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Wilson Baptista Junior
No lado leste da muralha do Monte do Templo, o lugar mais sagrado de
Jerusalém, existe um portão duplo cujo nome em hebraico é o Portão da
Misericórdia.
Reza a tradição judaica que por este portão, ou pelo que havia no mesmo
lugar antes da destruição do templo, a Presença Divina entrava no templo, e que
é por ali que, na segunda vinda do Messias, no dia da Ressurreição, ela entrará
de novo.
Talvez para contestar isso, o portão foi murado pelo Sultão Saladino
quando reconquistou Jerusalém, e nunca mais foi aberto.
Na colina oposta ao portão está um dos maiores cemitérios judaicos de
Jerusalém, e o mais disputado, porque é por ali que os judeus acreditam que a
Presença Divina passará primeiro, em direção ao portão, e portanto os mortos
ali sepultados serão os primeiros a ressuscitar.
Quem olha para o Monte do Templo, de cima do cemitério, vê ao seu lado
direito, mais embaixo, uma área murada onde as lanças escuras dos ciprestes
rodeiam as copas claras das oliveiras no meio das outras árvores.
Este é o Jardim de Getsêmani, e a área murada é o que sobrou da encosta
antigamente coberta de olivais. Por causa deles a colina ganhou, em tempos idos, o nome de Monte das Oliveiras.
A oliveira era uma das plantas mais importantes nessa região, porque era
ela quem fornecia o azeite para a comida e a iluminação.
Getsêmani quer dizer em hebraico “prensa de azeite”, porque ali ficava,
em meio às plantações de oliveiras, um local para a extração do azeite. E foi
justamente aí que Jesus se reuniu com seus discípulos na sua vigília na véspera
de ser preso.
Dentro do jardim, entre suas irmãs mais novas, oito oliveiras velhíssimas, de troncos imensos, espalham
suas copas que até hoje ainda produzem frutos.
Mas não, não são as mesmas copas que abrigaram Jesus e os apóstolos naquela
noite. Porque as legiões de Tito, conta-nos Flávio Josefo, aquele historiador
de quem falamos em Massada, cortaram todas as árvores em volta de Jerusalém
para fazer suas máquinas de assalto, quando cercaram a cidade para retomá-la
dos rebeldes judeus (um dos quais tinha sido ele mesmo até ser capturado pelos
romanos) trinta e sete anos após a morte de Jesus.
Mas as oliveiras cortadas renascem como brotos, e as oito anciãs sobreviventes,
que têm por volta de novecentos e poucos anos, descendem de um mesmo tronco
original, segundo cientistas que as estudaram recentemente. E a datação do material
de suas raízes aponta para quase dois mil e trezentos anos de idade.
Então, sim, são filhas de uma daquelas que testemunharam a agonia imensa de
quem durante todos os minutos da longa vigília daquela noite sabia perfeitamente do oceano de
dor e da morte que chegariam no dia seguinte.
Junto aos degraus que levam a uma porta de bronze uma escultura singela
nos lembra dessa noite terrível.
Atravessando essas portas entramos numa igreja diferente de todas que
conhecemos.
É a Basílica da Agonia, também chamada da Igreja de Todas as Nações,
porque foi construída e é sustentada com doações de doze países, um dos quais é
o Brasil. Seus doze domos homenageiam os doze apóstolos e os doze países.
Nas folhas internas das portas de bronze estão gravadas as palavras de profundo desânimo e suprema aceitação do condenado.
Logo à frente do seu altar aflora através do piso um pedaço da rocha
original onde, diz a tradição, Jesus se deitou exausto para rezar ao Pai. Mas
quando estivemos lá estava sendo realizada uma missa e não quisemos ultrapassar
a barreira à frente do altar e perturbar a cerimônia para fotografar a rocha.
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Talvez como sinal de esperança, um dos pórticos externos de um dos domos
aponta diretamente para o Portão da Misericórdia. Simbolizando, quem sabe,
o caminho do Dia da Ressurreição.
Basílica da Agonia – difícil achar um nome mais forte e mais apropriado.
Quem de nós já não passou uma, ou talvez mais de uma noite nessa agonia de
dolorosa antecipação, seja ao lado de uma pessoa querida que sofre, seja
sozinho com suas preocupações e pensamentos, sabendo e receando o que deveria
vir no dia seguinte? Quem de nós pode estar ali e não simpatizar, na nossa
pequenina importância, com o imenso sofrimento de quem faz mais de vinte
séculos esteve ali por nós e por sua livre escolha?
1) Belo texto, belas fotos, belo conteúdo, bela mensagem.Parabéns Mano !
ResponderExcluir2)Agora, não consigo entender essas pós-modernidades... (parece outro assunto, mas é pertinente)
3) Hoje, às 7 da manhã passou aqui na porta uma banda de música tocando músicas de forró:Dominguinhos "eu só quero um amor... que acabe o meu sofrer...", ainda há pouco voltaram.
4)Não é a primeira vez, estão fazendo festa profana na Semana Santa.
5) Li essa semana na internet que a entrada triunfal de Jesus, em Jerusalém, sentado num jumentinho, seria aqui no Rio, recebido com Escola de Samba...
6)Desculpem, acho que estou ficando velho... estão esculhambando... virou uma pós-religiosidade ...
Obrigado, Antonio.
ExcluirComplicada, essa "pós-religiosidade". Para a maioria das pessoas, hoje, a Semana Santa não significa mais do que um feriado na sexta que se pode emendar. Curioso que, se somarmos o número crescente de evangélicos com o número que vai se reduzindo de católicos, a proporção da população brasileira que é nomeadamente cristã não deve ter mudado muito. Mas eu me lembro de quando era garoto, Papai tinha uma bela oficina em casa onde eu me divertia e aprendia. E na Sexta Feira Santa ele me dizia que eu não podia serrar, nem martelar, nem pregar pregos, em lembrança do Cristo sendo pregado na cruz. E nesse dia não se tocava música alta, era um dia de um certo recolhimento. E não éramos só nós.
Ontem, assistindo a um jogo de vôlei, campeonato nacional, com a Ana, fomos surpreendidos pelo locutor falando dos jogos de... hoje. Outra coisa que não acontecia.
Veja, não estou criticando essas pessoas. Acredita quem quer. Mas faz pensar, essa mudança de enfoque. O que significa hoje ser cristão para essas pessoas? E, também, a existência do feriado religioso perde a sua razão de ser...
Se formos olhar de perto, o Natal também virou uma data para exploração comercial. O comércio funciona nesse dia para atender às pessoas que ainda não compraram todos os presentes que a propaganda pode lhes empurrar. Os comerciários que deveriam estar descansando estão lá trabalhando para isso. Os comerciantes ficam felizes com o aumento do faturamento. O Estado fica feliz com o aumento da arrecadação. E quase ninguém se lembra daquela noite de inverno, vinte séculos atrás, em que um casal pobre tremia de frio e se aquecia ao calor dos animais de um estábulo para receber a criança que nascia para mudar o mundo.
Que eu, apesar de tudo, ainda espero que mude...
Oi Mano,
ResponderExcluirEstou muito triste
É sexta feira da dor
Da solidão, do abandono
Da paixão.
Meus mortos queridos
Me esvaziam de saudade.
E eu morro um pouco a cada
Pedaço do dia.
Wilson,
ResponderExcluirMais um artigo da série sobre o Oriente Médio muito importante, que acrescenta sobre os PPS que tenho informações relevantes quanto à "terra santa".
Reitero, portanto, os elogios anteriores a respeito dessas postagens, que devem ser enaltecidas pelas informações e detalhes oferecidos, que deixam a par quem as lê sobre uma área onde os maiores acontecimentos históricos estão registrados, que me permito citar dois deles simplesmente incomparáveis:
O nascimento de Jesus Cristo e Maomé!
Curiosamente, uma região que desconhece a paz, que deveria ser a intenção primordial entre os primos-irmãos árabes e judeus. No entanto, interesses das grandes potências, leia-se Estados Unidos e Rússia, depois da Segunda Guerra e, antes, Inglaterra e França, esta área sempre esteve envolvida em conflitos, que se agravaram com o surgimento do Islamismo e suas correntes radicais, assim como do lado israelense por parte dos ortodoxos.
Jerusalém resume esta luta fratricida há milênios, certamente como a cidade mais importante do mundo em todos os tempos, pelo significado tanto religioso quanto significativo às três religiões monoteístas, seguida por Bagdá e Damasco.
Parabéns, de novo, Mano, pelo primor de registro.
Um forte abraço.
Saúde e paz.
Chicão, infelizmente de tribos primas-irmãs inimigas o mundo ainda está cheio...
ExcluirE, tantas vezes, separadas pelas crenças religiosas. Rússia e Chechênia, Sérvia e Croácia, Índia e Paquistão, para não falar dos séculos de guerras européias e dos conflitos internos do Islã entre sunitas e xiitas.
E quando os interesses econômicos dos outros países mais fortes entram no jogo, e sempre entram, aí acabamos vendo esses primos irmãos se matando para sua desgraça e benefício dos outros.
Haverá solução?
Wilson, meu caro,
ExcluirAgora são 4;02 h da manhã. As dores não me deixam dormir, então vim para o micro. E leio a tua pergunta, que respondo:
Não, não temos mais solução!
Escrevi anteriormente que a Humanidade tem um Deus ou deuses que cultiva externamente, indo aos cultos, às missas, às sinagogas, às mesquitas, que serve para que as demais pessoas vejam que ela professa uma religião;
Internamente, o que move esta mesma Humanidade é o dinheiro, o poder de aquisição, de conforto, de uma suposta tranquilidade na vida.
As religiões são as primeiras a exigir dinheiro, o tal do dízimo, depois as ofertas "espontâneas", mais adiante os desafios com relação à fé, sempre havendo o deus dinheiro como causa de nossos comportamentos e atitudes.
A Igreja Católica Apostólica Romana chegou a se transformar em País, o Vaticano!
E a fortuna desta organização?
Incalculável em patrimônio, obras sacras, a biblioteca, os quadros, as esculturas ... incalculável.
E o que poderiam valer as igrejas católicas em São Paulo, por exemplo?
A Catedral da Sé?!
Ma, a Igreja Católica foi muito mais adiante em ter nas mãos os seus fiéis, em mantê-los ao seu lado:
Criou a confissão, e submeteu seus seguidores través de suas mentes, que valiam mais do que dinheiro, em princípio, mas também era através do remorso e do perdão que os padres concediam, outra forma poderosa de doações ao catolicismo!
As neopentecostais querem o mesmo e com muito mais agressividade, a ponto de certos pedidos serem estelionato clássico, abuso da crendice alheia!
Não preciso falar da política, e no que significa hoje, não há necessidade.
E quanto ao rompimento do casamento por um casal?
A discussão pelo patrimônio, pelo dinheiro, carro, jóias, terrenos, ações, poupança ... Aqueles que dividiam até mesmo a mesma cama, se tornam inimigos!
E a luta pela herança do pai, do avô, do tio ... irmãos se tornando inimigos, parentes se odiando ...
E a competitividade entre as pessoas na sociedade, umas querendo ser melhores do que as outras?
O dinheiro é a razão da pessoa viver, lamentavelmente.
Não que "o vil metal" não seja importante, claro que é, indiscutivelmente, mas não pode moldar caráter e personalidade, submeter o ser humano e torná-lo escravo para ter dinheiro, mais dinheiro, sempre em busca do dinheiro, e para quê?!
Anos depois o afortunado morre, e deixará seus familiares se pegando no pau para dividirem a fortuna!
Também não preciso comentar a influência dos países mais poderosos exatamente pelo poder que possuem, em face do dinheiro, das riquezas que ostentam.
Enfim, certamente a grande invenção atual, e que colocaria os transplantes de órgãos, a nanotecnologia, a ciência, como coadjuvantes, seria uma nova forma de relacionamento pessoal e internacional sem mais dinheiro!
Não o dinheiro de plástico, sinônimo de sofrimento para milhões de pessoas mundo afora, não, me refiro à abolição do papel, do metal, da pedra preciosa, como valores e poder, portanto, uma nova maneira de se viver.
Como, não existiria essa magia?
Bom, então estou com a razão, pois se volta e meia um crente em Deus se acha ateu ou ao contrário, mas, quanto ao dinheiro esta mudança é impossível, indiscutivelmente o deus da Humanidade neste momento é o dinheiro!
Quem tem é "abençoado", como divulgam as igrejas com base na prosperidade; quem não tem, também é abençoado porque é pobre, conforme reza a Teologia da Libertação, concedendo aos seus seguidores a permissão de não ser necessário a observação de leis e de comportamentos exclusivos para quem tem dinheiro, afora garantir que esta gente sem recursos, que padece, que sofre, independente de seus pecados, pois pobre também erra e peca, ao morrer terá o céu como recompensa!
Mas, de novo, o dinheiro servindo como fiel da balança, menos a caridade, a solidariedade, o perdão ... tais condições e qualidades não contam!
Um forte abraço, Mano.
Saúde e paz.
Wilson,
ResponderExcluirBelo texto e fotos com destaque para a do Jardim de Getsêmani e nele as oliveiras mais antigas de Israel , com aqueles troncos nodosos , para mim são o melhor do passeio. Elas já seriam fora de série ainda se não fossem descedentes daquelas em cuja sombra Jesus Cristo se abrigou antes de mudar a história de mundo. Quanto à Páscoa com certeza ela não é mais como antigamente a vivenciávamos nas casas das nossas infâncias. Nas metrópoles virou sim mais um feriadão, aquele do coelho e da troca dos ovos de chocolates. Mas em muitos lugares a fé e o respeito às tradições perduram como em tantas cidades e aldeias cobertas por tapetes de flores na t'rrinha, em certas cidades de Minas e do Nordeste onde ainda desfilam as procissões, os Judas são malhados, à mesa o peixe é contornado pelo arroz e o feijão "de coco" e há 50 anos o belo espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém atrai multidões.
Abração
Moacir,
ResponderExcluirAs velhas oliveiras têm uma presença fortíssima, porque nos outros lugares em Jerusalém onde a tradição fala da presença de Jesus, com exceção das bacias dos banhos de Beth-saida, a gente sabe que o chão que eles pisavam naquela época está muitos palmos abaixo desse onde estamos pisando.
Só longe de lá, no Mar da Galiléia, eu conseguia ter a mesma sensação imaginando aqueles pescadores que iriam se tornar pescadores de homens lançando suas redes dos seus barcos nas mesmas águas azuis que estávamos vendo.