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29/04/2017

O Cemitério é Nosso!

Cemitério São Francisco Xavier - Caju (foto Halley Francisco de Oliveira - Wikimedia Commons)



Antonio Rocha
O artigo do Moacir Pimentel que falava de cemitérios em Paris, me fez lembrar da experiência mística que um amigo teve, na década de 1990.
Ele já é falecido, não vou revelar o seu nome. Era engenheiro importante, tipo chefe de setor de um órgão público do Estado do Rio de Janeiro. Pertencia a uma família tradicional da Zona Sul carioca.
Belo dia ele se converteu a uma linhagem filosófica do Hinduísmo. Peço licença para não citar o nome da denominação, pois a cerimônia que vou relatar era uma iniciação religiosa.
Apenas esclareço que é Hinduísmo e não Budismo. Essa corrente nasceu na Índia, mas está espalhada em várias países.
Numa das iniciações eles dançam com um crânio e um punhal, claro uma imitação de crânio humano, que se compra nas lojas de Umbanda.
Talvez por isso, já nos anos 1950, o Espírito Ramatis em um de seus livros informava que apesar da Umbanda ter nascido em Niterói, suas raízes estão na Índia e ele, Ramatis, escreve Aumbanda, referindo-se a um sagrado mantra hindu escrito AUM, que muitos dizem equivale ao som OM que é Deus.
Curiosamente em grego ON significa “SER”... Um professor antigo, na Faculdade, me dizia que este On grego podemos interpretar como Deus, o Criador. Diga-se de passagem que este professor era um franciscano leigo.
Talvez por isso, o fator Ramatis, e é bem provável que o compositor baiano tenha lido a obra psicografada, Gil fez uma música, que deu nome a um antigo LP “Um Banda Um”. No link acima o leitor pode ouvir a música e acompanhar a letra.
Mas voltemos ao título da matéria. Aconteceu o seguinte:
Bela noite o meu referido amigo iniciado na tal Ordem Hindu, juntamente com outras pessoas ia receber importante iniciação esotérica. Consistia em fazerem os ritos, à meia noite em um Cemitério.
Para não chamar muito a atenção, escolheram um cemitério em um bairro de subúrbio. E lá foi o tal grupo. Naquela época não tinham muitos carros e foi fácil estacionarem nos fundos do “Campo santo”, bem antigamente se chamava assim, ou então necrópole.
Como o portão estava fechado pularam o muro dos fundos, graças a uma pequena escada que haviam trazido. Homens e mulheres vestidos de branco e o sacerdote responsável, com um turbante na cabeça na cor branca.
Curiosamente avistaram, não muito longe de onde estavam, um outro grupo também pulando o muro do cemitério. Perceberam logo pelas roupas, era o pessoal da Umbanda.
Democraticamente cumprimentaram-se e combinaram harmoniosamente que a metade do cemitério era para um grupo, e a outra metade era para outro. O vigia do cemitério apareceu, mas vendo que se tratava de religiosos, voltou para o seu sono com as almas do outro mundo.
Só posso falar do grupo hindu do nosso amigo engenheiro. Os umbandistas segundo ele, se distanciaram e ninguém ficou patrulhando a religião do outro, um bonito gesto de tolerância.
Então, à meia noite, começou a cerimônia com cânticos e danças orientais. Afirmam que esta coreografia esotérica com os crânios e um punhal ajuda a despertar a Kundalini, uma energia interior que desenvolve poderes psíquicos, paranormais e afins.
Imagino que os vizinhos dos cemitérios já devem estar acostumados com cerimônias, cânticos e tambores após a meia noite. Um encontro fraterno entre as almas de vários mundos...


6 comentários:

  1. 1) Belíssima foto Mano, vc estava inspirado qdo a escolheu, pois ...

    2)Certa feita um amigo com pós-doutorado no Canadá, nos convidou, eu e Heloisa, para passearmos em um sábado, justamente no cemitério que a foto mostra.

    3)O amigo, hoje aposentado, fazia pesquisa na área de História do Brasil, Literatura e as lápides dos túmulos ...os textos, as citações bíblicas, os pensamentos de última hora ... literalmente ...

    4)Foi uma experiência cultural/educativa naquele campo santo.

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  2. Pois é, Antonio, um dos cemitérios daqui de Belo Horizonte, o do Bonfim, é do tipo deste do Caju. Desde bem pequeno me acostumei a ir lá, porque meu avô paterno estava enterrado lá, e sempre o visitávamos, e gostava de andar por ali vendo as esculturas, muitas delas muito bonitas, e descobrindo nas lápides os nomes das famílias conhecidas da minha cidade. Talvez por isso nunca tenha encarado um cemitério como um lugar de tristeza, mas como um lugar de repouso. Hoje estão lá com ele minha avó, minha tia avó, minha mãe e meu pai...

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    1. 1)É isso aí Wilson: repouso, descanso, jardins, árvores...

      2)Claro, qdo vou a uma cerimônia fúnebre também choro, contagiado pelos outros que choram, mas chorar é bom, lubrifica o aparelho lacrimal.

      3) No mais, gratidão pelo belo blog e a oportunidade de compartilhar histórias com vcs.

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  3. Moacir Pimentel29/04/2017, 18:42

    Antônio,
    Eu gostei de saber que você e a Heloísa , como nós, gostam de visitar os cemitérios das cidades por onde passam pela paz que nos transmitem e a beleza dos túmulos. Ao escrever o post sobre os cemitérios de Montmartre tive receio de ser mal interpretado porque para muitos a velha senhora e os campos santos são tabus, algo pouco natural que não deve ser discutido na sala, como se as pessoas fossem apenas vagamente conscientes de sua própria mortalidade embora o homem de Neandertal já enterrasse seus mortos e - dizem! - com flores. A maneira oriental de lidar com a morte talvez seja mais saudável do que essa nossa negação completa, tirando a morte das conversas, por exemplo, na frente das crianças, fazendo com que não aprendam a lidar com a finitude. Ao evitar a ansiedade existencial oriunda da consciência de que somos seres mortais em corpos finitos, ao não receber nem fornecer nenhuma educação, nenhuma ferramenta para o enfrentamento do processo de morrer talvez nos façamos um grande mal: incentivar essa crença hiper materialista que jura de pés juntos que a "alma" não existe , que o corpo físico é tudo o que há e, sendo assim, que a morte biológica é o fim de tudo. Como se a consciência, a própria essência da experiência humana, fosse apenas uma coincidência, uma mera curiosidade.
    Seja como for, e na minha humilde opinião, os que sabem que pode não haver amanhã, aprendem a não dar valor a bobagem e a viver mais e melhor.
    E viva a banda um, aum, om "que evoca um bailado de todo planeta"
    Bom final de semana

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  4. 1)Agradeço o seu apoio Pimentel, o tema de hoje foi um tanto quanto... deixa pra lá ...

    2)Mas eu concordo com o que vc disse: esse povo hiper materialista...talvez belo dia acorde para o mistério da morte...para viverem melhor !!

    3)Gostei de saber do NeanderTAO. Li alhures... qdo o homo sapiens chegou aqui vindo de outro planeta viu que as mulheres neandertais eram muito atraentes, então trataram de matar os homens Neandertais, que eram pacíficos... Não há registros de mulheres sapiens que casaram com os homens Neandertais...

    4)Mais adiante saberemos a História verdadeira.

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  5. Olá Antônio,
    Tão atrasada que acho que nem vai me ver! E gostaria de sua opinião.
    Quando li seu post a primeira coisa que me veio à mente é que se fossem católicos não teriam sido tão tolerantes.. O catolicismo, religião em que fui criada e onde fui muito carola, talvez por ser mais numerosa é a mais prepotente. É a que queimou, perseguiu, torturou, conquistou e sei lá com que forças. Tudo em nome de Deus!
    O que você acha?
    Agora sim, sua história é ótima, divertida!. Esse negócio de pular muro de cemitério é um clássico das nossas cidades.
    Bom e divertido domingo e feriado para você e a Heloisa! Por onde andam seus belos pássaros?
    Até mais.

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