Antonio Rocha
O titulo do artigo de hoje tem a ver com um dos
meus heróis. Chama-se Mazzaropi, o grande ator, cantor breguíssimo e empresário
da indústria cinematográfica brasileira Amácio Mazzaropi (é assim mesmo,
Amácio).
Li uma vez no antigo jornal Pasquim, semanário que
marcou época na imprensa nacional, uma entrevista com Mazzaropi, que tem muitos
filmes. Vez por outra re-assisto um.
Pois bem, nessa edição Pasquiniana, o entrevistado
disse que se sentia um matuto, quando perguntaram a ele como se definia. Até
podia ser uma jogada de marketing pelos seus vários filmes, mas eu adorei a
definição e assim passei a me curtir como um matuto, meio tímido, meio
cosmopolita.
Nessa memorável entrevista perguntaram ao Mazzaropi
como foi ele visitando Nova York. E o ator respondeu que foi divertido: “um
matuto em New York”. Achei ótima a frase e gravei. Apesar de ser uma das
principais cidades do mundo, mas ele continuou matuto, aldeão, brega. E até
inventaram depois uma frase popular: você pode sair da roça, mas nem sempre a
roça sai de você.
Agora eis o meu relato. Atualmente até que está bom
o centro do Rio de Janeiro em matéria de banheiros públicos. Tem vários e em
muitos bares, a pessoa pode entrar, não consumir nada e depois paga dois reais
pelo uso. Concordo plenamente com o valor, para nos aliviarmos na hora do
sufoco.
Mas naquela época, em 1972, quando cheguei de forma
“quase” que definitiva ao Rio, era uma dificuldade. Os balconistas alegavam que
estava faltando água, ou que estava quebrado, ou que não podia usar, só o
pessoal da casa e fregueses selecionados etc. O “quase” é porque,
budisticamente falando, nada nesse mundo é definitivo, tudo é impermanente.
Então... eis este que vos escreve, belo dia estava
na linda cidade espanhola de Sevilha. Andando muito, passeando bastante e
surgiu a natural vontade de fazer xixi, que drama para um tímido tendo em vista
as experiências cariocas.
Até que lá pelas tantas, não agüentando mais, criei
coragem e entrei no primeiro restaurante que vi pela frente. Ainda era cedo,
estava vazio, os garçons estavam arrumando. Para completar a matutagem era um
restaurante chic, bem caro, haja timidez. Me dirigi ao balcão:
- Bom dia, vocês tem banheiro aqui?
O homem que parecia um gerente me olhou como se
fosse um ET, era fácil identificar que eu estava na condição de turista, pelo
sotaque e ele respondeu de forma curiosa.
- Cavalheiro, qual é o problema? Nós somos um restaurante, pessoas
trabalham aqui, pessoas também se alimentam aqui, é natural que tenhamos
banheiro.
- E eu posso
usar? – perguntei sem mais saber o que dizer, diante da imensa vontade de
chegar ao dito banheiro.
A pergunta saiu pior do que o soneto, fazendo uma
cara estranhíssima de não entender nada, ele indicou-me o local e respondeu:
- Claro!
Maravilha das maravilhas é você “atender aos
chamados da Natureza”, como dizia o Buda para essas ocasiões.
Satisfeitíssimo saí sorridente, perguntei se tinha
que pagar algo ele respondeu que não, então mais ou menos, no meu Portunhol
expliquei o drama. Ele sorriu. Agradeci e despedi-me.
Hoje, escrevendo essa crônica, lembro daquela
música do Belchior, recentemente falecido, que bem pode caracterizar aquela
situação:
“Eu sou apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no bolso, sem parentes
importantes e vindo do interior...”
1)Hoje está terminando o Verão. Obrigadão Verãozão. Gratidão !
ResponderExcluir2)Revelo, em primeira mão meus outros heróis: o Chico Bento, personagem das Histórias em Quadrinho, do Maurício de Souza, também um matuto e Zé Colmeia e Catatau, os ursos da HQs internacionais que viviam em um Parque Nacional dos EUA.
3)Valeu Mano pela foto e postagem: Feliz Inverno para todos. Respeitosos Beijos e Queijos !
4)Diz a Bíblia: "Cumprimentai-vos com ósculos santos"...
Antonio
ResponderExcluirSeu post me lembrou uma situação inversa: das caras dos meus tugas prediletos emergindo de uma estação de metrô num sábado de Carnaval para ser abraçados pelo bafo do Bola Preta cujos foliões não ligam a mínima para as "casas de banho" enquanto bebem cerveja. Mermão, pense em um choque cultural! Tivemos que tirá-los rapidinho da xixilândia (rsrs)
Quanto aos matutos que somos é tão bom não perder o contato com as raízes e conservar alguma matutice : resquícios da perdida inocência, a capacidade de nos surpreender e encantar e o hábito salutar de, às vezes,viver sem pensar.
Abraço
1) Verdade Moacir, deve ter sido um choque cultural e o aroma nada agradável...
ResponderExcluir2)De fato, um pouco de matutice nos ajuda...
3)Abrações !
Antonio, da primeira vez em que fui à Europa, lá vão quase quarenta anos, achei uma maravilha encontrar os banheiros públicos em Paris, coisa que praticamente inexistia aqui então. Fiquei encucado quando entrei num deles e na entrada deparei-me com uma mesinha onde uma senhora de idade ficava assentada, lemdo seu jornal, suponho que para assegurar a boa moral do local... Tudo bem que usando os mictórios, na parede oposta, a gente ficava de costas para ela, mas tive a impressão de estar fazendo xixi vigiado por minha avó :)
ResponderExcluir1)E quando eu cheguei em Paris tb tive experiência interessante.
Excluir2)Homens e mulheres entravam pela mesma porta, lá dentro é que cada um ia para o seu lado.
3)Pensei com os meus botões, se o cara errar o caminho corre o risco de apanhar...
Olá Antonio,
ResponderExcluirVocê é uma peça...rara!
Dos matutos você se esqueceu do Urtigão , o meu favorito. Falo sempre que vou comprar um pico , mudar para lá, apagar as pegadas e virar um Urtigão. De chapéu e espingarda de carregar pela boca.É lógico que vou ter internet, tv a cabo, netflix, tudo isso. Minha prima disse que vai comprar o pico ao lado.
Até mais.
1)Vc tem toda razão Ana, o Urtigão tb é ótimo.
Excluir2)São nossos companheiros de fantasias e imaginações. Adoro eles.
3)Sobrevivências... pois ninguém é de ferro !