François Boucher - O Paxá em seu harém (1735) |
Antonio Rocha
Certa feita estava eu conversando com o meu pai e um amigo dele.
A indústria cinematográfica nacional tinha acabado de lançar o filme:
“Os Homens que eu tive”, com a famosa Darlene Glória estrelando a película,
como se falava antigamente, era o segundo semestre de 1973. O filme foi lançado
precisamente no dia primeiro de agosto.
Era a época da Revolução Sexual, da Libertação Feminina e questionava-se
a igualdade entre os sexos... Se os homens podem ter mais de uma mulher, as
mulheres também podem ter mais de um homem. Tema complicado, delicadíssimo,
penso que esta decisão fica a critério de cada um, com as devidas implicações e
desdobramentos.
Eu, particularmente, sou contra os haréns, tanto de um lado quanto de
outro. Há uma recomendação de Buda que você não pode magoar ninguém, pelo
mínimo que seja, não devemos fazer o outro sofrer. Gera carma negativo para
nós. E além disso tem a questão Ética.
A conversa me fez lembrar que, imaginava, todo adolescente, pelo menos
durante algum tempo, deve ter alimentado a vontade de manter o seu harém
particular. É que na época, muitos colegas de mesma idade ou próxima contavam
uns para os outros de suas façanhas íntimas. Depois fui verificar que muita
coisa era o exagero masculino, um pouco de ficção naquelas histórias que eu
ouvia.
Consciente de que eu era “baixinho” na altura, sabia que nem todas
desejadas e pretendidas iriam me querer, assim o meu fantasioso harém foi para
o espaço, até porque eu não tinha tanta grana assim para administrar o sonhado
harém.
Uma vez, meu anjo da guarda, ou minha intuição, me disse assim: “Antonio, fica na tua, você não está com
essa bola toda não, é melhor ler um livro”.
Mas quem me colocou na realidade e meu deu uma grande lição sobre o
assunto foi o amigo do meu pai. Disse-nos:
- Olha, isso de ser garanhão, o bom,
não adianta nada. Vejam o meu caso. Eu tenho quatro mulheres e oito filhos.
Cada uma em um bairro do Gama, uma não sabe da existência da outra e se sabem
fingem não saber. Na verdade, eu vivo angustiado, ganho muito bem no meu
trabalho, mas... e daí... acho que sou responsável, botei os filhos no mundo,
então cuido deles.
A confissão para mim foi uma surpresa, eu sabia que esse amigo do meu
pai tinha essa fama de ser o galã da área. E ele continuou a confissão.
- Eu fico pensando quando eu aposentar,
como vai ser para administrar oito filhos e quatro mulheres. Quando somos
jovens é gratificante em termos físicos, alimenta o ego, a vaidade, a tal
concorrência machista, sou o tal, mas e daí, os anos passam, vem a maturidade e
eu posso garantir a vocês de que não vale a pena, não valeu.
Pensei no filme que era sucesso de bilheteria: “Os homens que eu tive”.
Pensei de novo, quem sabe um dia eu escrevo um livro com o título: “As mulheres
que eu não tive”. Não escrevi, mas estou escrevendo agora essa crônica inédita.
E as palavras do amigo do meu pai nortearam a minha existência até aqui.
Outro dia li que o Islã está crescendo no Brasil, um dos motivos é
porque aceitam a poligamia. Então a reportagem entrevistou uma muçulmana
paulista sobre essa questão. E ela respondeu, mais ou menos assim:
- Dá uma dor danada, mas se Deus (Alá)
escreveu isso no Corão, eu aceito.
Tenho uma bela edição do Alcorão Sagrado, em português, publicado pela
comunidade islâmica de São Paulo. Mais adiante escreverei algo, resenhando o
texto.
Antônio,
ResponderExcluirEu vim de uma grande família biológica,amorosa e barulhenta, e esse foi o meu modelo de felicidade. Hoje depois de quase trinta e cinco anos ao lado da mesma mulher e rodeado pelos filhos e netos encho a boca para afirmar que tivemos sorte e somos bem casados. Porém essas questões de gênero e amor e sexo e casamento e fidelidade e monogamia - por mais que os haréns no mundo de hoje me pareçam irrealísticos! - e que tais me parecem ser imensamente pessoais. Para mim casado é quem bem vive e casamento são todas as relações que fazem bem às pessoas e permitem que juntas , elas sejam mais inteiras do que seriam separadas. O fato de eu não me imaginar sem minha companheira de todas as horas depois de quem todas as demais chegaram tarde demais, sem a intimidade e o à vontade de corpo e mente e alma que construímos pela estrada nem sempre asfaltada, sem os nossos à nossa beira, não significa que outras pessoas não possam se realizar sozinhos e longe da estabilidade sexual e emocional de um casamento. Rejeito profundamente a generalização rasteira , os certos e errados, o pode isso e não pode aquilo, os preconceitos, o tal do pecado, o sacrifício, as personalidades e potencialidades esmagadas, os jogos de poder, o fanatismo religioso, as cabeças castradas por instruções doidas de pedra colocadas nas bocas de tantos Deuses sobre como bem amar. Tudo isso só pode fazer mal ao espírito e cada um sabe de si e que viva como melhor entender desde que não machuque ninguém, além de si mesmo, na tentativa de ser feliz.
Abraço
1) Parabéns Moacir, concordo plenamente com vc.
Excluir2) Abração !
Olá Antonio,
ResponderExcluirMuito boa a sua estória, e muito bom o comentário do Moacir.
Também sou feliz assim e não me imagino de outro modo. Mas, que a gente tem que querer muito e fazer por onde , é verdade. Esses pedaços da estrada sem asfalto são bem pedregulhosos. Vale a pena!
Já conheci homens com duas famílias, mas quatro...Será que existe isso entre os jovens de hoje?
Até mais.
1) Oi Ana, seu comentário tem uns lances poéticos. Poéticos... Obrigado !
Excluir2)"pedaços da estrada sem asfalto são bem pedregulhosos" = poesia pura.
3)Abraços.
Antônio, meu caro,
ResponderExcluirCertamente como decano deste blog em se tratando de tempo de casado, faço 47 este ano(!), e somente com a Marli, posso te afiançar que este conquistador e com várias famílias é um infeliz!
E parto do seguinte pressuposto:
Tanto não se contenta porque busca sempre novas companheiras quanto não satisfaz nenhuma delas!
A questão fundamental é que o homem entende que agindo desta maneira, traindo a sua esposa e outras e mais outras, prova a si mesmo que é macho, que pode, que domina, que tem o poder da sedução.
Na verdade é pura ilusão, pois denota exatamente o contrário, de alguém que não tem capacidade de fazer a sua esposa feliz, então a substitui sempre, na exata medida que entende também não ser capaz de se dedicar a uma pessoa somente e ser feliz também.
Um pobre coitado!
Um grande abraço.
Saúde e paz.
1) Certíssimo Bendl !
Excluir2)Eu vi naquele depoimento do amigo do meu pai, uma tristeza de vida.
3) Abraços de bom fim de semana.