El Greco - São Francisco recebendo os estigmas - 1585 (wikimedia commons) |
Antonio Rocha
Se alguém pensou, mediante o meu artigo anterior sobre o cemitério que
isso é esquisitice de oriental e umbandista, quero lhes dizer que não, também
está presente no Ocidente. Deste modo, conto-lhes duas histórias:
A primeira = Bela noite o telefone toca. Eu atendo, do outro lado uma
voz diz:
- Professor estou falando em nome de
dois outros colegas. Nos somos frades franciscanos, estudamos Teologia na PUC,
estamos fazendo uma pesquisa sobre Budismo e lá nos indicaram o seu nome.
- De fato, algumas vezes já estive na
PUC-RJ fazendo palestras, diálogos e debates.
Combinamos então que os três viriam à minha casa na semana seguinte.
Essa história deve ter uns trinta anos.
No final de tarde combinado o lanche foi bom e as conversas também. Os
três jovens frades pertenciam à Ordem dos Franciscanos Conventuais. Estavam
ligados à uma Província cuja sede ficava nos EUA. O manto deles é um azul
misturado com cinza chumbo, se é que eu consigo definir esta cor.
Explicaram-me que existem três ordens franciscanas. Os capuchinhos, bem
mais conhecidos vieram da Itália.
Mas, na rua, os Conventuais usam roupas comuns. O belo convento fica no
Rio Comprido, bem próximo de onde moro.
Fizeram um bom trabalho, mostrei livros, tiraram fotos, conversamos
sobre algumas práticas espirituais bem parecidas. Então pensei... será que São
Francisco de Assis conhecia o Budismo? Pois na época dele, missionários
budistas peregrinavam pela Europa, dizem textos orientais.
Para comemorar a amizade eles convidaram eu, Heloisa e mais nossa filha,
que era pequena, para almoçarmos no convento no sábado seguinte, claro que
aceitamos com alegria.
E no sábado pela manhã, lá chegamos. Visitamos várias dependências,
fiquei maravilhado com a Biblioteca e me franquearam as pesquisas e leituras.
Fomos muito bem recebidos, conversamos com vários frades, desde o reitor até o
mais aprendiz dos frades. Que felicidade.
Tem um bom estacionamento que eles cobram as vagas, para ajudar na
manutenção e tem uma pequena igreja, bem simples, sem decorações, onde sábados
a noite tem missa e domingos também.
Contaram-nos que vez por outras tem festas e os leigos aparecem, tipo
festas juninas e outras do calendário.
O almoço foi formidável. Era frango com feijão, arroz, legumes, saladas.
Algo divinal!
Após o almoço fomos todos para a capela, havia missa e rezamos o mantra
“Ave Maria” ao longo de uma hora quase. Chamo respeitosamente de mantra, pois
repetíamos devotadamente a famosa oração, de joelhos, todos nós, eles, eu,
Heloisa e nossa filha.
Lá pelas tantas vi na entrada de um dos pátios uma imagem de São
Francisco de Assis com um crânio na mão. Perguntei o que simbolizava.
Responderam que representava a vitória sobre a morte.
Concordei, no Budismo também temos a “Meditação da Morte” com a mesma
finalidade.
Foi um dia memorável, inesquecível. Minha Gratidão imensa a todos aqueles
queridos amigos e irmãos Franciscanos Conventuais.
A segunda história vai ficar para um próximo artigo. Foi em Évora, uma
cidade linda, em Portugal, no maravilhoso Alentejo. Lá encontramos a “Capela
dos Ossos”, também dos franciscanos, mas dessa vez, dos Capuchinhos com um lema
importante na entrada: “Nós, os ossos que
aqui estamos, pelos vossos esperamos”.
As paredes dessa capela são revestidas com ossos humanos de fiéis que
morrem e doam-se para adornar as paredes. Então o cheiro de cadáveres e
caveiras é muito forte. Os frades desossam os corpos humanos e colam os ossos
nas paredes. Às vezes ficam pedaços de carnes e cartilagens que vão se
decompondo aos poucos.
Uma visita de desapego àquele local. Também inesquecível!
1) Obrigadíssimo Mano, nota 10 para o ilustrador e editor pela belíssima foto de Arte. A morte também pode ser bela...
ResponderExcluir2) Durante alguns textos estudamos aqui a produção artística de El Greco, através das "pretinhas" do Pimentel.
3) Criativamente Wilson postou o quadro do citado pintor. Grato !
4) Bom sábado para todos (as) !
Caro Rocha,
ResponderExcluirQuantas histórias espetaculares e inesquecíveis que deves ter contigo!
Nada mais salutar para o espírito e a mente que trocar ideias como tiveste com os franciscanos, pois a cultura dos padres é fantástica, e suas bibliotecas mundo fora contém a trajetória da humanidade.
Certa feita, ainda um guri, eu estudava em uma escola de Irmãos Maristas, a minha classe foi visitar um seminário, existente ainda hoje na cidade de Viamão, na grande Porto Alegre.
Impressionante o clima do ambiente, de silêncio, reflexão, recolhimento, que propicia este clima o estudo, a concentração, a absorção cada vez mais de conhecimentos.
Certamente experiências marcantes, Rocha.
Um forte abraço.
Saúde e paz.
1) Chicão, é isso aí...as bibliotecas dos mosteiros, dos conventos são maravilhosas...
Excluir2) Além disso, aquele silêncio de outro mundo... como vc descreveu no terceiro parágrafo e completou no quarto: "são experiências marcantes".
Antônio,
ResponderExcluirO meu São Francisco é menos dramático do que o de El Grego pois prefiro lembrá-lo como o Irmão Sol na versão do Zefirelli.
E pense numa Irmã Lua! (rsrs)Fiquei curioso para ler a opinião do vizinho sobre a Capela dos Ossos alentejana.
Abração
1) Oi Pimentel, adorei a visita à Capela dos Ossos, até hoje falo nela, escrevo sobre ela, sempre que posso divulgo.
Excluir2)Lembro do filme do Zefirelli: "Irmão Sol Irmã Lua"
3)Gosto muito de Santa Clara, respeitosamente a meu ver, a cara metade do São Francisco de Assis.
4)Veja que bela poesia de Manuel Bandeira: "Oração para Aviadores"
Santa Clara, clareai
Estes ares.
Dai-nos ventos regulares,
de feição.
Estes mares, estes ares
Clareai.
Santa Clara, dai-nos sol.
Se baixar a cerração,
Alumiai
Meus olhos na cerração.
Estes montes e horizontes
Clareai.
Santa Clara, no mau tempo
Sustentai
Nossas asas.
A salvo de árvores, casas,
E penedos, nossas asas
Governai.
Santa Clara, clareai.
Afastai
Todo risco.
Por amor de S. Francisco,
Vosso mestre, nosso pai,
Santa Clara, todo risco
Dissipai.
Santa Clara, clareai
Olá Antonio,
ResponderExcluirDesculpe não ter comentado seu outro texto. Estive muito ocupada fazendo programas (não me entenda mal) de meninas, com a irmã do Rio que veio para um congresso. Juntamos as três eaproveitamos bastante. Tanto, tanto que não sobrou tempo para leituras.
Uma gostosura esse seu texto e maravilha a alegria com que você acolhe outras religiões! Já sabia disso mas é sempre bom constatar de novo. E perceber a sua filhota aprendendo o caminho!
Mas o cheiro da capela...acho que nunca entraria lá.
Bom sábado para voces dois.
Até mais.
1) Tudo bem Ana, programas educativos são ótimos !
Excluir2)Do grupo em que eu estava, só eu adorei a capela, os outros voltaram da porta e me esperaram lá fora.
3)Deve ser meu lado meio monge...
Antonio, nos meus tempos de menino morava na sala da nossa casa, em cima da eletrola, uma linda imagem de argila do São Francisco, aí de uns dois palmos e pouco de altura, sem pintura, conservando a cor do material.
ResponderExcluirUm dia foi nos visitar um amigo de meus pais, o Mário Silésio, grande desenhista
e pintor mineiro, que depois vim a saber que era tio de um de meus melhores amigos de escola. Papai ao me apresentar a ele disse que eu gostava de desenhar, e o Mário disse que gostaria de me ver desenhar o santo.
Peguei nos meus lápis e um caderno de desenho e durante aí uns vinte minutos me concentrei em reproduzir o mais fielmente possível a imagem. Quando terminei o desenho o Mário olhou, não falou nada, virou a página, pegou num crayon e com meia dúzia de traços e um ou dois borrões fez saltar da página um São Francisco de uma força incrível. Não se parecia em nada com a imagem, mas que vida!
Nesse dia eu entendi a diferença entre desenhar e fazer arte :)
1) Por isso, escrevi no e-mail, percebo em vc dons artísticos que se revelam nas ilustrações do blog.
ResponderExcluir2)Parte da minha infância eu fazia, diariamente, a "Oração de São Francisco de Assis", que eu ouvia no rádio, através da voz de Alziro Zarur. Até hoje, vez por outra ouço na internet. A meu ver, o Zarur tem uma bela voz.
3) Então, essa minha ligação com Santo Antônio, também é com o Chefe dele: São Francisco de Assis.
Nossa, que história bonita!
ResponderExcluirGostaria muito de conhecer esse capela de ossos, deve ser bem tenebroso.
1) Oi Larissa, não vi como algo tenebroso, mas ao contrário, algo educativo, para refletirmos sobre a impermanência da vida, passa tão rápida.
Excluir2)Contudo, respeito sua opinião.
3) Bom domingo, boa semana.