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06/03/2017

O Itaimbezinho

Canion Fortaleza - fotografia Jjunoo (wikimedia commons)

  
Francisco Bendl
Certamente um dos maiores erros do ser humano é de se sentir superior à Natureza, o senhor do planeta Terra, seu dono.
O egoísmo, a onipotência, seu poder de inventar e criar, transformam esta pessoa em semideus, imaginando que deva ser cultuado, admirado e reverenciado como tal.
Afora estar enganado, também não se dá conta que além de pertencer à Natureza que relega é a sua parte mais frágil, mais inconsistente, mais fácil de ser dizimada!
Os incomparáveis surfistas, pela coragem e habilidade de enfrentarem as grandes ondas, indiscutivelmente devem deixar Deus tamborilando seus dedos nos descansos de seu trono celestial, e se perguntando se havia pensado nesta possibilidade outorgado ao ser humano quando o criou!
Da mesma forma o talentoso motociclista de rali, dos saltos quase impossíveis com a sua moto e se desprendendo dela em pleno ar, para pousar dezenas de metros adiante.
Os alpinistas e suas mãos e dedos poderosos, que o seguram em grandes alturas na escalada de montanhas com quilômetros de altura!
O piloto de automóvel, que controla seu bólido a velocidades que chegam perto de 400 km/h!
Os pilotos de aviões com seus gigantescos Boeing 747 e Airbus 380, assim como aqueles que controlam seus fantásticos caças.
Deus deve estar surpreso pela audácia e ousadia daquele ser que trouxe para este diminuto planeta, escondido nos recôndidos de uma galáxia perdida nos confins do Universo, expulso que havia sido do Paraíso para ganhar seu sustento com o suor do seu rosto, para acrobacias e desempenhos inimagináveis!
Diante de tanta criatividade e decisão para desafios, o ser humano passou a não ter mais limites, pois, se existem, devem e podem ser ultrapassados.
No entanto, a Natureza, que se diverte com as estrepolias de seu filho irrequieto, volta e meia surge para colocá-lo em seu devido lugar, para que este rebelde a reverencie e respeite como deve fazer uma criança com relação à obediência a seus pais, e se manifesta imponente e incomparável nas gargantas do Itaimbezinho gaúcho, um espetáculo exuberante e grandioso da Natureza em seu estado original, sem a intervenção da mão humana ou de sua mente prodigiosa, pois intacta, virgem, indomável!
E, orgulhoso da sua terra, o gaúcho logo apresenta DOIS cânions, o Itaimbezinho e o Fortaleza, que é possível visitar a ambos no mesmo dia.
O Itaimbezinho, localizado a pouco menos de duzentos quilômetros de Porto Alegre, conserva a mãe Natureza antes de ela ter parido seus filhos transgressores, e se mostra com a sua beleza irradiante, poderosa, vigorosa, majestosa!
Suas gargantas berram para os seres humanos que as visitam:
- Ei, consegues fazer algo parecido, pelo menos?
Não, claro que não.
Jamais alguma obra humana, por mais sólida que pudesse ser erguida, duraria mais de um milênio sem reformas, mas as formações do Itaimbezinho e Fortaleza têm mais de CENTO E TRINTA MILHÕES DE ANOS, anterior às formas mais primitivas de vida e que desapareceram da superfície do planeta, até mesmo os gigantescos e aterrorizantes dinossauros, tiranossauros-rex, pterodáctilos ...
Ali, incrustada no planeta Terra, a pedra afiada, tradução do significado de Ita, pedra, e Ai Be, afiada, em Tupi-Guarani, no belo Estado do Rio Grande do Sul, divisa com o também estupendo Estado de Santa Catarina, o ser humano se percebe mortal, pequeno, insignificante.
E para poder olhar as profundezas dos abismos que atingem mais de setecentos metros de altura(!), ele deita para observar os sulcos como se fossem as rugas do tempo, e de não ser sugado pelos acordes dos ventos que soam como se fossem cantos de sereias, e levar o espectador para o fundo do Cânion, arrebatado pelo espetáculo indescritível!
A cidade onde se localiza esta obra divina, se chama Cambará do Sul.
O Itaimbezinho está a dezoito quilômetros da localidade, em estrada obviamente de chão batido, exatamente como a Natureza exige, sem a mão do ser humano a lhe macular o corpo esbelto e incomparável.
O rio Perdizes desce as paredes rochosas do desfiladeiro, e forma a cascata Véu de Noiva, mais de setecentos metros de altura, uma beleza igual à mulher que desposará o seu pretendente, mas com a vantagem de a idade lhe deixar cada vez mais exuberante, enquanto aos humanos resta pouco tempo de existência, meros estalos de vida.
Circulando caudalosamente lá embaixo, o rio Boi, parecido como uma enorme serpente, muito maior que aquela que levou a Eva a comer do fruto proibido e mais antiga também, dá origem a várias cachoeiras e cujas águas se derramarão no Estado catarinense. 
Cachoeira das Andorinhas - fotografia Lonas Teichmann (wikimedia commons) 

Mesmo assim, a mão boba do homem instalou naquela localidade sagrada, profanando a mãe natureza, o Parque Nacional dos Aparados da Serra, o maior da América do Sul, administrado pelo Ibama, é, esse mesmo!
O Cânion Fortaleza está situado no Parque Nacional da Serra Geral, e não cobra ingresso.
Lá, no Itaimbezinho, menos no Fortaleza, se encontram guias para orientar o turista, lanchonetes, estacionamento para o poluidor automóvel, um verme invasor.
Os orientadores estão à disposição para acompanhar os interessados em percorrer as várias trilhas existentes:
Trilha do Vértice, onde se chega na borda do Itaimbezinho, e despenca a cascata Andorinhas;
Trilha do Cotovelo, que leva ao mirante onde se tem uma visão geral do Cânion, com saídas até às 15h;
Trilha do rio do Boi, oito quilômetros de ida e volta, cansativa, é o único caminho que dá acesso ao interior do desfiladeiro. Há diversas travessias do rio Boi, mas se deve ter muito cuidado com o nível das águas do rio. Durante o trajeto, existem várias piscinas naturais com água gelada, que eu somente sou retirado de lá quando começo a parecer um xuxu azul! 
fotografia Marcelo da Silva (wikimedia commons)

O parque está aberto para visitação pública de terça a domingo, das 8 às 17h.
O ingresso, se não me engano, custa R$ 7,00 por pessoa, crianças até sete anos não pagam. Estacionamento para os vermes invasores, R$ 5,00 e para as lombrigas solitárias pelo tamanho (ônibus), R$ 10,00.
Se os telefones para informações não mudaram seriam estes:
(54) – 3251-1277
(54) – 3504-5289
(54) – 3251-1262
Em Cambará existem várias pousadas, preços acessíveis, confortáveis, e alugam jipões que levam o turista até o parque, sem usar o seu carro.
Na cidade há um restaurante que serve trutas grelhadas. Na última vez que lá estive fui retirado pelos bombeiros através do forro do local, depois que eu pedira a trigésima truta ao molho de nozes!!!
Não, não havia a preocupação que eu não tivesse dinheiro para pagar a conta, mas de eu acabar com a piscicultura existente deste tipo de peixe, que sobrevive somente em águas frias.
Para quem não gosta do frio não recomendo esta relação íntima com a Natureza, por mais encantos e sensualidade que ofereça. No inverno é comum a temperatura beirar dez graus Celsius NEGATIVOS e, o vento, no Itaimbezinho, proporcionar a sensação térmica de MENOS VINTE, VINTE E CINCO GRAUS CELSIUS!
VISITAR CAMBARÁ DO SUL E O ITAIMBEZINHO NO VERÃO NÃO TEM GRAÇA, é como namorar sem beijar a guria ou macarrão sem queijo, a meu ver.
Neste local sagrado no inverno uso uma leve jaqueta, claro, mas não troco as minhas indefectíveis sandálias por botas ou sapatos forrados de lã de ovelha.
Também são vendidos os ponchos de lã, vestimenta típica do gaúcho no inverno (deve-se ter cuidado para não confundir PALA com PONCHO).
Pala pode ser tanto para o inverno, de lã, quanto para o verão, de seda. Permanentemente retangular. A gola do pala é um talho, por onde a pessoa enfia o pescoço;
O Poncho é somente para o inverno, feito em lã grossa. Tem as formas circular e oval. Protege da chuva e do frio cortante, doído. A gola é alta, abotoada, e tem um “peitilho” na frente, quadrado.
Tais indumentárias valem a pena adquiri-las, tanto pelo preço acessível quanto pela demonstração quando se retorna ao Estado de origem, principalmente no Norte ou Nordeste do País, para que saibam como o gaúcho se protege do frio intenso.
As cidades turísticas de Canela e Gramado com suas hotelarias e gastronomias com fama internacional estão a 170/180 km de Cambará do Sul, passando pela cidade de São Francisco de Paula, também com bons hotéis turísticos em face do clima e da neve no inverno, claro.
Lembro que no Parque dos Aparados da Serra existem algumas proibições, que são levadas à risca:
Acampar, levar animais de estimação, acender fogueira e fazer travessias sem os guias. Quem desobedece, a peleia é grande!
A fauna local apresenta o Lobo-Guará, o Puma, aquele que aparece nos filmes americanos, mas o felino é gaúcho(!), a Jaguatirica, braba, arisca, tem umas garras... mas é belíssima, o Guaraxaim-do-campo, Urubu-rei (no RS não tem esses urubus de lixões, pois os nossos são de outra estirpe, mas bah), a Gralha Azul (algumas esposas são idênticas a essas aves quando se desacertam com os maridos, que ficam encantados ora com a beleza do desfiladeiro ora com a estonteante mulher gaúcha, então a cor, azul, de raiva)!
Se alguém que lê e frequenta este blog extraordinário do Mano quiser conhecer a Natureza em seu estado primitivo, intocada ainda, e me conceder a honra de sua visita, moro relativamente perto de Cambará, pois apenas a sessenta km de São Francisco ou Gramado ou Canela, e posso dar algumas informações a mais.
O passeio é memorável, impactante, indescritível, nosso, da nossa terra, pertence a este País tão maltratado... - quase que te peguei, né Mano, quase, hehehehehehe!


21 comentários:

  1. Wilson Baptista Junior06/03/2017, 08:35

    Quase, Chicão, quase.... E é bom que fiques no "quase" :)
    Excelente artigo, principalmente quando falas das tuas tropelias. Dá vontade, sim, de visitar o parque. Que deve ser maravilhoso. Conta mais.

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    1. Francisco Bendl06/03/2017, 09:37

      Caro amigo Mano,

      Obrigado pelo comentário.

      A visita ao Itaimbezinho para quem o vê pela primeira vez é impactante!

      Foi em razão desta admiração pelo turista que iniciei com a Natureza como nossa mãe, que se mostra inigualável em certos momentos (no RS com este desfiladeiro).

      O passeio vale mais do que a pena. Para quem tem condições de vir ao RS, trata-se de uma obrigação, eu diria.

      E estou à tua espera, Mano.

      Um forte abraço.
      Saúde e paz.

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  2. Amigo Francisco Bendl, rebelde destemperado, Você hoje foi um arrasa quarteirão, belezura sem par! Acho que um dia vou aí. No frio mas sem lagoa e nada de chuchu azul. Dos famigerados humanos que fazem Deus tamborilar os dedinhos na braço da cadeira, você se esqueceu dos mergulhadores. Na última semana nosso filho venceu os 120m em mergulho técnico, no mar do Caribe. Segundo ele, foi um assombro de beleza. Quero mais do seu mundão! Até lá.

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    1. Francisco Bendl06/03/2017, 09:50

      Querida Aninha,

      Meu humilde perdão pela falha!

      Os mergulhadores ... estes corajosos fantástica que nos fizeram conhecer as profundezas dos mares e suas belezas indescritíveis!

      Que nos mostraram navios afundados e seus tesouros fabulosos!

      Que nos apresentaram um outro mundo com a vegetação e os seres que habitam os oceanos!

      Um abraço ao filhote, apertado, caloroso e de parabéns pela proeza.

      Se tu vieres conhecer o Itaimbezinho sentirás falta de ar. Nada que respirar fundo e agradecer a Deus pelo momento que se está dividindo com Ele não restabeleça a respiração, mas é pela grandiosidade do espetáculo natural que encanta!

      Obrigado pelo comentário, Aninha.

      Olha, fui tão crítico sobre "aquilo", que o blog que abrigava os meus textos a respeito rompeu com a minha radicalização!

      Assim, meu tempo ficou bem maior para eu dar conta de outras tarefas, mas acho que o momento não é para deixar dúvidas quanto ao nosso posicionamento "naquilo", e é o que tenho feito.

      Um abraço, minha colega dissidente (penso em uma fórmula de vencermos esta barreira conjugal! Acredito que as Trombetas de Gedeão, na hipótese de eu encontrar uma delas no Itaimbezinho, será o instrumento da "liberdade de expressão" no Conversas do Mano).
      Saúde e paz.

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    2. Wilson Baptista Junior06/03/2017, 10:47

      Amigo (?) Chicão, pára de fomentar essa dissidência conjugal ou não me deixarás outra alternativa senão despendurar minhas boleadeiras e viajar até Rolante para campear esse bagual dissidente e devolvê-lo peado a preceito para a doma severa da senhora dona Marli :)

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  3. 1) Chicão Ecológico ! Escreva sempre ! Parabéns, belo texto.

    2)Lembrei do meu cunhado, hoje aposentado, durante décadas foi "alpinista" e "guia de alpinistas" durante décadas. Muitas vezes era chamado para ajudar os Bombeiros, onde eles não podiam escalar e salvar pessoas.

    3)Parabéns Wilson e Ana. Falar das vitórias dos filhos e familiares é uma das características ótimas desse bom blog.

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    1. Francisco Bendl06/03/2017, 14:06

      Rocha, meu caro,

      Obrigado pelo comentário.

      Deverias conhecer o Itaimbezinho.

      Penso que aumentariam teus conhecimentos sobre o Budismo contemplando aquele desfiladeiro cuja idade é anterior qualquer líder religioso existente, com exceção do Criador, evidente.

      Um abraço, meu amigo.
      Saúde e paz.

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  4. Francisco Bendl06/03/2017, 12:39

    HEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHE!

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  5. 1) Licença: só este blog maravilhoso permite minha memória voltar a 1966, na minha querida cidade satélite do Gama, DF.

    2) https://www.youtube.com/watch?v=GUsRaiYUzls

    3)Os bailes de sábado começavam às 14 horas e terminavam às 18 horas.

    4)Não conheço as pessoas que aparecem no vídeo, se bem que uma parte dos Heringer pertencem aos presbiterianos, meus queridos amigos.

    5) Pode parecer que a "Licença" esteja fora do contexto, mas vi tanta Natureza bonita no texto do Chicão que resolvi sugerir esta bela orquestra.

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    1. Francisco Bendl06/03/2017, 17:29

      Rocha,

      O ano que mencionas, 1.966, foi o meu último em Taguatinga, DF, antes de voltar para o RS.

      Acho, no entanto, e pelas festinhas que eu frequentava semanalmente, a orquestra mais tocada era Ray Conniff, pelo seu embalo e porque La Mer ficou na parada de Sucesso da Rádio Alvorada por muito tempo - lembras? -, e cujo animador mais conhecido era Meira Filho, que tinha como bordão:
      - Bambolê de baiano é pneu de fenemê ...
      Uma brincadeira que fazia, entoando o frevo pernambucano Vassourinhas.
      Ou então:
      - Ó Minas Gerais, ó Minas gerais, quem te conheces não sai do Goiás, ó Minas Gerais!

      Desnecessário eu escrever a saudade que tenho daquela época, do que foi a construção de Brasília, e a nossa ida, minha da minha mãe e irmão, em 1.959, para o Planalto Central, ONDE MUITO POUCO HAVIA!

      Talvez tenha sido desta permanência no DF o meu espírito aventureiro, pois morar sem luz e água por UM ANO exigiu demais do trio de gaúchos.

      E os lacerdinhas, te lembras?

      E só havia uma empresa de ônibus que fazia a linha Gama/Plano Piloto, que era a TCB, Transportes Coletivos de Brasília, mas bah!

      Uma pena que não nos encontramos naquela época, Rocha, e estávamos praticamente ao lado um do outro.

      Ah, e quanto aos conjuntos, The Platters, liderava com folga os mais tocados:
      Only You, Smoke Gets in Your Eyes, My Prayer, You'll Never know, The Great Pretender ... credo!!!

      E as canções italianas, que fizeram muito sucesso e, claro, as músicas adocicadas da Jovem Guarda. E, neste ano, 66, Roberto Carlos estourou com, Quero que vá tudo para o inferno, pois a música fora lançada em dezembro de 65!

      E a Rita Pavone, Rocha, que deixou a gurizada extasiada pela mignon italiana?

      Um grande abraço.
      Excelentes lembranças, apesar da nostalgia que deixam.
      Saúde e paz, meu caro.

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  6. Oi Bendl,
    como sempre se disse sobre o ópio, o cambará também é uma flor.

    Jamais visitarei natureza tão esfuziante, bela. Com o vento e a temperatura que você nos informa, TÔ FORA!, é demais pra mim e a minha asma. E você ainda diz que usa uma velha jaqueta e sandálias no inverno!

    A temperatura dos nossos corpos, Bendl, são mesmo muito diferentes. Deve ser a carne vermelha que você come em quantidade

    Meu irmão teve uma graça de casa em Petrópolis (Bom Clima), quase Itaipava. Uma tarde saímos daqui e subimos a serra com pouco agasalho. Não fomos preparados para nada, jovens aventureiros. À noite, enregelada, meu irmão veio afofar minhas cobertas com jornal. Eu não dormi nadinha. Acho que meu filho também não. Meu irmão não sei, nem minha cunhada, estavam em outro quarto. Pela manhã, só me recuperei quando o sol nasceu e bateu em mim. Fiquei no sol me aquecendo como um lagarto na pedra.

    Um lugar lindo, Bendl. Para o maior dos verões.

    Vou enviar pro Mano publicar, se eu encontrar, uma foto minha quando jovem lá pelas bandas de Terê.

    O que eu usava não era poncho nem pala, mas uma invenção da minha tia Filhinha, tia Tá ou Esther.

    Bons tempos, hem?

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    1. Francisco Bendl06/03/2017, 16:56

      Minha querida Ofélia,

      Entendo este frio que sentes, pois a Marli não é diferente de ti em nada!

      No inverno ela me chama de "fogão", tamanho calor que irradio deste corpanzil, razão pela qual imagino que, na outra encarnação, eu deva voltar como "foco" - marido da foca, assim como "estrelo" é o masculino de estrela, claro.

      Olha, no rigor do inverno, e na cidade onde moro, que não é fria, mas a temperatura cai para perto de zero grau Celsius, normalmente concedo-me usar um lençol, porém dormir somente sem camisa e de cuecas, mais nada!

      Jamais usei um pijama, e acho que devo ter vindo com defeito no meu termostato, de modo a explicar os porquês de eu raramente sentir frio de me obrigar a vestir um casaco ou sapato e meia.

      Sou uma espécie de atração turística, vai.

      Ah, outro detalhe:
      NÃO BEBO BEBIDA QUENTE!!!

      Chimarrão, café, chocolate ... nada. Sopa ainda faço uma exceção.

      Se eu quero me "aquecer" um bom suco com pedras de gelo ou, então, um refrigerante, estupidamente gelado!

      Dia desses, Ofélia, tivemos um temporal forte na região, depois daquele que deixou Rolante embaixo d'água.
      De madrugada faltou luz, e eu estava com ventilador e ar condicionado ligados.
      Bom, peguei uma cadeira e fui me sentar na frente de casa, de modo que um pouco de vento "refrigerasse" o meu radiador que estava quase fervendo.

      Pois é exatamente por isso que, entre mim e o álcool, há um abismo intransponível, que seria o tal calor que a bebida proporcionaria, menos em mim, que me deixaria muito mal.

      Enfim, se vieres com roupas adequadas - e se não as tem, encontraria facilmente para adquiri-las no RS -, não sentirias muito frio no Itaimbezinho. O segredo estaria em protegeres muito bem a cabeça - boina, gorro, chapéu - e os pés, calçando umas botas forradas, que te deixariam muito confortável, e vestida com um Poncho, claro (tá bem, lá pelas tantas seria difícil caminhares com tanto peso e teres mobilidade nos movimentos, mas seria só no desfiladeiro, pois na cidade o frio diminui dois, três graus).

      Grato pelo comentário, Ofélia.

      Um abraço, forte e "calorento".
      Saúde e paz.

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    2. Oi Bendl,
      você fez eu me lembrar do meu pai. Eu dizia exatamente isso, que ele tinha defeito no termostato. Mas o defeito dele era diferente do seu. Meu pai era magro. E no maior inverno, quando lá fora esfriava bastante, ele botava uma camisa de manga curta e saía pra ver as modas na calçada, o que incluía as árvores floridas que já não existem mais aqui.

      Eu o chamava, claro, para botar um agasalho. Ele vinha. Mas à noite dobrava em dois o cobertor comprado no Hotel Brasil, em São Lourenço, MG, para conseguir dormir.

      Meu pai era uma atração como poucas.

      Acho que ele e Seu Toinho, pai do Marcus Guedes, quase irmão do Heraldo, se dariam muito bem. Deu pra perceber que Seu Toinho era vaidoso. Meu pai também era. Adorava uma camisa nova!

      Meu Deus, Bendl!, como eu amava o meu pai, amigo 'lareira'.

      Abração, muita paz, muita saúde.
      Ofelia

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    3. Francisco Bendl06/03/2017, 22:08

      Ofélia,

      Alegro-me que eu tenha te lembrado do senhor teu pai.

      E o quanto ele não deve ter sido feliz pelo amor que lhe devotaste!

      No entanto, não sou vaidoso. Tenho um par de sandália, duas calças, quatro camisas, e várias bermudas e, claro, as tais roupas de baixo.

      A vida no interior por ser simples, também nos cobra simplicidade, despojamento, a meu ver. E como estou aposentado, saio pouco, os locais onde vou posso ir de bermuda e chinelo, com uma camisa de manga curta jogada na costas.

      Mas sempre admirei aquela pessoa que se veste bem, que tem um físico tipo manequim.

      Eu também seria modelo, se os paquidermes servissem como "tendência", no entanto, jamais vi que uma cortina servisse como indumentária elegante ou um lençol rasgado no meio para passar o pescoço seria uma bela túnica!

      Aliás, certa feita, a Marli estendeu no varal uma jaqueta que eu tinha quando precisava andar bem trajado. Era de inverno, grande, para eu poder usá-la sobre a camisa. Pois a confundiram como se fosse capa de sofá, para quatro lugares e, as duas mangas, exatamente os dois braços da peça!

      Não gosto de roupa nova porque tenho de prová-la. O problema então passa a ser o provador, invariavelmente pequeno, apertado, um local somente para quem é humano, e não para homens-elefantes-hipopótamos, rsrsrsrsrsrsrs!

      Um abraço, Ofélia, mastodôntico.
      Saúde e paz.


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    4. Provador é chato pra todo mundo.
      Também não gosto de provador.
      E camisas, que meu pai ganhava, só vestia em casa pela primeira vez. Qquer coisa, trocávamos.
      Para com isso, Bendl. Que capa de sofá...

      Abração
      Ofelia

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  7. Moacir Pimentel06/03/2017, 17:20

    Chicão,
    Um grande post. Perfeito! Taí toda a beleza do Itaimbezinho narrada no seu estilo bem humorado e inconfundível, com as tintas do seu talento e o calor do seu amor pelo Rio Grande. Não tem como ler o texto sem ter vontade de abolir todos os "vermes", comprar um poncho e fazer essas trilhas - com um bom par de tênis! - para enfrentar a fúria do vento lá no topo. E contemplar suas paisagens! É impossível não querer sentir o prazer de, depois da caminhada, cair suado e de cabeça nessas águas geladas , nas quais, nesse frio todo , para descrever com exatidão o "xuxu" melhor seria acrescentar-lhe um zinho (rsrs) É complicado não salivar diante dessas trutas ao molho de nozes. Como não ter orgulho dessa terra "de reis em farrapos montados em cavalos baios COM pátria, querência e bandeira"?
    Sabe, Bendl ? Você é que é uma força da natureza. Como ela, de vez em quando, se aquiete, segure o Lobo-Guará, respire fundo e ...mande mais!
    BRAVO!

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    1. Olá Moacir,
      Adorei "uma força da natureza"!
      Posso usar?

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  8. Francisco Bendl06/03/2017, 20:43

    Pimentel, meu caro,

    Muito obrigado pelo comentário.

    Certamente que eu não teria condições de explicar a grandiosidade do Itaimbezinho por mais que eu tentasse escrever de forma séria, circunspecta, concentrada.

    Agora, à base de uma que outra pincelada de humor, a mãe Natureza saberia compreender a minha pequena travessura, e permitiria o texto porque explanando a respeito de uma de suas belezas, consequentemente meu esforço seria também perdoado.

    De fato, o desfiladeiro, Pimentel, tira o fôlego de quem pisa na terra onde se localiza. Ali, espreita-nos uma das idades do tempo que, entre humanos, é impossível avaliar!

    Milhões de anos, CENTO E TRINTA, possui esta testemunha diante de quem a visita, então deve reverencia, respeito, admiração, devidamente temperadas pela finitude e humildade que devemos nos apresentar a esta obra terrena, construída diretamente pela mão do Criador!

    Gosto de parar à beira de seus abismos e ficar pensando, quem sou eu?

    Como pode o ser humano ser tão insignificante e deixar de proporcionar aos seus iguais uma vida mais amena, com menos dificuldades e necessidades, se perante um mero acidente geográfico a constatação do quanto é pequeno?

    Que representação queremos de nós mesmos com relação ao mundo, se por mais vontade que tivermos o ser humano jamais conseguirá deixar patenteado a sua existência por tanto tempo, de modo que não se dê conta que poderia ter uma vida muito melhor, caso se objetivasse nele mesmo, e tomando por exemplo o silêncio absoluto dos vales sulcados na terra, quebrados pelo uivo dos ventos como clarins anunciando o grande espetáculo que se mostra à nossa frente, e não haveria potência maior de vozes que o som poderoso de ventos demonstrando a altura que seus acordes alcançam!

    O desfiladeiro, o vento, as cascatas, o rio que serpenteia o fundo do vale, as alturas de suas paredes e as quedas d'água, nos obrigam a acreditar em força superior.

    O ciclo da natureza é formado pelo eterno nascimento, crescimento e morte. Da mesma forma que as folhas de uma árvore nascem, crescem e caem mortas, dando suporte para a vida na floresta, todos os seres estão submetidos a esse vai e vem e, no Itaimbezinho, cada pessoa que o visita resgata outras vidas e anteriores que lá estiveram, desde que o primeiro ser humano - PRIMEIRO SER HUMANO! - botou os pés naquele local, muito antes de haver a América do Sul, o Brasil, o Rio Grande do Sul, Cambará do Sul ...

    O Itaimbezinho, Pimentel, ensina ao gaúcho de forma insofismável, indiscutível, que não se localiza no Rio Grande do Sul, MAS O RIO GRANDE É QUE SE SITUA ONDE ELE EXISTE!!!

    Portanto, não vejo como idolatria quem está no desfiladeiro e o adora, a meu ver, pois está prestando a sua homenagem diretamente a Deus, depois ao planeta para onde foi destinado vir das estrelas e, assim, fazer parte deste ciclo impecável de nascer e morrer, e de os mais frágeis e de tempo muito curto de vida, possam estar interligados como uma pessoa somente e jamais esquecerem que, se são insignificantes, os mesmos sentimentos podem deixá-los um só, a pequenez se torna gigante, e as profundezas dos abismos do cânion estar sob nossos pés, pelo menos simbolicamente!

    Afinal das contas não vivemos de forma simbólica, como representação de algo, menos de nós mesmos?!

    Um grande abraço.
    Saúde e paz!

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  9. Bendl, essa sua resposta ao Moacir é de botar no quadro.
    Amei.

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    1. Francisco Bendl07/03/2017, 08:55

      Minha querida Ofélia,

      O blog extraordinário do Wilson, Conversas do Mano, nos deixa enternecidos com a sua diversidade cultural.

      Obrigado pelo comentário mas, se eu soubesse e tivesse talento, as tuas palavras eu as faria sempre como monumento à inteligência feminina, sua sensibilidade, sensatez, bom senso, à importância da mulher no contexto da própria formação do Universo,!

      Ora, se o Itaimbezinho é uma obra direta de Deus, sem a mão do homem ter sido responsável pela sua criação, a mulher foi a mãe do Filho deste Deus!

      O desfiladeiro é grandioso, estupendo, maravilhoso, porém, a mulher, é simplesmente DIVINA!

      Um abraço celestial, Ofélia.
      Saúde e paz.

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  10. Me botou no céu, Bendl? Então estou mesmo encomendada, rsrs...
    Abs, saúde e paz pra você também.
    Ofelia

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