Ahad Nayani, banda Strings - imagem Wikimedia Commons |
Antonio Rocha
Foi na adolescência que me descobri com uma veia musical. Imagino que
todo mundo deve ter essa veia ou mais de uma. Percebi que eu tinha ritmo e
ficava batucando nas mesas do Colégio do Gama, no antigo guarda roupa lá em
casa e como era época da “Jovem Guarda” fizemos um “conjunto” que era uma
autogozação o título, chamava-se “Os Pirulitos”. Bem, eu não era o líder da
banda, nem tinha grana para tanto, mas me chamaram para fazer parte na
percussão, e não fui responsável pelo estranho nome, de duplo sentido.
Começamos fazendo paródias de canções dos Beatles ou das músicas
brasileiras que faziam sucesso nas emissoras de rádio e TV, que eu assistia na
casa de algum vizinho.
Depois entendi que eu tinha certa facilidade para rimar versinhos
ingênuos. Eu estava começando a gostar de Literatura, de Gramática, de Redação
e similares. Digamos que a professora de Língua (! ... ?) Portuguesa... ajudava
muito... e estimulava meus sonhos e devaneios... Freud explica... A Mestra em seu
estilo “Plus Size” encantava-me sobremodo, mas a vida é irônica e me fez casar
com uma vegetariana budista, nada de excessos alimentares... bem Caminho do
Meio...
Animávamos festinhas no Colégio... não passou disso e a promissora Banda
não foi adiante... um foi para a área de engenharia, outro para Contabilidade,
outro foi para o Comércio e eu vim para a Cidade Maravilhosa... crente que ia
continuar minha carreira musical.
Fui logo morar em Santa Teresa, solteiro me aliei a outro grupo, o líder
era um potiguar com ares de possível profissionalização: cantava, tocava
violão, compunha, mais dois alunos da Escola de Música da UFRJ, um deles tocava
violão de doze cordas e eu ficava maravilhado, ouvia o cara tocando, brilhando
e eu até esquecia a percussão ou tocava muito alto, de tão alegre pela
contemplação da viola de sete cordas ou doze cordas.
Belo dia, o líder da banda que não tinha nome, e era o mais velho dos
componentes foi convidado pela Prefeitura de Nova Friburgo, RJ, para tocarmos
nas festas oficiais de lá, claro, naquele determinado período. E lá fomos nós,
com passagens e hospedagens grátis, refeições idem e mais uma grana para os
nossos bolsos. Gostamos, mas... era a época do frio..., o hotel não tinha
aquecimento e eu morria de frio. Na portaria me estranharam, pedi quatro
cobertores e mesmo assim sentia frio. Então tomava o “irish coffee” = café com
whisky (café irlandês), mas como não sou de beber... tinha mesmo que encarar o
Tempo.
Depois disso, os dois alunos da Escola de Música logo foram convidados
para uma banda profissional e se foram com as nossas bênçãos, faz parte da
vida, crescer e desenvolver-se. O mais velho, líder da Banda, mais tarde ficou
doente e faleceu de AIDS. Deus o tenha, era devoto de Krishna.
Então, um amigo de Niterói, que era médico, psiquiatra e excelente
músico, tocava piano, órgão estava com um grupo em Saquarema, RJ, participando
de um Festival em Araruama, RJ, lá fui eu para Bacaxá, RJ, onde ensaiávamos.
Parece que agradamos, tiramos o terceiro lugar, mas teve crítico no júri que
lutou para que ficássemos no segundo lugar. Ia recorrer, eu que, budisticamente
ponderei...
- Deixa amigo, terceiro lugar está bom
demais !
Na noite da finalíssima e entrega dos brindes e prêmios a principal atração
era a cantora “Marisa Gata Mansa”. Tive a honra e a alegria de conhecê-la
pessoalmente e ouvir uma dicas para nós que estávamos começando. O tema de
nossa composição era ecologia e lá pelas tantas havia uma paradinha e só
ressoava a percussão deste que vos fala. Confesso que nessa noite fiquei meio
tímido e o médico, amigo e psiquiatra me deu uma bronca:
- Se solta cara, você está fazendo
certo!
Por contingências da vida, a banda também não foi adiante. Cada um foi
para um lado e eu fui com Heloisa para Gargaú, uma praia oceânica no norte de
Campos, RJ, na foz do Rio Paraíba do Sul. De um lado Gargaú, do outro a cidade
de São João da Barra, onde havia uma fábrica do famoso “Conhaque de Alcatrão de
São João da Barra, o Conhaque do Milagre”.
Ainda hoje canto no chuveiro ou imposto a voz em qualquer lugar público
que tenha uma boa acústica, por exemplo, quando estou chegando na portaria do
meu prédio, ou em um banheiro público, ou no transporte público, às vezes,
dependendo da situação.
Invariavelmente olham para mim de soslaio e devem pensar:
- Mais um velho maluco nessa vida!
Olá Antonio,
ResponderExcluirBota velho maluco nessa!(rsrs) Já aprendi que não devo brincar por escrito, posso me dar muito mal,mas não rsisto.
Que pena suas bandas não terem dado certo! Você poderia ter sido um criador de mantras em vários ritmos. Mantra em percussão, já pensou que beleza? Mas aventuras com certeza teve de monte.
Quando eu tinha dezessete anos fui com a família passar férias em São João da Barra. Lembra, quando Campos foi inundado e muita gente ficou ilhada? Foi aí mesmo. Víamos aviões da FAB passando no intento de ajudar os ilhados. Éramos sete numa casa que meu pai comprou sem ver, sem luz, sem água, com sapos coaxando desde o entardecer.Jogávamos buraco à luz de lampião e quem ficava de fora do jogo era a"Maria do Gargaú" e tinha que servir cafezinho ou o que tivesse.
Minha Mãe grávida da minha irmã caçula fez amizade solidária com uma porquinha também grávida que aparecia no quintal para ser alimentada. Apareciam também cavalo, cobra, tudo! Minha irmã do meio, de cinco anos, a exemplo da mãe, fez amizade com um cabritinho, que levou para dentro de casa e cobriu com TODOS os lenços do nosso Pai.
Passeávamos pela praia até Gargaú, onde tínhamos conhecidos, brincando de "Combate" (lembra do seriado?) deslizando de barriga pelas dunas. Farra geral!
Ah! como era verde o meu vale!
Seu texto está fantástico. Desculpe se falei muito de mim, mas é que Gargaú falou fundo.
Até sempre. Você vai escrever de Lá?
Vizinho Antonio,
ResponderExcluirGostei! Parece que hoje o blog está com um humor nostálgico. Só que quando os "nossos vales eram verdes” neles rolavam coisas deveras constrangedoras como por exemplo as paixões eternas e platônicas que duravam uma semana - inclusive pela mulher do vizinho! - gaguejar toda vez que a professora “Plus Size” me perguntava alguma coisa e não conseguir tirar os olhos das pernas em meias de naylon - ui! - da mãe bonitona de um amigo. Complicada a tal da revolução hormonal! (rsrs)
Embora eu sempre tenha arrastado uma asa enorme pelas pretinhas, a minha primeira obra-prima foi entalhar com uma gillette o tampo de madeira da banca do colégio. Depois de castigado resolvi me profissionalizar e passei a comercializar para os colegas - quando dos trabalhos de História - cartazes do Duque de Caxias, do Tiradentes e dos dois Dom Pedros. Para comprar os compactos dos Beatles! (rsrs)
Mas tinha muita e eclética música na casa da minha infância. Herdei um monte de LPs e tenho dois toca-discos : um Leson e um Gradiente. Só que jamais cheguei nem perto de um instrumento musical. Porém...os dezesseis anos em sociedade com meus irmãos compramos um amplificador quadrifônico da marca Sansui 6000X, Tape Deck Teac A450, Toca-Discos Pioneer, Caixas de som Pioneer– um arraso na época – e um dos raros discos que nos permitia curtir o tal do efeito quadrifônico era um dos LPs da minha vida : The Dark Side of the Moon do Pink Floyd. Uau! Era muuuito legal ouvir o som passando de caixa em caixa de som, num efeito espetacular. Depois, por problemas técnicos, a novidade acabou não emplacando.
Mas o nosso som era o máximo no início dos nos 70 e nós faturamos uma grana “fazendo som” para as festinhas de Copacabana. Com a bufunfa ganha nos aniversários de 15 anos - das meninas más de famílias boas - compramos um Aero Willis usadérrimo - eu não tinha carta ainda - e saíamos com aquele couraçado por todo o Rio tentando impressionar as meninas boas de famílias más. Até o dia em que, descendo uma noite a Figueiredo Magalhães - pra lá de Marrakesh - ficamos sem freio e entramos com o carro em um poste. Por sorte o tal do Aero-Willis era um tanque de guerra, o que salvou três vidas. O carro deu perda total e nossas incursões na promoção de festas acabaram por ali mesmo e, logo a seguir, o ex-DJ-aqui foi estudar fora do Brasil.
https://www.youtube.com/watch?v=DLOth-BuCNY
Abração
1) Este blog é ótimo, justamente porque ele sacode a poeira de nossas memórias.
Excluir2)Obrigado Moacir pelas lembranças...
3) No final do meu artigo eu falei da voz impostada nos lugares que tem acústica... em geral faço-a grave e grossa, como se fosse em uma ópera...
4)Em determinado período cantei em um Coral da Igreja Presbiteriana Muda Usina, ali depois da Tijuca rumo ao Alto da Boa Vista.
5)E mais recente em Coral aqui em Santa Teresa, onde ensaiávamos na Igreja Anglicana...
6)Mas depois preferi a carreira solo... no banheiro...
1)Oi Ana, escreva sempre à vontade. Aquela preocupação que tive foi porque eu pensei que tinha prejudicado o blog e o maquinário de vcs, não entendo muito dessas modernidades webianas...
ResponderExcluir2)Vou escrever sim de Gargaú, tenho uma história curiosa para contar.
3)Escreva muito de vc, escreva bastante...
Meu caro Rocha,
ResponderExcluirPreciso muito deste teu otimismo, desta tua alegria, deste teu jeito cativante de entender a vida muito diferente da forma como a interpreto.
Talvez eu precise mesmo fazer barulho, tocar tambor, usar a percussão para espantar os males que me perturbam a saúde e, em consequência, me deixam um tanto quanto revoltado e de muito mau humor!
Grato por mais este texto, que dá a entender que devemos berrar, gritar, soltar a voz e não nos preocuparmos com a opinião alheia, mas aproveitarmos a vida naquilo que ela possibilita de alegria e descompromisso com a realidade.
Um grande abraço, professor.
Saúde e paz.