Antonio Rocha
Foi o meu amigo Mano que me fez lembrar do grande
bardo português Camões, um misto de soldado e poeta que chegou a freqüentar os
bancos da famosa Universidade de Coimbra. Há quem questione essa parte, pois
não há registros na referida, mas fica o dito pelo não dito. Não resta dúvida de
que ele teve formação humanista.
Foi em Ceuta, norte da África, onde estive em 1980,
hoje pertencendo à Espanha, que o nosso consagrado autor de “Os Lusíadas” em
uma batalha perdeu um olho. Graças ao bom Deus, fui e voltei de Ceuta com os
dois olhos tradicionais e mais o Ajna Chakra, a chamada “terceira visão” que,
aos poucos, vou desenvolvendo.
Quando outro português, Vasco da Gama, descobriu o
Caminho Marítimo para as Índias, em lá chegando, encontrou o apogeu da
Civilização Budista na Ásia, durou um milênio. Então, por exemplo, muita coisa
que encontramos no Ocidente tem como origem a vida budista cotidiana.
Dizem que o tradicional chá que todos gostamos de
beber nos mais diferentes sabores foi “inventado” pelos monges budistas que
queriam meditar, espantavam o sono pegando umas folhinhas de diversas plantas e
ferviam na água. Faziam isso para espantar o sono e o frio e a fome. É que a
meditação vai relaxando, relaxando e chega um momento em que a pessoa precisa
ir além, romper a barreira do sono, para chegar a um estado que nós chamamos de
“plena atenção”.
Ficamos relaxados, como se estivéssemos em ótimo
sono, mas estamos acordados. Há quem afirme que este estado se chama meditar
dormindo e mesmo sonhando estamos conscientes de que estamos sonhando. Podemos
entrar no sonho e conserta-lo da forma que melhor quisermos. Mesmo no dia
seguinte podemos retrabalhar o sonho.
Pois bem, depois, Camões peregrinou por diversos
pontos da Ásia, presenciando diversas facetas do modo budista de se viver.
Um desses modos veio parar no Brasil, são as
famosas bandeirinhas das Festas Juninas.
Desde o século VI antes de Cristo, os templos
budistas são enfeitados em determinadas ocasiões com Bandeiras de Orações. Os
portugueses viram isso lá, gostaram e trouxeram para o Novo Mundo. Aqui no
Brasil fazemos com papel fino colorido e hoje também se faz com plásticos.
Na origem búdica, pegava-se um pedaço de tecido, de
qualquer cor, escrevia-se orações, ou sutras, ou pedidos, ou trechos das escrituras,
com promessas e tal, colocava-se em varais, tipo varal de roupas. Solicitava-se
então que os Espíritos dos Ventos levassem a mensagem até à pessoa escolhida,
ou ao Buda, ou a outros deuses com a finalidade desejada.
Uma vez, fiz isso aqui no bairro de Santa Teresa,
Rio de Janeiro, onde moro. Em uma cerimônia pública ao ar livre distribuímos
pedaços de pano, adultos e crianças pintaram e desenharam os seus pedidos. A
maioria do público era de não budistas e todos participaram alegremente.
Fizemos isso a tarde toda. Quando estava escurecendo cada um foi no varal pegou
a sua Bandeira de Oração e levou para casa, com a recomendação de pendurar no
alto de uma janela.
Com certeza, os Espíritos do Vento gostam da
prática e se encarregam da segunda parte, levar ao destino as conversas. Tipo o
que o Mano faz hoje com o seu blog. Cada um escreve o seu texto, ou comentário
e virtualmente a mensagem fica tremulando na web.
É fácil constatar o fato. Escreva nos sites de
busca “Bandeiras de Orações” ou como os tibetanos chamam: “Cavalo do Vento”.
Claro, lógico e evidente que você vai se lembrar da Mitologia Grega, com o
famoso cavalo voador Pégaso.
E agora? Quem nasceu primeiro, o Cavalo dos Ventos
budista ou o Pégaso grego? Interdisciplinaridade /Transdiciplinaridade
Mitológica... é por aí.
Os seres alados gostam muito de nos ajudar, afirmam
as escrituras.
1) Gratidão Mano !
ResponderExcluir2) Excelente a ilustração com as bandeirinhas do Volpi.
3) Em cada bandeirinha podemos fazer uma oração/pedido. É ótimo ver a realização do fato. Nós e os Espíritos do Vento ficamos felicíssimos !
Rocha, meu caro,
ResponderExcluirInteressante as explicações sobre as bandeirinhas que são usadas nas festas juninas, em quermesses, escolas ...
Orações que o vento leva para seus destinatários, perfeito!
Considerando, Rocha, aquele texto no restaurante onde as pessoas incorporavam certos animais, que postaste dias atrás, portanto, há uma absoluta integração com esta existência e as vidas espirituais, esta forma de se enviar recados ou pedidos é muito criativa e original.
Reitero que aprecio os teus contos budistas, simples, fáceis de se entender, e que deixam sempre mensagens de otimismo e apoio quando nos encontramos em situações difíceis.
Um forte abraço.
Saúde e Paz!
1) Salve Chicão !
Excluir2)Lembrei que a palavra "pagode" é um termo budista que significa templo. Mas no Brasil virou um estilo musical, nada contra.
3)O termo "Pagoda" ou "pagode" entrou na Língua Portuguesa em 1516,quando os portugueses andavam pela Índia...
4)Tem outros termos que comprovam o intercâmbio entre a nossa Língua e as Línguas faladas na Índia.
Antônio,
ResponderExcluirBelo post que me traz lembranças de um belo país que visitei perto do topo do mundo. Vi as bandeiras de orações pela primeira vez em Kathmandu, no Nepal, por todos os lados enfeitando os templos. Uma visão inesquecível. Elas tinham cinco cores - azul, branco, vermelho, verde e amarelo - cada uma delas simbolizando um elemento: o ar, o fogo, a água, a terra e o éter. Não recordo o quê era o quê. Mas os devotos acreditavam que o vento recitava os mantras e que as orações se tornavam uma parte permanente do universo à medida que as letras impressas e as cores das bandeirolas se desvaneciam devido à exposição aos elementos.
Quanto ao Camões:
"Sôbolos rios que vão
Por Babilônia, me achei,
Onde sentado chorei
As lembranças de Sião
E quanto nela passei".
Bom final de semana
Abraço
1)Obrigadíssimo Vizinho de Mundo !
Excluir2)Seu depoimento me alegra o coração e a mente.
3)Camões que esteve em Sião, a Tailândia que vc conheceu.
4)Obrigadaço ! Obrigadasso ! como diria certo amigo, budista.
Vizinho Antônio,
ExcluirDesconfio que nos Lusíadas, Camões não se referia só à Tailândia ao usar a palavra Sião.
“Ganges, no qual os seus habitantes
Morrem banhados, tendo por certeza
De Sião largo o império tão comprido".
Já no poema lírico Sôbolos Rios, tenho certeza de que Sião é uma metáfora do paraíso perdido, que representa um espaço mítico, um local de encontro entre o divino e o humano, a maior pergunta sem resposta da espécie humana:
"Mas ó tu, terra de glória,
Se eu nunca vi tua essência
Como me lembro na ausência?"
"Obrigadasso" a você pelo post
Abração
Bom dia Budista!
ResponderExcluirQue texto mais lindo, adoro bandeirinas!
Fazia sempre isso com os trabalhos das minhas crianças da xilo. E no final do ano fazíamos xilo com motivos natalinos impressos em pano em forma de bandeirinha, que viravam estandartes. Ficava lindo!
Bom final de semana para vocês.
Mais uma coisa: você sabia que o futuro é dos baixinhos? Bom para nós.
1) Oi Ana !
Excluir2)Então, nos próximos textos, nos fale destas bandeirinhas que vc fazia com as crianças, em xilo, e com motivos natalinos.
3) Que bela notícia saber que o futuro é dos baixinhos. Mas, democraticamente, os altões como o Bendl e outros tb terão vez.
A idéia do vento levando para o céu as nossas preces faz bem à alma...
ResponderExcluirO vento que traz a chuva, que movia os moinhos, que levava os navios e ainda leva os planadores nas asas do sonho...
Obrigado, mestre Antonio.
1) Pois é Wilson, além da beleza e importância do vento vejo tudo isso como pura poesia e encantamento.
Excluir2) Bom fim de semana.