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Antonio Rocha
O
diálogo com a Ofélia, neste ótimo blog, outro dia, me inspirou a seguinte
crônica. Pode parecer que sou irresponsável com a Fofa Asma, mas foi a forma
que encontrei para conviver com ela. Uso 24 horas no bolso a tal bombinha
Berotec e mais os comprimidos de Aminofilina. No hospital também tomei cortisona. Desculpe a
irreverência no trato com a minha ex-enfermidade, hoje amicíssima. Mas é um
treinamento (tratamento) espiritual.
Alguns
momentos pensei que ia morrer. Assim que casei, minha jovem esposa, sem saber
como proceder ficava preocupadíssima e eu dizia, “Relaxa que ela passa. É carma
negativo meu.”
Quando
jovem, criado no kardecismo, conversei à noite, em oração, com os Espíritos e
pedi que eles me levassem durante o sono, eu não queria mais viver, tamanho o
sofrimento. Suicidar eu não ia, pois isso é um terrível mal para um espírita,
mas não estava descartada a morte pelo sono. Assim tipo apnéia fatal. Deitei já
na pose de cadáver, com as mãos sobre o coração, para não dar trabalho ao
pessoal do resgate no dia seguinte e... dormi profundamente, um sono
maravilhoso. Acordei pela manhã e exclamei para mim mesmo: “Ih! Não morri”.
Então vi que eu tinha muito o que fazer nesta vida, e estou fazendo até hoje.
Perdão
leitor (a) se acha o assunto tétrico, mas no fundo é uma vivência espiritual de
desapego.
No
último dia 19 de setembro completei sessenta e quatro “continuações”. Aprendi
com um monge budista do Vietnã que lá, continuação é sinônimo de comemorar o aniversário.
Como eles acreditam em reencarnação, e eu também, a vida é infinita, passamos
por vários planos da existência e assim, estamos sempre em continuação...
Pois
é, se fiz recentemente sessenta e quatro anos, então a querida Asma surgiu aos quatro
anos de idade, em Recife, onde nasci, lá se vão seis décadas de convivência.
Meus pais diziam que a herdei de um gato, pois nos primeiros anos brincava
muito com o felino e é provável que o pelo do mesmo tenha agravado a minha
alergia.
Ao
longo das seis décadas cultivo momentos divertidos, delicados, ditosos, gravíssimos,
mas que se fazem presente na memória ao correr da crônica.
Certa
feita, arrumando cartas antigas, papelada pessoal de minha mãe que acabara de
falecer encontrei o rascunho de uma carta que ela escrevera ao médium Chico
Xavier falando das minhas noites em claro, das prolongadas e dolorosas crises
etc. Parece que no meu caso, a solução era (e é) orar, fazer preces mais e
mais. Certamente uma doença cármica, débito de outras vidas. Minha avó paterna tinha
asma, meu pai ultra saudável, eu asmático...
Tentei
tudo quanto era tipo de tratamento: alopáticos, homeopáticos, naturalistas, crendices
populares etc. Então, cansei... budisticamente resolvi aceitá-la. A asma é
minha companheira de caminhada nesta vida.
Na época
do regime militar eu e um amigo, também asmático, estávamos uma tarde andando
na calçada, de repente aparece uma patrulhinha e ao nos revistarem tomaram um
susto com as bombinhas de asma, que nessa época não era tão comuns. Explicamos
e nos liberaram.
No
Aeroporto, duas vezes, esqueci a referida bombinha no bolso e o sinal de aviso
metálico alertou...
Mas,
digna de nota foi uma vez, na adolescência. Eu morava na minha querida cidade
satélite do Gama, DF. Não lembro o período do ano, só sei que uma crise braba
chegou e ficou vários dias, tipo duas semanas. Tomei todos os remédios
recomendados pelos médicos e nada de diminuir a tal falta de ar. Por três dias
seguidos tomei injeções na farmácia, que era o último recurso e a Asminha não
ia embora.
Então,
meu pai chegou em casa à noite, já na segunda semana e não teve dúvida, vamos
para o Hospital que o assunto é grave. Lá fui medicado na Emergência e me deram
alguma coisa para dormir. O médico informou ao meu pai que eu iria passar a
noite internado, se a crise passasse, na manhã seguinte seria liberado.
O Gama
era uma cidade pacata, silenciosa, ordeira e o seu então primeiro Hospital do
Governo era bom e praticamente vazio, à noite, só eventuais emergências, isso
em 1967.
Acho
que eu estava em uma pequena enfermaria, quando acordei à noite o local à meia
luz, vi três camas vazias e só eu... nisso aparece (verdadeira aparição!) a
enfermeira ou auxiliar de enfermagem, uma linda morena, diz que estava
começando o seu plantão e ia cuidar deste que vos escreve durante a noite...
A
beleza da balzaquiana, imaginei, curava qualquer crise. Durante a semana que
passara eu tinha acabado de ler “A Mulher de Trinta Anos”, do francês Honoré de
Balzac (1799-1850), e estava com as imaginações a mil... eu estudava no antigo primeiro
ano científico e o citado livro era o trabalho escolar.
A
mulher disse que eu teria que ficar à noite toda no soro, mas como ela não
estava encontrando o apoio para o equipamento, eu iria apoiar o braço na coxa
dela (que estava de saia ou vestido, não lembro).
Até
hoje, não sei se foi de propósito ou não... o que posso lhes garantir é que na
manhã seguinte, a crise tinha ido embora totalmente. Digamos, um tratamento bastante
original, heterodoxo...
A morena
“leu” meu pensamento e exclamou:
- Não misture as estações, aqui é meu
trabalho.
Ficamos
amigos! O Gama era e ainda é uma bela cidade pequena.
Parabéns, Antônio, pela deliciosa crônica, pelo aniversário, por tantas "continuações" e pelo seu jeito de encarar a "viagem" e a sua amiga Dona Asma.
ResponderExcluirNão tive ainda o prazer de a conhecer pessoalmente, mas digamos que convivi muito tempo com uma pessoinha que vivia habil(tua)mente asmática. Véspera de prova de matemática então, a crise era mesmo brava(rsrs)
Para você saúde, amor, paz e inspiração para nos escrever sempre
Abração
Parabéns pelo dia de hoje, Antonio! Fiz 70 (setenta!) anos ontem e meu filho aniversariou dia 16, o que significa que passei no hospital aquele meu aniversário em que ele acabara de nascer. Uma muito boa causa.
ResponderExcluirA asma é uma coisa esquisita. É de fases. Melhores ou piores. Às vezes ela vem mansa parecendo que vai embora e fica, aflige muito. E outras vezes se vai mais depressa. Nunca entendi. Não entendo.
Agora, hoje em dia, acho que tenho (acho não, tenho, a tomografia disse) alguma coisa a mais que asma, causada por ela, pela asma. Atelectasia em certa área do pulmão, o que significa que essa área não infla normalmente como as demais. Mas vamos em frente que atrás vem gente. Não adianta falar, reclamar, nada adianta.
Adorei sua história de asmático, Antonio. A coxuda direcionou seu pensamento pra outra coisa. E a asma foi vencida. Ainda não descobri esse laço frágil que às vezes torna as crises mais demoradas e aflitivas.
Certa feita, estive dias seguidos indo ao hospital, tomando cortisona na veia todos esses dias, mais a nebulização com oxigênio. Custou a se despedir, como custou! Estou convencida de que a asma tem um componente emocional, psicológico forte, que a torna pior ou menos pior.
E vamos levando, Antonio. Vamos levando.
Você deve ter reparado, Antonio, que eu poderia me estender muito. O que me impede? Não gosto de escrever sobre asma. Tanto é assim que pensei em registrar na escrita as minhas experiências, tenho muitas histórias pra contar. A aflição veio com cada tentativa de escrever uma página. E abandonei completamente a ideia. Acho que para sempre. Simplesmente não consigo fazer isso. Eu fujo.
Mesmo aqui você percebe que me atrapalho, há um vai-e-vem (não é vaivém) na minha narrativa. Essas lembranças não me fazem bem, descobri faz tempo.
Abraço, Antonio. Aproveite o dia!
Ofelia
PS: Tive um pneumo, Dr. Vidal (que Deus o tenha!), que me animava muito a cada vez que eu ia ao consultório. Ele dizia: "A asma maltrata mas não mata". Coisa de médico que entendia bem o psiquismo dos pacientes.
A 'mardita' mata sim. No passado, minha amiga, médica, viu um paciente morrer e nada conseguiu fazer.
'bora mudar de assunto?
Ih, já acabou.
Ofélia,
ExcluirMuuuuuita saúde, amor e paz e um abraço DESTE TAMANHO pelo seu aniversário.
Parabéns!
Obrigada, Moacir.
ExcluirAbri os braços como o Cristo Redentor para 'pegar' seu abraço.
Deus te abençoe.
Ofelia
Olá Antônio. Parabéns pelo aniversário ! Que Deus abençe-o por todo o sempre, dando-lhe Paz, Saúde e Ttanquilidade. Tenha um dia maravilhoso junto aos seus. Abraços, Dulce
ResponderExcluirOfélia. Meus votos de felicidade e de muita Saúde e Paz pela passagem do seu aniversário. Sejamos sempre agradecidos pelo " Dom da vida " e procuremos sempre estar com pensamentos positivos em relação a nossa caminhanda aqui nesse planeta. Você está com uma bela idade, sorria sempre, curta coisas agradáveis e boas , aninhem-se junto aqueles que amam-lhe. O resto ? É o resto...não preocupe-nos com ele. Abraços, Dulce
ResponderExcluirObrigada, Dulce, pelos votos de felicidade, muita Saúde e Paz pela passagem do meu aniversário. Deus retribua pra você, em meu nome, esses mesmos votos.
ExcluirAbraço
Ofelia
Meu caro Rocha,
ResponderExcluirO meu filho mais velho, o que é médico, teve asma quando pequeno.
Chegou a estar várias vezes em estado de mal asmático, e invariavelmente baixava hospital aos fins de semanas para nebulização ou tenda de oxigênio!
Perdi a conta das quantidade de vezes que o levei a pronto-socorros, hospitais, no meu carro, em ambulância, até mesmo em carros de polícia!
Certa feita, ele baixou na sexta-feira, e quando deu alta na segunda, durante o trajeto do hospital à minha casa, desenvolveu outro ataque brutal, a ponto que pensei que iria perdê-lo.
Imediatamente eu o levei para outro hospital, de modo a ser atendido por um médico que inovava o tratamento da asma, usando, na década de setenta, corticóide!
Os pacientes que o esperavam foram compreensivos, me deixaram passar na frente pelo estado do guri, e o DR. Sérgio Student o examinou.
Deixou-o pelado em cima de uma maca, olhando dedos dos pés e mãos, o corpo inteiro, e perguntou o que ele mais gostava.
Respondeu com dificuldade que era jogar basquete.
O médico com um sorriso no rosto, discreto, mas alegre, disse-lhe que à tarde ele estaria praticando o seu esporte favorito!
Eu olhei para o André, o meu filho para mim como que duvidando do que o médico lhe dissera ... às 15;30 levei o meu filho para o treino de basquete!
O André ainda teve um ou dois ataques em dois anos, e a asma desapareceu aos doze anos!
Curioso foram seus dois irmãos menores, o Alexandre e Maurício, que percebendo a atenção que eu e a esposa dedicávamos ao mais velho, "desenvolveram" a asma, e não foram poucas as vezes que também baixavam hospital para nebulização e permanência por dois ou três dias até saírem da crise.
Na verdade foram dez anos da minha vida e da minha mulher que nos dedicamos integralmente a cuidar dos três, e foi um bom dinheiro gasto em remédios, médicos, hospitais, postos de saúde, pronto-socorros particulares, mas estão curados, adultos, saudáveis, e somente uma da netas contraiu a doença, mas de forma branda, nada que uma "bombinha" não a tire do ataque instantaneamente.
Minha solidariedade, Rocha, mas nas incontáveis vezes que eu os levei para nebulização, e por serem ainda crianças, não fui testemunha ou protagonista de um episódio que se parecesse com o teu, naturalmente, porém me tornei um especialista nesta área!
Um forte abraço, Antônio.
Saúde e Paz!
1) Obrigado a todos (as). Gratidão imensa.
ResponderExcluir2) É bom demais escrever neste blog. E ler os ótimos comentários.
3) Tudo de bom !
Parabéns aos aniversariantes, Ofélia e Antônio. Copiando Francisco Bendl, saúde e paz.! Tendo isso, o resto se arranja. Deliciosa a leitura do seu texto, Antônio. Como o outro, que comentei atrasada. Tomara que este esteja em tempo. Quanto a Dona Asma, senhorinha desagradável, por aqui também tivemos nossos encontros. Continuem escrevendo! Até mais.
ResponderExcluirObrigada, Ana. Como sempre repetiu o Bial, tendo Saúde e Paz, o resto a gente corre atrás.
ResponderExcluirAbraço
Ofelia
Ofélia, minha querida,
ResponderExcluirParabéns pelo aniversário!
Não me recrimines porque te parabenizo dois dias após a data, mas eu estava atendendo meus netos que vieram me visitar neste feriadão gaúcho, pois hoje é a data máxima do RS, feriado estadual, portanto, pois comemoramos a Revolução Farroupilha!
Tive pouco tempo para escrever, e foi hoje que dei de olhos neste artigo e constatei o teu aniversário, exatamente 4 dias após o meu, 14 de setembro!
Ofélia, toda a felicidade deste e do outro mundo prá ti, minha amiga.
Um abraço forte, caloroso, do meu tamanho!
Muita saúde e Paz!