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22/09/2016

Conversas da Ana (só por um dia)



Ana Maria Nunes Baptista. Ana de uma avó, Maria de outra. Casada com o Mano desde 1971, então com quase vinte e dois anos. Queridos filhos gêmeos, um parece com o pai e o outro com a mãe. Dois encantadores netinhos, paixão da minha vida.
Sou artista plástica, trabalho aquarela, nanquim, acrílica, mosaico, coração de pano, aventura de EVA, bolo, sem escrúpulos. Fiz terapia trabalhando arte numa clínica psiquiátrica com os pacientes, e depois em comunidades da periferia, com crianças e mulheres. Aprendi mais do que ensinei. Sou grata por isso.

Ana Nunes

Não quero ser blogueira. Minhas idéias já as tenho. Quero mais as de vocês. Mas, abusadamente, o Moacir me colocou (uma pobre velhinha em formação) um desafio: só mostra seu trabalho se eu primeiro mostrar o meu. Esperneei, esperneei, mas venceu a curiosidade. Coisa de mulher!
E aqui estou, me virando do avesso. Poveretta di me!

Fui aluna temporã das artes. Primeiro quis ganhar dinheiro e fiz Pedagogia!! Estou pobre até hoje.
Na Belas Artes, no atelier de gravura, tive vontade de fazer uns desenhos eróticos. Adoro as maravilhas de Picasso, Schiele, Hockney e muitos outros. Mas eu era a única coroa da turma, e o professor um talentoso e safado gravurista. E durante todo o fazer fui ficando silenciosamente irada com ele, com o que ele poderia dizer. Uma ira tão crescente que no dia da apresentação do trabalho virei bicho, fui de cara jogando as pedras dizendo que não queria brincadeira alguma. Funcionou!

Amo gravura, metal, xilo, lito, serigrafia. O trabalho intimista e demorado, o preto e o branco, Goya, Picasso, Goeldi, Samico, Grilo, Aldemir Martins, Lívio Abramo, Segall, todos. Banheira de água para molhar o papel, aguarrás, lixa para polir o metal, mesa de vidro, o rolo de entintar, a talagarça de limpar, e as unhas cheias de tinta.

Foram vinte e quatro mini-gravuras em placas de cobre de 5 x 5 centímetros que fiquei polindo, polindo para depois rasgar com a ponta seca, entintar, e limpar, limpar, e depois imprimir.  Para ver o primeiro resultado, a P.A., Prova de Artista. E sem experimentar muito, porque a ponta seca, ao contrário da gravação com ácido, amassa um pouco a cada impressão. E desgasta o sulco que segura a tinta.
Trabalho deliciosamente insano, que só entende quem gosta.







Ficaram com o nome de Eróticas. Não fui eu que coloquei, foram elas que se colocaram a mim.

E depois, as pequenas matrizes (às vezes mais bonitas do que as próprias gravuras) foram para uma linda caixinha coberta de couro peludo que o meu sogro fez. E que virou um segundo trabalho, o Objeto do Desejo.




Mais tarde, com uma bela prensa em casa, imprimi algumas com tinta prata em papel preto. Ficou bom. A ideia veio depois que o Mano inverteu uma, que virou pano de fundo de seu monitor. Gostei da ideia do negativo.

Numa exposição, as vinte e quatro em três filas de oito, tive uma delas roubada. Bem, alguém gostou!

Andiamo poi, Moacir. Agora é a sua vez.


16 comentários:

  1. Oi Ana,
    Quer dizer que só tem artista aqui?
    Gostei dos seus trabalhos que vejo neste página. E que insinuam, mais do que mostram, como devem ser.
    E sua caixinha, feita pelo sogro, me lembra a que meu pai fez pra mim na mocidade, uma caixa de contagem. A minha (caixinha) guarda hoje muitas cartas, cartões e que tais. A sua tem responsabilidade maior, acondicionar as matrizes da artista.

    Adorei as mulheres marcarem presença, mostrando a que vieram. E não foi pouca coisa.
    Parabéns pelo trabalho, parabéns pelo casório com o mano Wilson, pelos netinhos e até pelo nome das avós, uma de cada.
    Seja feliz neste espaço com nome de marido.
    Abraço
    Ofelia

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  2. Reparei agora, Ana: só por um dia? Pena.
    Ofelia

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  3. Moacir Pimentel22/09/2016, 11:12

    Caríssima Donana,
    Posso chamá-la assim em homenagem a Trás-os-Montes? A sua ARTE, de tantas nuances , matizes e matrizes, é um presente para todos nós e ela está na sua "apresentação", nas suas predileções artísticas , no seu texto, no monitor do Mano , numa vida construída a quatro mãos , no belo Objeto de Desejo cui-da-do-sa-men-te feito pelo seu sogro e , last but not least , no talento tão eloquente nas suas pequenas-imensas gravuras. Por ela, pela sua ARTE - que fiquei com vontade de ver também prata no preto - eu , enriquecido, agradeço-lhe.
    Sorri quanto li a respeito da arte feita na clínica psiquiátrica pois também tive uma experiência parecida na minha juventude. Só que os "artistas" gostavam mesmo do jogo de futebol após as "aulas" entre a tchurma deles e a dos mafiosos de branco: os médicos e enfermeiros . É claro que eu e os demais "voluntários" fazíamos parte da torcida da casa: "Esse time de doidos não pode perder"! (rsrs)
    Sim, Donana , Dona Arte dá trabalho e exige tempo : desenhar, pintar, fotografar , olhar , sofrer , recomeçar, "polir, polir, polir, polir, rasgar com a ponta seca, entintar e limpar, limpar e limpar e depois imprimir" com as mãos sujas de tinta. Indizível a sensação de CRIAR , não é mesmo?
    Mas esse tempo para a reinvenção do mundo eu não tive ou não me quis inventar. Então nesse mar não mergulhei de cabeça, permaneci na areia numa boa , molhando os pés nos finais de semana, se calhava. Como diz um velho amigo meu " Não me queixo nem me explico".
    Quanto ao nosso trato ....
    "Topo o desafio de mostra-LHE uma delas , se antes e aqui nas Conversas a senhora nos falar e mostrar o seu trabalho. Que tal? "
    Bem, trato é trato e no email da "Redação" ele vai ser quitado, com uma péssima variante do seu brilhante tema.
    Que esse seu segundo poema nas Conversas seja o anúncio de muitos mais.
    Let's art!
    Um grande abraço

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  4. Este Wilson foi um sortudo!

    Casado com uma mulher extraordinária, artista, que se comunica muito bem, certamente é um homem feliz!

    Curioso, pois casamos no mesmo ano, 1.971, e também encontrei a mulher da minha vida pelo tempo que estamos juntos, e que ainda queremos continuar unidos.

    Parabéns, Ana, pelo talento artístico, pois eu sequer sei desenhar uma árvore!

    Tenho inveja das pessoas que desenham, que possuem uma bela caligrafia, que pintam, que sabem usar as mãos.

    As minhas, de tão grandes, servem como raquetes, martelos, marretas ... isso mesmo, destruir, e não construir!

    Portanto, observa só o esforço que faço para escrever, que necessita de sensibilidade, tato, cuidados, exatamente a antítese do que sou!

    E o teu marido ainda me pede que eu envie alguns artigos ...!

    Gosto muito deste blog extraordinário pela presença feminina, que muito nos ensina, que pensa com mais detalhes os assuntos postados, que é mais racional enquanto nós, os homens, somos passionais em certos casos.

    Enfim, a minha mulher também se formou em Pedagogia, e lecionou por 28 anos até se aposentar, e ela era mágica na elaboração de tarefas para seus alunos, de ter habilidade manual que somente as professoras conseguem mas, assim como eu, jamais foi uma artista, apesar de lidar comigo exigir grandes dotes de paciência e tolerância, vistos somente em filmes ou em livros!

    Um grande abraço, Ana, e é uma honra para mim conhecer uma artista!
    Saúde e Paz!

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    1. Dulce Regina22/09/2016, 14:27

      Olá, querido Chico. Estou sentido falta dos seus textos e para compensá-los estou lendo os antigos, onde vc fala sobre os passageiros do táxi. Achei muito bem escrito as narrativas de suas experiências no exercício de ser condutor não só de passageiros, mas de seres humanos com histórias de vida que enriquecem qualquer um que esteja atento no outro. Isso meu caro Chico, não tem preço. E olhe, suas mãos grandes são valorosas, com uma marreta, um martelo pode-se fazer coisas bem bonitas. Não prive-nos de seus textos. Abraços, Dulce

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  5. Dulce Regina22/09/2016, 14:17

    Olá, Ana Maria. Primeiro dizer que adoro seu nome, os dois estão ligados à Jesus: Ana sua Avó e Maria sua Mãe. Depois já começar lamentando o seu " só por um dia ", pois li sua troca de de idéias com o Moacir e percebi o quanto você tem para partilhar conosco. Gostei do : " A gente aprende a viver com tudo " e também a viver sem rótulos ". Citado por você pela vantagem de se ter mais idade e com a qual concordo plenamente . Me chamaram atenção suas " tiradas " divertidas, já percebidas nos seus comentários e aqui : " uma pobre velhinha em formação ". Gostei da criatividade...aliás não falta-lhe talento, sensibilidade e uma grande dose de amor pelos seus. Continue a premiar-nos com suas " pretinhas ", elas são maravilhosas. Abraços, Dulce

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  6. 1) Parabéns à Ana, pelo início de uma boa caminhada por este blog. Parabéns ao Mano e demais familiares.

    2)Oi Ana, vc já ouviu falar na gravurista (antigamente se falava gravadora) Heloisa Pires Ferreira, aqui do Rio? Ela dedica-se à gravura em metal, desde que a conheci, namoramos e casamos em 1978. Aqui em casa tb tem uma prensa e costumamos falar que é uma casa de trabalho misturada com atelier, sala de leitura e afins...

    3) Escreva mais ...

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    1. Olá, Antônio. Largue a Dona Asma e fale da Dona Heloisa. Achei o blog dela e vi cada gravura liiiiinda! Dessas que agente ve e pensa, gostaria de ter feito isso!Até mais.

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    2. 1) Boa idéia Ana, acho que vou aceitar !

      2) Sempre fiquei assim, meio tímido, sou suspeito para falar, corro o risco de elogiar...

      3) Na geração dela, Heloisa é bem conceituada.

      4) Obrigado Ana pelo apoio e pelos comentários anteriores que vc fez ao que escrevi.

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    3. 1) Oi Ana, escrevi uma resposta e, por timidez, inconscientemente acho que apaguei ou me enrolei com a computadora (como dizem os espanhóis)

      2)Boa ideia de falar da Heloisa e das gravuras dela. Corro o risco de elogiar e aí fico sem graça.

      3)Na geração dela, Heloisa é bem conceituada.

      4)Obrigado pelos comentários que vc fez aos meus artigos anteriores.

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  7. Oi gente, voces chegaram junto com a primavera e encheram meu coração de alegria! Mas não exagerem . Voces podem estar criando um montro
    Ofélia, quanta delicadeza! E que bom que gostou. As caixinhas sāo todas importantes. Guardam lembranças e cheirinhos de saudade! Às vezes contas a pagar ou mistérios irreveláveis. Tenho o feminismo entranhado nos órgãos e também gosto de nos ver,mulheres, nesses blogs " masculinos". O Francisco também gosta, voce viu só?
    Francisco Bendl, seu nome é musical. Por isso te chamo por inteiro. No meu trabalho com os loucos (somos todos) e os pobres( quase todos) descobri que somos todos artistas. Se suas mãos são grandes, pinte grande! Desenhe no muro, na parede, na porta. Desenhe uma árvore do seu tamanho e chame seus lindos netos para completá - la com flores, com frutas, macaquinhos e pássaros. Depois me conte. É uma honra conhecer voce. Como diz a Dulce, não nos prive das suas estórias.
    Moacir Poeta o que voce fala é lindo. Não sei se sou isso tudo, mas vou brincar de acreditar. Com certeza voce fica em ..águas rasas, os pés na areia, numa boa, escrevendo,poetando ou colorindo. Somos todos aqui prisioneiros das suas pretinhas. E que bom que voce cumpre tratos! Trás-os-Montes e Minho também!
    Dulce, sabe como começou a história da velhinha em formação?Aos 67 não se é jovem, ou coroa,ou apenas adulta. Já se é uma velhinha... Não tenho preconceito com a palavra, tenho antes com o "idoso". Quando falava que era velha, sempre ouvia a mesma lenga lenga, voce nāo é, voce parece jovem (nem tanto,meu cabelo é branco,do que tiro partido incendiando-o, de vez em quando com mechas roxas ou vermelhudas). Aí, inventei o velhinha em formaçāo e fiquei livre da celeuma. Obrigada por tudo!
    Antônio, andei escrevendo atrasada nos seus textos, voce viu? Que bom voce também ter uma gravadora ( também prefiro assim) em casa! E ela já ameaçou expandir o atelier dela, invadir o seu lugar de escrever e ainda pegar um pedaço da sala? Pergunte ao Mano, isso acontece aqui!
    Ate mais.

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  8. Léa Mello Silva23/09/2016, 09:35

    Ana,
    me deliciei com seus textos, não pare de nos presentear,sou feliz de ter vc como prima e amiga.
    Sua presença aqui é necessária,uma mulher com M maiúsculo.
    Meu abraço e minha admiração, Léa

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    1. Olá, prima querida que bom te ver aqui também! A minha intenção no blog do Mano, é de uma passagem relâmpago. Voce sabe como é me desvirar do avesso mostrar o meu trabalho. Êles são tão íntimos! Beijocas.

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  9. Ana, amiga de adolescência que virou tão querida cunhada, nos nossos 67 já me acostumei à passagem de coroa simpático para velhinho fofinho, melhor do que pra velho ranzinza, não?
    Quero acreditar que essa pequena mostra é apenas um trailler do que virá adiante, a explosão de criatividade, dedicação, carinho e detalhe em tudo que você faz e que tanto admiro. Compartilhe mais, as pessoas merecem ver tanta beleza!
    Um beijo carinhoso,
    Osias

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    1. Que surpresa, querido velhinho fofinho, muito melhor do que ranzinza, voce sabe, velhinho ranzinza é obra do diabo! Estou ficando insuportável com tanto elogio.Assim o Mano me expulsa não só do blog como de casa também. Aí eu tenho que ir pro solar dos Baptistas... Beijocas

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  10. Ana, peguei um gancho na palavra "idoso", que como Rubem Alves, rejeito-a; prefiro a palavra "velho". Dizia o grande escritor, educador e tudo o mais, que se Hemingway tivesse escrito "O idoso e o mar", ele jamais compraria o livro. Idoso só para fila de bancos e supermercados. Nem velhinha em formação sou mais. Gostei de Velhinha em formação. Optei por não receber o diploma de velhice que a vida me conferiu. Para mim, a juventude é uma festa dentro do meu velho coração. Você e o Mano, posso dizer, formam um casal sortudo. Não é regra geral. Sou nova (???? kkk) aqui no blog que amei desde a primeira vez que o encontrei navegando pela Internet. Acho que é um blog de escritores. Fico um tempão lendo vocês, alternando com minhas músicas e leitura de poesias. Abraço para o casal.

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