-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

21/03/2017

O Papa Francisco e o Sutra Lótus

Capa de um manuscrito coreano ilustrado do Sutra Lotus - 1340 (Metropolitan Museum of  Art


Antonio Rocha
O jornal on line "brasil247" publicou, certa feita, uma entrevista com o amigo de longos anos do Sumo Pontífice católico, o docente Francisco Mele, professor visitante em várias universidades italianas e latino-americanas.
Mas o que nos chamou a atenção é que o papa foi aluno do grande teólogo e professor jesuíta argentino Ismael Quiles, que segundo a entrevista, abriu as portas da Universidade Jesuíta para o Zen-Budismo, a Ioga e outras religiões.
Em 1987, a Editorial Kier, de Buenos Aires, publicou uma tradução do Sutra Lótus, com 302 páginas. O prólogo é, justamente de Ismael Quiles. Entre outras, Quiles cita um outro jesuíta Jesús Lopez Gay, que em 1984, na revista da Universidade Gregoriana de Roma, publicou o importante artigo “Buda como Pai no Hokekyo”. Hokekyo é como o Sutra Lótus é conhecido na língua japonesa.
Deduzimos (é uma dedução...) que o papa Francisco deve conhecer esta edição argentina do Sutra Lótus, pois, em geral, no âmbito acadêmico, os alunos conhecem, pesquisam e lêem a produção literária de seus professores.
No Brasil, em 1983, os jesuítas, através das Edições Loyola (jesuíta), já divulgaram o diálogo Catolicismo e Budismo, via a obra “Zen Cristão”, do padre jesuíta inglês que viveu muitos anos no Japão, William Johnston.
Suponho que o papa Francisco também deve conhecer este livro de seu colega.
Por fim, recentemente, antes de vir ao Rio de Janeiro, o papa Francisco, recebeu no Vaticano uma comitiva da linhagem budista japonesa RKK – Risho Kossei Kai, que tem como base o Sutra Lótus, onde lemos que “Buda é Pai”.
Logo, com todo respeito aos que discordam ... as palavras Buda e Deus são sinônimos... BuDeus... Budeus.
imagem LÓsservatore Romano

A foto acima é da Rádio Vaticana, noticiando a visita que o Santo Padre católico fez ao Japão (setembro de 2016), sendo recebido por monjas e monges japoneses e ganhando como presente as Escrituras Budistas.
Vejamos alguns trechos do Sutra Lótus:
“Eu sou o Buda, honrado entre os seres. Apareço no mundo como uma grande nuvem para chover riquezas em todos, livra-los dos sofrimento e obter a alegria da paz, alegria do mundo e alegria do Nirvana” (Parábola das Ervas). Nota: o termo riquezas não é só dinheiro....
“Eu sou o Pai de todos os seres vivos... tenho um tesouro inesgotável de Sabedoria, Força e Coragem. Todos os seres vivos são meus filhos... Tudo vos será dado, segundo vossa vontade” (Parábola da Casa Incendiada).
“Na verdade, somos todos filhos de Buda, embora não o saibamos... Buda sempre trata a todos nós como filhos...” (Parábola do filho perdido).
“Buda não tem forma, mas se manifesta em bondade e nos guia com o seu coração misericordioso” (A Doutrina de Buda).
Sutra Lótus é um texto sagrado, tem 624 páginas e pode ser lido na web.


10 comentários:

  1. Francisco Bendl21/03/2017, 08:44

    Não importa o nome que se dê ao Criador, se Deus, Jesus, Alá, Buda, Jeová ... não importa;

    Não importa o modo como se cultua esta divindade, se por intermédio de cultos, missas, reuniões ... não importa;

    Não importa saber se existem ateus, monoteístas, politeístas, agnósticos ... não importa;

    Importa é a forma como o ser humano deve se relacionar com a sua própria espécie;

    Importa é com devemos preservar a vida, a dignidade, o respeito ao próximo e a si mesmo;

    Importa é que devemos aceitar as pessoas com seus defeitos e qualidades, pois na razão direta que entendemos que somos imperfeitos, haverá mais compreensão e busca de correção de comportamentos que ainda deixam a desejar, exatamente pela falta de autoridade moral que temos em acusar quem errou, se cometemos as mesmas falhas.

    O Papa dialogando com budistas dá o exemplo que todos somos iguais perante o Criador, e a religião, seita ou filosofia que se segue é irrelevante, pois a nossa obrigação é viver bem com nossos semelhantes e buscar a tolerância e a compreensão como metas prioritárias, mesmo que deixemos de lado cultuar essa ou aquela divindade ou esse ou aquele Deus definidos no passado.

    Certamente os deuses esperam que nos demos conta desta realidade um dia para diminuirmos, inclusive, nossos pedidos e súplicas a eles, haja vista a solução de nossas mazelas, dores e sofrimentos estar no próprio ser humano, basta um pouco de caridade, respeito e solidariedade, na razão inversamente proporcional aos cultos, orações e recolhimentos, a meu ver, lógico.

    Desta forma, parabenizo sempre os artigos do meu amigo Rocha porque adequados e pontuais quando aborda a questão espiritual e conduta de acordo, uma espécie de coerência entre o pensar e agir, onde atualmente muito se pensa e se elaboram teses infinitas, mas o comportamento ainda continua incongruente à teoria ou à espiritualidade que se diz professar!

    Um abraço, Rocha.
    Saúde e paz.


    ResponderExcluir
  2. 1) Obrigado Bendl !

    2)Concordo plenamente com o seu belo comentário.

    3) Valeu amigo !

    ResponderExcluir
  3. Wilson Baptista Junior21/03/2017, 21:07

    Antonio, o intercâmbio do Papa Francisco com os monges budistas, no Vaticano e no Japão, é o perfeito exemplo da tolerância de que o Chicão falou ontem.
    Um abraço do
    Mano

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. 1) Certíssimo Mano !

      2)O artigo de ontem do Chicão é muito importante. Serve de referência e citação.

      3)Ele foi muito feliz no texto.

      Excluir
  4. Oi Antonio, acendi agorinha uma vela pra Nhá Chica.
    Até
    Ofelia

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. 1) Fico felicíssimo com essa notícia, Ofélia.

      2)Já falei e repito em qualquer canto: dia 26 de cada mês eu dedico à minha queridíssima Nhá Chica.

      3) Que ela abençoe a todos nós do blog.

      Excluir
  5. Moacir Pimentel22/03/2017, 06:27

    Antônio,
    Atrasado e apressado eu passo por aqui apenas para registar o quanto o seu artigo é importante ao defender as liberdade e tolerância religiosas. Reduzir os caminhos da espiritualidade a uma só estrada e nela colocar qualquer Deus como uma plaquinha de direção incontestável é dose. A intolerância religiosa é um pecado mortal contra a liberdade.
    A coisa mais assustadora de todas essas tentativas de impor a religião e o pensamento únicos é a sua popularidade. Tudo bem que a crença religiosa é fundamental para muitas identidades humanas. Para os fiéis, o que eles acreditam sobre Deus é inseparável do que eles entendem sobre si mesmos , sobre a humanidade. Mas os direitos de Deus nunca devem atropelar os direitos humanos. A dignidade humana exige o direito de questionar e, às vezes, de rir das crenças doidas de pedra.
    Abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. 1) Vc está certo Pimentel. Curiosamente, um dos próximos textos que escrevi e o Mano deve publicar é sobre uma gozação budista... não falo mais para não perder a graça.

      2) No mais, vc acertou em tudo.

      3)É isso aí, como dizíamos lá na longínqua década de 1970...

      Excluir
  6. Olá Antônio,
    (Toda vez que escrevo seu nome fico pensando que queria ter uma neta chamada Antônia)
    Mais atrasada impossível.
    Só para dizer que Buda é Buda e esse papa é uma boa surpresa. Simples, humano, mais perto de nós, pobres(cada vez mais) mortais(também).
    Até mais.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. 1) Sou suspeito para falar, mas gosto muito do significado do meu nome: "Aquele que não tem preço". Tento sempre manter-me atento para garantir o significado acima.

      2)Pois é, Ana: tenho grande simpatia pelo Papa Francisco.

      3) Concordo com vc: ele é simples, humano, perto de nós, gente boa, alegre !

      Excluir

Para comentar, por favor escolha a opção "Nome / URL" e entre com seu nome.
A URL pode ser deixada em branco.
Comentários anônimos não serão exibidos.