Meu Encontro com o Cristo

fotografia Heloisa Pires Ferreira

Antonio Rocha

A proximidade da Semana Santa me fez lembrar deste fato ocorrido há mais de trinta anos.

Todo sábado pela manhã eu fazia uma caminhada de Santa Teresa, até o Mirante Dona Marta, no Caminho do Corcovado; seis quilômetros ida e volta, vista belíssima, ambiente idem.

Quando chegava no local conhecido como “Portão das Caboclas”, começa a ladeira. Uma subida ótima. Tinha uma Esaf – Escola de Administração Fazendária. Digo tinha pois não me parece que só existem as casas, construções de alvenarias. Por motivos de segurança o local foi ficando muito deserto e anos depois deixei de ir lá.

Andava-se mais um pouco e chegava-se na Estrada Velha do Corcovado. Fechada a carros. Alguns metros adiante a Capela de São Silvestre, pequenina, os fiéis ficam do lado de fora e só o padre na entrada da Capelinha. As missas continuam só uma vez por ano, no dia 31 de dezembro, pela manhã, Dia de São Silvestre.

Esta região chama-se Silvestre e é uma espécie de mini-bairro, dentro do bairro de Santa Teresa.

Poucos metros adiante desce o Rio Carioca, antigamente era o local da tribo dos índios cariocas que desapareceram. O rio foi canalizado e deságua na Praia do Flamengo. Tem uma placa turística lá na foz. E agora, por aqui inventaram uma Cerveja Rio Carioca, artesanal.

Quando solteiro a caminhada ia até à estátua do Cristo Redentor, por essa estrada velha, até que chegava nos trilhos da Estação de Ferro do Corcovado e... tudo a pé. Hoje está proibido.

Continuando a caminhada chega-se a um balão onde para a direita subimos até o Monte do Corcovado. À esquerda vamos até o Mirante Dona Marta.

Descortina-se visão maravilhosa da cidade do Rio de Janeiro, e a vista alcança as praias oceânicas de Niterói.

Na descida pelo ladeirão que dá acesso ao Mirante contempla-se altaneira e só ela dominando a paisagem a estátua do Cristo Redentor.

Aqui entra a minha história: todo sábado então eu cumprimentava na descida o Cristo à minha frente. Reverenciava budisticamente e pronto.

Até que um dia tive a intuição de que a imagem queria conversar comigo:

- Bom dia, o senhor sabe – disse eu para Jesus – tenho o maior respeito pelos seus ensinamentos, pela sua vida, pelo que o senhor representa, pelos seus seguidores. Mas, me desculpe, desde a infância eu tenho dificuldade em reverenciar o crucifixo, o senhor pregado em uma cruz sofrendo muito.

- Mas aqui eu não estou pregado em uma cruz – respondeu-me Jesus – acredite se quiser.

- É, mas está parecido com os braços abertos...

- Você disse muito bem amigo. Eu estou com os braços abertos para abraça-lo.

- Mas eu não sou cristão, eu sou budista, o senhor sabe.

- Claro que sei e é por isso que eu quero abraça-lo fraternalmente.

Então eu fiz o gesto do abraço. Como se eu estivesse, e de fato estava, abraçando o próprio Cristo. Foi algo deveras agradável, uma experiência interessante.

Desde então nos tornamos amigos. Cada um na sua Fé. Tenho imenso respeito e reverência por Ele e por seus discípulos, praticantes de todos os matizes do Cristianismo, mas continuo budista. E aproveito para desejar a todos (as) Feliz Páscoa !

O termo em hebraico antigo significa “pessach = travessia” e sinto que fiz uma travessia espiritual neste encontro daquele sábado com o Cristo.

Legenda:

A foto que ilustra a matéria de hoje foi tirada esta semana pela Heloisa, de nossa janela. Considero um momento ímpar, pois na hora apareceram três aves perto da Estátua.

Interpretei como sendo um sinal da Santíssima Trindade: Pai, Filho, Espírito Santo.

De início pensei que poderiam ser três urubus, mas estão muito altos. Não sei se urubus voam tão alto. Se for, nada contra, pois admiro muito estas aves, que aprendi são os garis da natureza e eles avisam aos outros onde tem comida para os demais de sua espécie.

História:

Tudo isso fica encravado no Parque Nacional da Tijuca, a maior floresta urbana do mundo. Uma vez me disseram que foi D. João VI quando veio parar no Rio de Janeiro que mandou plantar os morros que já estavam desmatados pela busca de madeira e plantação de café. Outros me disseram que foi D. Pedro II.

Na verdade, não sei, mas o fato é que esta belíssima Mata Atlântica foi plantada manualmente pelos escravos. Muitas mudas não são mais originárias, vieram da Índia e adaptaram-se por aqui.

Nossa gratidão aos escravos. Graças ao suor, ao trabalho e ao esforço deles hoje contemplamos um local lindíssimo.

Três vezes vimos a queima de fogos no dia 31 de dezembro no Mirante Dona Marta. Indescritível a beleza !