Ana Nunes |
Ana Nunes
Outro dia
vi uma entrevista da pequena grande mulher de quarenta quilos, nossa ministra
Carmem Lúcia. Falava, entre outras coisas, de seu amor por Minas Gerais, por
seu grande amor pelo sertão mineiro e sua paixão por Belo Horizonte. Nosso
querido Moacir que me perdoe, mas ela disse que “só existe Paris porque existe
BH”.
Certíssimo!
Ou não?
Não vou
falar da nossa história, que é rica de ouro, heróis e romance. Dela, e muito
bem, já falaram muitos. Preciso contar é das sensações, dos cheiros e das cores,
da poeira e do mato. E das minhas lembranças. Do interior hospitaleiro, jeca às
vezes, caipira, matuto e sábio.
Por aí
andei muito, levada a tiracolo por meu pai que era supervisor da ACAR, hoje
Emater. Nesses recantos mineiros, à nossa espera, sempre tinha café doce, broa
de milho e mussarela em trança que a gente comia desfiando. E boa prosa à beira
do fogão de lenha.
Pelo
caminho via taboas em touceiras, curiosos espigados verdes e marrons, simples
ilhas flutuantes em águas claras.
Estradas
estreitas, de barro e porteiras. Mata-burros também. E meu pai, motorista
destemido, de barro, areia e tudo de desafio. E lá íamos nós num jipe solitário
por caminhos entre montanhas. Velhos tempos, belos dias!
Sertão
seco, árido e de tão romântico criou Guimarães Rosa, Riobaldo e Diadorim. Mas
também matas densas de muitos verdes. E morros de minérios coloridos de vermelho, amarelo até rosa e azul.
Montanhas que trouxeram Carlos Drummond de Andrade. E também os anjinhos
mestiços e alegres do Mestre Ataíde, completando o teto das igrejas. Seu mestre
Aleijadinho com os Profetas de pedra sabão. E o tão famoso Barroco Mineiro.
Vidas
simples ricas de causos e proseados.
Aqui
assim crescemos, desconfiados e protegidos por montanhas verdes, cinzas e
azuis. Samambaias penduradas em troncos generosos que também acolhem orquídeas.
Mata verde, canela de ema e papiros a beira do riacho. Que podem se transformar
em lindos papéis com cor de natureza. Bambus espinhudos trazidos de longe por
mulheres jovens. Descascados e fervidos se transformam em rolos de fitas e
chapéus macios, trabalhados em roda de avós, filhas e netas, tão pequenas e já
com ares de mulherzinhas! São paraísos de simplicidade e trabalhos, conversas e
amor.
Amurada
de ponte e carrapato no inverno. Tem trilho, tem brilho, piaba, pedra e musgo
de rio.
Tem
cerrado com poente, com poeira seca e cheiro quente. Cheiro de verde apagado e
vento com frio.
Pena que
a máquina não registra o cheiro, que não traga da seca o fato. Chamo de retrato
da impotência. Eu tenho a cena inteira num feixe de mato.
E, por aí
perambulando, de jipe ou de ônibus, carroça que seja, em paragens desoladas um
toque de vida num varal de roupas secas, uma fileira de cor e um casebre branquinho
com manchas de pó vermelho. Que lindeza!
Pelo mato
afora, de repente uma cachoeira. Água bem fria caindo “barulhando” em remanso
sereno. Um templo da natureza onde a vida parece parar, e falar soa como
sacrilégio.
A minha
irmã, internacional de vida, mineira de nascença e carioca por escolha, aqui
sempre vem para fazer consultorias. Outro dia, um desses empresários lhe disse - Deixa de ser esnobe e vem pra cá! Mas
para ela aqui é roça.
Roça que me roça e me coça, onde eu sou feliz
demais.
Ana Nunes |
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ExcluirA Autora, Sra. ANA NUNES, nestas lembranças da Juventude, elogia o Povo do interior de Minas Gerais, seu Estado, e por extensão do interior do Brasil, entre os quais incluo minha Família, interior do Rio Grande e depois de Santa Catarina.
ResponderExcluirElogiar a Arte da Escrita da Sra. ANA NUNES é chover no molhado, mas depois do prazer de uma tal Leitura que evoca certa semelhança de nossa juventude, se pecaria contra a Justiça se não fizéssemos o elogio.
Seu ilustre Pai, Supervisor da ACAR-MG (Associação de Crédito e Assistência Rural -MG) foi um Pioneiro no desenvolvimento da produtividade e saúde do Povo do Interior. Novas Tecnologias em sementes, novas Matrizes de Animais, Aves, etc, Fruticultura, Reflorestamento, Artesanato e cuidados com a água potável e esgotos (Saúde), soros anti-ofídicos, etc,etc.
E sempre fazendo justiça as qualidades de Hospitalidade/Solidariedade de nosso grande Povo do interior. Parabéns.
Olá Flávio Bortolotto,
ExcluirVocê não imagina o quanto seu comentário me fez feliz! Foi como se meu pai estivesse junto e também o lesse. O pessoal da ACAR era muito querido por onde passava. Obrigada por ele e por mim.
E que bom que o texto trouxe lembranças suas! Temos sempre algo a dividir, não é?
Obrigada de novo por sua delicadeza.
Até mais.
No face conheci um grupo sobre historias de BH, cheguei ao esse blog conversas do mano e a vc, Ana. Amei seu texto e me veio mil lembranças de infancia. Vc percorrendo estradas com seu pai me avivou um tempo e estradas do interior onde se parava o ônibus para abrir porteiras pois estradas não haviam e os onibus adentravam as fazendas... essas estradas de terra, essas porteiras, esses mata burros, são citados por vc de maneira ímpar, sensivel e adorável! Moro fora de BH desde 1978 e já vivi no exterior e na cidade do Rio. Atualmente moro em um dos distritos de Petrópolis e que chamo de minha roça. BH é visitada sempre e a considero como um "colinho de mãe", sempre acolhedor. Abraços para vc e grupo desse blog.
ResponderExcluirObrigada Ana Elisa pelo seu comentário.
ResponderExcluirFico feliz de saber que as minhas boas lembranças tenham despertado as suas.
Agradeço em nome do grupo. Até mais.