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15/04/2017

Nas ondas da RTP

fotografia Howard Liberman


Antonio Rocha
Em 1980, começando a década, eu estava em Lisboa com Heloisa. Eu estudava na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa e Heloisa, como já falei aqui, era “bolseira” da Fundação Calouste Gulbenkian.
Belo dia, uma professora, pesquisadora do Centro de Estudos de Literatura Brasileira veio me falar:
- Antonio, o pessoal da RTP – Radio e Televisão Portuguesa me procurou. Eles estão precisando de dois falantes brasileiros para uma dramatização. E eu indiquei você e a Heloisa.
- Mas a única coisa que eu entendo de rádio era quando criança, eu ia com minha mãe, lá nos antigos estúdios da Rádio Mundial (ficava na Avenida Venezuela, perto da Praça Mauá), no “Programa Alziro Zarur” da LBV – Legião da Boa Vontade. Ela era Legionária e foi até morrer... uma espécie de Espiritismo via emissoras de rádio.
- Fique tranqüilo, eles vão dar treinamento...
Vejam a diferença de culturas... tinha acabado de ser lançado em Portugal o livro de Jorge Amado “Farda, Fardão, Camisola de Dormir”. E estava um sucesso de público, vendas e crítica.
Então a RTP resolveu fazer um programa especial com diálogos extraídos do romance. No dia combinado lá fomos nós, na porta encontramos com a professora que era brasileira, mas por morar lá há muitos anos, já adquirira o tal sotaque português.
Foi uma experiência maravilhosa. Quem diria o casalinho brasileiro dramatizando Jorge Amado nas ondas da querida RTP.
Anos depois, já no Rio, fiz um curso de locução com o Bokão, nos estúdios da antiga TV Tupi, na Urca. Bokão era locutor da Rede Globo, muito conceituado. Nessa época nós treinávamos umas vinte vezes: “Rede Globo, Rio, assista agora RJ TV e logo depois, Jornal Nacional”. Nós ensaiávamos e a esposa do Bokão dizia quando estava bom ou se precisava repetir mais umas vinte vezes.
Não sei o nome do Bokão, todo mundo só chamava ele assim. Um vozeirão que impressionava. Tempos depois, li no jornal que ele tinha falecido. Era gente boa.
Esse curso com o Bokão me ajudou muito quando nas ondas da Rádio Rio de Janeiro, eu tinha um quadro matinal diário sobre Gramática, Literatura, Livros e Afins.
A característica dessa emissora é que se trata de uma empresa 100% Espírita. Mas a minha participação sendo educativa, tudo bem...
Uma vez a chefe de redação me disse:
- Antonio, o seu horário está em quarto lugar no Rio de Janeiro, disse a pesquisa do Ibope.
Pulamos de alegria. Primeiro as poderosas Rádio Globo, Segundo Rádio Tupi, de outro grupo e em terceiro a CBN, do sistema Globo; e em quarto lugar o programa “Manhã na Rio”, onde eu estava. Claro, tinha toda uma equipe dedicada que merecia os louros. Eu era apenas um simples parafuso nessa engrenagem.
Bons tempos de aprendizagem. Então, já em plena redemocratização estava eu lá nos estúdios da Rádio Roquete Pinto, do Governo do Estado do RJ. E nesse dia a Roquete estava coligada com a Rádio de Moscou para falar de Cultura Brasileira, um professor amigo que falava russo fluentemente conduzia os contatos. Mas de lá, o pessoal falava português.
Quando terminou o programa fomos almoçar ali pelo Castelo no Centro do Rio e ele que tinha morado e estudado muitos anos em Moscou, tive a curiosidade e perguntei:
- Professor, lá tem mulher bonita?
- Ô rapaz, tem mulher bonita em todo canto!



7 comentários:

  1. Moacir Pimentel15/04/2017, 19:06

    Antônio,
    Do "casalinho" representando radiofônicamente Farda, Fardão, Camisola de Dormir na RTP, passando pelo curso de locução com o Bokão na Tupi até as Manhãs de literatura na Rádio Rio e o seu quarto lugar no Ipobe, eis uma ótima história. Parabéns. Quanto à opinião do professor especialista na Mãe Rússia sobre as de Vênus, assino embaixo.
    Conte-nos mais!
    Abração

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    Respostas
    1. 1)Oi Moacir,eu lembrei que no rigoroso inverno russo as mulheres (e os homens) tb são obrigados a usarem muitas roupas.

      2)Com muitas roupas ou poucas no Verão as de Vênus são maravilhosas, em qualquer planeta !

      3)Abração vizinho !

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  2. Olá Antônio,
    De pregação na "zona", sem esquecer as garrafas derrubadas no evento da macumba, até a representação na rádio, você teve uma vida nada monótona. Mas de tanta coisa em Moscou perguntar se lá tem mulher bonita?...
    Pode contar mais, deve ter! Pelo jeito, será sempre uma surpresa!
    Até mais.

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  3. 1)Pois é Ana, nessa vida eu já fiz bastantes coisas, diversificadas. E continuo aprendiz.

    2)Uma vez um psicólogo me disse que eu tinha muita sorte. Concordei com ele.

    3) Louvado seja Deus por isso.

    4)Sempre grato a vc e ao Mano.

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  4. Francisco Bendl16/04/2017, 06:04

    Rocha,

    Quanta experiência acumulada e salve as histórias que tens para nos contar!

    Duas funções na vida não as exerci, apesar de ter certeza que eu iria desempenhá-las muito bem:
    Vendedor de automóveis, em razão dos meus conhecimentos sobre veículos, e locutor, em face da minha voz que seguidamente é elogiada pelo timbre.

    Nunca procurei trabalho nessas áreas, não houve circunstâncias que me impelissem eu me aproximar delas e exercê-las a contento.

    Portanto, parabéns pela locução em Portugal e curso feito no Brasil para trabalhares em rádio, afora meus elogios também aos cursos que fizeste em Lisboa sobre Letras.

    Um grande abraço.
    Saúde e paz.

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    1. Ah, Francisco Bendl Voz de Trovão!
      Ainda está em tempo!

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    2. Francisco Bendl16/04/2017, 18:37

      Querida Aninha,

      A tua bondade excede os parâmetros considerados "normais".

      Wilson foi abençoado quando casou contigo, e encontrou numa companheira do teu quilate.

      Na verdade, ambos fomos agraciados divinamente pelas esposas que temos!

      A minha idade já passou, e na minha cidade impera na única rádio existente, o jovem, naturalmente.

      Imagina, a gurizada toca Anita e eu quero ouvir Frank Pourcel ou Ray Conniff ou Leny Eversong ou Ângela Maria!

      O locutor fala o idioma do jovem - tá ligado? -, eu rebusco expressões tipo, "pouco se me dá se a azêmola claudique, quero acicatar"!

      Não dá, Aninha, e com esta voz forte, de homem velho, vou espantar os ouvintes, certamente.

      Outro abraço.
      Saúde e paz!

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