Antonio Rocha
“O
vento sopra do norte,
Ele
olha e os olhos são frios,
Ele
olha e sorri e depois passa adiante,
Meu
coração sofre.
O
vento sopra sobre a poeira.
Ele
jurou que amanhã virá.
As
palavras foram doces,
Mas
ele não as cumpriu,
Meu
coração está entorpecido.
O dia
inteiro o vento soprou forte,
Há
muito o sol mergulhou no horizonte,
Pensei
nele tanto tempo e tanto
Que
não posso dormir.
As
nuvens estão negras como a noite
O
trovão não trouxe a chuva,
Levanto-me
e não tenho esperança
Sofro
sozinha a minha dor”.
A poesia acima é antiquíssima, data de 713 antes de Cristo e foi escrita
no Harém do Palácio de Wei, na China.
Encontrei-a na página 807 do excelente volume “A Sabedoria da China e da
Índia”, do chinês Lin Yutang, publicado em 1945, pela editora Irmãos Pongetti,
do Rio de Janeiro.
Qual será o tipo de Sabedoria que a poetisa nos inspira? Certamente,
Yutang quis mostrar a parte literária do seu país. Um texto tão antigo que fala
de um sentimento tão atual. Entra milênio sai milênio e o ser humano continua
às voltas com os caminhos e descaminhos do amor.
Será amor? Será apego? Será só sexo? Não sabemos, nem nunca saberemos. A
poetisa foi-se e nos deixou sua arte.
O que me chamou a atenção é que uma das concubinas do Imperador sabia
ler e escrever, então colocou sua sensibilidade no papel.
Fiquei imaginando: quantas mulheres teria este harém imperial? Muitas,
certamente, pois ao Imperador nada era negado. E mesmo sabendo que ela seria
uma a mais, ainda assim apaixonou-se? Um amor coletivo? Compartilhado?
Modernamente ela responderia: “Ninguém
tem nada a ver com a minha vida e você, resenhista do século XXI, guarde suas
reflexões para outra poesia”.
Quem está me falando, é a anônima autora? Ou será o seu Espírito que
paira através das linhas que acabamos de ler?
Disse outro dia que para alguns asiáticos (não podemos generalizar) as
palavras são “seres vivos”, deste modo podemos dialogar com elas.
Mas é que eu me lembrei de um outro livro antigo “Sabedoria Hermética”,
publicado em 1968 pela Fundação Educacional e Editorial Universalista, de Porto
Alegre onde, através da psicografia, a médium inglesa e um Espírito do antigo
Egito informam que o nosso planeta Terra ainda é muito atrasado.
Enquanto outros planetas do sistema solar são evoluídos e já se
desapegaram desse tipo de amor-sofrimento, amor-dor, nós os terráqueos ainda
nos debatemos nas teias do amor-prisão e não nos libertamos para o
amor-espiritual, o amor-incondicional.
Buda chama de Amor-Bondade esse amor-iluminado que não espera nada em
troca, é amor-doação. Dificílimo não resta dúvida, mas acrescenta a médium que,
belo dia, os terrenos chegaremos lá, não importa quando.
Por outro lado, é bom esclarecer, as vidas que a médium britânica
refere-se em outros planetas, não são vidas como as nossas, mas vidas em outras
dimensões, respiram outros ares e não o oxigênio.
Mais adiante, daqui a alguns milênios... saberemos.
Vizinho,
ResponderExcluirAcho que Camões se referia ao tal do Amor Bondade do Buda quando perguntou:
"Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?"
Mas - fazer o quê? - nos próximos milhares de anos vamos praticar e aprimorar o Amor Bandido (rsrs)
Quanto às senhoras poetisas elas são apaixonantes. Peço sua licença para postar em resposta aos versos escritos há 1304 anos trás no harém do Palácio de Wei por uma poetisa desconhecida, uma tradução e variação do mesmo tema da lavra de uma colega dela mais próxima de nós.
Bom final de semana
Canção de Amor da Jovem Louca
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)
Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente.)
Sylvia Plath , A Redoma de Cristal. Rio de Janeiro: Editora Artenova, 1971, p. 255.
1)Grande Vizinho suas contribuições poéticas nos comentários são sempre ótimas.
Excluir2)Camões, conhecia pessoalmente o Budismo Asiático, por onde ele viajou. Com "arte e engenho", segundo ele mesmo escreveu, poeticou (praticou poesia)bastantes coisas.
3)Esplendorosa a poesia de Sylvia Plath. Ou seja,a Energia da Poesia é Eterna.
4)Abraços de bom sábado !
"Acho que te criei no interior da minha mente."
ResponderExcluirPra que mais?
Poetou é mais bonito. Já escrevi bastantes coisas com poetou.
E Antonio, recebi um vídeo no Face que me fez rir muito e me lembrar de você quando disse que pediu uma esposa ao Buda. O vídeo subverte toda a beleza do gesto.
Não tenho como trazer o vídeo pra cá, ou pelo menos não sei fazer isso.
Mas vou tentar reproduzir em letrinhas.
Até
Ofelia
1) Oi Ofélia, vc tem razão:a mente cria tudo.Tudo nasce primeiro em nossa mente.
Excluir2)Tente colocar aqui o link do tal vídeo.
3) Bom fim de semana.
Como faço pra colocar um vídeo do Face aqui? Não há como! Ou há?
ExcluirSe souber, me diga.
Outra coisa: isso de tudo nascer primeiro na nossa mente, já me dizia um ex-médico de mocidade. Reclamei que estava sentindo uma dor no braço esquerdo. E ele respondeu: "A cabeça fabrica coisas." Nunca mais esqueci.
PS: Na verdade, não é um vídeo. É a voz apenas de um humorista.
Bom findi pra você também, Antonio.
Ofelia
1) Eu não sei, sou aprendiz nestas coisas de internet, talvez o Mano saiba nos ajudar.
Excluir2)Seu médico devia conhecer este ensinamento de Buda, "tudo nasce primeiro na mente".
3)Foram feitas pesquisas em universidades japonesas, li alhures, pessoas que perderam um braço na guerra "sentiam" dor neste braço inexistente, então a "dor" era na mente.
4)Abração !
Ah, misturei Moacir com Antonio. QUERERÁ dizer alguma coisa?
ResponderExcluirEu li muito a Marisa Raja Gabaglia na Última Hora. Ela sim, a tal de 'Milho pra Galinha, Mariquinha'.
Marisa teve um 'muito amor' bandido, cirurgião plástico. O nome dele já era na minha cabeça. Talvez, consultando o Google, ele retorne à minha mente. Eu não o criei na minha mente.
Até
Ofelia
1) Sim Ofélia.
Excluir2)Eu e o Pimentel nos descobrimos vizinhos do mundo.
3) Outro dia ele falou que somos "compadres".
4)Lembro da Marisa Raja Gabaglia qdo era jurada do "Programa Flávio Cavalcanti"... olha... que tempão faz ...
Antonio,
ResponderExcluirbela, a poesia, e sensível o questionamento sobre ela.
Parabéns.
1) Salve Wilson,
Excluir2) Essa poesia me fez viajar pelos aposentos do Harém, entrevistar a poetisa e saber mais das vidas dessas mulheres...
3)Mas fico na minha... PPP = Plebeu, Pernambucano, Palmeirense.
Belo texto, Antônio
ResponderExcluirQue traz perguntas sem respostas, por que rimar amor com dor? Tem poesia, tem música, tem histórias e estórias, mas não tem respostas.
Mas tem belo complemento na poesia da Sylvia Plath.
Bom final de semana para vocês.
Até mais
1) Vc tem razão Ana.
Excluir2) O complemento do Pimentel foi excelente com a presença da Sylvia Plath.
Grande Rocha,
ResponderExcluirTeus relatos, que invariavelmente têm cotações com o Budismo são interessantes, curiosos e muito bons de se ler.
Este, por exemplo, da poesia que ultrapassou mais de dois mil anos, quase três, não deixa de ser surpreendente.
Um abraço.
Saúde e paz.
1)Concordo plenamente com vc Chicão.
Excluir2)Eu peço até desculpas aos leitores, mas quase tudo o que eu escrevo, tem a ver com o Budismo.
3) Primeiro é um gostar filosófico. Depois é um semear a Doutrina em terras brasileiras.
4)Abração Chicão.
Você está tristonho, Bendl.
ResponderExcluirTá passando bendl?
O que há com você?, estou te estranhando...
Abração
Ofelia
Minha querida Ofélia,
ResponderExcluirObrigado pelo interesse quanto ao meu bem-estar.
Tô bem, sem problemas, e não estou triste.
Dia desses o Mano publicou um artigo onde eu relatava algumas peripécias como vendedor viajante, mas agora os registros são de trabalhos sérios, então a devida correspondência, consequentemente.
Vale dizer, que as obras de Pimentel, Rocha, Palmeira e demais autores, com exceção do que escrevo, abordam temas que não deixam margem a comentários mesmo com pequenas doses de humor, haja vista que se apresentam com apelos às emoções, à nostalgia, a conflitos, como estes a respeito de Rodin e Camile, artistas fabulosos e que tiveram uma relação tensa, interrompida, trágica.
Como não sou artista, mas arteiro, meus relatos pendem invariavelmente para o lado humorístico, ameno, leve, até porque não me sinto à vontade em escrever sobre problemas, diante das inevitáveis pinceladas jocosas que eu daria sobre textos que exigissem a indefectível fleugma britânica.
Então tento fazê-los rir, divertirem-se, e não que a minha vida tenha sido assim tão divertida, mas extraio dela passagens que valem a lembrança, o compartilhamento.
Em compensação, me debruço sobre um artigo - caso o Wilson quiser publicá-lo quando estiver pronto, lógico - a respeito dos filósofos e suas obras, um resumo do que fizeram desde a Antiguidade até os dias de hoje, e as dificuldades que encontramos ou falta de disposição para ler as obras que vararam o tempo, e ainda são importantes e reconhecidas como imprescindíveis.
Muito obrigado pelas perguntas, Ofélia.
Um forte abraço, apertado, mas não muito, pois posso te tirar o fôlego!
Saúde e paz!
Amigo Chicão, seus artigos são sempre bem vindos - desde, é claro, que não falem "naquilo" :)
ResponderExcluirEspero com curiosidade o sobre os filósofos.