Antonio Rocha
Como falei
antes, ficamos, eu e Heloisa, na casa de uns amigos em Gargaú, no litoral norte
do Estado do Rio de Janeiro. Município da próspera e bonita cidade de Campos.
Era uma pequena aldeia de pescadores na Foz do Rio Paraíba do Sul. Pegávamos
uma canoa, cruzávamos o Rio e do outro lado estávamos na cidade de São João da
Barra. Terra do Conhaque de Alcatrão de São João da Barra, o Conhaque do
Milagre. No inverno eu gostava de misturar conhaque com mel, para esquentar. E,
de fato, era milagroso.
Foi uma semana
lá. Era um vento impressionante, o vento cantava nas portas e janelas e
levantava uma poeira barrenta. A água do Rio também era da cor do barro e o
encontro das águas com o oceano era bonito. Formavam pequena pororoca. A água
do Rio andava um pedaço por dentro do Oceano em sua cor barrenta.
Pouquíssimas
casas na beira do mar, a concentração maior era no lugarejo, no povoado. Perto
da casa onde estávamos hospedados havia um pequeno botequim feito de bambu.
Descobri que o dono era um nordestino e logo na primeira conversa me
identifiquei como pernambucano. E então ele me perguntou:
- Se você é pernambucano, então é cabra da peste, igual eu que sou
nordestino.
Concordei e,
ingenuamente alimentei a conversa:
- Então vou fazer um teste para saber se você é homem mesmo, se
você é macho.
Sorrindo
aceitei o inesperado desafio:
- Olha, até hoje, ninguém aceitou disputar comigo provar as
batidas que eu faço.
Infantilmente
aceitei, sem saber como eram as tais batidas. Então ele me levou dentro do
botequim e me mostrou um litro de cachaça com variados mosquitos dentro. Claro
todos mortos. Achei estranho, mas eu já havia concordado com o desafio.
Os dois
litros de cachaça seguintes, tinham cada um, uma cobra dentro, também mortas.
Cheguei a pensar que se o veneno das cobras se misturassem com a cachaça, e
certamente estavam misturados era beber e morrer. E o batida de mosquitos não
me apeteceu nem um pouco. Continuei rindo e ele perguntou:
- Se você é homem mesmo, como disse, se você é macho, você tem que
beber. Agora não pode mais falar não. Curiosamente ele não bebeu e eu nem pedi que
ele provasse antes.
Se o dono do
botequim era doido, eu era mais doido ainda. Claro que eu não ia beber aquilo,
mas como sair do desafio, depois de ter dito sim... palavra de homem...
Rindo fui
para casa e lá contei o fato ao dono que nos abrigava e exclamou preocupado:
- Você é maluco ! Ele tem fama de já matado mais de um na
peixeira.
- Eu pensei que era brincadeira.
- Brincadeira nada, se você deu a sua palavra de homem vai ter de
cumprir, caso contrário ele sai correndo atrás de você com uma peixeira...
Pensei: sou
jovem e ele já está na meia idade, meio barrigudo, posso correr mais. Na região
não tinha posto de polícia, nem delegacia nem nada...
Então tive
mesmo que apelar para os meus protetores budistas e solicitei que uma nuvem de
esquecimento envolvesse o dono do botequim e esquecesse por completo o nosso
diálogo.
Coincidência
ou não, acho que o botequineiro esqueceu a façanha. Não entrei mais lá, ele
podia se lembrar. Passava na rua para lá e para cá e... estou hoje aqui
contando o susto.
Aprendi a
lição e modifiquei meus conceitos de machismo e afins.
Vizinho Antonio,
ResponderExcluirCresci ouvindo para nem banalizar meus prazeres nem jamais abrir mão deles. Então vou bebendo pelo "caminho do meio": devagar e sempre (rsrs) Exceto por umas duas ou três vezes ao ano quando me permito, em boa companhia, beber profissionalmente.
Quando eu era aborrecente bebia vinho Sangue de Boi e achava uma maravilha. Hoje a certos vinhos prefiro beber água. Então é o seguinte: esse conhaque aí eu também não bebia nem morto e tou nem aí se pensam que não sou "cabra da peste" ou me acreditam metido à besta, colonizado e etc,etc,etc. Não tenho mais tempo nessa vida para insultar os meus prezados paladar e estômago.
Abração
Olá Antonio,
ResponderExcluirAcho mesmo que você deve continuar invocando seus protetores budistas ...que já lhe serviram em muitas situações! Aprenda com elas para não dar muito trabalho para eles.(rsrs)
Até mais.