Manhã primavera
No limiar da lembrança
ficou o sonho
que me fez acordar feliz.
ficou o sonho
que me fez acordar feliz.
Manhã de luz clara entrando em casa e descobrindo cantos escuros
espanando lembranças quentinhas da noite.
Cheiro de flor.
Ipês abertos em rosa, amarelo e branco.
E as quaresmeiras roxas machucando de saudade.
O sol acorda o verde e os pássaros estremunhados de sono dão os primeiros pios.
Perfume de manacá se esvaindo em rosa e roxo na grama serenada
e muitas pequenas coloridas flores são frutos-promessas do verão.
A primavera se embola com o verão, a manhã
com o dia
e mistura sol com vento , vento com chuva, chuva com raio e trovão
que faz canção de ninar quando cai no chão.
Depois, céu em azul esplêndido e o sol estourando as nuvens
e andorinhas voando baixo anunciando alguma outra chuva que se avizinha.
Goiabas entre folhas e mangas no pomar.
e mistura sol com vento , vento com chuva, chuva com raio e trovão
que faz canção de ninar quando cai no chão.
Depois, céu em azul esplêndido e o sol estourando as nuvens
e andorinhas voando baixo anunciando alguma outra chuva que se avizinha.
Goiabas entre folhas e mangas no pomar.
Tarde outono
Quando chega o sol poente,
com o cheiro vermelho de terra quente
a gente guarda o livro e a panela e recolhe a roupa do varal.
E guarda a luta e o medo e se deixa levar pela melancolia da vida
Pela saudade do que já foi e a saudade do que nunca será.
E as folhas da tarde se mexem sem lastro e sem cola
e mudam de lugar.
O cair do dia traz calma
E os ventos fazem voos de folhas secas enlouquecidas.
com o cheiro vermelho de terra quente
a gente guarda o livro e a panela e recolhe a roupa do varal.
E guarda a luta e o medo e se deixa levar pela melancolia da vida
Pela saudade do que já foi e a saudade do que nunca será.
E as folhas da tarde se mexem sem lastro e sem cola
e mudam de lugar.
O cair do dia traz calma
E os ventos fazem voos de folhas secas enlouquecidas.
Noite inverno
Vênus aparece decidida e corajosa
enfrentando o céu quase breu
e acorda as outras estrelas.
A noite se enche de pequenas luzes do céu da terra e da alma
que misturam com alegria ruas e becos, casas e barracos.
Roupas coloridas enfeitam a cidade e o som de música escorre pelas calçadas.
Janelas abertas para sentir o cheiro da lua
e deixar sua luz colorir as paredes brancas
e um pedaço do seu brilho desmanchar na boca.
e acorda as outras estrelas.
A noite se enche de pequenas luzes do céu da terra e da alma
que misturam com alegria ruas e becos, casas e barracos.
Roupas coloridas enfeitam a cidade e o som de música escorre pelas calçadas.
Janelas abertas para sentir o cheiro da lua
e deixar sua luz colorir as paredes brancas
e um pedaço do seu brilho desmanchar na boca.
No limiar do dia
ficou a noite
que trouxe o sonho bom.
Indiscutivelmente estamos diante de uma poetisa de qualidade!
ResponderExcluirParabéns, Ana, pela obra digna de elogios e reverência, bom gosto e dissertação impecável sobre o nascer e morrer o dia.
A alma feminina e a sensibilidade característica da mulher afloraram plenamente nesta tua poesia, que abrilhanta este blog extraordinário do Mano que, certamente, tem em casa e ao seu lado uma esposa de raro talento!
Um forte abraço, Aninha.
Saúde e paz!
Francisco Bendl, amigo insurgente
ExcluirMuito elogioso o seu comentário, gostoso de ler. Mas meio exagerado, assim...do seu tamanho! O que não parece com o dono é roubado...
Muito obrigada.
Saúde e paz para você também.
Caríssima Donana,
ResponderExcluirDa última vez que a senhora nos deu o ar da sua graça, a sua arte de sangue e sombras e flores e lágrimas de aquarela,conversou mais alto do que as suas pretinhas.
Nesse seu post de hoje ao misturar as gravuras à poesia - mesmo sendo uma covardia essas flores-sombrinhas defronte do concreto armado! - a gente fica sem saber se a senhora pinta quando escreve ou se escreve quando pinta e onde termina a gravurista e começa a poetisa e vice versa nessa ciranda - ou escola de samba? - "de vento e chuva, raio e trovão e acalanto ao bater no chão".
Como diz a metade nordestina do meu sangue: "Danou-se!"
Não sei se gosto mais do preto no branco ou das cores. Sei que gosto. Muito. Do conjunto da obra. O certo é mais uma vez a senhora chega "inteira aos pedaços", reinventando não apenas as horas do seu dia mas as estações da vida nossa de cada dia.
Pode-se voar nessas suas tintas desde os "primeiros pios" da verde manhã de primavera, passando pelas goiabas e mangas maduras e quentes do sol de um meio dia de verão - que só vale colher do pé e comer se for se lambuzando! - e pela sofrença na tarde de outono das folhas enlouquecidas de saberem que não mais enverdecerão, até a pacificada brancura da noite de inverno que, no entanto, ainda teima em se colorir e "acordar pequenas luzes, escorrer música, esquecer a panela, sentir o cheiro da lua, padecer dessa saudade do que já foi e do que nunca será".
Tudo bem que eu bem sei que mesmo se mil vidas tivéssemos sempre haveria , como dizem os franceses, alguma coisa faltando.Mas só as poetisas dizem tão simples e exata e levemente o que guardamos pesado demais na alma funda para ser articulado.
A Cecília, aquela que vivia saudosa do que não fazia e do que fazia arrependida , traduz tudo isso bem demais:
"Serenas desesperadas", diz ela.
E não, não estou me referindo à série Desperate Housewives mas sim rendendo homenagem à artista sensível e talentosa que a senhora é e jamais deixará de ser e de - torço com vontade absoluta! - "conversar".
Porque, no inverno, muito mais que as folhas secas pesam as palavras mudas, Donana.
"Até muito mais"
Olá Moacir,
ExcluirE não é mesmo assim a vida, raio, trovão, chuva e canção de ninar?
Seus escritos para mim me fizeram muito contente, cheio de exageros vamos e venhamos! Para ser isso tudo eu precisaria de outra vida .
Eu também não sei quando termina o desenho e começa a escrita. Ou o contrário.
Às vezes estou fazendo um e sou assolada pela vontade do outro. Outras vezes até caminham juntos.
Fico feliz que você tenha gostado. Também quero "conversar" bastante!
"Gratidão"(só mesmo pegando emprestado!)
Ana, quanta delicadeza...
ResponderExcluirFiquei olhando toda vida, tentando misturar pinturas e palavras. Desisti. Não é café com leite, não é café com pão nem arroz e feijão. É uma mistura que não mistura, uma brotação que fala mesmo é de você. Que, eu acho, resumi na minha primeira frase do texto. DeLIcaDEza.
E delicadeza não se explica. A gente sente, ela nos invade.
Você foi muito feliz nesse arranjo de alma e habilidades que delimitam as quatro estações. Poetou e pintou muito bonito. Ora se...
Ofelia
Delicadeza também a sua, Ofélia.
ExcluirObrigada pelo comentário tão gentil. Foi muito bom saber que você gostou!
Gratíssima.
1) Oi Ana, suas pinturas, desenhos, aquarelas são belas poesias.
ResponderExcluir2)Comunhão de cores, delicadas cidades, edifícios, favelas, fileira de árvores, baianas ao carnaval, praia cheia, noite estrelada, cada item um signo que muito pode nos significar, re-significar.
3) Palavras poéticas resumindo em um único dia um longo de ano de vivências, experiências.
4)Parabéns, vc tem bom domínio da linguagem em verso e no visual...
Olá Antônio,
ResponderExcluirVocês me elogiaram tanto que tenho medo de ficar insuportável!
Por outro lado, é tão bom saber que gostaram!
Opinião de professor deve ser coisa séria...
Muito obrigada.
Podem até dizer que eu sou suspeito...
ResponderExcluirMas foi a coisa mais linda que já se publicou neste blog.
Obrigado. Por tudo.
Mas bah, chê, bota suspeito nisso!!!
ExcluirO que andaste aprontando para a Ana, eim?!
RSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSRSR
Ana,
ResponderExcluirpoeta com letra maiuscula ! delicia ver seus textos e suas gravuras
Melhor ainda é compartilhar da sua amizade
Um grande e carinhoso abraço, Léa