente. Ela está ao meu alcance, e não sou o seu criador, consequentemente, volta e meia sai uma encrenca à La carte, nada que a bagagem de uma existência a dois não delete os chiliques eventuais.

    Acho que Camille e Rodin não só não tinham sacola alguma com seus apetrechos pessoais, como na condição de artistas notáveis eram superiores aos sentimentos terrenos, pois ela deveria querer do amado algo impossível, inegociável ou, então, a magistral artista não deixou Rodin apalermado pelos seus dotes sexuais, portanto, tchau e bênção!

    Parabéns pelo texto, Ofélia, digno de uma mulher independente, sofisticada, belíssima, sim, e sensível, meiga, que não sei por que cargas d’água não casou de novo ou, casou (por favor, a pergunta é em tom respeitável, Ofélia)?

    Um forte abraço.
    Saúde e paz.




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    1. Bendl, querido amigo, você me pegou de saída, já na porta. Não a porta física da minha casa, mas aquela que me separa de vocês. Estabeleci um tempo que não sei qual foi, para me dar um tempo da TI e do 'conversas'. Estou com a vida por resolver, muita coisa pra fazer e tenho adiado decisões importantes. Pra você ter ideia, estive no médico em meados de janeiro. Ele pediu exames e nova consulta foi marcada para 7 de março. Pois eu retornei ao doutor no dia 7 sem ter sequer marcado um só dos exames, quanto mais ter comparecido aos locais para realizar um único deles.

      Tenho outros exames para fazer a pedido de outro médico. Não me mexi. Preciso deixar uma vida de lado e me concentrar no que devo levar adiante. Mas é tão mais fácil esquecer 'as doenças' e me refugiar nos aquis e agoras... Ter conversas apenas de letrinhas e sobre assuntos mais agradáveis...

      Já tive curiosidade de saber como seria a voz por traz das letrinhas, mas não ouvi-las não me matará, viu 'voz de trovão'?, como diz a Ana.

      (continua)

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  9. (continuação)

    Meu ex me escreveu muita coisa bonita. Uma delas dizia 'a quem vive sonhando, um apelo de felicidade'... Eu tinha 18 anos! Mas por que, você acha, sou tão fanzoca de Woody Allen? Eu gostaria que a minha vida tivesse trilha sonora...

    Dito assim eu me defino como uma boba sem tamanho, incapaz de conversas sérias e de vida pra valer. Não é verdade não. Apenas não mais consegui amar e receber amor de volta no mesmo diapasão. Nunca desejei uma relação qualquer pra não ficar sozinha, eu me dou bem comigo.

    Meu amigo diagramador, que esteve aqui em casa não tem muito tempo, me fez a mesma pergunta que você. Eu disse a ele que ninguém quis se casar comigo. Ele deu uma risada e debochou à beça do que eu disse, como se não fosse possível. Fazer o quê?

    Eu também, é mais uma verdade, nunca tive interesse em me casar novamente. Casar não. É preciso muita embriaguez dos sentidos, muita atração (não importa as características físicas), mesmo aos 70, e muuuuita conversa, apelos para acarinhar, abraçar, para conversar na cama, lado a lado... bom demais. É preciso querer estar JUNTO!, PARTILHAR...

    Meu último namorado me dizia que eu fazia jogo duro. Fazia nada. Ninguém segura uma Ofelia interessada. Mas quando ia chegando uma certa hora eu dizia que ia dormir em casa. E saía da Barra à 1h, 1h30 da madrugada, sozinha, dirigindo, numa boa (na minha casa nem pensar!).

    Isso foi em 2010. Vai fazer 7 anos! Fui olhar a data no livro que ganhei, com dedicatória carinhosa.

    Está bem, ele me chamou para levar minhas coisas pra lá. Não levei porque não daria certo. Gostei dele, mas era preciso mais do que havia entre nós.
    Quando gosto muito mesmo, sou como o macaco, que agarra e custa a soltar.

    O tempo foi passando, Bendl, e me acostumei. Sou a Woody Allen de saias, a Didi Mocó do pedaço. Viver junto não é pra mim. Eu acho.

    Enquanto isso eu vou amando o amor e algumas figuras que me atraem pelo visual(não necessariamente bonito), por um jeito de me segurar ou por qualquer coisa que elas dizem, pela cabeça delas, o que sempre me atraiu muito.

    Não é coisa que me preocupe, Bendl. Devo te confessar, no entanto, que ano passado meu olhar cruzou com o de um homem no shopping e foi como se eu tivesse tomado um choque elétrico. Mas eu saí andando, toda toda, sem olhar pra trás. Dei mole, rsrs...

    Quanto ao casal Camille-Rodin, pode ser que você tenha razão. Ficou tudo junto e misturado, o humano com o artista.

    E essa figura na foto, cinzelando outra escultura, é homem? Achei que fosse uma mulher feia.

    Desculpa se eu sumir para resolver a minha vida, Bendl. Você e os demais.

    Tô mesmo precisando me ausentar.
    Abração
    Ofelia

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  10. Francisco Bendl15/03/2017, 09:15

    Vou sentir muito a tua falta, Ofélia, muito.

    Mas, se precisas deste tempo para o teu bem, o meu abraço caloroso, terno, comigo te dizendo ao pé do ouvido que te desejo felicidades deste e do outro mundo!

    Muita saúde e paz, minha querida amiga, e não fiques muito tempo afastada, só um pouquinho, tá legal?

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  11. Vim aqui, Bendl. Hoje, dia 21, meia-noite e 56.
    Que outro mundo, Bendl? Aquele, do outro lado?
    Abração
    Ofelia

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