-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

11/02/2017

Um Amor Inesquecível

imagem wikihow.com



Francisco Bendl

Carlos era um jovem de dezesseis anos.
Apesar do corpo esguio, alto, ombros largos, pernas fortes, não era bonito.
A sua aparência era comum, mas o físico portentoso atribuía ao rosto uma aparência diferente, e por onde andava as meninas viravam a cabeça em sua direção, discretamente.
Carlos chegara do interior do RS recentemente.
Ingênuo, crédulo, romântico, imaginava com cada menina que se encantava um idílio amoroso.
A família, de poucas posses, impedia que o jovem pudesse frequentar festinhas e bailes. As roupas eram simples, sapato apenas um par, à época chamados de colegiais.
Suas saídas de casa se resumiam a ir aos fins de semanas para um retiro onde a sua escola possuía uma casa na praia da Alegria, às margens do lago Guaíba, do outro lado de Porto Alegre.
Não precisava de dinheiro. O ônibus era gratuito e as refeições fornecidas eram almoço e jantar. Quem quisesse melhorar a alimentação era por sua conta.
A vegetação ciliar impedia que através das ruas do balneário se pudesse ver a beleza da mata que se misturava às águas, onde uma linha quase reta de areia um pouco mas grossa que encontradas nas praias do mar, delineava a visão magnífica da natureza, permitindo a colocação de guarda-sóis por uma boa extensão, e atraindo centenas de pessoas para aquele local especial e agradável.
Foi em um fim de semana, na praia do lago Guaíba, que Carlos conheceu Yolanda.
Ele ainda estava recostado na rede onde passara a noite. A voz da jovem se podia ouvir à distância, mas foram as risadas e a alegria da visitante que lhe chamaram à atenção!
Antes que pudesse saltar da rede ela foi ao seu encontro. Deu-lhe um abraço e um beijo no rosto. Se Yolanda era bonita ou não, alta ou baixa, gorda ou magra, morena ou loira, pouco importava. Carlos apaixonara-se à primeira vista ou ao primeiro abraço e beijo de uma moça!
Durante o dia todo ele a seguiu com os olhos. Com mais calma, constatou que Yolanda era bonita, estatura mediana, cabelos pretos curtos, lisos, repartidos ao meio, bem penteados, um colo acolhedor, quadris bem torneados, coxas tentadoras, pernas lisas, uma cintura estonteante.
A inexperiência não lhe ajudava sobre como se aproximar da sua paixão recente. Sentia que precisava que ela o notasse em meio a várias outras pessoas e jovens bem mais atraentes e interessantes que ele.
Sem qualquer planejamento, tática ou estratégia, decidiu que deveria estar ao lado de Yolanda. O que ela precisasse ele a atenderia; o que ela pedisse, ele estaria ao lado; entendeu que seria o seu “valet de chambre”.
O jantar foi uma festa.
Na verdade pão com queijo e salame, salsichão feito às pressas em uma churrasqueira providenciada com o que havia no local, música, risadas, conversas em alto volume.
Carlos não tirava os olhos de Yolanda. Tentava puxar conversa, contar algo da sua vida, mas a guria era muito comunicativa, e a turma a queria junto, e não que ela fosse exclusiva de algum apaixonado de ocasião.
Carlos levou alguma vantagem no dia seguinte, domingo, quando pela manhã a maioria do pessoal foi à praia.
Mostrou o seu porte atlético, que lhe atribuía mais idade que na verdade ele tinha consigo e, no lago, demonstrou a sua habilidade como nadador, dando vigorosas braçadas nas águas calmas e límpidas do Guaíba.
Ao vir para a praia, Yolanda foi ao seu encontro e lhe perguntou:
- Ô guri, onde aprendeste a nadar?
Carlos tomado de surpresa pela pergunta e a presença de Yolanda muito perto, precisou apanhar a toalha rapidamente e cobrir a sua cintura antes de responder qualquer pergunta.
Balbuciando ora gaguejando, responde:
- De onde eu vim, Cachoeira do Sul, há um rio, de nome Jacuí. A diversão da gurizada era nadar nas barrancas do rio, fundo, de correnteza forte, local de uma barragem, que foi dado o nome de Barragem do Fandango.
Yolanda ficou impressionada, pelo menos dissera para Carlos que ele a tinha surpreendido.
Ao cair da tarde, o pessoal se preparou para pegar o ônibus e voltar para casa. Carlos estava triste. O fim de semana passara muito rápido. Yolanda iria se despedir da mesma maneira quando chegara ao retiro ou teria de partir dele agora a iniciativa?
Foi retirado de seus pensamentos quando ela o convidou para ir com ela em ônibus de linha, não o da escola, mas aquele que era pago, e dinheiro...
Pediu emprestado ao responsável pela turma, prometendo devolver a quantia no dia seguinte, na escola.
Alegre, sem caber em si de contentamento, prestes a explodir de satisfação, Carlos e Yolanda sentam-se lado a lado na viagem que fariam de Alegria para Porto Alegre, pouco mais de uma hora o transcurso.
As curvas do coletivo, que obrigava seus corpos se aproximarem mais ainda, deixaram o jovem por alguns momentos em situação tragicômica, e se Yolanda percebeu a ginástica que seu acompanhante fazia para despistar o desconforto, nada demonstrou.
Perto da capital, a primeira sensação de paraíso que Carlos havia tido na sua vida chegava ao seu final. Ousou estender o braço direito por trás de Yolanda, como se fosse seu namorado. A moça não fez qualquer obstáculo.
Ao descerem no ponto, ambos entreolhando-se com docilidade e desejo, Yolanda coloca a sua mão direita no pescoço de Carlos, puxa-o para si e lhe dá um beijo na boca!
Singelo, lábios com lábios, mas que ocasionou na cabeça de Carlos um turbilhão de emoções.
Era o seu primeiro beijo. Era um homem, agora. Conquistara uma menina, tinha a sua namorada!
Ela foi para o seu lado e ele para sua casa. A semana foi longa, demorada, o fim de semana não chegava nunca.
Não existia celular. Os telefones eram raros. Não havia como marcarem horário ou onde se encontrariam. Estava estabelecido, no entanto, que voltariam a se ver na praia da Alegria de novo.
Durante dois ou três fins de semanas Carlos e Yolanda se encontraram no retiro da praia da Alegria. De volta para casa, sentados lado a lado, apertados, mãos dadas, o jovem pedia que o ônibus quebrasse, furasse um pneu, o motor tivesse uma pane, mas a viagem tinha de se estender o máximo possível.
Mas era na despedida, a cena em seu ápice, quando aquele casal se concedia um beijo amoroso, ardente, inesquecível, tomados por frêmitos de desejos, que exigiam que se conhecessem na intimidade, e pudessem unir seus corpos na descoberta de prazeres inolvidáveis e indeléveis!
Yolanda não apareceu no próximo fim de semana, nem também nos seguintes.
Carlos tentou descobrir onde ela morava, sem êxito. Meses depois, desolado, encontra a amiga de sua paixão, e lhe cobra o paradeiro da amada.
Marlene lhe informa que Yolanda voltara para sua cidade natal, Uruguaiana, e casara-se com um amigo de infância. Vivia bem, feliz, mas havia lhe pedido que se encontrasse com o Carlos um dia, que lhe desse o seguinte recado:
- Carlos, senti ao teu lado o amor puro, de dois jovens apaixonados, sonhadores, mas que a vida iria nos separar, inevitavelmente. Quero que sejas feliz, e jamais me esqueças porque viverás no meu coração para sempre.
Carlos se despede de Marlene. Estende-lhe a mão, sem apertá-la apenas a toca.
No caminho de volta para casa, pensa no seu amor. Continuava virgem, mas agora era um homem experiente, e tivera a sua primeira grande decepção. Outra mulher o teria completo, apesar de duvidar que sentiria as mesmas emoções e sensações que Yolanda havia lhe ocasionado.
Carlos casou-se dois anos depois. Apaixonado, concretizara com esta o seu sonho, de ser o primeiro homem da sua esposa e ela ser a sua primeira mulher!
Volta e meia, olhando as estrelas da janela de sua casa, lembra-se de Yolanda, dos seus beijos, do seu corpo estonteante, do seu colo macio, de seus lábios ardentes...
Acha que a imagem da primeira mulher que amou vai se desvanecendo com o tempo, não importa. Ainda lhe presta as homenagens que entende ser necessárias pela alegria que teve ao conhecê-la em Alegria, um simples balneário, que lhe proporcionou crescer internamente e sentir-se homem, desejável, e amado.



17 comentários:

  1. 1) Chicão, o escritor de Rolante, RS. Parabéns !

    2) os Bens literários do Bendl são muitos.

    3) Gostei da trama romântico-realista.

    4)Pensei que o guri ia continuar com a guria. Habilidoso na escrita o autor mudou por completo.

    5)Bom enredo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Francisco Bendl11/02/2017, 12:04

      Meu caro Rocha,

      Obrigado pelo comentário.

      Nem sempre as histórias de amor terminam bem. Mutas vezes as paixões avassaladoras assim como começam terminam, de supetão.

      Por outro lado, gostei que tenhas definido este conto como romântico-realista, pois a realidade inúmeras vezes nos deixou em situações nada agradáveis.

      Um maravilhoso fim de semana, Rocha.
      Abraço.
      Saúde e Paz!

      Excluir
  2. Francisco Bendl, amigo insurgente
    Será mesmo um conto? Ou um conto meio biográfico...
    "Alto, esguio, ombros largos, pernas fortes...físico portentoso...crédulo, romântico..."
    Talvez já com um pouquimho de trovão na voz?
    Gostei muito!
    Vamos ter mais "contos"?
    Saúde e paz.
    Bom fim de semana para você e Marli, sua musa permanente.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Francisco Bendl11/02/2017, 12:22

      Minha querida Ana,

      Obrigado pelo comentário.

      Não, este conto não seria meio autobiográfico, apesar de a maioria dos jovens nesta idade do Carlos já contabilizasse decepções amorosas.

      Antes de eu me casar com a Marli eu tivera duas namoradas, mesmo porque eu tinha 20 anos quando "subi ao altar", então a experiência neste sentido não era sólida, mas havia um alicerce construído.

      A Marli é a mulher da minha vida, indiscutivelmente, tanto pelo amor que nos uniu quanto pela sintonia que temos, e concepções da vida muito parecidos.

      Evidente que discordamos em muitas ocasiões, natural porque é um homem e uma mulher, mas sempre levamos em conta o bem comum, filhos e netos em primeiro lugar.

      No caso do conto, eu me baseei em um colega, que se apaixonava até pela vassoura - lembra aquela, de palha amarela? O cara era sensível em demasia, e muitas vezes nós o atazanávamos a vida prá valer.

      No entanto, Carlos era um guri forte, onde somente eu podia enfrentá-lo porque nossos tamanhos eram iguais, e ele me ouvia e ficava quieto quando eu berrava com a voz grossa que tenho e mandava que ele diminuísse seus ímpetos.

      Fomos colegas de colégio e depois na PE (Exército), surpreendentemente. Ele no 2º Pelotão, eu no 1º. Outro dado curioso, que tanto ele quanto eu casamos ainda militares.

      Mas eu nunca mais o vi quando dei baixa como Cabo da Polícia do Exército, em 1972!

      Respondendo a tua pergunta, Aninha, creio que sim, acho que vou escrever mais alguns contos, pois este que postei dia atrás para o Mano me agradou ter relatado essa história interessante sobre emoções e sensações, que um jovem sente e precisa administrar muito bem, sob pena de sucumbir solenemente às paixões momentâneas.

      Um abraço, Aninha, e também para o teu eterno "muso".
      Saúde e Paz.

      Excluir
  3. Moacir Pimentel11/02/2017, 10:15

    Caríssimo Chicão,
    Esse seu texto escancara magistralmente, poeticamente, uma das poucas certezas que trago no peito: a inocência era a marca registrada da nossa juventude.
    Parabéns!
    Mais do que à sua bela Yolanda, àquela que o fez vibrar pela primeira vez nessa história antiga do me-tarzan-you-jane ou ao seu imenso talento para escrever eu hoje presto homenagem ao seu guri, ao meu menino, ao melhor de nós cujas imagens não podemos permitir que nada nessa vida desvaneça.
    Porque hoje é sábado, mando-lhe um dos meus hinos "pueris" inventado pelos grandes Milton e Fernando:

    https://www.youtube.com/watch?v=Tqj9p4FWY2c

    Abração e bom final de semana com os netos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Francisco Bendl11/02/2017, 12:36

      Meu caro Pimentel,

      Muito obrigado pelo comentário.

      De fato, no nosso tempo "fazer a corte" a uma menina era obter-lhe primeiro a simpatia; depois acompanhá-la a um cinema ou passeio; mais adiante o pedido em namoro; com o tempo, o noivado e, por último, o casamento!

      E ai daquele que rompesse este ciclo absolutamente inegociável, que estaria excomungado.

      Meus três filhos já estão casados, portanto, amadurecidos e objetivados em manter as suas uniões com base naquela que o pai e a mãe estão juntos há quase meio século que, diga-se de passagem, contribuiu muito para suas estabilidades emocionais.

      Eu, que venho de um lar desfeito aos nove anos, do alto dos meus 67 ainda possuo um vácuo dentro de mim, que prometi a mim mesmo que meus filhos jamais iriam senti-lo.

      Agradeço esta tua lembrança à nossa juventude, quando éramos movidos por idealismos e sonhos que o tempo os mostrou intangíveis, comigo concordando contigo plenamente que o mesmo tempo que impediu muitas de nossas realizações, desta vez não consiga apagar de nossas mentes as lembranças maravilhosas de uma época inegavelmente diferente, pois romântica, sensível, respeitosa!

      Um forte abraço, Pimentel.
      Saúde e Paz!

      Excluir
  4. Wilson Baptista Junior11/02/2017, 12:02

    Chicão, dizer o que depois desses três perfeitos comentários?
    Só te dar os parabéns e dizer que os bons contos são os que saem, como este seu, do coração e da memória, mais do que apenas da cabeça.
    Um abraço do
    Mano

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Francisco Bendl11/02/2017, 14:24

      Meu amigo Wilson,

      Somente Conversas do Mano para me fazer escrever diferente do que estou acostumado, sobre política.

      No entanto, mudar, e mudar para melhor, a gente se dispõe a aprender, e tomar conhecimento que outros caminhos existem para nos conduzir ao destino que desejamos.

      Se eu gosto de rabiscar algumas mal traçadas ... que tais rascunhos tenham algo que agrade as pessoas, que as faça pensar e lembrar de certos momentos em suas vidas e que tenham sido agradáveis, claro.

      Esta é a minha intenção, que me deixa muito alegre por eu perceber que os comentários vêm ao encontro da minha proposta, de proporcionar leituras amenas, interessantes sob o aspecto de relações amorosas que se concretizaram ou que as circunstâncias impediram que dessem certo.

      Agora, se vou escrever, confesso, meu caro, dita as palavras o coração.

      Um forte abraço, extensivo à tua musa inspiradora, a Aninha.
      Saúde e Paz.

      Excluir
  5. Bendl,
    endosso as palavras dos demais comentários. E deixo minha curiosidade: Yolanda e Carlos existiram mesmo ou foram nomes inventados?
    E, se foram inventados, há algo especial nessa invenção?
    Tocou uma campainha na minha cabeça. Pode ser tipo Camille, um desequilíbrio, pode não ser.
    Abração, Bendl
    Ofelia

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Francisco Bendl11/02/2017, 14:38

      Minha querida Ofélia,

      Carlos e Yolanda existiram, sim.

      A relação entre ambos, que foi interrompida sem motivo aparente, motivou-me a contá-la após quase cinquenta anos em homenagem ao amor na sua pureza, na sua ingenuidade, independente de os hormônios exigirem um comportamento mais contundente de ambos os amantes!

      Naquela época, Ofélia, o casamento que os pais da noiva esperavam é que a filha fosse virgem, casta, quando desse o "sim" para o noivo.

      E seria para a recém esposa, extremamente feliz e recompensador, que o seu marido também chegasse ao matrimônio na mesma condição que ela.

      Carlos tinha esta ideia consigo, de não poder exigir o que não poderia dar, e sofreu muito com essas interpretações sobre o desenrolar de sua existência.

      No quartel não foi diferente, a ponto de eu chamar-lhe a atenção vigorosamente quando imaginava situações absolutamente contrárias à realidade.

      Se foi feliz em certos momentos, asseguro que na maioria das vezes a frustração lhe bateu na cara com vigor excessivo.

      O conto é uma homenagem à sua história, pureza, ingenuidade, que devemos preservar também, porém com um pé atrás, com uma certa expectativa de que pode não dar certo, então a decepção não será tão acachapante, tão destruidora, exatamente para não desequilibrar uma das partes diante do amor perdido!

      Obrigado, Ofélia, pelo comentário.
      Um forte abraço.
      Saúde e paz!

      Excluir
  6. Ah, Bendl, na nossa idade não existe mais essa de amor perdido, não é?
    A gente brinca, até quer bem a uma pessoa, mas amor perdido é um pouco demais, não é não?

    Precisa ter sido um senhor amor e longo, lá de trás.. Coração de velho bate mais devagar.
    Só acelera com coisas bem reais, como a buzina de um automóvel, quase na nossa cara.

    O resto é fantasia e brincadeira.
    Abração
    Ofelia

    ResponderExcluir
  7. Francisco Bendl11/02/2017, 20:31

    Minha Ofélia,

    Concordo contigo que, na nossa idade, o amor perdido tenha se perdido na imaginação dos velhos!

    Claro que nutrimos um sentimento especial quando se encontra alguém para dividir conosco o resto de nossos dias mas, amor, trata-se de um exagero, indiscutivelmente.

    A tosse, a gripe, as juntas doloridas, as costas arqueadas, são mais importantes em mantê-las que alimentar amores impossíveis.

    As emoções dos idosos se resumem em poucos momentos onde as companhias dos filhos e netos acontecem quinzenal ou mensalmente ou, então, se ele ou ela ainda têm disposição para se relacionarem pela Internet e se sabem manejar o micro ou celular.

    Claro que me reporto a respeito dos idosos deixados em asilo ou morando sozinhos, pois eu ainda estou muito bem fisicamente, dirigindo meu carro, viajando, escrevendo, a esposa otimamente de saúde e vigor físico, estando eu beirando setenta anos porém disposto, a mente obediente e sã, alerta, esperta.

    E não me preparei para esta última etapa da vida, Ofélia. Quando me dei conta, eu tinha ultrapassado sessenta anos!

    Sinto-me bem, e acho que tenho administrado razoavelmente as minhas frustrações e decepções comigo mesmo, sem perder em nenhum momento o senso de humor, que o considero imprescindível nesta fase da existência, pois um velho ranzinza, dá licença!

    O que mais aprecio em mim, ofélia, declaro com sinceridade, é a minha memória, de elefante e de acordo com o meu tamanho!

    A Marli me apelida de "lista telefônica", pois tenho comigo dezenas de números de cor, além de saber meus documentos todos e os dela completamente.

    Volta e meia me vejo tentando decorar uma página inteira de um livro que tenha me agradado.

    Um abraço forte e caloroso.
    Maravilhoso domingo.
    Saúde e paz!

    ResponderExcluir
  8. Perdi o sono, Bendl. Vim distrair a cabeça.
    Dirijo, faço compras, cuido da vida.
    Minha memória às vezes me surpreende. Em outras ela me deixa na mão. Totalmente, não a ponto de me perder em lugares conhecidos. Mas lembro de que lá atrás, em 2005, acho, voltava do Centro e qdo cheguei pouco depois da Praça da Bandeira, eu não sabia que lugar era aquele em que eu estava. Um mar de carros, do lado direito o muro do metrô, só me localizei quando vi o logo da Universidade Veiga de Almeida. Ali eu soube que lugar era aquele. Mas, conforme fui dirigindo, ocorreu de novo. Não lembrava que lugar era aquele. Também me localizei graças ao logo de madeiras. De lá até em casa foi tudo bem. Dirigi normal. Aliás, não deixei de andar pra frente, com o fluxo, em nenhum momento.

    Quando esteve no Rio há pouco tempo, antes do Natal, meu filho mandou o Uber me pegar e trazer em casa. Na volta, houve um momento em que olhei lá pra fora e não me localizei. Mas voltei a me localizar em seguida, mais pra frente.

    Talvez, se fosse durante o dia, eu não tivesse dificuldade alguma. Mas era noite.

    Bom, eu tento fazer contas e confiro na maquininha. Ainda consigo somar, subtrair, multiplicar e dividir. Tô bem. Não sei é se toco piano mais. Vendi (suprema burrice) o meu faz tempo. Muuito tempo.

    Outro dia ouvi uma música que eu sabia tocar, era Chopin, eu lembro. Mas não sei o nome da música e não consegui solfejá-la como fazia habitualmente. Talvez no piano, olhando a partitura, eu consiga. Como saber? Só tocando.

    Sinto horror em perder a memória. Mas acho que não perderei não. É coisa passageira. Eu recupero quase sempre. Mas às vezes preciso ir ao Google para lembrar de um filme, um ator, uma atriz.

    Seu tratamento, como vai? Você fazia um tratamento, não fazia?
    Abração Bendl
    Ofelia

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Francisco Bendl12/02/2017, 11:07

      Querida Ofélia,

      Talvez o nosso amigo Wilson não tenha consigo a devida dimensão do bem que fez ao abrir este blog para seus amigos e conhecidos.

      Eu e tu não nos conhecemos pessoalmente, mas temos trocado tantas mensagens através deste espaço cultural tão importante, que se não podemos dizer que somos íntimos, podemos afirmar que sabemos muito um do outro, assim como acontece com os demais frequentadores deste blog extraordinário.

      Tornamo-nos amigos de fato; publicamos episódios pessoais; confessamos uma que outra situação própria, enfim, usamos a Conversas do Mano como se fosse um canal exclusivo para nos comunicarmos, nos identificarmos também, e dividir com quem gostamos parte de nossas vidas!

      Ah, e a vantagem, Ofélia, do blog:
      ESCREVEMOS, então o registro, que jamais se perderá na memória porque estará mencionado neste espaço anos a fio, basta pedir depois para o Wilson que o resgata para nós.

      Assim, Ofélia, eu fico extremamente alegre que tu jamis vais nos esquecer, e quanto aos "brancos" eventuais na memória não te preocupes pois, a meu ver, a mente está eliminando o que não mais lhe interessa e deixando o que lhe apraz.

      Eu também consulto a Wikipédia, evidente, e deixar de lembrar um filme ou o nome de uma canção, por favor, nada é mais corriqueiro, comum, absolutamente normal.

      Depois, existe o estresse, a ansiedade, que comprometem a memória eventualmente, mas não que signifique perdê-la, pois episódica, apenas isso.

      Observa como escreves bem e, o principal, TU TE LEMBRAS DE DETALHES, DE PORMENORES, que atestam a tua memória estar em perfeitas condições, e te lembras do que esqueceste!

      Claro que jamais perderás a memória - bom, eu não deixaria! Eu iria te atazanar tanto a vida, que te lembrarias imediatamente onde te esconder e escrever para nossos amigos que me impedissem de entrar em contato contigo!

      Eu reativaria a tua memória na base da incomodação, da persistência, da repetição, da encheção de saco!

      Quanto ao meu tratamento ora eu o sigo como deve ora eu o deixo de lado, exatamente agindo conforme as minhas características, ou seja, de acordo com o pedido que fiz aos meus filhos.
      Eu disse assim, para eles:
      -Quando o pai morrer, coloquem um epitáfio no meu jazigo.
      "Aqui jaz um rebelde".

      Olha, possivelmente esta minha rebeldia inata tem sido o ânimo que ainda tenho, a disposição, a vontade, o denodo, a vontade de lutar, de espernear, esbravejar, escrever - mesmo mal, atabalhoado, sem qualquer estilo, mas escrever.

      Ofélia, por eu ter sido rebelde, deixei a PE (Exército) quando os militares mandavam no país, e eu era o seu policial!

      Casei-me ainda no quartel, sem condição alguma, somente o meu imensurável amor pela Marli; tivemos três filhos que, se fôssemos considerar a época não poderíamos ter nenhum; casamo-nos tão rápido, em trinta dias eu a pedi em namoro, noivamos e casamos, assim:
      dia 28 de novembro de 1970, sábado, eu a pedi em namoro, ela aceitou. Dia 12 de dezembro, eu apareço na casa dela com duas alianças, e noivamos à base de Q-Suco de morango - juro!-, aquele que ainda tínhamos de adoçar. Dia 26 de dezembro, um dia após o Natal, nos casamos!

      Faremos este ano 47 de união, de vida a dois, de amizade, amor, cumplicidade, algumas encrencas para temperar a relação, exatamente pela minha rebeldia e hoje ser um pé rapado porque eu não suportava as chefias idiotas e burras que eu encontrava nos empresas onde trabalhei!

      Eu não as desafiava, apenas pedia as contas e prá quem fica, tchau - lembras deste filme?

      Ofélia, um excelente domingo.

      Conta sempre comigo, com este amigo que não sabes o rosto que tem, porém plenamente definido quanto à sinceridade e amizade que te oferece.

      Um forte abraço, apertado, caloroso.
      Saúde e paz!

      Excluir
  9. Esqueci:
    Millôr dizia, Bendl: "Quando acordei, eu era um homem da minha idade."

    É o que acontece na maior parte das vezes com todos.

    Mas não estou gagá não. Ainda.

    ResponderExcluir
  10. Francisco Bendl12/02/2017, 11:09

    Ofélia,

    Nos vamos incomodar muita gente ainda!

    Outro abraço.

    ResponderExcluir
  11. Tomara, Bendl... rsrsrs...

    Nós nos casamos no mesmo ano, 1970. Só que eu em 27 de maio, uma quarta-feira, às... 20h, na Urca. Dia seguinte era feriado.

    E cheguei à igreja de Kharmman-Ghia(?) amarelo margarida, dirigido pelo noivo. Uma igreja cheia de tocheiros enfeitados com grossas velas e mimosas. Ao som dos Beatles. Até o Monsenhor Barbosa curtiu. E os amigos se encarregaram de dar uma bebidinha pra ele.

    Hoje muita gente que estava naquela igreja se foi, inclusive meu cunhado, mais novo que o marido.

    'bora incomodar todo mundo?

    'bora!
    Abração
    Ofelia
    PS: É o Lulu que canta? 'Eu sou sinceeero!'
    Você é. Eu também.
    Belo domingo.

    ResponderExcluir

Para comentar, por favor escolha a opção "Nome / URL" e entre com seu nome.
A URL pode ser deixada em branco.
Comentários anônimos não serão exibidos.