Wilson
Baptista Junior
A
gente sempre imagina que a raça humana vem evoluindo ao longo do tempo. Mas
será que é verdade?
Uma
equipe de cientistas americanos publicou um trabalho bastante provocador, na
revista "Trends in Genetics" (Tendências na Genética), onde afirma
que, pelo contrário, a humanidade vem perdendo lentamente suas capacidades
intelectuais e emocionais. Os cientistas, dirigidos pelo doutor Gerald
Crabtree, titular do Laboratório Crabtree de Genética da Universidade de
Stanford, chegaram à conclusão de que a evolução das facilidades da vida
moderna tende a diminuir a influência do processo de seleção natural na evolução
da inteligência humana, e que isto vem impedindo que as mutações genéticas
prejudiciais para o desempenho da nossa capacidade cerebral sejam filtradas e
descartadas pelo processo evolutivo.
Segundo
Crabtree, o desenvolvimento mais intenso das nossas faculdades cerebrais
aconteceu na época pré-histórica, quando nossos ancestrais ainda viviam na
África, em grupos pequenos e dispersos e ainda num estágio rudimentar de
comunicação verbal; nesse cenário a inteligência do indivíduo era vital para a
sobrevivência da espécie. Quem não conseguia obter comida e proteger-se dos
predadores morria, e com ele provavelmente sua família.
Havia
então uma forte pressão evolutiva no sentido de privilegiar os indivíduos mais
inteligentes, que foi o que levou a um desenvolvimento rápido dessas
faculdades.
O
desenvolvimento da agricultura permitiu o início do processo da urbanização; as
pessoas passaram a poder viver em comunidades cada vez mais populosas e podiam
então se especializar cada vez mais em termos de habilidades, e já não
precisavam de conseguir diretamente alimentação e abrigo, podendo consegui-los
em termos de troca e comércio. Uns produziam os alimentos, outros construíam os
abrigos, outros produziam as roupas, e assim por diante.
Com
essa especialização foram surgindo as diversas profissões e as sociedades foram
se estruturando. Se por um lado esta estruturação foi o principal fator para a
aceleração do desenvolvimento tecnológico, por outro lado foi reduzindo cada
vez mais a pressão evolutiva sobre a inteligência do indivíduo.
Com
a redução desta pressão, não só o desenvolvimento da inteligência se tornou
cada vez mais lento, como eventuais mutações genéticas prejudiciais, que antes
seriam eliminadas ao longo do processo de seleção natural, passaram a contar
com maiores probabilidades de sobrevivência, e pela mesma razão as mutações
benéficas passaram a ter menos impacto positivo.
O
Dr. Crabtree estima que, considerando que existem de dois mil a cinco mil genes
responsáveis pela nossa capacidade intelectual, e considerando a frequência com
que ocorrem mutações genéticas prejudiciais, no período dos últimos três mil
anos, que correspondem a umas cento e vinte gerações, cada um de nós já foi
vítima de pelo menos duas destas mutações prejudiciais para nossa capacidade intelectual
e nossa estabilidade emocional.
E
para piorar o quadro, as descobertas mais recentes no campo da neurociência
parecem indicar que os genes responsáveis pela capacidade intelectual são ainda
mais suscetíveis do que os demais a sofrer mutações.
Bem
preocupante :)
Me
lembra a velha piada dos meus tempos de escola sobre a "Lei da Conservação
da Inteligência", que dizia que "a
quantidade de inteligência no mundo é constante, e a população não para de
crescer..."
A
publicação do trabalho da equipe de Crabtree, como era de se esperar, provocou uma grande controvérsia nos meios científicos, com manifestações que
vão desde achar que faltam dados experimentais capazes de comprovar a sua
teoria até comentários bem menos caridosos de alguns oponentes mais exaltados.
Mas não deixa de fazer pensar.
Uma
reportagem sobre o assunto está no Science Daily: http://www.sciencedaily.com/releases/2012/11/121112135516.htm
Wilson,
ResponderExcluirUm ótimo post que me fez lembrar da tese do Mestre Heraldo sobre os "polegares estranhos" que a nossa espécie desenvolverá dentro em breve para poder teclar melhor nos celulares que carregamos para cima e para baixo junto aos ouvidos do mesmo jeito que antigamente os suicidas faziam com os revólveres. (rsrs)
Mas essa conversa é antiga. Sabemos através de um mito da lavra de Platão que da mesma forma que hoje desconfiamos das "tecnologias"
Sócrates também suspeitava da palavra escrita por acreditar que ela nos tornaria mentalmente preguiçosos , nos habituaria a buscar saberes fora de nós mesmos e que , ao fim e ao cabo, ela fabricaria pretensiosos em série, todos certos de estar certos mas iludidos por suas mentes que, apesar de abarrotadas de informação, segundo o filósofo seriam muito mal formadas e nada sábias.
Eu acho que estamos pensando menos sim porque há quem pense por nós e nos entregue toneladas de informação bem mastigadinhas na internet seja para que ghetto e gosto for. Quase ninguém mais tem tempo para checar fontes, ler o contraditório, analisar um pensamento alheio antes de sair postando-o adoidado para os amigos do Face. E se rola "debate" vira troca de ofensas pessoais. Falta interrogação, pesquisa, estudo, conflito criativo , crítica construtiva, partilha e consenso de verdades parciais , conversa e avanço.
Mas o Dr. Crabtree no final do link nos tranquiliza no sentido de que, um dia, a criativa mente humana desvendará as mutações maléficas ao intelecto e as corrigirá sem que haja necessidade da arcaica "seleção natural". A ver os cérebros e polegares do porvir.
Bom final de semana para todos!
Pois é, Moacir, Sócrates desconfiava das pretinhas do mesmo modo que hoje desconfiamos do Google e das redes sociais...
ExcluirDo mesmo modo que as pretinhas fizeram uma revolução no conhecimento humano, a Web está nos levando para outra. Mas, assim como Sócrates receava o leitor que armazenaria informações alheias sem desenvolver seu próprio pensamento, receamos hoje o internauta que hoje navega por um universo impressionante de dados sem ter aprendido o espírito crítico e o raciocínio que lhe permitiriam depurar estes dados e converte-los em informação e transformar essa informação em conhecimento.
Haverá sempre quem consiga aproveitar as facilidades trazidas pela evolução tecnológica para fazer avançar o conhecimento humano. A aposta é que a inteligência dessa parcela "resistente" consiga reverter o processo entrópico das mutações detectadas pelo Crabtree. A aposta são os nossos Quixotinhos :)
1) Artigo muito bom, parabéns Mano !
ResponderExcluir2) Penso que vamos conviver sempre com pessoas que sabem muito e outras que sabem pouco e os intermediários.
3)Torço por uma humanidade digiTAO que junta as benesses da tecnologia com as belezas do Tao, isto é, o Sagrado que tem vários nomes.
4)Bom sábado para todos (as) !
Obrigado, Mestre Antonio.
ExcluirNosso amigo Lao Tsé deve estar dando um sorriso de aprovação para seu digiTAO :)
Um abraço do
Mano
Simplificadamente, e nos fixando só nos Seres Humanos, diz a Teoria da "Seleção Natural" do Dr. DARWIN que: Os animais selvagens devorando os mais burros e suas famílias, permitia que os mais sabidos gerassem descendência sempre mais sabidas que as anteriores. Sob essa Pressão Evolutiva a inteligência Humana era sempre crescente.
ResponderExcluirA pesquisa do Dr. CABTREE, baseado em que as facilidades da vida moderna quase que por completo eliminaram essa "Pressão Evolutiva" conclui que a inteligência humana está estacionária. Pior, como 2.000 a 5.000 genes são responsáveis pela inteligência, e que eles sofrem a cada pequeno número de Gerações, mutações prejudiciais, estamos na realidade, emburrecendo. Espera porém o Dr. CABTREE, que a Ciência breve descubra meios para neutralizar essas mutações prejudiciais.
Mais provável, a meu ver, é se fabricarem Robots equipados com Inteligência Artificial equivalentes a 10.000, ou mais, genes de inteligência, que esses Robots selvagens comecem a devorar novamente os mais burros, e sob essa tremenda Pressão Evolutiva, o Homem, lá na frente volte a superar em inteligência os Robots, e fique então em novo e alto patamar de inteligência. Abrs.
Favor corrigir: Dr. CRABTREE. Muito Obrigado.
ResponderExcluirFlávio,
ExcluirTão interessante quanto preocupante a sua conclusão.
Espero devotamente que nossos descendentes venham a vencer essa nova corrida contra os novos predadores, desta vez gerados por nós mesmos.
O grande problema vai ser quando as inteligências artificiais atingirem o estágio de projetarem e fabricarem elas mesmas suas próximas gerações.
Vai ser uma competição interessante, mas no sentido chinês da palavra. Torçamos por nossos netos!
Um abraço do
Mano
Os dados me levam a crer piamente nesta pesquisa, que estamos mesmo a cada período perdendo inteligência, e por uma única razão, a meu ver:
ResponderExcluirNão se pensa mais, o ser humano foi dominado pelo automatismo, pela cibernética!
Esmiuçando o assunto:
Com exceção do desenvolvimento eletrônico, mesmo assim aperfeiçoamentos sobre as descobertas e aperfeiçoamentos de modelos existentes;
Com exceção da Ciência, em termos de medicamentos, transplantes, vacinas, antibióticos e aqueles que inibem as rejeições, igualmente melhorias nos produtos originariamente desenvolvidos;
Com exceção da Tecnologia, onde fomos à Lua, sondas ultrapassaram os limites do nosso sistema solar, o Huble nos deu uma amostra do início do Universo, o famoso corredor situado na França e Suíça com átomos se chocando à velocidade da luz, a fabricação de aviões e automóveis e suas tecnologias embarcadas, pergunto:
Aonde estão os grandes pensadores?!
O que sabemos de filosofia remonta ao passado!
Pitágoras, Sócrates, Aristóteles, Platão, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Descartes, Kant, Shopenhauer, Voltaire, Pascal, Leibnitz, Nietzsche ... quem teria sido o filósofo do século XX?
Sartre? Era mais escritor que pensador.
Foucault? Dedicou-se aos problemas existentes, principalmente à Psiquiatria.
Deleuze? Filosofia do Desejo.
Heidegger? Transitou entre Kierkegaard (Existencialismo) e Husserl (Fenomenologia).
Refiro-me a um pensador que uma pessoa que tivesse o Ensino Médio conhecesse, e não que depois, aluno da Faculdade de Filosofia, abordasse nomes que exigem cursos acadêmicos.
Aonde estão os grandes compositores musicais?!
Beetowen, Bach, Tchaikowsky, Liszt, Chopin, Richard Wagner, Vivaldi, Dvorak, Mozart, Schubert, Débussy, Strawinsky, Ravel, Brahms, Strauss …
E os grandes compositores de óperas?
Puccini, Verdi, Wagner, Leoncavallo, Mozart, Mascagni, Rossini, Bizet, Donizetti … Carlos Gomes …
Aonde estão os grandes pintores e escultores?!
(Pimentel, algum nome recente nessas artes onde és o nosso especialista)?
Aonde estão os grandes escritores e suas obras imortais?
Dante, Balzac, Flaubert, Joyce, Steimbeck, Virgílio, Cervantes, Tolstoy, Dostoiéwsky, Goethe, Thomas Mann, Euclides da Cunha, Érico Veríssimo, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Camões, Garcia Marques, Umberto Eco, Garcia Lorca, Arthur Miller, Edgar Alan Poe, Hemingway, Norman Mailer, Alexandre Dumas (pai e filho), Baudelaire, Victor Hugo, Tagore, Soljenitsin, Pasternak, Bernard Shaw, Conan Doyle, Shakespeare ... a lista é imensa, pois quem seria o grande romancista atualmente?!
Aonde estão as novas teses e hipóteses sobre o conhecimento (epistemologia)?!
Na razão direta que pensamos menos, a inteligência decai, perde a sua mola mestra, o seu propulsor, que é a CRIATIVIDADE!
A vida atualmente é confortável, prática, dinâmica ... pensar para quê?!
Exercitar a mente e escrever, compor, pensar, elaborar novos conceitos para quê?!
A pesquisa tem plena razão, e parabenizo entusiasticamente o Wilson por publicá-la, que corrobora uma frase minha registrada no Conversas do Mano tempos atrás que estamos involuindo!
A minha prova irrefutável desta afirmação que faço se deve a um único e simples fator:
A dificuldade que temos – o mundo inteiro – com o idioma!
O teste seria extraordinariamente fácil, que sugiro aos professores que leem este blog, este oásis no meio de tantos problemas políticos, econômicos e sociais, o seguinte:
De surpresa, que cada aluno escreva rapidamente – o tempo seria contado, 15 minutos, cinco para cada letra -, 50 palavras com a letra E (não valem verbos), 50 com letra V , e 50 com a letra P, por exemplo.
Acho até que alunos universitários teriam sérios problemas para completar a tarefa.
Wilson, um forte e fraterno abraço.
Saúde e paz.
Chicão,
ExcluirRespondendo à sua pergunta - "Pimentel, algum nome recente nessas artes onde és o nosso especialista?" - e focando na pintura dos séculos XX e XXI que produziram mais artistas do que todos os outros juntos desde o Renascimento,é o seguinte:
Henri Matisse,Georges Braque,André Derain,Raoul Dufy,
Maurice Vlaminck, Toulousse -Lautrec,Pablo Picasso,
Fernand Léger,Juan Gris,Albert Gleizes,Marcel Duchamp,
Amedeo Modigliani,Henri Rosseau,Joan Miró,René Magritte,Salvador Dalí,Max Ernst, Giorgio di Cirico,Wassily Kandinsky,Paul Klee,Edvard Munch,Egon Schiele,Marc Chagall,Chaim Soutine,Gustave Klimt,Frantisek Kupka,Robert Delaunay,Piet Mondrian,Franz Marc,Diogo Rivera, Frida Kahlo,Edward Hopper,Patrick Henry Bruce, Marsden Hartley,Arthur Dove, Jean Dubuffet, Giorgio Morandi,Alberto Giacometti, Jackson Pollock,Otto Mueller
Stuart Davis, Gerald Murphy,Alfred Stieglitz,
Georgia O'Keeffe,Edward Hopper,Marc Rothko,Arshile Gorky,Williem de Kooning, Franz Kline, Alfred Henry Maurer,Charles Demuth,John Marin,Andy Warhol,Robert Rauschenberg,Roy Lichteistein,David Hockney e Lucien Freud.
Quanto ao século XXI, apenas começando, eu citaria Peter Doig, Luc Tuymans, Julie Mehretu, Ibrahim El-Salahi, Beatrice Marden , Maria Lassnig, Glenn Brown, Marlene Dumas, George Condo, Lisa Yuskavage, Ellen Altfest,Tomma Abts e por aí vai.
A arte brasileira seria outro looooongo comentário mas não se esqueça de Francisco Brennand de quem tanto já falamos por aqui.
Abraços
Chicão, seu comentário levanta uma questão importante mas também contém algumas pequenas injustiças :)
ResponderExcluirA questão importante, e muito bem levantada, embora você a tenha feito apenas sobre os filósofos se aplica a muito mais: os grandes sábios antigos escreviam para todo o mundo, enquanto os estudiosos de hoje escrevem para os outros estudiosos. Se você tomar, por exemplo, uma tradução fiel da Geometria de Euclides, verá que pode ser perfeitamente compreendida por um aluno do ensino médio (posso te dizer porque no meu tempo preferi estudar por ela do que pelos livros texto do ginásio); da mesma maneira, Adam Smith, Ricardo, Marx, são muito mais compreensíveis do que os economistas modernos. A academia de hoje, se por um lado permite uma maior consistência dos textos publicados sobre as descobertas porque passam por uma avaliação dos pares do descobridor, por outro lado levou a escritos cheios de jargão e citações sobre citações que ficam muito difíceis de ser compreendidos por quem não é também um estudioso acadêmico do assunto.
Isso, de certa maneira, tem travado a difusão do conhecimento para as pessoas fora da academia, exceto sob a forma de obras de divulgação. Perdemos aí talvez uma boa parte da contribuição que poderia ser dada por, digamos, pensadores independentes.
As injustiças são que você pega os escritores, por exemplo, desde o começo dos tempos até a segunda metade do século vinte e depois nos pergunta sobre os modernos que se comparem com eles; quantos pintores, como Van Gogh, escritores, como Shakespeare, músicos, como Bach, só vieram a ser reconhecidos como grandes muito depois de suas mortes? Com quantos de hoje ocorrerá o mesmo?
Para ser justos, neste conceito, deveríamos comparar não a produção de todos os tempos, mas "fatias de tempo" de cem anos com os escritores do século passado. Aí teríamos, entre os "modernos", Hemingway, Joyce, Saint Exupéry, Malraux, Soljenítsin, Nabokov, Mailer, Heinlein, Bradbury, Úrsula Le Guin, Pamuk, Eco, Mia Couto, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Érico Veríssimo, Antonio Machado, Octávio Paz, Garcia Lorca, Huxley, Carlos Fuentes, Beckett, Conrad, Vargas Llosa, Marguerite Youcenar, Guillermo Cabrera Infante, Alejo Carpentier, John Irving, Narayan e tantos outros que já li mas que me escapam agora à memória.
Na música, Villa Lobos, Stravinsky, Schoenberg, Gershwin, Grofé, Vaughan Williams, Penderecki, Philip Glass (aqui devo confessar meu escasso conhecimento pessoal da música moderna, por questão de inclinação).
Na pintura, o Moacir já respondeu com uma lista bastante grande.
Na ciência, uma possível explicação seria que hoje as pesquisas são feitas em geral com equipes multidisciplinares trabalhando em laboratórios com equipamentos que dificilmente um pesquisador solitário teria meios de ter à sua disposição.
Mas é assunto para muita conversa :)
Um abraço do
Mano