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07/05/2017

O padre português que descobriu o Tibet

Monges tocando trombeta em Lhasa - 1938 - fotografia de  Ernst Schäfer


Antonio Rocha
No mundo antigo, as notícias corriam céleres, via caravanas na Rota da Seda e assim as terras maravilhosas ficavam no imaginário popular, até que, finalmente, as descobertas eram concretizadas.
Eu tenho um grande respeito pelos meus queridos amigos e irmãos portugueses. Já escrevi aqui, em outro post que Portugal é a minha segunda nação.
E, se eu sempre amei a Terra Portucalense, quando aprendi que foram os portugas (com todo o respeito) que descobriram o Tibet, fiquei gostando mais ainda.
E isso aprendi quando morava lá, via Revista História, nº 20, junho de 1980, página 2:
“Em 1626 foi publicado em Lisboa, uma carta datada de 1624, que o padre jesuíta Antonio de Andrade descobriu os Reinos do Tibet”.
O padre e um intérprete local, em 1624 juntaram-se à uma caravana de peregrinos budistas que iam até a nascente do sagrado Rio Ganges, onde há um santuário budista, na cidade de Badrinate.
O clérigo foi o primeiro europeu a atravessar a Cordilheira do Himalaia, a uma altura de 5.500 metros. Em agosto, ele chega em um dos reinos tibetanos (só bem mais tarde houve a unificação do país). Para surpresa sua, não encontra nenhum cristão, mas os budistas o recebem muito bem.
Diz a revista, na página 7: “O conjunto das duas cartas constitui um documento riquíssimo, sob vários pontos de vista. É o primeiro corpo de informações relativas ao Tibet, recolhidas por um observador direto, chegado à Europa”.
“Nas suas cartas o jesuíta seiscentista faz uma vasta recolha de caráter geográfico e etnográfico sobre a Índia e os Himalaias. Os costumes, os povos, as tradições, a economia, a religião budista são ali amplamente tratados”.
O padre português escreveu, página 12: “Os seus sacerdotes vivem em comunidade como os nosso religiosos, outros em suas casas particulares como clérigos entre nós... cantam a nosso modo, suavemente. Tem casas de oração como as nossas igrejas, usam certos lavatórios, que parece representam o sagrado Batismo”.
Sendo um naturalista o padre Antonio descreve a flora dos Himalaias com impressionantes detalhes elogiosos.
Página 15: “Chegando na cidade de Tsaparang saía gente pelas ruas, e as mulheres às janelas a nos ver como coisas mui raras e estranhas”.
“Na segunda carta aparece, mesmo, um esboço de estudo comparado das religiões: lamaísmo versus cristianismo.” (página 16).
“Eles também costumam curar os doentes soprando muitas vezes e muito rijo sobre a parte enferma” (página 17). Nos Evangelhos Jesus fez o mesmo.
“... o caso do bodhisatva Avalokitesvara, divindade budista da misericórdia, que é muitas vezes representado por uma mulher com uma criança nos braços, lembra a Virgem Maria” (página 18).
O texto do jesuíta ventila a possibilidade de Lisboa e Lhassa, as capitais de Portugal e Tibet começarem um produtivo intercâmbio comercial.
O sucesso das cartas de Antonio foi interessante e no período seguinte de cinco anos, as cartas foram reeditadas em sete traduções para diferentes línguas europeias.
Mas, com o devido respaldo do tempo, na segunda carta o padre Antonio desmonta a transcendência do budismo e fala que tudo aquilo é coisa do Diabo.
Reverências Búdicas, Portugal!



4 comentários:

  1. Moacir Pimentel07/05/2017, 16:08

    Antônio,
    Eu não sabia das andanças do padre jesuíta Antonio de Andrade pelo Tibet. O primeiro dos escrivinhadores turistólogos lusitanos foi Duarte Barbosa cujo trabalho leva o seu nome e versa sobre os locais que ele visitou na Índia no começo do século XVI mas sem falar da galinha de cabidela de Goa.(rsrs) Sou mais os Lusíadas!
    Mas confesso que muito me interesso pelas pegadas dos tugas na Ásia. Os pás estiveram em todas: Índia, Macau, China, Japão, Filipinas, Srilanka. Da última vez que estive no antigo Ceilão num dos Parques Nacionais - os elefantes passavam bem defronte da nossa porta - eu fiz uma foto memorável. Trata-se uma senhorinha de cabelos brancos e nativa do Sul, curvada sobre uma almofada e fazendo renda de bilro. "Juro-te!" Qualquer dia desses vou tentar rascunhar sobre o tema.
    Abração

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  2. 1) Obrigado Pimentel, vc deve ter uma riqueza de fotos e histórias e vivências.

    2)Sorte nossa que vamos ler muitos textos bons.

    3)Abração !

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  3. 1)Mano, parabéns, foto linda que ilustra a matéria.

    2)Ao fundo, a Cordilheira do Himalaia. No centro da foto, destaque para o Palácio do Potala, onde morava o Dalai Lama.E os monges soam as trombetas para anunciar o culto. Convidar os Deuses, Budas e toda a Natureza para se fazerem presentes.

    3) Semana Auspiciosa começa hoje, pois quarta-feira, dia 10/05 é o Vesak = Lua Cheia de Maio, qdo reverenciamos o nascimento, iluminação e nirvana de Buda.

    4)Na cerimônia que participei pela manhã, em uma praça no Grajaú, RJ, na hora de fazer o ritual do "Banho do Menino Buda" lembrei do Wilson, Ana, demais familiares, deste blog, dos comentarista e, leitores. Mentalmente fiz o que se chama "Transferência de Méritos".

    5)Gratidão, pois vcs possibilitam eu confabular sobre a Doutrina ...

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  4. Olá Antônio
    Você é outro sabichão.
    Também gostei muito da foto, principalmente depois da sua explicação.
    Até mais.

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