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11/03/2017

Poesia no Harém

Lam Qua - Retrato da Quarta Concubina (1864)

Antonio Rocha

“O vento sopra do norte,
Ele olha e os olhos são frios,
Ele olha e sorri e depois passa adiante,
Meu coração sofre.

O vento sopra sobre a poeira.
Ele jurou que amanhã virá.
As palavras foram doces,
Mas ele não as cumpriu,
Meu coração está entorpecido.

O dia inteiro o vento soprou forte,
Há muito o sol mergulhou no horizonte,
Pensei nele tanto tempo e tanto
Que não posso dormir.

As nuvens estão negras como a noite
O trovão não trouxe a chuva,
Levanto-me e não tenho esperança
Sofro sozinha a minha dor”.

A poesia acima é antiquíssima, data de 713 antes de Cristo e foi escrita no Harém do Palácio de Wei, na China.
Encontrei-a na página 807 do excelente volume “A Sabedoria da China e da Índia”, do chinês Lin Yutang, publicado em 1945, pela editora Irmãos Pongetti, do Rio de Janeiro.
Qual será o tipo de Sabedoria que a poetisa nos inspira? Certamente, Yutang quis mostrar a parte literária do seu país. Um texto tão antigo que fala de um sentimento tão atual. Entra milênio sai milênio e o ser humano continua às voltas com os caminhos e descaminhos do amor.
Será amor? Será apego? Será só sexo? Não sabemos, nem nunca saberemos. A poetisa foi-se e nos deixou sua arte.
O que me chamou a atenção é que uma das concubinas do Imperador sabia ler e escrever, então colocou sua sensibilidade no papel.
Fiquei imaginando: quantas mulheres teria este harém imperial? Muitas, certamente, pois ao Imperador nada era negado. E mesmo sabendo que ela seria uma a mais, ainda assim apaixonou-se? Um amor coletivo? Compartilhado?
Modernamente ela responderia: “Ninguém tem nada a ver com a minha vida e você, resenhista do século XXI, guarde suas reflexões para outra poesia”.
Quem está me falando, é a anônima autora? Ou será o seu Espírito que paira através das linhas que acabamos de ler?
Disse outro dia que para alguns asiáticos (não podemos generalizar) as palavras são “seres vivos”, deste modo podemos dialogar com elas.
Mas é que eu me lembrei de um outro livro antigo “Sabedoria Hermética”, publicado em 1968 pela Fundação Educacional e Editorial Universalista, de Porto Alegre onde, através da psicografia, a médium inglesa e um Espírito do antigo Egito informam que o nosso planeta Terra ainda é muito atrasado.
Enquanto outros planetas do sistema solar são evoluídos e já se desapegaram desse tipo de amor-sofrimento, amor-dor, nós os terráqueos ainda nos debatemos nas teias do amor-prisão e não nos libertamos para o amor-espiritual, o amor-incondicional.
Buda chama de Amor-Bondade esse amor-iluminado que não espera nada em troca, é amor-doação. Dificílimo não resta dúvida, mas acrescenta a médium que, belo dia, os terrenos chegaremos lá, não importa quando.
Por outro lado, é bom esclarecer, as vidas que a médium britânica refere-se em outros planetas, não são vidas como as nossas, mas vidas em outras dimensões, respiram outros ares e não o oxigênio.
Mais adiante, daqui a alguns milênios... saberemos.



17 comentários:

  1. Moacir Pimentel11/03/2017, 08:49

    Vizinho,
    Acho que Camões se referia ao tal do Amor Bondade do Buda quando perguntou:
    "Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade,
    se tão contrário a si é o mesmo Amor?"
    Mas - fazer o quê? - nos próximos milhares de anos vamos praticar e aprimorar o Amor Bandido (rsrs)
    Quanto às senhoras poetisas elas são apaixonantes. Peço sua licença para postar em resposta aos versos escritos há 1304 anos trás no harém do Palácio de Wei por uma poetisa desconhecida, uma tradução e variação do mesmo tema da lavra de uma colega dela mais próxima de nós.
    Bom final de semana

    Canção de Amor da Jovem Louca

    Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
    Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
    (Acho que te criei no interior da minha mente)

    Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
    Entra a galope a arbitrária escuridão:
    Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

    Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
    Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade.
    (Acho que te criei no interior de minha mente)

    Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno:
    Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
    Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

    Imaginei que voltarias como prometeste
    Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
    (Acho que te criei no interior de minha mente)

    Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
    Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo
    Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
    (Acho que te criei no interior de minha mente.)

    Sylvia Plath , A Redoma de Cristal. Rio de Janeiro: Editora Artenova, 1971, p. 255.

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    1. 1)Grande Vizinho suas contribuições poéticas nos comentários são sempre ótimas.

      2)Camões, conhecia pessoalmente o Budismo Asiático, por onde ele viajou. Com "arte e engenho", segundo ele mesmo escreveu, poeticou (praticou poesia)bastantes coisas.

      3)Esplendorosa a poesia de Sylvia Plath. Ou seja,a Energia da Poesia é Eterna.

      4)Abraços de bom sábado !

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  2. "Acho que te criei no interior da minha mente."

    Pra que mais?
    Poetou é mais bonito. Já escrevi bastantes coisas com poetou.
    E Antonio, recebi um vídeo no Face que me fez rir muito e me lembrar de você quando disse que pediu uma esposa ao Buda. O vídeo subverte toda a beleza do gesto.
    Não tenho como trazer o vídeo pra cá, ou pelo menos não sei fazer isso.
    Mas vou tentar reproduzir em letrinhas.
    Até
    Ofelia

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    1. 1) Oi Ofélia, vc tem razão:a mente cria tudo.Tudo nasce primeiro em nossa mente.

      2)Tente colocar aqui o link do tal vídeo.

      3) Bom fim de semana.

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    2. Como faço pra colocar um vídeo do Face aqui? Não há como! Ou há?
      Se souber, me diga.

      Outra coisa: isso de tudo nascer primeiro na nossa mente, já me dizia um ex-médico de mocidade. Reclamei que estava sentindo uma dor no braço esquerdo. E ele respondeu: "A cabeça fabrica coisas." Nunca mais esqueci.

      PS: Na verdade, não é um vídeo. É a voz apenas de um humorista.

      Bom findi pra você também, Antonio.
      Ofelia

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    3. 1) Eu não sei, sou aprendiz nestas coisas de internet, talvez o Mano saiba nos ajudar.

      2)Seu médico devia conhecer este ensinamento de Buda, "tudo nasce primeiro na mente".

      3)Foram feitas pesquisas em universidades japonesas, li alhures, pessoas que perderam um braço na guerra "sentiam" dor neste braço inexistente, então a "dor" era na mente.

      4)Abração !

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  3. Ah, misturei Moacir com Antonio. QUERERÁ dizer alguma coisa?

    Eu li muito a Marisa Raja Gabaglia na Última Hora. Ela sim, a tal de 'Milho pra Galinha, Mariquinha'.

    Marisa teve um 'muito amor' bandido, cirurgião plástico. O nome dele já era na minha cabeça. Talvez, consultando o Google, ele retorne à minha mente. Eu não o criei na minha mente.
    Até
    Ofelia

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    1. 1) Sim Ofélia.

      2)Eu e o Pimentel nos descobrimos vizinhos do mundo.

      3) Outro dia ele falou que somos "compadres".

      4)Lembro da Marisa Raja Gabaglia qdo era jurada do "Programa Flávio Cavalcanti"... olha... que tempão faz ...

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  4. Antonio,
    bela, a poesia, e sensível o questionamento sobre ela.
    Parabéns.

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    1. 1) Salve Wilson,

      2) Essa poesia me fez viajar pelos aposentos do Harém, entrevistar a poetisa e saber mais das vidas dessas mulheres...

      3)Mas fico na minha... PPP = Plebeu, Pernambucano, Palmeirense.

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  5. Belo texto, Antônio
    Que traz perguntas sem respostas, por que rimar amor com dor? Tem poesia, tem música, tem histórias e estórias, mas não tem respostas.
    Mas tem belo complemento na poesia da Sylvia Plath.
    Bom final de semana para vocês.
    Até mais

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    1. 1) Vc tem razão Ana.

      2) O complemento do Pimentel foi excelente com a presença da Sylvia Plath.

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  6. Francisco Bendl11/03/2017, 20:44

    Grande Rocha,

    Teus relatos, que invariavelmente têm cotações com o Budismo são interessantes, curiosos e muito bons de se ler.

    Este, por exemplo, da poesia que ultrapassou mais de dois mil anos, quase três, não deixa de ser surpreendente.

    Um abraço.
    Saúde e paz.

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    1. 1)Concordo plenamente com vc Chicão.

      2)Eu peço até desculpas aos leitores, mas quase tudo o que eu escrevo, tem a ver com o Budismo.

      3) Primeiro é um gostar filosófico. Depois é um semear a Doutrina em terras brasileiras.

      4)Abração Chicão.

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  7. Você está tristonho, Bendl.
    Tá passando bendl?
    O que há com você?, estou te estranhando...

    Abração
    Ofelia

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  8. Francisco Bendl13/03/2017, 08:50

    Minha querida Ofélia,

    Obrigado pelo interesse quanto ao meu bem-estar.

    Tô bem, sem problemas, e não estou triste.

    Dia desses o Mano publicou um artigo onde eu relatava algumas peripécias como vendedor viajante, mas agora os registros são de trabalhos sérios, então a devida correspondência, consequentemente.

    Vale dizer, que as obras de Pimentel, Rocha, Palmeira e demais autores, com exceção do que escrevo, abordam temas que não deixam margem a comentários mesmo com pequenas doses de humor, haja vista que se apresentam com apelos às emoções, à nostalgia, a conflitos, como estes a respeito de Rodin e Camile, artistas fabulosos e que tiveram uma relação tensa, interrompida, trágica.

    Como não sou artista, mas arteiro, meus relatos pendem invariavelmente para o lado humorístico, ameno, leve, até porque não me sinto à vontade em escrever sobre problemas, diante das inevitáveis pinceladas jocosas que eu daria sobre textos que exigissem a indefectível fleugma britânica.

    Então tento fazê-los rir, divertirem-se, e não que a minha vida tenha sido assim tão divertida, mas extraio dela passagens que valem a lembrança, o compartilhamento.

    Em compensação, me debruço sobre um artigo - caso o Wilson quiser publicá-lo quando estiver pronto, lógico - a respeito dos filósofos e suas obras, um resumo do que fizeram desde a Antiguidade até os dias de hoje, e as dificuldades que encontramos ou falta de disposição para ler as obras que vararam o tempo, e ainda são importantes e reconhecidas como imprescindíveis.

    Muito obrigado pelas perguntas, Ofélia.

    Um forte abraço, apertado, mas não muito, pois posso te tirar o fôlego!
    Saúde e paz!

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  9. Wilson Baptista Junior13/03/2017, 11:12

    Amigo Chicão, seus artigos são sempre bem vindos - desde, é claro, que não falem "naquilo" :)
    Espero com curiosidade o sobre os filósofos.

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