fotografia de Jean Yves Petit (Yvon) |
Moacir
Pimentel
Muitos escritores e leitores
vorazes já passaram muitas horas, no decorrer de séculos, à beira do Rio Sena
em Paris, pescando livros raros e de segunda mão nestas caixas de ferro que
você pode ver na foto que abre o post. Há fotos dessas caixas de livros que são
tão antigas quanto a própria fotografia.
As descendentes dessas
maravilhas ainda moram e pontilham de verde escuro os “quais” do rio, notadamente
nos arredores da Notre Dame, no Quai de la Tournelle e, na Rua
Rivoli, nas imediações da Pont des Arts, aquela cuja estrutura foi comprometida
devido ao peso dos cadeados que eram colocados em suas grades pelos enamorados.
fotografia Moacir Pimentel |
Hoje, os livreiros de rua de Paris continuam a vender velhos livros encapados de couro, ficção de bolso, revistas em quadrinhos e cartões postais antigos e são tão ecléticos quanto eram há cento e cinquenta anos atrás.
Decerto os “bouquinistes” da atualidade
multiplicaram suas oportunidades de venda graças às multidões de turistas que
os visitam à caça de tesouros literários antigos já que, às vezes, parece que a
literatura deixou de inventar maravilhas e perdeu o rumo. Na verdade não
acredito nisso.
A escrita continuará, rumo ao
desconhecido, mesmo que o capítulo no qual nos encontramos ainda não esteja
pronto para a leitura. Mas ao fim e o cabo, ele será escrito, lido e apreciado,
tal como hoje apreciamos toda essa arte pretérita feita e escrita em anos
dourados que não voltam mais.
Mas a realidade é que os
grandes romances das nossas vidas ficaram para trás e talvez seja por isso que
os livreiros de Paris continuem fazendo tanto sucesso. Porque o Amante de Lady
Chatterley dá de dez a zero nos tais dos cinzentos Cinquenta Tons.
Então a cada vez que eu paro
defronte daquelas caixas, torcendo para que, em um golpe de sorte, me apareça
pela frente ali à beira do Sena, por exemplo, uma edição rara de um romance de
Ernest Hemingway, na verdade o que eu persigo é a sensação que tive ao ler
aquela formidável “estória” pela primeira vez.
E se o livro antigo dos sonhos
não der o ar da graça dele - ora bolas! - sempre se pode visitar os sebos – os
livres anciens - o Mercado das Pulgas ou se contentar com um postal antigo, um
daqueles icônicos em preto e branco da Torre Eiffel com selos e timbres esvanecidos,
ou com um exemplar das sexy melindrosas, cheias de brilhos e franjas e bocas
mas sem os espartilhos apertados, um reflexo externo de sua rebelião interior
ou – quem sabe? – até mesmo um daqueles mais picantes das bem comportadíssimas mocinhas
de antigamente, como Kiki de Montparnasse ou Josephine Baker?
Josephine Baker - poster de Louis Gaudin |
Se bem que preferia mesmo era uma relíquia do Papa
Hem. Não tem jeito! Eu me encantei pelas pretinhas de Ernest Hemingway há meio
século e me apaixonei por Paris há quase isso. Sou um cara fiel – meus amores
de primavera continuam os mesmos no meu inverno - e portanto é sempre um prazer
renovado revisitar as páginas que ajudaram a formar a minha visão do mundo e as
paragens que, ao longo dos séculos, têm ajudado a contar a história da
humanidade.
Sim, pois em Paris encontramos
os vestígios de Roma e dos reis merovíngios e igrejinhas românicas confrontadas
com a beleza serena e gótica da Notre Dame e os mistérios e vitrais da medieval
Sainte-Chapelle. Lá está a Conciergerie que sediou o poder real por
quatrocentos anos e, dominando o centro da Cidade Luz, desde o século XII, o
Louvre que virou um palácio gigantesco para o Rei Sol.
E, mais perto de nós, como
esquecer o Café de Flore? Ele foi centro da vida intelectual da cidade desde
que abriu suas portas em 1887. Foi lá que o escritor Charles Maurras escreveu
seu livro Au Signe de Flore e onde encheram a cara os poetas Guillaume
Apollinaire e Jacques Prévert, o filósofo
Jean-Paul Sartre e, mais uma vez, Ernest Hemingway.
Paris não é só uma, é plurifacetada.
Quando eu era menino me
apresentaram à Dama do Unicórnio que mora no medieval Museu de Cluny entre
ruínas galo-romanas e ainda hoje naqueles tapetes vermelhos eu a acho linda de
morrer. Consigo me lembrar de como, bem moleque ainda, eu tentava imaginar as
ruas da cidade por onde desfilavam carruagens e cavalos e neles os Três
Mosqueteiros, o Conde de Monte Cristo, Mércèdes, Danglars, Mondego e Villefort
e todos os demais personagens de Dumas. E o que dizer do Corcunda de Notre Dame
e dos Miseráveis? E do quanto eu me emocionei da primeira vez que visitei a linda
Place des Vosges porque, rodeado por sua simetria impecável, um dia lá
escrevera Victor Hugo.
Quem inventa
pretextos para almoçar naquele delírio Belle Époque que é Le Train Bleu na Gare
de Lyon, quem continua querendo ouvir na Madeleine, apesar das hordas de
turistas nos verões, o Réquiem de Mozart - ah! a Lacrimosa! - quem é fã de carteirinha de
Saint-Ex, quem sonhava ser tão bom espadachim quanto Cyrano de Bergerac, quem
entende as “asas colossais” do albatroz de Baudelaire e não esquece a Passante,
quem ainda moleque foi mediunizado pelas mots d’amour de Edith Piaf e Jacques
Brell nos LPs dos pais, não tem como não gostar de Paris.
Porém... quem não curtiu nada
disso, aprecia do mesmo jeito as fotos atmosféricas dos
livreiros ao longo das margens do Sena, porque tais imagens fazem voltar no
tempo e todos, uns mais outros menos, têm saudade do que não existe mais.
Da Paris, por exemplo, daqueles anos loucos da
segunda década do século XX, cuja magia está contida no filme Meia Noite em Paris, de Woody Allen, aquele que narra as “viagens”
do protagonista - o jovem escritor Gil – que todas as noites, na hora da
bruxaria, volta no tempo e tem acesso VIP à geração perdida, aos heróis de um catálogo
extraordinariamente abrangente de variedades do modernismo que percolaram a
Paris entre as guerras.
Essa meia noite de Woody Allen
cintila e seduz e talvez porque o diretor não nos sirva a costumeira refeição
de três pratos regados por um complexo rouge de Bordeaux
e sim, um lanche leve mas saborosíssimo acompanhado por “um Tavel rosé” bem
refrescante.
E com certeza, porque todos
nós, em algum momento da vida, desejamos poder voltar no tempo. Algumas pessoas
querem voltar a um momento mais feliz ou mais simples da própria vida, talvez
revivendo um dia especial ou emocionante. Outras, poder retornar a épocas anteriores
ao seu tempo, a uma era idealizada.
Embora esse desejo do ontem
possa parecer inofensivo, a fixação no pretérito tem menos a ver com a glória
dos dias passados do que com a inadequação ao presente, com se estar insatisfeito com a própria vida, com uma tentativa de voltar à
segurança de uma vida nossa velha conhecida para evitar a imprevisibilidade do
futuro. Essa nostalgia foi o tema do genial Woody Allen num filme que, ao fim e
ao cabo, nos vende esperança.
A longa sequência de abertura
da Meia Noite em Paris já nos deixa claro como o sol do meio dia que o tempo presente
vale a pena, ao nos brindar com uma montagem de flashes da Paris moderna,
mostrando o melhor da cidade: beleza, graça, história e estilo.
São imagens familiares, como o
Louvre e a Torre Eiffel e de becos e esquinas mais discretos localizados fora
do perímetro mais batido da cidade, dançando ao som dos eternos sax e clarinete
de Sidney Bechet na canção "Si
Tu Vois Ma Mère". Viva o jazz!
Sem efeitos especiais nem
grafismos de computador essa abertura enfatiza a encantadora atmosfera da
cidade sob a chuva, as ruas molhadas e brilhantes, os guarda-chuvas coloridos, o
sol se pondo e as luzes surgindo e a gente percebendo que, no presente, Paris continua
tão bonita, convidativa e vibrante como foi no passado.
Talvez o mantra do Woody nesse roteiro tenha sido o
velho ditado:
“Cuidado
com o que você pede, pois Deus pode atender sua
oração!”
O certo é que nesse mundo
onírico e cinematográfico de empreendimento artístico compartilhado e
competitivo - no qual Ernest Hemingway nos entretém e diverte e não só pela
semelhança física do ator que o representa - as cenas artística e literária parisiense
e expatriada da década de 1920 são recriadas no tom certo.
Assistimos a essência de
figuras célebres filtradas através da imaginação de um jovem Gil de olhos
arregalados ao conhecer os seus heróis: F. Scott Fitzgerald, TS Eliot, Salvador
Dalí, Pablo Picasso, Gertrude Stein e Ernest Hemingway.
Midnight in Paris - Film Still |
Na verdade confesso que bem que gostaria de ser o
garotão do filme Meia Noite em Paris mas, aqui entre nós e baixinho, se eu
topasse com todos esses verbetes de enciclopédia e Ernest Hemingway num bar da
vida acho que ficaria mudo em vez de “filosofar” sobre o medo, o amor e a morte...
A direção inteligentemente
equilibrou o passado e o presente aproximando o anti herói Gil, um escritor
americano de carne e osso que vivia descontente no terceiro milênio e ansiava pelos
anos vinte, com a parisiense Adriana, uma encarnação eroticamente complicada da
feminilidade européia, que vivia na década tão doidamente desejada por Gil mas
que, por sua vez, almejava poder reviver a Paris do fin-de-siècle, a Belle
Époque, bons tempos nos quais as coisas realmente aconteciam.
Em uma deliciosa sequência os
dois insatisfeitos - essa bela Adriana que nas horas vagas era amante de Pablo
Picasso e o mal amado e contemporâneo Gil, visitam Henri Marie Raymond de
Toulouse-Lautrec-Monfa – e os hífens significam que ele nasceu conde mas preferiu
ser artista - em um Moulin Rouge no século XIX e o encontram bebendo com os
ilustres companheiros Edgar Degas e Paul Gauguin, olhando para trás
nostalgicamente, querendo ter vivido o Renascimento, essa sim a verdadeira
idade de ouro. E de repente qualquer era perfeita nos parece tão cheia de
buracos quanto um queijo Gruyère (rsrs)
No entanto, como um filme
nostálgico sobre a doçura e os perigos de se ser seduzido pelo passado, Meia
Noite em Paris desce macio, desliza tão facil e deliciosamente como um soufflé
regado por champanhe da melhor qualidade.
A insatisfação de Adriana e
Gil com suas próprias eras reflete a nossa própria nostalgia, essa incapacidade
que tantos experimentam de curtir o presente devido ao muito que apreciam o
passado, que parece muito mais vívido, mais substancial do que o presente até
que, como na telona, se evapora com o toque frio da realidade.
A Torre faiscando (imagem Wikipédia) |
Já na cena final do filme o
mocinho Gil olha para a Torre Eiffel da Ponte Alexandre III, escuta um relógio
badalando a meia-noite e rencontra a mocinha Gabrielle que conhecera enquanto
comprava um disco de Cole Porter no Marché Paul Bert.
E então começa a chover. É a
chuva o elemento que une as pontas soltas do Universo de Woody Allen. Pois no
presente, um homem e uma mulher, atraídos um pelo outro, concordam ser ela a
mais bela condição climática de Paris e caminham debaixo dela e juntos saem de
cena para tomar uma xícara de café porque tinha razão o Bogart em Casablanca
tanto tempo faz:
“Nós sempre teremos Paris”
E a chuva!!
No entanto o verso definitivo
sobre a questão da nostalgia cultural talvez more em um poema de Robert
Browning chamado Memorabilia que não ouso traduzir a não ser por poucos versos.
O primeiro deles começa com um suspiro de espanto...
"Ah, você já esteve com Shelley?"
De acordo com Dona Lenda e uma
vacilante Dona História, este poema resultou de um encontro que o poeta Robert
Browning teve com um homem que conhecera pessoalmente o ídolo maior do jovem
Robert, o falecido poeta Percy Bysshe Shelley.
Browning reagiu com espanto e
encantamento quando o interlocutor descreveu-lhe seu encontro com o poeta que
tanto admirava.
“E ele parou e falou com você? E você conversou com ele
novamente?”
Em seguida, escreveu o poema Memorabilia
no qual associou essa “conversa” e o que sentia pela poesia de Shelley, aos
sentimentos que experimentara, ainda menino, ao atravessar uma charneca e encontrar
uma pena de águia - o objeto físico com o qual já se registrou o pensamento - que guardou cuidadosamente no peito.
O poema parece nos dizer que mais
importante do que a pessoa de Shelley ou a águia desconhecida, a poesia que
Shelley havia criado assim como a pena que uma águia deixara para trás ao voar,
era o que valia a pena guardar na alma funda.
E Robert Browning termina o
poema com um encolher de ombros:
"Bem, o resto eu esqueci."
Talvez seja desnecessário
conhecer fisicamente os objetos de nossos encantos. Quem sabe não seja preciso
visitar Paris para guardar no peito tanto a sua magia quanto as suas penas?
Não sei.
Mas sei que Paris estará
perpetuamente viva, não porque abriga os fantasmas dos mortos famosos, mas
porque é o repositório e o cenário de seus imensos trabalhos. E o propósito de
todas essas velhas coisas não é nos levar para o passado, mas sim afastar o
tédio e animar o nosso presente.
Paris é eterna não porque seus
monumentos são vocacionados à imortalidade, mas pela vontade que seus artistas
tiveram de deixar algo para trás, um suspiro, uma pena, um pouco de
memorabilia, ou arte, que chamará a atenção e solicitará a admiração de novas
gerações em tempos futuros, parecendo-lhes estranha e fascinante.
E os bons velhos tempos
continuarão sedutores simplesmente porque não estávamos lá, por mais que
desejássemos ter estado.
No entanto os muitíssimos fãs
do filme Meia Noite em Paris talvez não saibam o quanto Woody Allen é devedor
do livro de Ernest Hemingway Paris é uma
Festa, que mais do que qualquer outra coisa já escrita, pintada,
fotografada ou filmada captura e narra os oito anos que o grande escritor, assim
como Gil sonhava fazer, viveu em Paris naquela bela mas sofrida década de vinte
do século passado.
Mas isso já vai ser outra
conversa.
1)Bonito artigo. Paris merece e nós, os leitores de Pimentel, merecemos.
ResponderExcluir2)Em Sevilha, Espanha tb encontrei os cadeados nas pontes do belo rio passeável/navegável que cruza a cidade.
3) O governo estava pedindo que os namorados não fizessem mais isso, devido ao peso na estrutura das pontes.
4) Sugestão vizinho: qdo possível, sem pressa, escreva-nos sobre a "Feira da Ladra", em Lisboa !
Vizinho Antônio,
ExcluirPretendo falar da bela Sevilha um poucachinho ao descrever duas senhoras pintadas por um de seus filhos numa janela e não pense que esqueci da Leiteira ou da Rendeira ou da mulher segurando aquela balança do Vermeer e sim a Feira da Ladra - os mercados em geral! - é uma ótima sugestão pela qual te agradeço.
O problema é só um: tempo!
E sim a Carla Bruni deu o ar da graça dela na Meia Noite só que a entrada triunfal foi logo no Museu Rodin e - confesso! - distraído, não liguei o nome à persona (rsrs)
Obrigado e bom final de semana
Abraço
Assisti o filme muitos anos atrás. O seu artigo é lindo, perfeito, fotos maravilhosas mas eu não sinto a menor saudade do passado, Moacir. Venci muitas dificuldades graças à educação que meus pais me deram e do muito que corri atrás. Quando olho para uma foto minha atual e comparo com uma quando tinha 20 anos, não quero ser como era. Me sinto ótima! Muito mais mulher e gente do que antigamente. Pra mim o passado não está com nada e o futuro a Deus pertence. Só tenho para viver o presente.
ResponderExcluirMônica,
ExcluirPara você eu tiro o chapéu. Respeito a sua estrada mas na sua idade eu também não sofria de nostalgia (rsrs) Sua postura diante da vida e do seu tempo é saudável pois para frente é que se anda. Mas, de vez em quando , olhe para trás nem que seja para se maravilhar pelo tanto que já caminhamos desde que desistimos de balançar o rabo e ficamos de pé. Para mim o passado é isso: um GPS!
Mas...
Acho que tenho uma alma velha. Gosto de colunas gregas, de pontes romanas e de fontes de pedra, de vitrais, de fossos e de muros medievais cobertos de hera, da pátina do tempo embelezando bronzes, de jardins de folhas mortas por trás de portões de ferro , de igrejinhas escuras caindo aos pedaços, do sangue e do drama barroco do Aleijadinho, da era do jazz e da Paris de ontem, hoje e sempre.
Fazer o quê?
Abraço
1)Um dos nomes na capa do DVD é Carla Bruni:
ResponderExcluir2)Penso que é a modelo, cantora e ex-Primeira Dama da França, esposa do Presidente Sarkozy.
Moacir,
ResponderExcluirComo você escreve bem. Mesmo quem não viu o filme como eu passeia por esse artigo encantador. Amei o jazz e a foto dos cadeados provando que os jovens de hoje continuam românticos. Acho que nem tanto ao mar e nem tanto à terra. Lembrar o passado com equilíbrio adoça o presente e faz ter esperança no futuro. Um abraço para você.
Cara Flávia,
ExcluirAcho que você captou perfeitamente a mensagem: esperança!
Outro abraço para você
Sempre aguardo os artigos de Pimentel com uma certa expectativa.
ResponderExcluirQuando ele aborda as suas viagens, e o texto é sempre muito rico em detalhes, em pormenores, observações pessoais mencionadas com critérios bem definidos, também me desloco para esses locais que jamais irei conhecê-los.
Este, a respeito de Paris, com um mapa da Cidade Luz ao lado, conheci a capital francesa, ainda mais se eu obter no Youtube vídeos que mostram os locais que Pimentel se referiu.
Foi assim com aquela série que nos brindou sobre a Índia, espetacular, irrepreensível.
Ora, o registro de hoje é muito importante para quem gostaria de ter ido a Paris, mas jamais conseguiu por razões diversas, que não importam.
Exatamente como fiz com os artigos anteriores, copiei, e o arquivei em pasta especial, qualificando-me quase como alguém que tenha ido à capital francesa se mencionar as ruas, monumentos, igrejas, bairros, parques, avenidas, cafés, restaurantes e atrativos infindáveis desta cidade magnífica!
Obrigado, Pimentel, pela viagem gratuita.
Um abraço.
Saúde e Paz.
Olá Francisco Bendl,
ExcluirAdorei a sua leitura junto de um mapa de Paris.
Até mais.
Aninha,
ExcluirDesde quando eu frequentava os tais "bancos escolares", e vai aí mais de meio século(!), eu pedia aos professores de História e Geografia que suas matérias se unissem, fossem lecionadas ao mesmo tempo.
Quase fui expulso, mas no dia que houve História, e a matéria versava sobre a Primeira Guerra e a Batalha de Dardanelos, neste estreito que tem o mesmo nome, antigamente era conhecido como Helesponto, na Península de Galípoli, Turquia, havia colegas que sequer achavam o Mar de Mármara, pois este acidente geográfico liga o Mar Egeu a Mármara, separando a Europa da Ásia.
Ora, o artigo do nosso amigo Pimentel é um primor para quem conhece paris, quem esteve na capital francesa ene vezes!
Mas, eu, que jamais botei os meus enormes pés - 45 bico largo e alto - em solo onde o Napoleão das Letras viveu, o extraordinário Balzac, para entender o artigo somente com um mapa de Paris ao lado, e o meu passeio foi memorável!
UM abraço, Aninha, e tens de ver o quanto tenho sido radical "naquilo", o tiroteio que tenho feito sobre "aquilo", de acordo com a minha radical dissidência, claro.
Saúde e paz.
Chicão,
ExcluirSou eu quem agradece por você ter "viajado" comigo. É muuuuito bom imaginá-lo sobrevoando o mapa para se situar em Paris , exatamente como fazia na escola depois de ter batalhado - coberto de razão - para que os professores sem noção ensinassem Dona História e Dona Geografia juntas.
Eternos aprendizes na vida e da vida é o que somos. Dessa vida na qual vale aquele famoso bordão aplicado com sucesso no amor e no futebol: "não é uma questão de força mas de jeito!"(rsrs)
Abração e muito obrigado pelos ótimos comentários
Sempre achei que a beleza da fotografia nos filmes de Wood Allen eram proezas de Santo Loquasto. Não eram. Ele não está mais com Allen e a fotografia continua belíssima, tal como a trilha sonora, cujo dedo indicador é do próprio Woody.
ResponderExcluirE eu quero saber, sim, como faço para ter pra mim essa capa de DVD, que mistura Allen com Van Gogh. Eu desconhecia totalmente a existência dela. E não paro de pensar em ter uma igual. Como faço? Só na Alemanha?
Quando um filme de Woody começa, eu quero total silêncio e presto atenção aos mínimos detalhes (olha os detalhes ai, gente!). Allen é meu encantador de serpentes, faz mudar o ritmo da minha respiração, não sei se arregala meus olhos, porque tudo o que se olha com amor apequena o olhar físico. "Olho de pinto", como diria minha ex-nora, ao comentar o olho pequeno do meu filho após a beberagem das festas de fim de ano. Não chega a tanto. É um olhar miúdo de carinho por esse homem que faz a vida mais bonita, mais densa e mais leve e significativa nas telas.
Woody Allen faz a vida ser/parecer mais bonita, pois 'assim é, se lhe parece', não é mesmo?
Já repararam como em alguns filmes dele os atores caminham sobre folhas caídas das árvores, embora ainda coloridas de vida?
Eu me emociono ao falar de Allen.
Moacir, como você sabe tanto sobre arte, de um jeito ou de outro? Fico encantada. Você também é um encantador de serpentes, não fosse serpente um dos significados de Ofelia.
(continua)
Ofélia,
ExcluirO meu afeto pelas artes começou na casa da minha infância e depois eu dei muita sorte : convenci uma perita no assunto a se casar comigo. Danou-se! O fato é que eu também mergulharia de cabeça "nessa do Gil".
Quanto "à capa do DVD que mistura Allen com Van Gogh" ela foi escolhida por nosso Editor e , portanto, não conheço o caminho das pedras.
Li com "olhos de pinto" as suas pretinhas emocionadas sobre Woody Allen. Não, nunca reparei ao assistir os filmes nos "atores caminhando sobre folhas caídas das árvores, embora ainda coloridas de vida".
Por que você não nos conta? Porque não aperta o famoso botão do dane-se ! e compra a tal "caixa com os filmes do Woody para ter em casa" e aproveita a chuva , as águas de março e escuta todas as canções de novo, todo aquele jazz maravilhoso e nos escreve sobre o cineasta do seu encanto? Sobre os momentos que pularam dos enredos - Hannah, Annie, Vicky, Crimes e Pecados, A Outra, A Rosa Púrpura do Cairo - que tem a ver com a Meia Noite! - Manhatan, A Era do Rádio e por aí vai - e caíram e fizeram morada na sua alma funda? Só pode dar samba!
Finalmente, esse seu junino "Olha a Chuva!" assim como aquele "Tou 'Garrado Aqui" acaba de entrar para os anais das Conversas (rsrs)
Obrigado pelos comentários.
Ofélia, aquela capa do DVD é a mesma imagem do poster do filme, usamos a da capa porque a que tínhamos do poster não estava muito nítida. Então penso que a capa do DVD aqui no Brasil deve ser igual.
Excluir'Olha a chuva' pode ser, Moacir. É de domínio público. Mas "Tô garrado aqui" não dá para entrar nos anais do 'conversas'. Lembra? Foi meu irmão que, menino ainda, abraçou o poste porque estava cansado, e aí disse aos meus pais essa frase, para não andar mais: "Tô garrado aqui!"
ExcluirComo dizia uma ex-colega de trabalho, "não estou podendo" e isso inclui escrever sobre o Woody Allen. Até gostaria.
Ah: não está sobrando filme do Allen nessa sua relação? Ando esquecida, mas acho que está.
Até
Ofelia
Moacir, não me leve a mal, mas antes de falar do seu belo post vou falar da magnífica fotografia do Yvon que você escolheu para abri-lo :)
ResponderExcluirA composição perfeita entre a silhueta do bouquiniste, a Notre Dame esfumada ao fundo e os ramos das árvores, todos nos lugares exatos para dar o perfeito equilíbrio ao quadro. Um exemplo clássico do "enquadrar com as pernas", a câmara dele estava no único lugar possível para conseguir isso. E da qualidade de impressão que se conseguia com as câmaras e os processos daquele tempo.
Gostaria muito de ter visto a impressão fotográfica da chapa original :)
Para quem não conhece, e se o Moacir me der licença, em quase qualquer lugar de Paris em que se queira comprar um cartão postal se encontra algum em preto e branco com essa assinatura "Yvon" no canto direito. Yvon (Jean Pierre Yves Petit) foi um fotógrafo francês que já foi chamado de "o fotógrafo dos cinzas doces e dos pretos de carvão", o que bem descreve a ilustração do post, e de quem pouco se sabe além do que dizem suas fotografias. Começou a fotografar em 1916, percorreu toda a França com sua câmara, foi fotógrafo da revista "L'Illustration" e é conhecido hoje principalmente por suas fotografias de Paris, que ele mesmo imprimiu em cartões postais para a alegria dos turistas.
Essa que abre o post ("Le Bouquiniste") foi tirada em 1920, e o cartão postal com ela é vendido até hoje.
Sobre o post, só posso confessar que eu fui e sou leitor do Dumas, sou "fã de carteirinha do Saint-Ex", que enquanto tive um florete ou um sabre nas mãos me diverti muitas vezes tentando reviver o refrão da balada que Cyrano ia compondo enquanto duelava com o Visconde de Valvert - "... qu' a la fin de l' envoi, je touche!", e que Papa Hem é meu autor americano favorito. Então como não vou gostar do seu post?
Que interessante, Mano, é um segundo post sua explicação.
ExcluirPensei que fosse você, Mano, quem escolhia as ilustrações. Me enganei.
Olha só como aprendi.
Enquadrar com as pernas é nas coxas? Se for, muda todo o sentido de 'fez nas coxas', rsrs.
Adorei. Conversas do Mano é cultura viva.
Até mais, como diz a Ana.
Ofelia
Oi Ofélia,
ExcluirQuando um autor manda um post e não manda ilustração, eu procuro escolher uma para abrir o post. Mas quando ele manda, eu apenas coloco as que ele manda, dentro de certos limites de quantidade para não estourar o armazenamento do Blogger, que não é ilimitado.
E "enquadrar com as pernas" significa que o fotógrafo anda até achar a posição exata para obter o enquadramento exato para a foto, em vez de simplesmente tentar fotografar de onde ele primeiro viu o assunto, mexendo só no zoom da lente, que é o que os principiantes geralmente fazem.
Às vezes alguns passos para a direita ou para a esquerda, e subir ou abaixar a câmara, fazem toda a diferença entre uma boa fotografia e uma fotografia apenas comum.
É diferente do pintor, que pode mudar a cena à vontade. Ele vê a tela branca e coloca nela o que quer, o fotógrafo vê a realidade completa à frente dela e tenta organiza-la conforme sua visão e retirar dela as partes que não quer. Acho que esta é a mais difícil...
Que beleza de explicação, Mano.
ExcluirOlha que trabalhei ao lado de muitos fotógrafos, via o que faziam, mas não liguei o nome à pessoa, como se costuma dizer. Não dei importância a uns passos a mais ou a menos. Eles simplesmente se mexiam pra lá e pra cá e eu aguardava o resultado para as minhas matérias.
'Enquadrar com as pernas' é um novo saber pra mim. Acho que pra maioria das pessoas.
Legal!
Wilson,
ExcluirObrigado pelo comentário perfeito que "traduz" o nome do blog: Conversas.
Sim, só há um ângulo possível , um enquadramento A+ - "os melhores zooms são as pernas" - para cada foto.
Também gostaria de ter visto a impressão da chapa original mas, principalmente, queria é de ter olho para conseguir "retirar das realidades as partes que não gosto". (rsrs)
O grande Yvon fazia poesia visual, momentos roubados do tempo, águas prateadas, contornos enevoados, luz fina e no meio DISSO os bouquinistes, os quais,os vendedores de flores, os barqueiros, os cavalos cansados, a Torre, o Louvre, uma festa no Bosque , um palácio atrás das árvores, um homem empoleirado numa escada regando as flores dos imensos vasos das Tulherias, um beco em Montmartre onde um cara varre a calçada enquanto um garoto observa, o rinoceronte e o touro no terraço do Trocadero, o crocodilo e a Liberdade no chafariz , as lâmpadas de ferro.Maravilhas!
A gente imagina o cara caçando novos pontos de vista, escalando o topo da Notre Dame carregando todo aquele equipamento para fotografar os gárgulas acima da cidade e entende que esse "Yvon" aí não está impresso em um cartão postal , mas em obras de arte.
O artista evitou fotografar sob o brilho do dia, preferindo em vez clicar ao amanhecer e ao anoitecer ou em dias chuvosos quando as sombras ficavam mais dramáticas e os céus de chumbo, conferindo mais caráter às cenas. O que aprecio nas fotos dele é justamente a obsessão de Petit pela atmosfera, pelo drama das nuvens, pelo brilho da chuva, por essa iluminação oblíqua que acaricia cada músculo de mármore e cicatriz do tempo nas esquinas da cidade.
http://higherpictures.com/exhibitions/yvons-paris/
Não sei você, Moacir, mas Kathy Bates, pra mim, era a própria Gertrude Stein. O jeito de Bates pegar os originais para ler me fazem pensar que seria exatamente assim que ela o faria. Os ídolos de Allen tem uma 'parecença' encantadora com os originais famosos.
ResponderExcluirEu entraria nessa do Gil, de Owen Wilson, de olhos fechados. Sem cuidado, torcendo para que o mantra que você sugere para o filme se tornasse realidade.
As histórias de Allen tem um tempo muito próprio. De que cartola ele foi tirar Owen Wilson como o ator ideal para o protagonista? O ator de Marley e eu? E deu tudo certo. Como sempre dá.
Ainda vou comprar uma dessas caixas com os filmes de Woody para ter em casa. Estive com elas algumas vezes nas mãos lá na Saraiva. Adiei a compra e isso me traz uma certa ansiedade. Porque gostaria de ter tudo dele em um pacote. Que, na verdade, é mais de um.
Em A Era do Rádio, eu amo September Song, porque é linda, porque nasci em setembro. Em cada filme existe uma canção elegível, ainda que todas sejam belas. A música de abertura de Meia-Noite em Paris é meu tudo. Mas, você acredita? O nome eu esqueci agora, me fugiu.
E o filme não poderia terminar sem chuva, não é mesmo?
Como dizem nas quadrilhas juninas, "Olha a chuva!"
Boa tarde, e obrigada por leitura tão agradável ao meu paladar.
Ofelia
OFÉLIA, NASCESTE EM SETEMBRO?!
ExcluirEU TAMBÉM, DIA 14!!!
Pertinho de mim, Bendl.
ExcluirVirginianos somos.
Precisamos comemorar um dia. Combina com a Marli. Ou eu vou pra Rolante ou vcs vêm pro Rio.
Gosto de bolo com múltiplas velinhas palito, vou logo avisando, rsrs.
Abração
Ofelia
Olá Moacir,
ResponderExcluir"Maravilha"! Seu texto é ainda melhor que o filme, que achei delicioso apesar de não adorar Woody Allen, como a maioria, e nem apaixonada de morte por Paris como o são o Mano, filho e nora que moraram lá.
Paris fascinou vocês e quando isso acontece parece que é para sempre.
"... na verdade o que eu persigo é a sensação que tive na primeira vez que li..." deve ser o in "the mood for love" da adolescência. Melancolia do que já foi.
E você não está no inverno e sim no outono, velhinho em formação que é . E deve mesmo manter os amores da primavera.
Esparsas flores
de mil cores
sortidos amores
de prima
vera
de vera
cor
primevo amor
E a chuva, que eu adoro, é linda no filme e no texto.
Até mais.
Olá Moacir,
ResponderExcluir"Maravilha"! Seu texto é ainda melhor que o filme, que achei delicioso apesar de não adorar Woody Allen, como a maioria, e nem apaixonada de morte por Paris como o são o Mano, filho e nora que moraram lá.
Paris fascinou vocês e quando isso acontece parece que é para sempre.
"... na verdade o que eu persigo é a sensação que tive na primeira vez que li..." deve ser o in "the mood for love" da adolescência. Melancolia do que já foi.
E você não está no inverno e sim no outono, velhinho em formação que é . E deve mesmo manter os amores da primavera.
Esparsas flores
de mil cores
sortidos amores
de prima
vera
de vera
cor
primevo amor
E a chuva, que eu adoro, é linda no filme e no texto.
Até mais.
Caríssima Donana,
ExcluirQuanto a Paris...
Ela é " uma mulher/ Só passa quem souber". Espero que a senhora continue lendo minhas perambulagens por essa cidade que nada tem de "intimidante".
Quando ao inverno...
Digamos que eu vou me equilibrando entre o meu menino velho e o meu velho menino com um pé no novo e outro no velho mundo. Complicado! (rsrs)
Mas aprendi que, em ambos os territórios, poesia se responde com mais:
"Se em toda a parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.
Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.
Carlos Drummond de Andrade, in 'Amar se Aprende Amando'
"Gratidão"
1)Licença: eu tb sou de setembro, 19.
ResponderExcluir2)Ofélia, uma vez, em um seminário na Faculdade, o pessoal do MN = Movimento Negro contou que a expressão "fazer nas coxas", vem do tempo da escravidão.
3)As escravas faziam nas coxas aquelas telhas de barro curvas, muito usadas no Brasil Império.
Que time, hem, Antonio? Só de setembrinos.
ResponderExcluirAs escravas 'coxudas' faziam as telhas curvas, rsrs...
Modelavam nas coxas?
Cada história... Pra ninguém botar defeito, não é não?
Brincadeira. Deveria ter um molde, claro. Ou elas ficariam presas ao telheiro...
Olá gentes,
ResponderExcluirQue setembro mais comemorável. Temos que preparar um post de festas!
PARATODOS (como diria o Chico) os poetas
ResponderExcluirMillôr
Cinzas. O carnaval passou. Por que não um dos grandes English Poemas (escritos originalmente em inglês) de Jorge Luís Borges?
"A madrugada inútil me encontra no canto de uma rua deserta; sobrevivi à noite.
Noites são ondas orgulhosas: ondas azul escuro, sobrecarregadas com todos os matizes de profundos estragos. Pesadas de coisas improváveis, desejáveis.
Noites têm o hábito de dádivas e recusas misteriosas, de coisas meio dadas, meio sonegadas, de prazeres com um hemisfério triste. As noites são assim, eu te digo.
O vagar dessa noite deixou-me as costumeiras sobras e retalhos: alguns amigos odiados com quem conversar, música de sonhos, e o fumo de cinzas amargas. Coisas com que meu coração faminto não sabe o que fazer.
A grande onda trouxe então você.
Palavras, quaisquer palavras, teu riso; você tão preguiçosamente e incessantemente bonita. Falamos e você esqueceu as palavras.
A madrugada desestruturada me encontra numa rua deserta da minha cidade.
Teu perfil afastado, os sons que ficam para compor teu nome, o timbre do teu riso: esses são os brinquedos nobres que você deixou.
Na madrugada eu os viro e reviro, eu os perco, os encontro, falo deles aos poucos cães vadios e ...s poucas estrelas perdidas na alvorada.
Tua vida, ensombrada, rica...
Devo chegar a você, de alguma maneira: ponho fora os estranhos brinquedos que você me deixou, quero teu olhar oculto, teu sorriso verdadeiro - esse sorriso solitário, zombeteiro, que só teu frio espelho reconhece."
Caríssimo, caríssimo, caríssimo...
ResponderExcluirAssisti ao filme passeando por todos os tempos que ele propõe. Agora, me senti como se estivesse ao seu lado caminhando por tantos lugares e cenas que marcaram minha vida. Afinal, estou entre os que acham que Paris é definitiva!