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Wilson Baptista Junior
A pintura de Caravaggio de Santa Ana com Nossa Senhora e o Menino Jesus,
que o Moacir mostrou ontem, me fez lembrar de uma outra representação de Santa
Ana.
Na entrada oriental da Cidade Velha de Jerusalém, logo depois da Porta
do Leão, perto de onde começa a Via Dolorosa, existe uma entrada em arcada que
quando a atravessamos parece nos levar a um outro mundo, um lugar de calma, silêncio
e frescor depois do bulício e do calor do bairro muçulmano.
Um pátio com árvores, palmeiras, flores e sombra limita em um dos seus
lados com um edifício bem conservado.
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Perto de uma das portas deste edifício, um poço antigo está coberto por
um vaso de flores. Se entrarmos no edifício, descobriremos uma igreja e num de
seus lados uma estátua de mármore de Santa Ana segurando um rolo de pergaminho
e acolhendo com seu braço esquerdo a Virgem Maria, menina, com as mãos postas. Debaixo
dos pés da Virgem nascem ramos de rosas.
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Esta igreja é a Basílica de Santa Ana, construída no século XII sobre
uma gruta onde, segundo a tradição, teria nascido a Virgem Maria, e parcialmente
restaurada no século XIX.
Uns trinta metros a noroeste da igreja, encontramos as ruinas de uma
construção muito, mas muito, mais antiga.
Por volta do século VIII antes de Cristo foi construída uma represa
através do vale de Beth Zeta, transformando o vale num reservatório de água da
chuva, que um vertedouro na represa permitia usar para abastecer a Cidade
Velha. Sete séculos e meio depois o vertedouro foi coberto e um segundo
reservatório construído, e os dois ficaram conhecidos respectivamente como o
lago superior e o lago inferior.
No século I antes de Cristo os romanos transformaram as grutas
naturais que ficavam a leste dos lagos em locais de banhos de cura, alimentados
por sua água, como parte de um asclepeion, o antecessor do que hoje seria uma clínica, um
local de cura consagrado ao deus Asclepius, deus da medicina. O local era chamado, em hebreu, Beth-zatha, a "casa da misericórdia".
Ali os médicos romanos tratavam os doentes com as medicações da
época e faziam mesmo intervenções cirúrgicas.
Já os judeus acreditavam que um anjo do Senhor aparecia e agitava a água, e que o primeiro (e só o primeiro) doente que entrasse na água logo depois de agitada, se fosse merecedor seria curado.
A medicina romana e a fé judaica... As duas querendo a mesma coisa, a
cura dos doentes. E foi aqui que, segundo o Evangelho de São João, Jesus Cristo
curou um paralítico que não tinha forças para se arrastar até dentro dos banhos, e por isso há trinta e oito anos tentava mas nunca tinha conseguido ser o primeiro.
Na era bizantina uma igreja foi construída em cima do complexo dos
banhos, escondendo a construção romana, que só foi novamente trazida à luz em
1964. Só então se soube onde era realmente o local do milagre de que falou São
João. Até então os estudiosos identificavam os banhos com dois outros locais em Jerusalem, e alguns duvidavam mesmo de que tivessem existido, porque nenhum lugar correspondia de perto à descrição feita pelo evangelista.
Hoje as evidências arqueológicas mostram que o local combina
perfeitamente com o contado por João. E,
se acreditarmos nele, é impossível olhar para as ruinas dos banhos sem sentir o
maravilhamento de estar olhando para o lugar onde Jesus esteve e, num dia de
Sabbath, onde toda ação era proibida pela lei mosaica, enfrentou o horror e a
raiva dos sacerdotes tradicionalistas para nos mostrar que é mais importante a
compaixão do que a obediência cega às
leis e aos costumes.
.
Wilson,
ResponderExcluirUma sequência primorosa que apresentaste no blog sobre a tua viagem a Israel, com fotos e informações importantes e históricas sobre os locais que visitaste.
Certamente esta viagem tem conotações divinas porque somente poucas pessoas conseguem ir até a terra santa, e sentirem sob seus pés, corações e mentes, a emoção indescritível de se caminhar no local mais famoso do mundo, onde perambulou Jesus e seus apóstolos, onde foi firmada a religião com a maior quantidade de adeptos do Ocidente, o Cristianismo!
Aliás, a mais importante,e, se me permitirem, a vitoriosa!
Explico em tom hilário porque acreditar em Deus é também ter humor e rir, pois deixarei um dado que comprova de forma indiscutível e insofismável que tenho razão sobre ser a mais poderosa e vitoriosa sobre as demais:
Que ano estamos?
2017.
Ou seja, supostamente o mundo começou quando Jesus nasceu. Antes nada havia no planeta!
O judeus estão lá por cinco mil e trezentos e alguma coisa, mas coloquem esta data no cheque, experimentem!
Os chineses têm o seu calendário próprio, mas eles que pensem em negociar alegando o ano do macaco, dragão, tigre ...
O mundo passou a existir no ano zero, obedecido até hoje, independente das Idades Históricas que demarcaram vários períodos nesses últimos dois mil anos!
E, os cristãos, mudaram de novo o calendário, que antes era Juliano para Gregoriano, onde o Papa Gregório XIII, em 24 de fevereiro de de 1.582, corrigiu o Equinócio da Primavera fazendo-o retornar 10 dias!
O Papa, os cristãos, a Igreja Católica!
Um abraço, Mano.
Saúde e paz.
Wilson,
ResponderExcluirMais um belo post dentro de uma interessante "franquia" que ainda tem muito pano para manga e que evidencia que quem escreve fala poderosamente a cada um de nós, mergulha nas nossas mentes levando-as para qualquer lugar em apenas algumas linhas. Porque cada leitor se projeta, usa a sua própria imaginação e assim cada experiência de leitura é altamente personalizada. E é essa a graça do Conversas.
Note como as suas belas palavras sobre A Casa da Misericordia levaram o Bendl até o calendário gregoriano e me transportaram para o engenho romano e para todas as ruínas - banhos, arenas, anfiteatros, panteões,templos, aquedutos, pontes, calçadas e milhas, esgotos, cisternas e mosaicos - do império que construíram pelo vasto mundo e que tanto nos encantam .Tem mais.
Da mesma forma a sua descrição da "entrada em arcada perto da Porta do Leão "que quando atravessamos parece nos levar a um outro mundo" me fez pensar em todas as arcadas sob as quais já caminhamos, em todos os arcos que já atravessamos ansiosos para ver o que nos esperava do outro lado: o inesperado!
Qualquer dia desses vou rascunhar sobre outro "lugar de calma, silêncio e frescor depois do bulício e do calor", e sobre um jardim que se esconde depois de um arco lateral da arcada leste de uma praça, onde à sombra de paredes cobertas de hera e de árvores centenárias nos esperava não um mármore de Santa Ana e da Maria menina , mas uma obra de arte contemporânea surpreendemente vermelha (rsrs)
Conversar assim como viajar é sobre aprender, estar pronto para aposentar paradigmas, superar preconceitos e as tais regrinhas ditadas pela imbecilidade humana e desmitificar o monte de mentiras que nos contaram - inclusive algumas sobre o grande Jesus Cristo!
"Obrigadíssimo"
Abraço
Moacir,
ExcluirVocê sabe, melhor do que eu, que viajar é atravessar uma sucessão de arcadas no espaço e no tempo, concretas ou figuradas, e que toda a essência e a graça estão na diversidade delas, na expectativa pela surpresa do que vamos encontrar atrás de cada uma e no coração aberto com que recebemos o que encontramos.
Seja a viagem com nossas pernas através do mundo ou com nossa mente na poltrona da nossa biblioteca.
Por isso, também, fico contente por você ter gostado. Obrigado.
E espero (esperamos todos) pelo seu outro lugar.
Um abraço.
Chicão, sempre me alegra ver que você gosta das minhas histórias. E seu comentário é muito interessante. Daria margem a muita conversa discutirmos o porque da difusão mundial da data européia como a única, ou pelo menos a mais usada. Mas talvez a justificativa já tenha sido encontrada no livro do Jared Diamond "Armas, Germes e Aço", onde ele procura explicar o desenvolvimento e a expansão das civilizações através do mundo (o título original, "Guns, Germs and Steel", teria sido melhor traduzido como "Armas de Fogo, Germes, e Aço", que são os três motivos principais que ele elenca para o predomínio de uma ou outra), ou no estudo dos fluxos de comércio através dos tempos.
ResponderExcluirE, claro, as datas sempre foram controlada pelas religiões dominantes, pelo seu papel na fixação das festas religiosas.
Um abraço do
Mano
1)Gosto muito destas descrições que o Mano vem fazendo sobre o Estado de Israel.
ResponderExcluir2) Tenho aprendido bastante.
3) Adorei saber de Santa Ana, a avó de Jesus.
4)Abraços gerais.
Sou leitor diário deste "oásis" de boas Leituras. Viajo com os Viajantes, aprendo Arte com os Estudiosos de Arte, a Filosofia, curto as Crônicas, as descrições das Festas Familiares escritas por Senhoras Mães de Família elegantes e sábias Matriarcas, enfim todos os Escritos do Sr. WILSON criador do Blog, Sr.MOACIR, Sr. FRANCISCO, Sr. DOMINGOS, Sr. HERALDO, Sr. ANTÔNIO, Sra. DULCE, Sra. ANA, e excelentes Comentários.
ResponderExcluirComento pouco porque não sabia entrar no Sistema. Agora aprendi e tentarei comentar mais.
Belíssima a arcada de Beth-Zatha, o Templo de Santa ANA, mãe de N. S. MARIA, sobre, e próximo, dos Reservatórios Superior e Inferior da Cidade Velha de Jerusalém.
E como trabalham, usam bem a Pedra, os Hebreus, os Árabes, os Povos do Oriente Médio encruzilhada do Mundo. Que maravilha as fotos do Sr. WILSON detalhando aquelas Ruínas, e a Igreja hoje, a belíssima escultura de Santa ANA e N.S.MARIA, essa sim, a meu ver, bem mais bonitas do que as pinturas de CARAVAGGIO. Abrs.
Caro Flávio (perdoe a familiaridade, mas estamos recebendo-o de braços abertos no nosso espaço de conversa, onde nos tratamos com essa informalidade), muito me alegra ter aqui a sua companhia, já conheço há muito tempo a qualidade e a sempre presente elegância de seus escritos em outro blog de que participamos, do nosso amigo Carlos.
ExcluirMuito obrigado pelos elogios ao meu escrito e ao nosso blog, onde esperamos contar sempre com a sua presença.
Um abraço do
Mano
Antonio, não há como ser um avô ou uma avó e não sentir um carinho especial por Santa Ana e seu marido Joaquim...
ResponderExcluirImagine então estando na casa deles...
Gostei de você ter gostado.
Um abraço do
Mano