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05/06/2017

Adeus Jacarandá

Wilson Baptista Junior
No prédio onde moramos, no jardim entre o primeiro e o segundo blocos, há um jacarandá-mimoso.
É mais alto do que o prédio. No inverno perde as folhas, na primavera é todo flores, parece um ipê roxo (eu pensei que era um por muitos anos, até que o Paulo meu irmão me disse o que era de verdade).
Há mais de trinta anos ele nos dá sombra e alegra nossas janelas. Faz muitos anos alguém plantou uma palmeirinha na frente dele, ela cresceu, está mais alta do que ele, e ele a envolveu em seus galhos como num abraço.
Quando voltamos, da rua ou da estrada, atrás do portão da garagem ele está nos esperando e nos dizendo que chegamos em casa. 
fotografia WBJ


Ontem nos contaram que ele vai ter que ir embora; os técnicos da prefeitura vieram, e disseram que o tronco está bichado, perdeu seu vigor antigo, está se inclinando, e a árvore amiga virou uma ameaça, pode cair com qualquer vento forte.
Depois dos técnicos virão as serras, e o nosso jacarandá já não estará aqui quando chegar o tempo da florada.
Vai, amigo velho, leva contigo um punhado das nossas lembranças. Leva tua sombra amiga e a alegria de abrir a janela e ver tuas flores. Obrigado por estes anos todos. Vai.

 (escrevi isso em fevereiro de 2015 – me lembrei dele ontem, vendo o canteiro vazio)


2 comentários:

  1. 1) Belo texto, bela foto.

    2) Belo sentimento de amizade entre o ser humano e o reino vegetal.

    3) Segundo Buda, somos todos irmãos dentro do Ecossistema.

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  2. Moacir Pimentel05/06/2017, 19:01

    Wilson,
    Beleza de post e de foto! Gostei de conhecer o seu velho amigo Jacarandá abraçado à palmeirinha dele que, espero, continue aí firme e forte dando sombra às suas janelas apesar da viuvez. Ainda não me despedi das minhas árvores de estimação. Tenho sim algumas velhas amigas e, inclusive, um rolo antigo com dois pés de tamarindo gêmeos que eu detestaria ver sendo cortados aos pedaços por serras elétricas. Dizer adeus a essa maravilha foi uma bela maneira de agradecer-lhe pela sensação de paz e de abrigo que lhe deu de graça ao longo dos anos. E já que a conversa é "Árvore" que tal alguns versos de um poeta que não é "mineirim" mas parece?

    "Um passarinho pediu a meu irmão para ser uma árvore.
    meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
    No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de sol,
    de céu e de lua mais do que na escola.
    No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo
    mais do que os padres lhes ensinavam no internato.
    Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
    Seu olho no estágio de ser árvore, aprendeu melhor o azul.
    (...)
    Manoel de Barros

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