Alvin Childress - imagem CBS Television |
Antonio
Rocha
Em
determinada época participei de um grupo de meditação, vez por outra, alguns
participantes trocavam algumas reflexões sobre a vida, antes ou depois do
período meditativo.
Certa
feita, uma colega contou, e todos ouviram, que o sonho dela era ser mãe, mas os
namorados que arranjava não queriam ser pais, fugiam logo do compromisso.
Então
ela resolveu fazer taxiterapia, eu perguntei como era: o primeiro táxi que
parava ela sentava no banco da frente e ia falando dos seus sonhos e projetos.
Os presentes apenas comentaram: “Você é corajosa!”, mas, a verdade é que, até
os taxistas corriam dela. Quem tem responsabilidade sabe que criar um filho não
é tão fácil assim.
Em
outra ocasião, nossa heroína ponderou: “Eu gostaria muito de saber o que foi
que eu fiz em vidas anteriores, sendo que nessa, não consigo arranjar ninguém”.
Claro, ela dizia, candidato desempregado, baixinho ou ganhando menos do que eu,
dispenso.
A
família, de outra cidade, tinha algumas posses, ela trabalhava na área de
produção de shows, parece que ganhava razoavelmente bem para uma jovem mulher
solteira.
Não
era feia, mas também não era assim, nenhuma beleza de “fechar o comércio”, como
se dizia antigamente...
Nas
férias, viajava para outros estados, chegou a ir a Nova York, Paris e, por
incrível que pareça, voltava com as mãos abanando em sua corrida casamenteira.
Então,
durante algumas semanas ela sumiu da meditação. Não avisou nada, só disse que
ia ficar uma temporada fora e, quando voltou, chegou turbinada... colocou
silicone nos seios e no bumbum. Quem sabe agora um pretendente sério
apareceria...
Por
motivos vários o grupo acabou se desfazendo e parte foi para outro endereço de
meditação.
Depois
disso, uns seis meses depois a encontrei na rua:
- E aí, tudo bem? –
perguntei de forma ampla, abrangente.
Ela
confidenciou:
- Parece que foi pior, não aconteceu nada, esse
tal de silicone deu azar, descobri que os homens tem medo das mulheres
siliconadas. Ninguém chega perto de mim, se afastam... virei uma ET...
- Deve ser algum problema espiritual, não sei,
boa sorte... – falei.
Conversa
rápida, nos despedimos, cada um foi para o seu lado.
Um ano
depois, o telefone toca:
- Não te falei que eu ia ser mãe de qualquer
maneira?
- Que legal, e quem é o felizardo?
- Não tem felizardo nenhum. Criei coragem, fui
a um banco de sêmen e fiz inseminação artificial. Estou grávida de gêmeos.
Era o
tempo da telenovela “Barriga de aluguel”. Ela contou que já estava com nove
meses, prestes a dar a luz.
- E como vai ser agora,
perguntei.
- Minha família está ajudando, já contratamos
três empregadas para se revezarem...
Após o
nascimento da dupla de meninos, fui com minha esposa visita-la e levar os
presentinhos de praxe nessas ocasiões.
Lá
pelas tantas, no lanche, ela sorriu e disse:
- Eu sou doida mesmo. Meu padrão de namorado
era hollywoodiano, no banco de sêmen, escolhi um loiro, olhos azuis e um metro
e noventa de altura, tipo bem armário.
(Se
algum leitor(a) pensou algo de minha parte, fique tranqüilo, eu sou baixinho e
bem casado com outra baixinha)
Ficamos
rindo os três e ela completou:
- E agora, quando um chora, o outro também
chora. Não tem mais jeito, vai ser assim até o final da vida.
- Você encontrou ocupação full time. –
respondi.
- E se antes, -
continuou a mãe dos gêmeos - eu não
arranjava ninguém, agora com dois meninos, algum bom samaritano vai me querer?
- Ué?! – quem sabe os mistérios da vida? –
exclamei.
Dois
meses depois resolveu se mudar de vez para a cidade natal, no litoral do Estado
do Rio de Janeiro. Os familiares iam dar apoio no que fosse preciso.
Nunca
mais os vi, faço votos que estejam muito bem e felizes. Acho que sim... quero
crer que sim... ela e os dois meninos merecem.
Perguntei
sobre o pai: “Será que um dia ele vai
voltar ao banco de sêmen e procurar saber de possível prole?”
- Não sei, o futuro a Deus pertence.
Prezado Antônio, por mais que a gente acredite que qualquer maneira de amar vale a pena, às vezes as famílias atuais dão um nó cego na minha cabeça. Minha filha caçula tem uma amiga de infância cujo pai casou quatro vezes e cuja mãe, outras três. Ambos tiveram filhos em todas essas uniões e todos os divórcios e separações foram civilizados. O resultado é que numa festa da enorme família todos os ex e rebentos se fazem presentes, se relacionam muito bem e a gente para entender as conversas precisa antes estudar seriamente a árvore genealógica do clã, para não cometer gafes em série(rsrs) Alguns desses filhos já entraram na dança do "pluriamor", é claro. Repetem seus bons modelos.
ResponderExcluirSou de opinião que são claras as vantagens para as crianças criadas por DOIS pais biológicos em casamentos tradicionais. Não diminuo os esforços exemplares dos casais que adotam, nem a coragem de muitos pais e mães solteiros que fazem esplêndidos trabalhos , nem a determinação dos pais e mães gays para exercer os seus direitos e anseios à paternidade e à maternidade.
Mas penso que numa união mais estável , na qual filhos possam receber a atenção de DOIS pais amorosos que ajudam um ao outro diante da imensa responsabilidade, que têm recursos suficientes para educar a prole, que contam com o apoio de suas respectivas famílias, que curtem dois conjuntos de amigos diferentes, que dão às crianças dois exemplos de trabalho e realização pessoal e social diversos, os filhos - e isso é o mais importante! - terão mais chances de se tornarem adultos equilibrados, seguros e produtivos. Para mim um bom casamento ainda é o melhor lugar para se fazer filhos.
Abraço
1) Meu caro vizinho de Cosmos, eu tb fico pensando sobre estas novas formas de família ...
Excluir2) Há algum tempo, li na web que uma jovem sra nos EUA ia se casar com o "escorrega", o brinquedo no parque de diversões.
3)O médium Chico Xavier, em uma de suas raras profecias disse que iriam surgir "seres" do cruzamento de humanos e animais ...
4) Não julgo, constato: eis o planeta Terra em seu atual estágio.
Caro amigo Rocha,
ResponderExcluirQuando decidi escrever a respeito de alguns fatos que me chamaram à atenção durante o período que trabalhei em táxi, um deles foi exatamente foi a facilidade que as pessoas conversavam assuntos íntimos comigo, sem me conhecerem, sem saberem como eu era, apenas pela necessidade de serem ouvidas!
E, de fato, havia passageiros que alguns colegas rejeitavam porque queriam não um motorista que as conduzisse a seus destinos, mas um analista, um psicólogo, diante da necessidade que tinham de falar, despejar os seus problemas, contar as suas dificuldades!
Inicialmente achei ótimo este relacionamento inesperado, porém com o tempo fui cansando, passei a não dar mais tanta atenção ao que me diziam ou mudava de assunto, haja vista que eu tinha os meus problemas, e se ainda eu iria aumentá-los com os dos outros, então eu não teria mais vida, mas um poço de reclamações!
Assim eu sugeria a psicólogos e estudantes de Psicologia quando eu os transportava, que trabalhar no táxi por um mês seria muito útil ao curso, pela diversificação de pessoas conduzidas e os problemas que relatavam, todas, invariavelmente, ricas ou pobres, feias ou bonitas, altas e baixas, gordas e magras, tinham as suas mentes questões a serem equacionadas e resolvidas, em face de suas fugas da realidade, de não terem a devida condição de enfrentar a vida sem subterfúgios, de não criarem barreiras às suas existências do dia a dia, e não mediante suas ilusões ou devaneios.
Inegavelmente, o táxi foi para mim uma experiência poderosa, importante, que me ajudou muito a dar um sentido à minha vida ao seu final pela contribuição de eu revalorizar alguns aspectos antes não observados, e observar os detalhes de cada pessoa e suas existências em comparação com a minha que, na verdade, era simplesmente uma maravilha!
Um forte abraço, Rocha.
Saúde e Paz!
1) Bendl, vc tem toda razão.
Excluir2)Os taxistas diariamente encontram um universo de pessoas impressionante; cada um, cada uma com as suas peculiaridades.
3)Algo fantástico e por isso, tenho mais algumas crônicas semelhantes em estoque...
Olá, Antônio, seu texto é divertido e é sério,porque faz a gente pensar em muitas perguntas, sem respostas, só considerações. Como tudo que o Moacir bem escreveu, para variar. Não sou doidinha como sua amiga, só um pouco, acho. Tinha tanta vontade de virar mãe, que se não tivesse casado, sei não.... Imagine meu desespero qdo fui ao ginecologista, pela primeira vez, casada de um ano, e fiquei sabendo que ia ser muito difícil ter filhos. E foi, mas vieram dois para encher a casa de fraldas, febres, vômitos e muita alegria! Até mais.
ResponderExcluir1)Pois é Ana, eu quis falar da dor, da solidão. Ao mesmo tempo que ela era "piradinha", ele falava, às claras, do drama que sentia, por isso, sempre respeitei muito a minha amiga "maluca", ela sempre se definia assim, de forma humorística... talvez para compensar o vazio que sentia, cobranças, autocobranças...
ResponderExcluir2) Mas eu gostei da minha coragem de escrever essa crônica e da coragem do Mano em publicá-la. E também da receptividade dos comentaristas.
3) É que, em outro blog que escrevo, andei levando umas pancadas, e como diz o ditado popular: "gato escaldado tem medo de água quente".