Wilson Baptista
Junior
O post da Ana de outro dia, sobre os nossos netos, me
fez pensar nos avós.
Não nos avós dos nossos netos, mas nos nossos avós.
Aqueles para quem nós fomos os netos.
Alguns dos meus avós se foram quando eu era pequeno.
Outros no meio do caminho. Os da Ana foram os com quem eu cheguei a conviver
mais velho.
Meu avô paterno, o Vovô Ziza, foi aquele com quem estive
por menos tempo, morreu quando eu era muito pequeno. Minhas lembranças dele,
então, são uma mistura do que eu vivi e do que me contaram. E das fotografias
dele que tínhamos em casa. Uma delas, dele escutando rádio, foi uma das
primeiras ampliações razoáveis que fiz como aprendiz no laboratório de papai.
Vovô Ziza, o Seu Osias, como era conhecido, tinha a
reputação de homem seríssimo, severo, sempre de terno escuro, era escrivão do
registro civil. Perdeu o pai quando criança, foi criado pela mãe na sua cidadezinha
natal de Sabará, passaram dificuldades, quando cresceu um pouco foi mascatear
diamantes pelo interior bravo, viajava em sua mula com uma capanga com as joias
e uma pistola carregada no arção da sela.
Veio para Belo Horizonte e foi trabalhar como
escriturário no cartório onde seu irmão mais velho, meu tio-avô Dimas, era o
escrivão. Foi aprendendo o ofício até que sucedeu a ele no cargo, construindo
uma reputação de homem extremamente correto e corajoso. Andava com um punhal de
prata na cava do colete, está na família até hoje.
Pois com toda essa severidade, a lembrança mais nítida
que tenho dele é dele chegando em casa, na nossa casa da Barbacena, uma casa
linda que na verdade era duas casas de paredes meias, a de meus avós e a de
meus pais, e sobre a qual talvez ainda escreva aqui um dia, de terno, colete,
gravata e chapéu e jogando com destreza um ioiô de vidro verde que tinha
comprado para mim e minha irmã mais velha, a Tita. Veio lá do centro da cidade,
de ônibus, brincando com o ioiô...
Guardei esse ioiô por muito tempo, acho que se perdeu
quando mais de vinte anos depois nos mudamos para a Vila São José, a casa que
foi a segunda e última de meus pais.
Quando mais tarde, menino e depois rapazinho, ia
ajudar meu pai nos seus plantões aos domingos no cartório, li muitas e muitas
páginas dos registros feitos por Vovô nos grandes livros de assentamentos, com
sua letra antiga, escrita com pena de aço e aquela tinta à base de ferro que se
oxidava com o tempo e ia passando de preta para marrom. Quando íamos visitá-lo no Cemitério do Bonfim (onde hoje descansam junto dele minha avó,
minha tia-avó e meus pais) me fascinava a tampa do seu túmulo, uma placa de
granito negro que tem em cima a escultura de um livro fechado e uma pena de ganso
daquelas que se usavam antigamente para escrever, e o seu nome escrito na sua
caligrafia inconfundível em letrinhas de bronze.
Vovó Dindinha, mulher dele, filha do Mestre Augusto e
da Dona Cocota, nasceu em Santa Luzia, antiga Santa Luzia do Rio das Velhas do
Sabarabussu. Quando nova trabalhou com as irmãs numa fábrica de tecidos, até
que se casou e se mudou para Belo Horizonte. Quando meu pai ficou noivo de
minha mãe construíram a casa geminada da Barbacena, um grande sobrado que logo que
minha irmã mais velha começou a andar teve a parede que dividia as duas partes
perfurada por uma porta que ia do escritório de meu pai para a sala de jantar
de minha avó para que ela pudesse passar de uma para a outra sem tomar chuva.
Vovó era tão ou mais severa do que Vovô. Depois que
ele morreu guardava carregado na gaveta do criado mudo (e sabia usar) o revólver
que tinha sido dele. Tendo sido toda a vida dedicada ao filho único que era meu
pai, educado à moda do tempo, estranhava a criação diferente que ele e Mamãe
tinham inevitavelmente que dar aos cinco meninos e três meninas que produziram.
Papai, que ela e minha tia-avó Didida chamavam de Sinhô, era para ela o filho
ideal que não tinha nenhum defeito e que tinha sempre razão.
Quando era nova tocava muito bem o violão, e quando se
casou Vovô Ziza fez com que ela parasse porque naquela época isso não era
considerado apropriado para uma senhora casada (“Sério, Vovô?”, como diz nosso netinho mais novo. Sério). Mas
guardou o violão e muitas vezes consegui convencê-la a tirá-lo do armário e
tocar. Quando pegava nele seus olhos se tornavam sonhadores e se perdia
nas lembranças de juventude. Dançava muito bem, e tentou inutilmente me ensinar
a dançar a valsa direito. Eu gostava muito de ficar ouvindo dela as histórias
da Santa Luzia e Belo Horizonte antigas, e as histórias da família. Cozinhava
muito bem, com o tempero da boa comida mineira, e conservou até o final na sua
cozinha, junto com o fogão moderno, o fogão de lenha. Eu muitas vezes fugia de
nossa casa para a dela para almoçar com ela e Tia Didida, para um certo
desgosto de minha mãe. Mas nenhuma das cozinheiras que tivemos naquela casa
chegava nem perto da maestria de Vovó.
Morreu com mais de noventa anos, já na “casa nova”
para onde nos mudamos, e na qual nunca se acostumou por ter tido que trocar sua
metade da antiga por dois quartos, um banheiro e uma grande sala de jantar.
Meu avô materno, Vovô Juquinha, aquele contador de
histórias que me deixou de lembrança aquela faca de caça de que já falei aqui
num post sobre A Alma das Coisas, era um advogado que trabalhava para uma
companhia de um investidor dinamarquês, Arn Thun, dono da grande mina de Casa
de Pedra, que durante a Segunda Guerra Mundial foi nacionalizada e passada para
a Companhia Siderúrgica Nacional para ajudar no esforço de guerra.
Quando o conheci moravam ele, minha avó Dadinha e duas
das cinco filhas numa casa linda em frente à antiga igrejinha de Santana, uma pequena
jóia que depois com o crescimento da paróquia foi demolida e substituída por uma
igreja modernosa e sem graça, a alguns quarteirões para cima de onde moramos hoje. Vovô
era um dandy, como se dizia na época, tudo de bom e do melhor; camisas
inglesas, ternos e sapatos feitos sob medida, colônias francesas, abotoaduras
de ouro e por aí a fora.
Com a nacionalização da mina a Arn Thun acabou, e meu
avô ficou desempregado e aposentou-se com um rendimento bem pequeno. As duas filhas
mais velhas tiveram que ir trabalhar para ajudar a sustentar a família – Mamãe e
Tia Maria Cândida eram datilógrafas na Secretaria do Interior, ao tempo do
Benedito Valadares como governador.
O escritório de Vovô Juquinha era uma atração para
mim, as paredes forradas de livros (entre os quais encontrei pela primeira vez as
histórias de Emílio Salgari), a janela grande dando para a rua por cima de um
jardim florido, a cadeira Thonet de balanço com o encosto de palhinha coberto
por uma pele de lontra que ele jurava (e eu por muito tempo acreditei) que
tinha caçado à faca mergulhando no rio, debaixo da janela uns nichos com uma
escultura linda de marfim de uma família de elefantes, a cuia e a bomba para o
chimarrão – Vovô adorava o Rio Grande, quando estudante de direito tinha sido
colega de república de Getúlio Vargas, era amigo de Oswaldo Aranha e tinha sido
algumas vezes seu hóspede nas estâncias gaúchas. Quando eu ia lá, em pequeno,
me fazia experimentar seus perfumes franceses, para grande desgosto de meu pai.
Morreu novo, antes dos setenta anos, eu era ainda
menino. Como ao meu vovô Ziza, levou-o o cigarro... Me deixou de herança a faca
inglesa, que hoje é de um de meus filhos, uma adaga de cavalaria das que os
antepassados do Chicão usavam para degolar os adversários nas revoluções do Rio
Grande e que ele guardava debaixo do colchão de sua cama, e um relógio de bolso
de ouro, com sua pesada corrente, hoje guardado pelo meu outro filho para o meu
netinho mais velho (que hoje, na era dos smartphones, nem sabe mais o que é usar
relógio de pulso, que dirá de bolso...). E aqui do lado da minha mesa o cesto de
papéis do seu escritório, de que também já falei uma vez.
Vovó Dadinha, a Dona Candinha, vinha de família da
antiga aristocracia ouropretana do tempo do império. Em uma das estantes que me
rodeiam enquanto escrevo está o “copo do imperador”, um copo antigo e pesado de
cristal que diz a história da família que foi usado pelo imperador Dom Pedro II
(ou terá sido o Primeiro? Quem sabia não está mais aqui para me dizer) quando de
uma visita a uma casa da família.
Enérgica e autoritária, o oposto do marido, com a
perda da estabilidade financeira não perdeu seus modos aristocráticos.
Sobreviveu por muitos anos ao meu avô.
Pianista consumada, abandonou o Conservatório para se casar. Me lembro
muito do piano de sua sala de estar, ao lado da longa varanda, com seus castiçais de bronze de cada lado do suporte das partituras para colocar as velas nos saraus noturnos. Dom Alcuíno, o velho monge beneditino suíço que era o capelão da abadia onde Tia Maria Cândida era monja, era amigo da
família e também era pianista, e como não havia piano no mosteiro nem muito
menos na casa do capelão, eu costumava levá-lo no carro de papai para tocar na casa de minha avó. Mais tarde, com a morte dela, ele passou a vir
tocar no piano da nossa casa.
Conheci os avós da Ana quando começamos a namorar. O
avô materno, o Seu Américo, era um português da velha cepa dos camponeses de
Trás-os-Montes. Foi músico e canteiro em Portugal, casou-se e veio para o
Brasil e trabalhou de pedreiro e canteiro em Antonio Dias e Ouro Preto, depois
abriu lá uma padaria e muitos anos depois se mudou para Belo Horizonte, onde
abriu outra padaria.
Magro, cabelos brancos, tipo chegado ao mouro, com mãos
grandes e os braços peludos onde os tendões saltados testemunhavam a força,
morava com a mulher, Dona Ana, branquinha de olhos verdes, numa casa construída
anexa à padaria. Guardei dele a lembrança das nossas conversas, onde ele ouvia
mais do que falava, seus olhos vivos debaixo das sobrancelhas fartas. E da avó
Ana seu jeito feliz e o carinho que os dois tinham com a neta, e o jeito com
que me faziam sentir em casa. E os almoços de festa, da bacalhoada à moda da aldeia
na terrinha, preparada pela avó de um modo que ninguém conhece mais e que só se
come agora cá em casa, e o cheiro da leitoa assada no forno da padaria. Não
existiu melhor retrato de uma casa portuguesa com certeza...
Seu Américo viajou conosco, pela última vez, para ver
uma neta que morava no oeste de Minas e depois os pais da Ana, que moravam então numa
casa enorme numa cidade mais para diante ainda. Nunca vou me esquecer dele, depois do
jantar, dando a volta na varanda da casa com um bisnetinho em cada mão, eles
estavam começando a andar. De noite, um enfarte fulminante o levou embora
enquanto corríamos de carro na chuva e na estrada de terra para o hospital, a
muitos quilômetros de distância.
A avó Ana viveu ainda alguns anos, morreu na casa distante dos pais da Ana, que fomos visitar naquela última
viagem com o avô.
Os avós paternos moravam no oeste de São Paulo, quase onde
o rio Tietê marca a fronteira com o Mato Grosso do Sul. Naquela época, quase
mil quilômetros de estrada para chegar lá. Por isso convivemos bem menos. O avô
Antonio era um português alto, grande, pele muito clara, filho do velho
Nicolau, o pioneiro que tinha aberto o picadão até aquela região para desbravar
as fazendas e fundado a cidade. Morava num bairro que tinha o nome da família e
tinha uma fazenda, a parte que lhe tinha tocado da herança do pai, onde
plantava um café como nunca provei igual. Na mata da fazenda havia um jequitibá
imenso, com um tronco tão grosso que da última vez em que fomos lá eu, ele e
meus dois filhos adolescentes não conseguimos circundar com os braços.
Quando ia à mata costumava levar um balaio de bananas,
aí chamava e para gáudio das crianças logo vinha um bando de macaquinhos para
comer as frutas.
Em casa plantava e vendia mudas, tinha um viveiro no
jardim.
Gostava muito de ler, nas estantes da sala de sua casa
a Ana ficava namorando uma bela coleção com todos os Prêmios Nobel de
literatura até aquela época, só algum tempo depois conseguimos comprar uma
igual.
Quando ele vinha a Belo Horizonte trazia para nós uma
lata com seu café torrado de fresco, era tão cheiroso que eu dizia que não era
preciso passar o café, bastava destampar a lata e respirar fundo...
Quando nós ou os pais da Ana íamos lá levávamos um
punhado de garrafas de bom vinho português, que ele não dispensava às
refeições.
Dele ficaram para a Ana uma flauta doce de ébano e o diário e um punhado de cartas do pai pioneiro, que ela mais tarde doou para a sociedade histórica da sua cidade.
Dele ficaram para a Ana uma flauta doce de ébano e o diário e um punhado de cartas do pai pioneiro, que ela mais tarde doou para a sociedade histórica da sua cidade.
A avó Maria era uma alemã, grande, brava, desconfiada,
de temperamento, digamos assim, forte. Cozinheira competentíssima. Um almoço de
todo dia em sua casa era coisa de respeito. Só não era recomendável discutir
com ela...
Nos deixou quando os bisnetos estavam lá pelos quatorze anos, e o avô Antonio algum tempo depois.
Nos deixou quando os bisnetos estavam lá pelos quatorze anos, e o avô Antonio algum tempo depois.
Enquanto eu escrevia esse post as lembranças deles vinham
e se reavivavam. Como dizem os mexicanos, enquanto as pessoas se lembram deles
nossos mortos vivem felizes na terra dos lembrados. Pelo menos o post serviu
para adiar um pouco, quem sabe, o tempo em que eles devam partir para a terra
dos esquecidos...
E quem sabe, talvez, um dia nossos netos também venham
a escrever sobre nós para contar aos seus.
Belo texto, sr. Redator!
ResponderExcluirVai emocionar muita gente da família!
Bjoks
Quem sabe, Ana, quem sabe?
ExcluirUm beijo.
Wilson, meu caro,
ResponderExcluirEu até teria muito para contar sobre os meus cinco netos, porém sobre meus avós muito pouco.
Primeiro porque os meus avós por parte de pai eu não os conheci, pois morreram em 47, e nasci em 50.
Do lado da minha mãe, o meu avô igualmente morreu antes de eu nascer, sobrando a minha avó materna, que cheguei a morar com ela um ano, falecendo em 96 aos 86 anos de idade.
Tratava-se de uma senhora que era a antítese das avós de almanaques e alfarrábios.
Quando em 58, eu, irmão seis anos mais moço e minha mãe nos vimos obrigados a morar com a minha avó no interior do RS, eu com 8 anos, ao chegarmos na casa da matriarca ela nos aguardava na soleira da sua enorme residência ... com um rebenque em uma das mãos exclamando para minha mãe:
- Assunta, pega este chicote porque vai ser a educação dos teus filhos!
Um ano depois entendemos que morar em Brasília, local inóspito ainda e sem qualquer conhecido talvez fosse mais agradável!
Enfim, a minha avó foi uma mulher que jamais dependeu de quem quer que fosse. Nada afetiva, nada carinhosa, nada tolerante, nada compreensiva, era pão pão, queijo queijo, escreveu não leu, o pau comeu!
Ai de mim se chegasse em casa após às 12;30h, horário que o seu segundo esposo – meu avô morrera muito antes -, médico, vinha para almoçar, pois o colégio onde eu estudava largava às 12;20h.
Pernas para que te quero! Dez minutos para percorrer dez/doze quadras.
Mas, como todo o guri que se preza jogar bolinha era obrigação, uma briga questão de honra, uma que outra brincadeira era necessária, e volta e meia eu chegava às 13H.
Resultado:
Sem papá! E a surra comia, e o rebenque de couro cru rasgava a carne sem dó nem piedade, com duas marcas nos braços que levarei comigo para outra vida!
Absolutamente contrário, avesso e repudiando a maneira como fui “bem” tratado pela minha avó, eu e a Marli nos relacionamos com nossos netos como avós deslumbrados, melosos, onde podem fazer o que quiserem, comer o que desejarem ... ter uma estadia conosco onde sintam alegria, satisfação e muito amor de seus avós!
Excelente artigo, Wilson, que faz a gente buscar as reminiscências e registrá-las como desabafo ou expulsar más recordações, evidentemente cada um de nós com as suas lembranças, se agradáveis ou não.
Um forte e fraterno abraço.
Saúde e paz.
Chicão, que barra você enfrentou...
ExcluirMas você soube ser o avô que não teve, e tenho certeza de que seus netos adoram a avó Marli e o Super Duplo :)
E que eles vão se lembrar de vocês com muito, muito carinho.
Um abraço do
Mano
1) Este blog do Mano é muito importante. Parabéns Wilson.
ResponderExcluir2)Todos nós, vez por outra estamos aqui falando de nossos parentes e familiares.
3)Então lembrei que o Buda recomendava reverenciarmos os nossos antepassados. Todos os antepassados em uma sequência infinita que chega a Deus... avós, bisavós, trisavós, tetravós... Budavós ...(Budavô e Budavó).
4)O que somos hoje, em parte, deve-se a eles, nesta linhagem infinita do tempo.
5) Tem até prece e meditação dos antepassados, que faço com frequência...
Obrigado, Antonio. Sim, somos uma parte de uma linhagem que vem de muito longe e que, queira Deus, também vá ainda muito longe. Cada um de nós trazendo um pouco do que foram os de antes e passando para a frente um pouco de nós também.
ExcluirQue os nossos avós, estejam onde estiverem, estejam contentes de nos ver.
Wilson,
ResponderExcluirSão muito belas essas histórias que você retira dos velhos álbuns da sua família. Bons tempos! Na verdade até parece que foi ontem e , de certa forma, demora a cair a ficha de que , na fita atual, os queridos vovôs e "velhinhos em formação" somos nós. Tomara que um dia sejamos lembrados com os mesmos carinho e saudade com os quais você hoje reverencia os seus ascendentes. Os meus são muuuito longevos tanto que conheci três dos meus quatro bisavôs e duas das minhas bisas. E convivi com os meus avós até bem idosos à exceção da minha amadíssima avó materna que morreu jovem, quando eu era um aborrecente de treze anos.
São inúmeras as histórias que eu teria a contar de todos eles, mas vou focar no meu avô materno com quem eu passava as férias de final de ano. Talvez por conta do rebenque da senhora avó do Bendl lembrei-me da primeira e última surra que Vovô aplicou nos cinco netos mais velhos, dos quais eu era o mais novo, depois de termos aprontado uma peraltice da gema: uma batalha na qual usamos como munição dúzias dos ovos das galinhas de capoeira da Vovó. Sucede que a dona da casa grande perdeu a esportiva e exigiu que o marido nos castigasse exemplarmente. Ou ele tomava as providências ou ela devolveria os terroristas para seus respectivos endereços e genitores. Incapaz de apaziguar sua senhora ele tirou o cinturão das calças e, de braço erguido e com voz de trovão, bradou:
"Hoje vocês vão sentir a força do meu braço!".
Levou os cinco pivetes - já chorosos de medo daquela inédita versão de avô raivoso - em fila indiana para um dos quartos , fechou a enorme porta de madeira e, sempre em voz alta , mandou-nos deitar na cama com as bundas para cima. E começou a chicotear o COLCHÃO da cama enquanto baixinho ia nos passando as instruções:
"Berrem, seus cabras, mais alto!"
Abração
Moacir, esse seu avô materno era um sábio!
ExcluirFez os netinhos passarem pelo susto de que precisavam sem passarem pela dor inútil que viria junto. E com certeza a lição foi mais bem dada e mais bem entendida do que se tivesse acertado as bundas apavoradas em vez do colchão...
Ou os terroristas voltaram a fazer essas ovações sem anterior oratória? Aposto que não.
E aposto também que a avó percebeu muito bem o que se passava :)
Eu não conheci meus bisavôs, nem minhas bisavós. Gostaria muito, mas só tenho uma fotografia de mim, recém nascido, no colo da Dona Cocota. Mas eles vivem para mim nas histórias que ouvi contar como espero que a gente viva também nas histórias que nossos netos, quem sabe, contarão aos bisnetos.
Beleza, Mano. Dá muita saudade lembrar deles. O vovô Juquinha adorava virar perfume nas minhas tranças, eu voltava pra casa super cheirosa. Agora precisa escrever sobre a Didida.
ResponderExcluirTita, companheira do ioiô, a saudade é muito grande e foi crescendo enquanto eu escrevia. Eu já escrevi sobre a Didida, num post chamado "De Tios e Tias". No final do ano passado. Dê uma olhada lá.
ExcluirAna tem razão, vc emocionou a todos
ResponderExcluirGostei de conhecer seus avós e lembrar dos meus, a gente valoriza mais depois de tantos anos.
Ótimos os comentários que postaram, gostei de ler as histórias de cada um
Obrigada