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25/05/2017

De montanhas e cerrados

Ana Nunes

 Ana Nunes
Outro dia vi uma entrevista da pequena grande mulher de quarenta quilos, nossa ministra Carmem Lúcia. Falava, entre outras coisas, de seu amor por Minas Gerais, por seu grande amor pelo sertão mineiro e sua paixão por Belo Horizonte. Nosso querido Moacir que me perdoe, mas ela disse que “só existe Paris porque existe BH”.
Certíssimo! Ou não?
Não vou falar da nossa história, que é rica de ouro, heróis e romance. Dela, e muito bem, já falaram muitos. Preciso contar é das sensações, dos cheiros e das cores, da poeira e do mato. E das minhas lembranças. Do interior hospitaleiro, jeca às vezes, caipira, matuto e sábio.
Por aí andei muito, levada a tiracolo por meu pai que era supervisor da ACAR, hoje Emater. Nesses recantos mineiros, à nossa espera, sempre tinha café doce, broa de milho e mussarela em trança que a gente comia desfiando. E boa prosa à beira do fogão de lenha.
Pelo caminho via taboas em touceiras, curiosos espigados verdes e marrons, simples ilhas flutuantes em águas claras.
Estradas estreitas, de barro e porteiras. Mata-burros também. E meu pai, motorista destemido, de barro, areia e tudo de desafio. E lá íamos nós num jipe solitário por caminhos entre montanhas. Velhos tempos, belos dias!
Sertão seco, árido e de tão romântico criou Guimarães Rosa, Riobaldo e Diadorim. Mas também matas densas de muitos verdes. E morros de minérios coloridos  de vermelho, amarelo até rosa e azul. Montanhas que trouxeram Carlos Drummond de Andrade. E também os anjinhos mestiços e alegres do Mestre Ataíde, completando o teto das igrejas. Seu mestre Aleijadinho com os Profetas de pedra sabão. E o tão famoso Barroco Mineiro. 
Ana Nunes

Vidas simples ricas de causos e proseados.
Aqui assim crescemos, desconfiados e protegidos por montanhas verdes, cinzas e azuis. Samambaias penduradas em troncos generosos que também acolhem orquídeas. Mata verde, canela de ema e papiros a beira do riacho. Que podem se transformar em lindos papéis com cor de natureza. Bambus espinhudos trazidos de longe por mulheres jovens. Descascados e fervidos se transformam em rolos de fitas e chapéus macios, trabalhados em roda de avós, filhas e netas, tão pequenas e já com ares de mulherzinhas! São paraísos de simplicidade e trabalhos, conversas e amor.
Amurada de ponte e carrapato no inverno. Tem trilho, tem brilho, piaba, pedra e musgo de rio.
Tem cerrado com poente, com poeira seca e cheiro quente. Cheiro de verde apagado e vento com frio.
Pena que a máquina não registra o cheiro, que não traga da seca o fato. Chamo de retrato da impotência. Eu tenho a cena inteira num feixe de mato.
E, por aí perambulando, de jipe ou de ônibus, carroça que seja, em paragens desoladas um toque de vida num varal de roupas secas, uma fileira de cor e um casebre branquinho com manchas de pó vermelho. Que lindeza!
Pelo mato afora, de repente uma cachoeira. Água bem fria caindo “barulhando” em remanso sereno. Um templo da natureza onde a vida parece parar, e falar soa como sacrilégio.
A minha irmã, internacional de vida, mineira de nascença e carioca por escolha, aqui sempre vem para fazer consultorias. Outro dia, um desses empresários lhe disse - Deixa de ser esnobe e vem pra cá! Mas para ela aqui é roça.
Roça  que me roça e me coça, onde eu sou feliz demais.
Ana Nunes






18 comentários:

  1. Moacir Pimentel25/05/2017, 09:13

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    2. Wilson Baptista Junior25/05/2017, 16:02

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  2. Francisco Bendl25/05/2017, 11:34

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    2. Francisco Bendl25/05/2017, 16:46

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  5. Flávio José Bortolotto25/05/2017, 17:25

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  7. Flávio José Bortolotto27/05/2017, 11:34

    A Autora, Sra. ANA NUNES, nestas lembranças da Juventude, elogia o Povo do interior de Minas Gerais, seu Estado, e por extensão do interior do Brasil, entre os quais incluo minha Família, interior do Rio Grande e depois de Santa Catarina.
    Elogiar a Arte da Escrita da Sra. ANA NUNES é chover no molhado, mas depois do prazer de uma tal Leitura que evoca certa semelhança de nossa juventude, se pecaria contra a Justiça se não fizéssemos o elogio.

    Seu ilustre Pai, Supervisor da ACAR-MG (Associação de Crédito e Assistência Rural -MG) foi um Pioneiro no desenvolvimento da produtividade e saúde do Povo do Interior. Novas Tecnologias em sementes, novas Matrizes de Animais, Aves, etc, Fruticultura, Reflorestamento, Artesanato e cuidados com a água potável e esgotos (Saúde), soros anti-ofídicos, etc,etc.

    E sempre fazendo justiça as qualidades de Hospitalidade/Solidariedade de nosso grande Povo do interior. Parabéns.

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    1. Olá Flávio Bortolotto,
      Você não imagina o quanto seu comentário me fez feliz! Foi como se meu pai estivesse junto e também o lesse. O pessoal da ACAR era muito querido por onde passava. Obrigada por ele e por mim.
      E que bom que o texto trouxe lembranças suas! Temos sempre algo a dividir, não é?
      Obrigada de novo por sua delicadeza.
      Até mais.

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  8. No face conheci um grupo sobre historias de BH, cheguei ao esse blog conversas do mano e a vc, Ana. Amei seu texto e me veio mil lembranças de infancia. Vc percorrendo estradas com seu pai me avivou um tempo e estradas do interior onde se parava o ônibus para abrir porteiras pois estradas não haviam e os onibus adentravam as fazendas... essas estradas de terra, essas porteiras, esses mata burros, são citados por vc de maneira ímpar, sensivel e adorável! Moro fora de BH desde 1978 e já vivi no exterior e na cidade do Rio. Atualmente moro em um dos distritos de Petrópolis e que chamo de minha roça. BH é visitada sempre e a considero como um "colinho de mãe", sempre acolhedor. Abraços para vc e grupo desse blog.

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  9. Obrigada Ana Elisa pelo seu comentário.
    Fico feliz de saber que as minhas boas lembranças tenham despertado as suas.
    Agradeço em nome do grupo. Até mais.

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