Dulce Regina
“Gosto das cores, das flores, das
estrelas, do verde das árvores, gosto de observar. A beleza da vida se esconde
por ali, e por mais uma infinidade de lugares, basta saber, e principalmente,
basta querer enxergar”
(autor desconhecido)
Tenho o privilégio de morar num bairro
onde ainda podemos ouvir sons agradáveis, reconfortantes e caseiros. Entre os
sons agradáveis estão o canto dos pássaros, e há uma infinidade deles!
Sabiá, Beija-flor e Sanhaço (olhe esse da
foto, fartando-se de uma bela goiaba madura).
Canário da Terra e Coleiro, com seu canto
maravilhoso!
Bem-te-vi anunciando a chegada da chuva.
Maracanã, que chega por aqui sempre em casal de namorados, fazendo o maior
barulho (veja esse lindo casal em cima do telhado).
Cambaxirras fazendo o seu ninho debaixo do
ar condicionado, buscando abrigo, calor e retribuindo com um canto matutino, chamando-me
para a Vida!
Todos eles nos brindam, ao amanhecer e ao
anoitecer, com notas sonoras de uma variedade incrível. As ruas desse
tradicional bairro são arborizadas e a maioria das árvores têm sementes e
flores, elementos essenciais para a presença desses pequenos seres que trazem,
com o seu canto, muita paz.
As flores dos Flamboyants mostram todo seu
esplendor no verão e, quanto mais quente o dia, suas flores resplandecem com
maior intensidade. As Amendoeiras começam a perder suas folhas no inverno e
seus frutos são o alimento para os micos que andam por toda a parte.
Esse colorido das folhas da Amendoeira me
trazem à memória um verso declamado numa festinha do primário pelo meu Ragazzo:
No jardim da minha casa
Há uma grande amendoeira
Que bela sombra ela dá!
Passo ali a tarde inteira!
As folhas já foram verdes
Mas, agora, são vermelhas
Parece uma casa nova
Toda pintada de telha.
(autor desconhecido)
As Figueiras são a marca registrada da rua
em que moro. Duas vezes ao ano, suas folhas se amarelam e caem, deixando, na
rua, um verdadeiro tapete macio... fica lindo!
Só os garis não gostam... Além disso, elas
são copadas, o que nos proporciona sombras refrescantes.
Tem ainda as Acácias, os Ipês roxo e
amarelo, os Tamarindos, os Manacás. As casas e os prédios mantêm as calçadas
limpas e com jardins floridos ao redor das árvores, arrematando a beleza das
ruas.
Os sons reconfortantes vêm da torre de
nossa paróquia situada na praça principal do bairro, cuja padroeira é Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro, festejada no dia 27 de junho. Os sinos repicam a
cada hora e a cada três horas, chamadas de “horas canônicas”, ouvimos uma
canção litúrgica, sendo que a das dezoito horas é a Ave Maria.
Temos ainda as tradicionais procissões:
- celebração do Corpus Christi com um
lindo tapete colorido para a passagem do Santíssimo Sacramento.
- da sexta-feira da Paixão do Senhor,
conhecida como “Via Sacra”, o ritual lembra a condenação, crucificação e morte
de Jesus Cristo, em paradas e reflexões
- da comemoração do dia consagrado à
padroeira, com velas e cânticos religiosos.
Envolvidos nesse clima, nossa alma se
aquieta, para perceber a magia da mão de Deus. Seja através de um pôr do sol
atrás do Pico do Papagaio, pedra símbolo do bairro, a qual nos revela a
magnitude desse momento, pouco percebido. Essa imagem me surpreendeu bastante, pois
parecia um fogo no céu.
Estar atenta depois de uma chuva permitiu-me apreender a imagem do
arco-íris pela janela. A super lua majestosa, com a qual tenho uma relação de
amor muito grande, é aguardada sempre. A foto
foi feita no dia em que ela estava mais próxima da Terra no fenômeno chamado “perigeu”.
Em agosto desse ano, captei a imagem que só será vista
outra vez a olho nu daqui a vinte e quatro anos: os planetas Vênus e Júpter
alinhados.
Um destaque para os sons caseiros, pois já
estão em extinção. Pontualmente, às sete da manhã e às cinco da tarde, ouvimos
a buzina da bicicleta do padeiro. Ele nos traz pão, bolo e outros doces.
Uma vez por semana passa o "vassoura...vassoureirooo !!!", com
vassouras, rodos, espanadores. Em um dos cruzamentos de ruas, o “tripeiro” que
vende os miúdos do boi. Ele nos facilita na limpeza e no corte do rim, da
rabada, do fígado, da dobradinha. É uma ajuda e tanto! Até brinco com ele
dizendo: “Não precisa temperar, não”, de tão caprichado que fica o corte.
Até o final dos anos 90, tínhamos o “funileirooo!” (eram dois italianos que
se revezavam e eram muito conhecidos) que consertava panelas de alumínio e o “amoladoooor”, com sua bicicleta
acoplada com a roda de amolar facas, tesouras e outros objetos.
Vocês estarão se perguntando: “Que bairro é esse ? É no interior ?” Não, amigos... É o bairro residencial do Grajaú, encravado no meio dos bairros
Andaraí, Engenho Novo, Vila Isabel, Alto da Boa Vista e Lins de Vasconcelos.
Atualmente, ele vem se tornando um pólo gastronômico que, aliado aos Sons e
Imagens, é um excelente convite para visitá-lo.
1) Belíssimo texto. Nota 10 !
ResponderExcluir2) Por favor Dulce, escreva mais e fotografe mais.
3)Começar a semana com uma crônica dessas me alegrou o coração e as "trilhares" de células.
Ah, as mulheres, as mulheres ...
ResponderExcluirBelo artigo, Dulce, registro imprescindível como homenagem à Natureza, de onde nos originamos, apesar de pensarmos que somos ela mesma quando, na verdade, somos a sua parte mais frágil!
Faz-se mister considerarmos a importância da Natureza e como ela se comunica conosco através de imagens, cores e sons.
Onde resido, uma cidade pequena, a casa onde moro está em cima de dois terrenos com árvores, laranjeiras, um limoeiro, e duas caneleiras imensas, ninhos de pássaros variados.
Às seis horas, toca o sino da igreja, acordando a comunidade para mais um dia de trabalho, não sem antes agradecer a Deus os sentidos que temos, de ver e ouvir, sentir, tatear e saborear a vida em todas as formas como se apresenta:
A humana, das aves, dos mamíferos, vegetais, e nos conscientizarmos que precisamos estar integrados, unidos, preservando-nos, e somente à base de respeito e reverência à Natureza podemos afirmar que vivemos bem, com a qualidade necessária à harmonia entre o homem e este mundo que nos foi dado para preservar e proteger!
Parabéns pelo tema escolhido, Dulce, permanentemente atual e pertinente, ainda mais quando o recado que nos deste é para que admiremos e prestemos atenção às mensagens tão delicadas e apropriadas que a Natureza nos transmite!
Um abraço.
Saúde e Paz!
Em suas imagens se prova que a beleza está nos olhos de quem vê... É encantador, obrigada por nos mostrar que o mundo é belo.
ResponderExcluirOi Dulce Regina,
ResponderExcluirNão sabia você assim tão perto.
Quando menina, tinha uma amiguinha portuguesa, a Quina, que pouco depois mudou-se para o Grajaú. Família de portugueses dos quais gostávamos muito.
Fui lá na casa dela uma única vez, era muito menina. Tanto que saí para ver parentes do meu pai por ali, em outra rua, e quase me perdi (agora me lembrei da ex-ajudante doméstica da casa do meu irmão, que se perdeu na rua e ao voltar disse, graciosamente: "Quando a gente vai as casas estão de um lado, quando volta estão de outro").
Naqueles tempos, mudar-se para o Grajaú era ascender na vida, quase uma mudança para a Zona Sul, lembro bem.
A ex-namorada do meu irmão e minha amiga também, mudou-se pro Grajaú ao casar.
E se você viu Anos Dourados, de Gilberto Braga, deve ter reparado que a trama se passa por lá, a casa da Lurdinha (Malu Mader) é lá (ou aí?).
Quando me separei, meu ex alugou um ap. no Grajaú. Tenho a foto do meu filho na varanda, bem diante da pedra.
Eu ia muito ao Grajaú comprar flores em uma loja que ficava em uma curva da rua principal, onde passavam os ônibus (esqueci agora), onde estão os bancos e restaurantes. Explico: flor que eu comprava era uma flor diferente, que eu só encontrava nessa loja. Era alaranjada. E como toda semana eu trocava as flores em casa, ia sempre ao Grajaú.
Conheço o alto da Comendador Martinelli, a igreja da pracinha com seus muitos vitrais; minha ex-professora de Português e Literatura do Instituto de Educação morava no Grajaú, nunca mais soube dela.
Hoje não vou mais ao Grajaú faz bastante tempo. Tudo mudou muito. As amizades de esgarçaram, já não tenho interesse nas flores. Pra dizer a verdade, prefiro que fiquem no vaso. Na água, é triste vê-las murchar. E é preciso cuidar de trocar bem a água, ou o cheiro que essa água exala fica insuportável. Então, manter a flor no vaso é mais ecológico em todos os sentidos.
Ah, lembrei: Largo do Verdun. Minha prima trabalhou em agência do BBrasil ali.
Estamos tão longe e tão perto, Dulce Regina...
Que o Grajaú de ruas tão belas (Araxá, entre outras) e vocês continuem a partilhar a vida nossa de cada dia. E com muitas fotos.
Abraço
Ofelia
ANTONIO concordo com você que a natureza mexe e alegra nosso corpo e alma. Obrigada pelo carinho. /// FRANCISCO não só as mulheres têm essa sensibilidade para apreciar as coisas de Deus, basta estar atento ao que acontece ao nosso redor que veremos - todos - a magnitude da natureza. /// MONICA o mundo é belíssimo , lembra da música : " The wonderful world " ? de preferência na voz de Nat King Cole. Gosto de ouvi-la sempre. Abraços para todos
ExcluirOfelia que bom você conhecer pedacinhos do Grajaú . O bairro confunde muita gente, pois seu planejamento foi feito com ruas verticais e horizontais, bem parecidas. Logo que vim morar aqui me confundia muito. A loja de flores citada é a mesma que eu adquiro flores em ocasiões especiais, a dona dela chama-se D. Aureliana. E aproveito para sugeri que você não deixe de interessar-se pelas flores, compre- as em vaso. Posso afirmar-lhe que elas são tão importantes quanto a vela que vc acende para Nhá Chica. Arrume um cantinho especial na sua casa para a plantinha " Linda ", e depois converse com ela todos os dias. Abraço perfumado para você, Dulce
ExcluirDulce Regina,
ResponderExcluirTiro o chapéu: este é um lindo post, minha amiga. Não esqueça de, ao temperar as iscas de fígado, colocar um "poucachinho" de vinho do Porto para fazer jus à orgia gastronômica do sanhaço nas goiabas do vizinho.
Aquela lua imensa lhe merece um texto só para ela e a senhora merece um poema:
Chegando em casa
com a alma amarfanhada
e escura
das refregas burocráticas
leio sobre a mesa
um bilhete que dizia:
- hoje 22 de agosto de 1994
meu marido perdeu, deste terraço:
mais um pôr de sol no Dois Irmãos
o canto de um bem-te-vi
e uma orquídea que entardecia
sobre o mar.
(Affonso Romano de Sant’Anna )
Um grande abraço
Meu querido Moacir você me emociona com suas pretinhas, não vou decepcioná-lo Mestre. Estou atenta a todo ensinamento , inclusive ao tempero do fígado- meu " italiano adora ! - Lindo recado do Romano Sant'Ana, quando estou na Tijuca - parada na faixa para atravessar a rua - vejo o pôr do sol no Dois Irmãos, olho para as pessoas ao meu lado e sinto vontade de gritar : " Olhem que maravilha ! " . Obrigada sempre. Dulce
ExcluirTo apaixonada pela foto da lua cheia, vó! Ficaram todas, na verdade, muito bonitas. Gosto muito de vê-la escrevendo: é um lado seu que não conhecia ainda. Continue assim!
ResponderExcluirUm grande beijo,
Jessica.
Minha Linda nosso caso de Amor com a Lua é muito espiritual e cheio de emoções. Um dia dedicarei um post somente para ELA, a Lua. Quanto a minha escrita vou mostrar-lhe o que escrevi para você quando pequena e tenho guardado aqui em casa. Meu beijo de vódinda apaixonada.
ExcluirParabens Dulce Regina,
ResponderExcluirNovamente surpreende nos mostrando a beleza que existe no meio desta "selva de pedra" da "cidade grande" que nos passa despercebida na correria do dia a dia...
Muito lindo o mundo a nossa volta com toda a energia que é capaz de nos transmitir com seus sons e imagens. Basta estarmos na frequência certa....
E esta sua percepção do mundo em cada detalhe, nos mostra ainda que a felicidade está nas coisas mais simples, a maioria das quais ao nosso lado, mais perto do que se imagina. Basta desacelerar e percebê la, se desconectar do mundo virtual e se conectar às mensagens que a natureza real nos transmite mesmo qdo o homem insiste em invadir seu espaço....
Espero por mais fotos e artigos que nos levem a reflexões assim tão interessantes sobre a vida....
Bjs e abraços
Sua amiga Rosane Maria
Olá, Dulce
ResponderExcluirEnviei um comentário antes de ler os comentários. E, ainda bem, ele sumiu nesse caminho virtual ,no qual ando tão pouco. Porque o que foi escrito para voce é tao lindo e completo, qualquer coisa que eu dissesse seria desperdício de palavras. Até mais.
ROSANE suas palavras são muito bonitas e especiais, elas transmitem um recado que todos nós deveríamos seguir. Beijos. ANA MARIA um prazer ler suas pretinhas e obrigada pela sua presença nesse caminho virtual, ainda mais em um espaço do meu artigo, é um privilégio . Abraços
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