Antonio Rocha
“Em seu livro “Literacy Criticism East
and West”, diz Lafcadio Hearn que a maioria das lendas e fábulas do Velho Mundo
poderia ser levada até suas origens budistas. Na verdade, estudos de folclore
comparado demonstram que numerosas histórias de fadas do Ocidente derivam, de
fato, de fontes budistas e indianas. Além do mais, e este fato é frequentemente
apontado, a famosa passagem bíblica sobre o filho pródigo tem um paralelo quase
exato no Lótus Sutra. Esses paralelos sugerem, mais uma vez, que forçosamente
houve alguma ligação entre Budismo e Cristianismo”.
A
citação está na página 83 do ótimo livro “Budismo: O Primeiro Milênio”, de
Daisaku Ikeda, editora Record, 1977. O autor é o presidente da linhagem BSGI –
Brasil Sokka Gakai Internacional. Uma corrente leiga budista que está presente
em mais de 80 países e tem como livro base o Sutra Lótus.
Já
existem, em outras línguas, diversos estudos sobre o paralelismo entre os
Contos de Fadas e o Budismo. Foi a partir das famosas histórias do Játaka que
tais narrativas se espalharam. Os Játakas contam as vidas anteriores do Buda,
quando ele era animal, planta, mineral etc.
Daisaku
Ikeda nasceu em Tóquio, em 1928, já escreveu mais de 40 livros, traduzido em
vários idiomas. Neste “Budismo – o Primeiro Milênio” ele fala da expansão do
Darma em vários países: Inglaterra, Palestina etc. Além da própria Índia,
quando era o apogeu da Civilização Budista. Ikeda cita fontes afirmando que os
antigos Celtas e sacerdotes druidas conheciam o Budismo através de missionários
(monges e leigos) que andavam pela velha Europa.
Na
obra há um capítulo sobre o Sutra Vimalakirti onde se diz que o Buda não fazia
distinção entre leigos e monges. Vimalakirti era um chefe de família,
comerciante e completamente iluminado.
Em
31/10/1992, o falecido colunista Zózimo Barroso do Amaral, em sua prestigiosa
página no antigo Caderno B, da edição impressa do Jornal do Brasil informava:
“A Academia Brasileira de Letras tem
pela primeira vez um membro correspondente asiático. Trata-se do intelectual
japonês Daisaku Ikeda”.
Gratidão Wilson. A foto ficou ótima !
ResponderExcluirCaro Antônio,
ResponderExcluirHá duas estradas para as lendas : uma oral e a outra escrita. E através de ambas as vias , com certeza, a galera da fantasia que conhecemos hoje através da Disney , mas que é descendente dos chineses e budistas e hindus , do sânscrito, dos Vedas, dos antigos gregos e dos romanos, chegou ao ocidente. Cinderela, por exemplo, há milhares de anos era chinesa se chamava Yexiane e pela boca de alguém chegou à Grecia , antes mesmo de ser impressa no Reino do Meio , no século IX.
Quanto às lendas hindus, parece-me me que já existiam antes do Buda e que foram revisitadas em torno do grande mestre e se transformaram nos Jatakas, as narrativas das reencarnações anteriores de Buda como diversos animais. Fazer do Buda a figura central da literatura popular, foi uma ideia pioneira, então, mas depois dela a iniciativa de colar uma série de histórias desconexas em um relato único, continuou a ser tentada com uma certa frequência e sucesso , como por exemplo nas Mil e Uma Noites, no Decamerão de Boccaccio, nos Contos da Cantuária de Chaucer, ou até mesmo nos Papéis de Pickwick, do grande Dickens.
Pelo que sei, me corrija se estiver equivocado, os contos do Buda chegaram ao antigo Ceilão antes do Cristo. Do Ceilão , através de uma delegação do rei cingalês da vez , as narrativas chegaram até Roma, no tempo de Cláudio. Em seguida foram traduzidas para o grego e inspiraram Esopo. No meio tempo,os brâmanes resolveram reagir contra as fábulas budistas e fizeram a sua própria coletânea , omitindo Buda. Não há a menor dúvida, pois, de que as fábulas hindus , as Bidpai, foram derivadas de fontes budistas, que por sua vez utilizaram, lá atrás,como referências para suas parábolas, a mitologia e as lendas populares indianas.
Estima-se que elas tenham dado origem a pelo menos 10% das fantasias ocidentais e que tenham influenciado nossa literatura.Há quem diga , por exemplo, que Shakespeare teria deixado digitais hindus no seu Mercador de Veneza.
Por acaso, eu me interesso pelas lendas, pelo sincretismo oral e literário e poético delas, pela universalidade dos seus valores humanos.
Abraço
Quando eu crescer ... quero ter o conhecimento do Moacir Pimentel e do Wilson Baptista Júnior, talvez na próxima reencarnação !
ResponderExcluirRocha,
ResponderExcluirDa mesma forma que faço com os artigos de Pimentel sobre a Índia, ao copiá-los e arquivá-los em pastas especiais para leituras futuras com mais tempo e dedicação, faço o mesmo com os teus relatos sobre Buda, uma filosofia que eu já escrevi que considero muito atraente, com exceção da reencarnação em qualquer forma de vida que, respeitosamente, discordo.
Dito isso, as histórias ou estórias também, sempre foram a forma mais rotineira de se ensinar pessoas e povos, e assim foi sendo transmitido para o mundo os fatos, episódios, as lendas, os mitos, as sagas, os santos, os deuses, que ilustram o surgimento da Humanidade e consequentemente civilizações, religiões e sistemas políticos e financeiros.
Interessante artigo, Rocha, pelo qual agradeço os ensinamentos que nos tens dado sobre o Budismo.
Um forte abraço.
Saúde e Paz!
Mano, adoro esse assunto.A oralidade e sua força na difusão do conhecimento.acredito também que por mais que se consiga traçar os caminhos que os contos percorreram e sua assimilação pelas diferentes civilizações existe uma morfologia , como diria Propp, que é comum, e que apareceria mesmo que não houvesse esse contato entre as diferentes culturas.
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