Movimento Poesia Pornô

Bernard D'Agesci - A Musa Erato (1785)

Antonio Rocha

É um fato histórico. Na década de 1980 aconteceu no Rio de Janeiro este movimento de jovens poetas. Chegou a ser objeto de matéria no antigo Caderno B, do Jornal do Brasil. O assunto deu panos para mangas, foi considerado originalíssimo, se bem que sempre existiu poesia pornográfica.

Cada poeta ou poetisa representava um Estado da Federação. Era o tempo da Geração Mimeógrafo. Fui participante eventual, representava o Estado de Pernambuco. Eu era o mais velho e já estava casado. Faziam apresentações na Faculdade e em outros lugares, no Parque Lage e uma vez, meninos e meninas combinaram uma passeata completamente nus, na manhã de domingo em plena praia de Copacabana. Eu não tive coragem de ir, mas podem verificar nos anais da época.

Fizeram pequena caminhada pelados na areia. Ninguém foi preso, nem a polícia interferiu. Era algo artístico, inovador. Havia até um grupo de professores-pesquisadores na ECO – Escola de Comunicação da UFRJ investigando as poesias e as inusitadas manifestações.

Lembrei desse fato enquanto “matutava” um artigo sobre o Dicionário do Palavrão. Por exemplo, vejam o que encontrei na página 66, sobre um folheto que foi distribuído no Nordeste, em determinada eleição, um primor de Duplo Sentido. Propaganda de fictício candidato:

“Doutor Alisando Cresce, não sei para qual cargo, diz o volante: É duro. O único que aumenta a população. Suas realizações aparecem em nove meses. Não gosta de chatos. Respeita as regras. Não protege os parentes próximos, ao contrário gosta mais de estranhos. Sua maior preocupação é ficar por dentro. Tem integral apoio feminino. Trabalha qualquer hora do dia ou da noite. Gosta de passar despercebido pois anda de cabeça baixa. É pobre e anda pendurado. É modesto e nunca publicou seu retrato nos jornais, mas no caso de ser publicado, seria imediatamente reconhecido por todos. (O folheto é antigo, antes da liberação da pornografia). É ativo, levanta com o pensamento. Chora de prazer quando trabalha. É candidato que entra cheio e sai vazio. Dá leite a quem tem sede. É educado: quando vê uma mulher, levanta-se. Tem tendência para a esquerda. É ótimo desportista: joga com duas bolas. Seu trabalho é produtivo vai e vem. Espero que seu voto não seja em branco. Vote em Alisando Cresce, pois você deve a ele o que você é hoje”.

Uma vez, aqui no blog Conversas do Mano, o Moacir Pimentel fez uma listagem de palavras portuguesas que, no Brasil, são verdadeiros palavrões, mas não vou abordar esta parte.

Se falei do fictício candidato, agora vou contar outro assunto verdadeiro, além do citado movimento “pornopoema = por no poema”.

Belo dia um aluno me perguntou:

- Professor, o senhor quando foi na Espanha entrou na buseta?

Respondi:

- Ô rapaz, toma jeito!

- Não professor, está no dicionário, é um micro-ônibus.

Na página 564, “Minidicionário Espanhol Português – Português Espanhol”, editora Ática, 1995.

Outra passagem verdadeira, aconteceu recentemente. Uma colega de trabalho me perguntou:

- Professor você já comeu a rosquinha do marido dela – disse apontando para a amiga que estava ao lado.

Sorrindo ante a inesperada pergunta e os demais na sala também rindo respondi:

- Não !

Então a primeira completou:

- Ô gente, é que marido dela cozinha muito bem e sabe fazer roscas deliciosas.