Dia de corrida de touros na arena de Nîmes (foto WBJ) |
Wilson Baptista Junior
Uma das melhores coisas de reeditar este blog tem sido poder conversar e aprender com o Chico, o Moacir, o Antonio e o Heraldo.
Outro dia, conversando com o Moacir, trocando histórias sobre como nós dois começamos a gostar dos livros, como viemos a aprender as línguas em que lemos e os problemas que encontramos nas traduções (assunto que dá muitas conversas), ele me convenceu a contar para vocês um pouco da minha parte dessa história.
Mas, para explicar isso, vou ter que falar um pouco de mim, então peço a paciência dos leitores…
Cresci entre os livros de meus pais. Mamãe era quem gostava de ler, e falava melhor, o francês, Papai era mais voltado para o inglês e para o alemão (esse nunca tentei aprender), por suas leituras e campos de interesse.
Mamãe se interessava por filosofia, teologia, poesia, literatura. Foi quem me apresentou ao Cyrano de Bergerac e ao Tartarin de Tarascon, à Montanha Mágica do Thomas Mann, ao Poirot e à Miss Marple da Agatha Christie, ao Júlio Verne, ao Walter Scott. Amiga de Murilo Mendes e da Carminha Gouthier, me despertou o gosto pela poesia.
Papai se interessava mais pelas ciências, pela fotografia, pelo desenho, pelos trabalhos de oficina. E pela literatura, também. Foi nos livros dele que primeiro conheci o Kipling, o André Maurois, Erasmo de Rotterdam, Somerset Maugham, Hendrik Willem Van Loon, Érico Veríssimo, T. E. Lawrence, Aldous Huxley e tantos outros. E foi com ele que aprendi a desenhar, uma linguagem que me serviu em todas as coisas que quis fazer na vida.
Na parte de baixo das estantes ele guardava uma preciosa coleção do Gibi e do Globo Juvenil da década de quarenta, com as primeiras histórias do Superman, do Capitão Marvel, do Dick Tracy e do Capitão América, coleção preciosa que eu lia escondido da mamãe, que um dia o convenceu a jogar fora as revistas porque achava que aqueles quadrinhos não eram apropriados para crianças. Muitos anos depois, leitor do ”O Pasquim”, não pude deixar de me solidarizar com o desespero do ratinho Sig, criação do Jaguar, quando sua namorada que vivia na fossa jogou fora a coleção dele do Globo Juvenil de 1947...
Os dois gostavam de música. Mamãe, filha de uma pianista consumada, tocava um pouco de piano e tinha começado (só começado) a tocar violino na juventude. Papai também, em rapaz, tinha tentado aprender violino, mas "para grande alegria da vizinhança", segundo ele, tinha desistido logo.
Naquele tempo, antes da televisão, papai tinha um projetor de cinema sonoro dezesseis milímetros (Movie Mite), e um amigo que era dono de um cinema de bairro, com o resultado de que assistíamos em casa grande parte do que passava nos cinemas, para grande inveja dos nossos colegas. Mamãe, sempre vigilante, quando achava que o filme não era apropriado para as crianças mandava a gente dormir mais cedo, com o resultado de que acabei assistindo um ou outro escondido debaixo da mesa da sala...
Para falar de traduções, temos que falar um pouco de línguas. Tenho lido em inglês, francês e espanhol tanto ou mais do que em português. Quando pequeno, aprendi o inglês, não direi sozinho porque tinha meu pai para tirar minhas dúvidas, principalmente porque me interessavam muito as suas coleções do "The Saturday Evening Post" e da "Mechanix Illustrated", e, bem mais tarde, a "Life" dos bons tempos. E os livros e as revistas dele sobre fotografia.
O francês veio, com a ajuda da minha mãe, da leitura do jornalzinho dos escoteiros franceses ("Coeurs Vaillants", onde nasceu minha admiração pelos corredores do Tour de France da época, e algumas fumaças de provençal nas aventuras de Frédéri - Quès aco? Té, un gardien de Camargue), e depois da leitura de uma revista de arte moderna e arquitetura, "Aujour D'Hui".
Comecei a ler em espanhol quando meu pai trouxe para casa uma maravilhosa edição do “Don Quijote” da Real Academia Espanhola, com as magníficas ilustrações do Doré.
Quando fui para o colégio Loyola, lá tivemos quatro anos de francês, cinco de inglês, três de espanhol e sete de latim - que na verdade, apesar das boas intenções dos professores das quatro línguas, de pouco adiantaram.
Meu professor dos primeiros quatro anos de latim era um padre basco, muito mais inclinado a comparar o Atlético de Bilbao com o Atlético Mineiro do que em falar sobre a Guerra das Gálias, e que nos deixou completamente despreparados para o professor dos últimos três anos, que levava o latim a sério. O primeiro fui reencontrar anos mais tarde, quando ele fazia às vezes de pároco numa escondida cidadezinha no alto de uma serra no sul de Minas; ele me levou para a igrejinha e, na hora da missa, para minha completa surpresa disse aos paroquianos que tinha um "orador da cidade" para fazer a homília. Para não deixá-lo mal, subi o degrau que servia de púlpito e, de improviso, contei uma comovente história sobre um amigo meu, menino de uma remota aldeia do País Basco, que com muito sacrifício tinha saído do campo e estudado, se formado padre, tinha atravessado o mar e vindo para o Brasil para ajudar nos esforços missionários da Companhia de Jesus, e assim por diante. Sei que no final da missa os fiéis já estavam querendo lançar a candidatura dele para prefeito, o que me valeu um olhar atravessado do atual, que estava na missa :)
Aprender línguas sozinho tem um defeito gravíssimo: você aprende a ler e a escrever, mas seu cérebro interpreta as palavras escritas do modo que são pronunciadas em português. Então eu leio e escrevo correntemente nessas línguas, mas na hora de falar falo muito mal.
Para falar bem me faltou a imersão, em todas elas. Minhas viagens para fora sempre foram curtas.
Na primeira vez que fui à França, escolhi um voo da Air France para já ter que começar a me virar falando francês, que eu lia bem mas não falava nada. Aconteceu que a agência onde comprei as passagens tinha feito uma confusão com as datas de vôo, e em vez de pegar no mesmo dia uma conexão de Paris para Nîmes tive que passar uma noite no Méridien enquanto minha mala ficava dentro do compartimento de bagagens do 747 no Charles de Gaulle velho... Já comecei então tendo que discutir com o pessoal do aeroporto (ainda não sabia quanto discutir com um francês é uma forma de arte), depois indo me registrar no hotel e, no dia seguinte, chegando a Nîmes no dia do feriado principal da cidade, com o resultado que tiveram que tirar o agente da alfândega da corrida de touros mais importante do ano (que era realizada na arena romana da cidade, um mini-coliseu ainda em uso dois mil anos depois) para vir verificar minha bagagem no aeroporto. Podem imaginar a boa disposição com que ele chegou lá e a vingativa minuciosidade com que ele examinou e me interrogou sobre cada um dos livros, revistas e remédios que eu estava levando para um colega brasileiro que já tinha ido um mês antes.
E, claro, quando cheguei à cidade não pude entrar na arena para ver a corrida (a francesa é bem diferente da espanhola) porque já não havia mais nenhum lugar, tinha gente assistindo de pé no parapeito da arena, com o risco de cair lá de cima.
Depois dessa esfrega e de quinze dias trabalhando lá, apesar dos franceses acharem que eu era alemão, por causa da minha pronúncia (ou o que passava por pronúncia), já conseguia me comunicar toleravelmente bem com todo o mundo.
O espanhol começado a aprender com o velho fidalgo da Mancha também foi ajudado por muita leitura desde aquele tempo. Com ele consegui fazer trabalhos como consultor no Panamá e no Paraguai. Mas quando eu trabalhava com aprendizado experiencial e fomos contratados por uma multinacional para treinar seus executivos da América Latina, eu e meu sócio contratamos uma professora de espanhol para nos colocar em condições de dar aulas e trabalhar com grupos em castelhano. Me lembro ainda que ela ria muito dos meus exercícios escritos, dizendo que eu escrevia em espanhol arcaico e era o único aluno brasileiro que ela já tinha tido que usava o subjuntivo...
Faladas as línguas, falemos das traduções, e dos problemas de bem traduzir, que foi para onde a conversa nos levou. E para isso mais uma vez tenho que contar umas histórias.
Quando menino, li "As Minas do Rei Salomão", do Rider Haggard, numa tradução de... Eça de Queiroz :)
Tradução tão bem escrita que teve o defeito de me criar sérias expectativas quanto às qualidades literárias do autor, tristemente desfeitas pelos seus livros que se seguiram...
Depois li "O Livro da Jângal", do Kipling, ilustrado por meu pai, numa tradução de Monteiro Lobato, que conseguiu traduzir, e bem, as canções espalhadas pelo livro, além do resto das histórias, que depois vim a ler no original, junto com muita coisa mais do Kipling.
Lobato também fez a tradução onde li o “Kim” pela primeira vez.
No Natal do ano em que nos casamos, dei de presente para a Ana uma tradução do "Terre des Hommes" do Saint-Éxupéry, feita pelo Rubem Braga, que achei que conseguiu conservar a poesia em prosa do original sem perder a fidelidade ao assunto. Diga-se de passagem que Saint-Ex não é fácil de traduzir bem, porque, como li alguma vez sobre ele, escrevia e reescrevia até vinte, trinta vezes uma página, e quando a entregava não havia nela uma só palavra que não fosse a única que devia estar ali.
Saint-Ex, vocês hão de lembrar, teve sua reputação eternamente comprometida aqui no Brasil pela sucessão de candidatas a miss que citava "O Pequeno Príncipe" como seu livro de cabeceira, reduzindo para o público em geral a um simples livro para adolescentes aquele que vejo como uma carta de amor desesperada para sua mulher Consuelo, de quem estava separado. Como resultado disso quase ninguém mais aqui lê o resto de sua obra, que tem joias como a "Citadelle", onde ele conta a história de um antigo senhor árabe do deserto, como vista por seu filho, numa das mais belas histórias que conheço sobre a essência da liderança, e que perdi por ter emprestado a alguém, que já não me lembro quem foi, justamente para falar de liderança...
Quando menino li, e depois adulto reli, um livro de ficção científica de 1919 de um escritor australiano chamado Erle Cox, traduzido em português como "A Esphera de Ouro" (assim mesmo :) não me lembro por qual tradutor, que vim a ler há poucos anos atrás no original ("Out of the Silence").
Esse livro tem para mim uma história; o volume traduzido era de meu pai, e se perdeu num um ataque de cupins ao seu escritório, quando nos mudamos de casa, pouco antes de meu casamento. Quando eu quis comprá-lo no original descobri que não tinha mais sido reimpresso durante muitas décadas, e tinha ganho um status de cult, foi o primeiro, e um dos poucos, livros de science fiction australianos; só encontrei exemplares antigos na Amazon à venda por mais de quatrocentos dólares. Quando meu pai já estava doente, de cama, pouco tempo antes de morrer, me disse que tinha vontade de reler o livro, eu entrei no site da Amazon para tentar comprar um desses antigos, e descobri que nesse intervalo o livro tinha sido reimpresso :)
Encomendei imediatamente o livro, expresso, e ele chegou ainda (quase) a tempo; Papai teve a alegria de pegá-lo nas mãos e folheá-lo, mas não teve mais o tempo para o ler.
Eu o li, depois, e achei que a tradução antiga tinha sido melhor do que o original...
Mas porque estou contando tudo isso? Porque, quando saiu a tradução brasileira das "Memórias de Adriano", da Marguerite Yourcenar, a tradutora, Marthe Calderaro (que, apaixonada pela autora e pela obra, fez um trabalho primoroso) contou numa entrevista que tinha aceito o trabalho sem discutir antes o preço. Pesquisou extensamente fontes gregas e latinas, para entrar no espírito do tempo, demorou muito até poder mandar a tradução, às suas custas, para uma datilógrafa para fazer a versão final que ia entregar à editora. Entregue, descobriu que a editora queria lhe pagar mais ou menos o que ela tinha pago à datilógrafa... Depois de muito negociar conseguiu que dobrassem o preço, para que a sua remuneração fosse pelo menos igual à da datilógrafa.
E aí eu compreendi porque a imensa maioria das traduções brasileiras atuais são tão ruins. Vou contar um caso extremo:
Ganhei de presente uma edição de luxo, bilíngue, ilustrada, capa dura, de um livro pouco conhecido do Kipling, onde ele conta uma viagem que fez ao Brasil para conhecer uma das primeiras usinas hidrelétricas de São Paulo, na Serra da Mantiqueira. É uma coisa impensável; o tradutor, que para começar não conhecia nada nem de Kipling nem de hidrelétricas, e então não tinha a menor noção do que estava traduzindo, conseguiu escrever páginas que são o mais puro nonsense, piores do que estas traduções automáticas feitas por computador (que, aliás, desconfio que ele usou).
Fiquei tão indignado que escrevi à editora, mostrando alguns exemplos mais flagrantes das indignidades cometidas (só alguns, porque para mostrar mais teria que traduzir o livro para eles) e reclamando de como colocavam no mercado uma edição tão badalada e para a qual, pelo visto, ninguém tinha nem olhado antes de publicar. Minha carta indignada foi respondida por um silêncio ensurdecedor.
Não tenho aqui comigo o livro para dizer os nomes da editora nem do tradutor, emprestei-o a um sobrinho meu que tem uma escola de línguas e uma equipe (boa) de tradução, com quem já tive ocasião de colaborar, para que ele levasse um "choque de realidade".
Mesmo sem chegar a tais extremos, muitas vezes quando leio uma tradução recente, e conheço a língua original, sou forçado a imaginar o que o autor queria dizer na língua dele para entender o que estou lendo.
Mas o que se pode esperar de tradutores de literatura hoje pagos a alguns centavos por palavra, em vez de um Eça de Queiroz ou de um Monteiro Lobato?
O tradutor tem, além de conhecer muito bem a sua língua e a língua do autor, que entender também o espírito do autor e a intenção da obra, e conhecer a história, os costumes e os usos do lugar e da época em que o livro foi escrito. Porque às vezes basta uma palavra cujo uso ou sentido mudou com o tempo, ou uma referência desconhecida pelo tradutor, para que a frase seja mal traduzida e o parágrafo perca seu rumo.
Por isso é que às vezes, lendo uma tradução mal feita para o português de uma língua que a gente conheça, é preciso se esforçar para imaginar pelo sentido geral o que o autor teria escrito no original para se entender a tradução.
Meu interesse pela tradução, além do interesse de leitor, vem de que às vezes trabalho com ela. Ao longo da vida tenho redigido trabalhos meus para clientes estrangeiros e mais recentemente feito algumas traduções técnicas, que são evidentemente muito mais simples, porque a engenharia é a mesma em qualquer língua, mas em tempos idos me arrisquei mais; me lembro de uma tradução do "Raise High the Roof Beam, Carpenter", do Salinger, que nos tempos de universidade me foi encomendada mas nunca terminada porque o contratante se revelou um tratante (talvez tenha sido melhor para os eventuais leitores, e pelo menos fiquei com o livro), e de uma tradução do Tao Te King, de uma versão em inglês que conservava a poética, que fiz para minha própria diversão, há mais de trinta anos, e onde durante várias semanas enfrentei as dificuldades de traduzir poesia (e ainda sem saber como ela era no texto original)...
Dizia-me o Moacir na conversa:
“veja como em se tratando de poesia , que pede mais precisão do que a prosa, a gente geralmente abomina as traduções por que os tradutores, via de regra, também são poetas em suas próprias línguas e simplesmente não podem conter os seus enormes egos de bardo , em detrimento do poeta estrangeiro. Para resumir esta explicação bastante nebulosa - admito - finalizo dizendo que a precisão nos versos , de fato, deve ser procurada de forma consciente, enquanto que o fluxo , o ritmo , a sonoridade deveriam ser escritos pela intuição, pelo instinto do poeta, seja lá o que isso for”.
O que ele disse aí da tradução da poesia exprime bem a sua dificuldade: não se consegue traduzir poesia sem ser poeta, e não se consegue ser poeta sem que sua própria alma interfira na poesia do outro. Não é nem propriamente pelo tamanho do ego, é pela essência mesma da alma do poeta.
Num livro do Umberto Eco, “Quase a mesma coisa”, ele discute longamente as dificuldades de tentar manter a métrica e o esquema de rimas quando se passa de uma língua para outra. Para não falar da diferença de sonoridade de cada palavra ou grupo de palavras. Por isso, creio eu, a tentação (e talvez seja melhor, às vezes), de deixar falar a tradução na voz do tradutor, que não é a mesma do autor.
Mas com tudo isso a tradução é necessária, sim, indispensável. O mundo é muito grande, as línguas e as culturas são muitas e diferentes e graças a Deus há grandes autores em muitas delas. Se não fossem os tradutores nunca iríamos conhecê-los, nem os autores conhecerem os diferentes universos uns dos outros e expandirem com isso os seus próprios.
Algum dia talvez, dizem alguns, chegaremos a falar uma só língua universal. Espero devotamente que não. Se isso acontecer algum dia, as correntes luminosas cuja diversidade faz o encanto da literatura se extinguirão no mar da conformidade.
E, para além da poesia, para além da literatura, para além das diferenças das línguas, fico com o que disse o Gregory Rabassa, o grande tradutor de García Marquez, Machado de Assis e Jorge Amado para o inglês:
“Every act of communication is an act of translation”.
Ou,
“Cada ato de comunicação é um ato de tradução”.
E isso é verdade quer se trate de ouvir uma frase, de ler um poema, de ver uma pintura ou uma fotografia, de assistir a um filme ou de ouvir uma música. Estamos sempre tentando traduzir para a nossa alma o que a do autor quis nos dizer, qualquer que tenha sido a linguagem em que ele se expressou.
Como eu disse ao Moacir, enquanto conversávamos pelos teclados:
“Enquanto estamos os dois aqui conversando, teoricamente na mesma língua, tudo o que lemos e escrevemos está sendo traduzido pelo feitio psicológico e pelas experiências de vida de cada um, e talvez, até, pela disposição nesse momento resultante do que cada um comeu no almoço. Podemos apenas ter a esperança de que o que cada um entende do que lê se aproxime do que o outro quis dizer quando escreveu. As nossas letras pretinhas conservam sempre um pouco de cinzento :)”
Boas lembranças essas.Mano!
ResponderExcluirE muitas e muitas vezes vale a expressão italiana "Traduttore traditore"
A paixão pelos livros é uma coisa bonita, tb tenho este amor. Até que um dia passei a adotá-los como filhos, então, certa feita me perguntaram quantos filhos eu tinha, respondi:
ResponderExcluir1) Tenho uma filha de carne e osso.
2) Tenho 900 livros que trato-os como filhos.
3) Tenho 10 cachorros vira-latas, também meus filhos e filhas (nessa época eu morava em casa, tinha quintal, depois compartilhei com outros a prole canina).
4) Temos também muitos vasos de plantas que minha esposa cuida como crianças ...
5) Mas hoje moramos em apto e diminuímos consideravelmente a filharada.
Caro Wilson,
ResponderExcluirSou eu quem agradece-lhe pela troca de letras e teclas e dicas de leitura não tão cinzentas.(rsrs)
Considerando que estamos sempre “tentando traduzir para a nossa alma o que a do autor quis nos dizer, qualquer que tenha sido a linguagem em que ele se expressou”, se me perguntassem que obra de arte mais me emociona eu diria , sem vacilar , que a Sistina de Michelangelo. E nela uma imagem em particular : as mãos de Deus e da sua criatura no afresco A Criação de Adão, que nos mostra as duas figuras se movendo uma na direção da outra, os braços estendidos, as mãos se procurando, os dedos quase se tocando.
Pode-se imaginar a centelha de vida, de luz, de conhecimento, os SIGNIFICADOS , saltando da sinapse que ocorrerá quando da comunicação das pontas daqueles dedos.
http://www.laphamsquarterly.org/sites/default/files/images/artwork/3._art3222_2800x1232.jpg
Ali, naquela imagem, naquela linguagem poderosa está resumida a vocação e o destino da espécie humana: fazer contato, comunicar-se e, se tiver sorte , se a tradução for eficaz, encontrar novos significados que lhe permitam seguir adiante se comunicando.
Nós nos comunicamos porque somos diferentes. Quem mais conseguiu expressar através de tantos sistemas de códigos os seus sentimentos e pensamentos, as suas angústias e dúvidas,as suas observações e aspirações e argumentar, discutir, refletir, avaliar e criar novos conteúdos extraordinários?
Sem dúvida que qualquer tradutor é, por natureza, um traidor, já que não pode evitar que a própria alma interfira na tradução, não pode deixar de CRIAR mais do que traduzir.
ISSO é da nossa natureza.
Assim, parece que concordamos que, em vez de um descobridor de verdades, o homem é um produtor de significados, um tradutor de conhecimentos que não adquire sem comunicação, ou com você tão bem coloca, sem cinzentas estratégias interpretativas.
Considerando o conceito do inconsciente do prezado Doktor Freud, a noção de sujeito muda. Partindo do pressuposto freudiano de que o homem carrega consigo um lado desconhecido e pleno de desejos obscuros, todo o conhecimento, todas as ciências, todas as verdades, necessariamente, passam a ser relativas, nada mais do que o resultado - ou sintoma! - de uma interpretação, da mediação indomável do inconsciente, de uma tradução inevitável entre o homem e o mundo.
A essa altura do looooongo comentário - desculpe-me! - a tradução já está com uma cara impossível e a comunicação verdadeira tão remota quanto a kriptonita do Superman.Eu
nem deveria piorar a atmosfera ventilando outra das traiçoeiras características do discurso: a natureza escorregadia das próprias pretinhas. Mas não resisto.
Uma das coisas mais interessantes que já li da lavra do Marx foi um parágrafo de uma das suas cartas para Engels , sobre um artigo seu publicado pelo The New York Times. Escreveu ele:
" É possível que eu tenha feito de mim mesmo um tolo. Mas, nesse caso, pode-se sempre sair da enrascada com um pouco de dialética. Eu, é claro, redigi a minha teoria de forma tal a estar certo de qualquer maneira." (rsrs)
Mas, apesar de tudo, apesar de tão cinzenta paisagem,das péssimas visões, dos descaminhos, em última instância, a possível TRAIÇÃO implícita em toda tradução, talvez importe menos do que as pontes criadas pelo "tradutor", para fora de tantas províncias e na direção da universalidade humana.
Como nós não teríamos conseguido ser os homens que somos sem as nossas ótimas leituras em boas e más traduções, vamos às pretinhas! Este seu extraordinário e instigante post nos prova que elas sempre valerão a pena.
Abração
Guto, meu irmão, que esteve comigo naquela paroquiazinha perdida na serra, são muitas lembranças sim...
ResponderExcluirAntonio, minha "filharada" também já não cabe nas estantes do apartamento, de vez em quando é preciso mandar um punhado para morar em outros lugares, mas é sempre difícil escolher quais...
Moacir, não tem que pedir desculpas pelo tamanho do come tário, é apenas uma bem vinda continuação daquela nossa conversa.
Caro Wilson,
ResponderExcluirObrigado pelo aprendizado que estou tendo no teu blog!
Este, em tela, além da sua importância é esclarecedor sobre as traduções, e nos mostra o autor como uma pessoa culta, de grandes conhecimentos literários, e que me orgulho em tê-lo como amigo.
Agradeço o convite de participar deste espaço tão agradável, que proporciona leituras inesquecíveis e artigos que mereceriam suas publicações em livros e divulgados na imprensa, diante de seus conteúdos e estilos pessoais característicos.
Um forte abraço.
Saúde e Paz!
Chico, eu sou quem agradece a sua companhia aqui conosco, e a oportunidade de publicar suas crônicas tão interessantes.
ResponderExcluirUm abraço.