Francisco
Bendl
O tempo, assim como a dor, é
extremamente difícil de ser definido. Seu significado tem sido explorado por
filósofos, físicos, matemáticos, astrônomos, curiosos, desde a Antiguidade até
os dias de hoje.
O filósofo alemão, Immanuel Kant
(1724-1804), dizia que:
“...o tempo é uma das pré-condições de todo o conhecimento humano;
tido como uma categoria a priori.”
Gottfried Wilhelm Leibniz
(1646-1716), matemático, literato e filósofo alemão, apregoava:
“O tempo é uma sucessão de eventos ligados por uma cadeia de
casualidade.”
O escritor e filósofo francês,
Jean Paul Sartre (1905-1980), explicava:
“...mas o tempo é grande demais, ele se recusa a se deixar ser
preenchido.”
Palestrantes na área de vendas
abordam sistemas de como usar o tempo, pretensiosamente; administradores falam
em como organizá-lo, como se fosse possível; banqueiros demonstram a cada
balanço de suas instituições a arte de ganhar muito dinheiro em tão pouco
tempo, pelo menos no Brasil; jogadores de futebol possuem a magia de, em
segundos, decidir uma partida e fazer a alegria – ou tristeza – durar uma
eternidade para os torcedores; nós, taxistas, nos tornamos senhores do destino
quando transportamos passageiros que estão atrasados para embarcar em seus
ônibus, aviões, ou para chegarem em seus trabalhos ou colégios ou faculdades ou
compromissos de toda a ordem e nos pedem para que possamos abrir uma janela no
tempo para deixá-los onde nos pedem antes de perderem seus horários; um
encontro amoroso há muito tempo aguardado, mesmo que perdure por um dia,
impressiona pela rapidez de ter sido apenas por segundos; enquanto o tempo de
uma alegria é fugaz, a tristeza não termina nunca.
Jorge Luís Borges (1899-1986),
argentino, um dos maiores escritores do século XX, com muita propriedade dizia
que:
“O tempo é a substância da qual sou feito.
O tempo é um rio que me leva,
Mas eu sou o rio;
É um tigre que me despedaça,
Mas eu sou o tigre;
É o fogo que me consome,
Mas eu sou o fogo.”
Enfim, o que é o tempo?
Diz o autor desconhecido da frase
que, “a roda do tempo não pára.”
Concordo. Na verdade o tempo é
inexorável, inevitável, implacável, irreversível.
Indiscutivelmente o agente mais
poderoso e imparcial que se conhece, pois não leva em conta raça, cor ou credo,
simplesmente nada o resiste.
Quanto mais avança mais deteriora
a tudo e todos. Conosco, seres humanos, o tempo é ainda impiedoso e cruel.
O nosso convívio com o tempo de
forma cronológica que se traduz por um lado como aquisição de experiência,
maturidade, avanço da inteligência, conhecimentos, certezas, convicções, discernimentos,
escolhas, posições, coragem, desafios, maior domínio de nossas emoções e
controle do comportamento, capacidade, eficiência... por outro lado acarreta
perda de forças, desânimo, indisposições, rugas, pele seca, osteoporose,
reumatismos, artrites, tendinites, insuficiência renal, deficiência hormonal,
menopausa, andropausa, teimosia, esquecimento, Parkinson, Alzheimer, solidão,
abandono, dores, perda de entes queridos, saudades, despedidas da vida e, desta
forma, vamos nos deteriorando, definhando...
Haja vista o tempo ser indomável
e infinitamente mais forte que qualquer ser existente – o tempo, por acaso, é
Deus? -, mesmo que tentássemos nos aliar a ele conforme orienta a estratégia,
de pouco adiantaria porque as pessoas morrem, envelhecem, mas ele sobrevive e,
escancaradamente, proclama-se Senhor da Vida do indefeso ser humano (o mote de
algumas religiões que prometem a vida eterna não estaria justamente nesta
questão que o tempo é absoluto e até mesmo o Deus não pode impedi-lo? Não quero
ser herege, longe disso, mas não consta na Bíblia ou qualquer outro livro de
importância religiosa que Deus tenha feito para o tempo alguma vez, ao
contrário, criou a tudo e a todos no tempo de seis dias e no sétimo
descansou).
Na razão direta que o tempo passa
para todos, muitos não estão preparados para enfrentá-lo. Muito mais complicado
elaborar proteção para aqueles que estão despojados de suas defesas naturais
(saúde) ou sem reservas econômicas (casa, emprego, estudos), condições, enfim,
que foram confiscadas pelas circunstâncias ou desatinos pessoais.
Estando o ser humano desprotegido
para enfrentar o tempo, este inimigo abominável – mesmo com proteção não seria
possível impedir a sua ação devastadora, mas seria menos traumática ou sofrida
-, o homem se vê à mercê dos acontecimentos que o tempo irá lhe proporcionar (doenças
e dificuldades) e ocasionar (desilusão, desencanto, menos tempo de vida).
Mensurar este prejuízo físico e
mental que o tempo nos exige é impossível (e ainda dizem que existe o
inferno?).
Dimensionar a extensão das
frustrações, fobias, neuroses, em decorrência, seria mera especulação.
Tentar se estabelecer uma
justificativa para este tempo que conduziu o ser humano para um tipo de
existência moldada de acordo com seu enfraquecimento e velhice, ou seja,
tributos que se pagam ao tempo para que possamos viver (estou dizendo em
condições isentas de tragédias ou dramas pessoais que ceifam a vida
prematuramente de quem quer que seja), seria o mesmo que definir a dor, todos
os tipos de dor, e o que é o tempo, todos os exemplos de ganho e perda de
tempo.
Minha curiosidade é despertada
sobre qual seria a definição de tempo pelo morador de rua, do empresário, do
padre, do rabino, pastor, pai de santo, do monge. Do desempregado, do político,
dos que residem em asilos, os que moram em casas ou apartamentos alugados, dos
motoristas em suas várias funções. Como o turista definiria o tempo? E os que foram
abandonados à própria sorte? E as pessoas envolvidas em uma guerra, sejam civis
ou soldados? De que forma seria o conceito de tempo por um paciente em estado
terminal? Uma jovem e bela mulher como explicaria o tempo? E um homem idoso? O
que diria um jogador de futebol sobre o tempo?
Mário Lago (1911-2002),
compositor de grandes canções, dizia sobre o tempo:
“Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo:
Nem ele me persegue, nem eu fujo dele.
Um dia a gente se encontra.”
Nós, taxistas, vivemos vários
tempos durante o dia. Ao transportarmos crianças, jovens, adultos, pessoas de
meia idade e na terceira idade, constatamos as fases que já vivemos ou
percebemos as etapas que ainda teremos pela frente.
Quando penso a respeito, lembro
um passado que eu poderia ter vivido diferente, que eu reunia condições de
realizar mais e, assim, ter sido melhor.
Ao me ver na terceira idade,
sessenta anos, verifico estar deficiente em vários aspectos: por não ter feito
melhor no passado deixei de construir as bases necessárias que iriam me amparar
na velhice; agora é tarde!
Uma profunda nostalgia me invade
o coração.
O tempo também não permite
retornos na vida.
Volto para o Ponto, magoado e
decepcionado, arrependido e triste comigo mesmo.
Penso:
Nós existimos no tempo ou é o tempo que existe em nós?
Interessantíssimo texto, Bendl! Parabéns.
ResponderExcluirE, enquanto ninguém conseguiu até hoje, definir exatamente o que é o tempo, a melhor coisa, como disse o Mário Lago, é fazer ele um acordo de coexistência pacífica.
A bela reflexão do Bendl me fez lembrar da Mitologia Grega. O Deus Cronos (Tempo) engole seus filhos...
ResponderExcluirA beleza do tema me faz voltar à àrea dos comentários:
ResponderExcluir1) Ilustração bela, me fez lembrar que o Dalai Lama, qdo jovem gostava muito de consertar relógios, era a sua terapia predileta.
2) Coincídência? Carl Gustav Jung diria que é Sincronicidade:
3) Hoje, 25/7, no antigo Calendário Maia, é o "Dia Fora do Tempo - Dia do Perdão", importantíssimo para a sobrevivência da espécie humana no planeta terra.
4) Feliz Dia Fora do Tempo para todos (as) !
Obrigado pelos comentários, meus amigos Wilson e Rocha.
ResponderExcluirO tempo para quem trabalhou no trânsito conduzindo passageiros foi sempre o maior desafio!
Era o estudante que perderia a aula, o trabalhador que chegaria tarde o emprego, o passageiro que perderia o voo ou o ônibus, enfim, quando entrava uma dessas pessoas desesperada no carro eu sabia que sobraria para o pobre do "motora".
Às vezes eu dava conta do recado, de chegar ao destino em dia, em outras, que o passageiro fosse mais cuidadoso.
Agora, ruim mesmo, péssimo, e que me tirava do sério porque eu me envolvia com o sofrimento da pessoa, era quando eu transportava feridos ou mãe tendo o seu filho ou uma criança que se engasgou e estava ficando sem respiração!
Mesmo com o curso de pronto-socorro que tínhamos, não havia quem arriscasse salvar aquela criança da falta de ar.
Enfim, o tempo sempre foi o nosso grande adversário e, invariavelmente, o permanente e inexorável vencedor!
Um forte abraço a ambos.
Saúde e Paz!
Amigo Bendl,
ResponderExcluirA sua bela crônica é filosofia na veia.Depois dela que tal uns versos do Mário Quintana.
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O Tempo
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
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Abraço
Pimentel, meu caro,
ExcluirCompletaste o meu texto com o poeta gaúcho Quintana, nascido em Alegrete, uma das figuras mais admiradas do Rio Grande!
Lamento que eu não o tenha selecionado para compor a minha crônica, mas eram escritas rápidas, sem maiores pesquisas e, confesso, eu não me lembrava desta poesia do meu conterrâneo, como sempre muito singela, tocante, verdadeira.
Várias vezes passei pelo Quintana, na Rua da Praia, cujo nome é Rua dos Andradas, mas ficou assim conhecida porque antigamente as águas do Lago Guaíba chegavam nas calçadas, então prevaleceu o nome do passado.
Enquanto Quintana caminhava, lento, levando alguns livros embaixo do braço, a gauchada o reverenciava, cumprimentava, acenava, pois estava diante de um poeta!
"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente."
Fernando Pessoa, que escreveu este verso, sabia que Quintana era um solitário mas, na sua bela e inconfundível poesia, o gaúcho nos mostrava uma outra pessoa, aquela que era apaixonada pela vida, pela natureza, pelas pessoas, e escrevia sobre este amor como ninguém!
Um forte a fraterno abraço, meu amigo Pimentel.
Saúde e Paz!
Bendl, vim aqui só pra ler você, saber como vai você. Encontro seu belo texto com a angústia existencial de nós todos.
ResponderExcluirSomos todos iguais, Bendl, temos as mesmas encucações, as mesmas fragilidades. Tantas que às vezes nem é bom pensar nelas. Eu vivo fugindo.
Você reclama, mas a vida fez de você um homem especial, você é que não se dá conta do quanto isto é verdade.
Imagino como deve ter feito bem a muitos de seus passageiros e não soube.
Nós sabemos de poucas coisas, Bend, e nos achamos muito espertos.
Mas estou certa de que se você pudesse ouvir seus muitos passageiros, teria certeza de como e quanto preencheu o tempo e a vida deles.
Você é o máximo, Bendl, acredite em mim.
Ando meio boba. Ou inteira. Se pudesse, agora só ia querer abraçar você. E dizer que te gosto, mesmo de longe.
Fica com meu abraço, amigo. Abraço grande. Eu volto.
Saúde e Paz
Ofelia
Minha querida Ofélia,
ResponderExcluirQue bom te encontrar neste espaço extraordinário, criado pelo nosso amigo Wilson Baptista Júnior, um blog onde descansamos das batalhas na Tribuna da Internet, pois aqui é a nossa fortaleza, o nosso refúgio, local onde nos curamos e lambemos as feridas!
Pois o Mano teve a ideia de reunir um grupo de amigos composto por ele, Pimentel, Rocha, Heraldo e este teimoso, mero escrevinhador, e apresentar o que escrevemos, as crônicas, ensaios, pensamentos, e trocamos impressões a respeito de nossos "talentos", que te convido para participar desta equipe, sabendo eu de antemão que, o Wilson, não só concorda como faz questão da tua presença neste time!
Apesar de nos julgarmos educados e civilizados, Ofélia, a companhia feminina sempre colabora para que nos acalmemos, pois cedo ou tarde um bando de homens encontra uma forma de arrumar um quiprocó, mas a mulher por perto a gente se cuida mais, e as relações serão sempre mantidas em alto nível porque pertencemos à velha guarda, somos cavalheiros, e ainda preservamos os salamaleques com relação à cordialidade que se deve tratar uma dama!
E precisamos muito de ti neste espaço extraordinário, tanto para comentarmos o quanto as mulheres hoje são maltratadas pelos homens, quanto as razões pelas quais desconsideramos a inteligência feminina, a sua perspicácia, o seu famoso sexto sentido, que é uma verdade absoluta vocês o terem em muito maior sensibilidade que nós, animais racionais ou pelo menos assim identificados!
Muito obrigado pelas palavras que me dirigiste, minha cara, que retribuo o carinho na mesma dimensão - aliás, muito maior, diante do meu tamanho!
Não tens ideia do quanto são importantes e o quanto significam para mim nesta fase que me encontro de desencontros, de tentar buscar o que nunca alcançarei, de achar o que jamais vou descobrir (se alguém me disser que esta é a graça da vida, vou pular nas tamancas)!
Por favor, vem fazer parte desse grupo ou, então, vem rir um pouco da gente, das nossas bobagens, daquilo que imaginamos saber, e tempera essas relações entre nós com a sabedoria da mulher, o teu conhecimento incomparável sobre a existência humana, e nos ensina a viver melhor, eu te peço encarecidamente!
Um forte e respeitoso abraço, querida Ofélia.
Saúde e paz!
Você não existe, Bendl. Escreve tanto, é tão sábio e 'cavalheiro' que nem sei como retribuir seu convite.
ResponderExcluirMeu coração se abriu, estava trancado por causa das minhas brincadeiras. Eram contra mim também, você percebeu?
Você é tão cavalheiro que nem toca no assunto. Faz bem, a sabedoria da vida é esta, perdoar e esquecer, o que nem sempre consigo fazer.
Voltarei mais vezes, não sei se para escrever. Ontem mesmo quis me lembrar de alguma coisa que escrevi sobre o tempo. Ah, me lembrei de pouca coisa, muito do que fiz foi embora com a memória dos velhos computadores enguiçados.
Sobre o Tempo eu lembro de pedaços, não estão encontrados todos, encaixados.
Quem sabe eu me lembro, quem sabe consigo escrever esse Tempo pra você?
Eu volto. Agradeça ao Wilson por mim e diga ao Moacir que espero seja a viagem dele deslumbrante.
A B R A Ç Ã O c o m p r i i i d o...
Obrigada, fique bem.
Ofelia
Francisco, bom dia
ResponderExcluirGosto muito das suas reflexões, mas desta vez você se excedeu! Muito obrigado, esta me pôs prá pensar.
O tempo passa para todos, mas alguns conseguem, de algum modo, driblá-lo um pouco. O saudoso amigo Wilson Baptista, com a robustez do sangue caiapó que tinha, foi uma pessoa tão interessada pela vida que a vida ficou interessada nele e nos permitiu comemorar os noventa e depois os cem anos da permanência dele conosco.
Eu, com a magreza e a saúde que tenho, mais a inquietude e o interesse pelo mundo, nado o ano todo na piscina do clube me preparando para quando consigo ir até as magníficas piscinas naturais da serra do Espinhaço, e caminho pelos trilhos da cidade esperando a hora de por a mochila nas costas e as botinas nos pés nas trilhas da serra, espinha dorsal das Minas Gerais.
O Espinhaço é a minha luz.
Meu caro André (tens o nome do meu filho primogênito),
ResponderExcluirNa razão direta que não podemos vencer o tempo - invisível, sem forma, inconsistente, sagaz ... -, e tampouco adianta nos aliarmos a quem desconhecemos, resta-nos tão somente ... enganá-lo!
Parabéns por ter encontrado uma forma de ludibriar o tempo, assim como o nosso amigo Wilson, apesar de ser um pequeno descuido, mas que nos possibilita ampliar os nossos horizontes e descobrir ocupações para nossas vidas sequer antes imaginadas, assim como fazes com a natação, momentos indeléveis e com muita intimidade com a Natureza, uma aliada poderosa que podemos contar com ela permanentemente!
Alegro-me que tenhas obtido este êxito, de uma luz clarear os teus caminhos e transformá-los em passagens pelo tempo, e sem que este te cobre pedágios pelas idas e vindas!
Muito obrigado pelo comentário, André, pertinente, interessante e elucidativo sobre enganar o tempo, pelo menos por um tempo, naquele momento onde ele ou olha para o lado ou pisca, mas quando não está nos mirando diretamente!
Esta é a chance de seguirmos adiante, e que o tempo terá de refazer a sua tabela cronológica de novo para conosco, e vivermos mais!
Legal.
Um abraço, forte e caloroso.
Saúde e Paz!