Francisco
Bendl
Não vejo
responsabilidade maior que ser pai.
Não existem
cargos ou funções que sejam mais importantes que sustentar e educar um ser
humano quando se decidiu ter um filho.
Conseguir
gerar uma vida - junto da esposa, claro – que poderá trazer grandes alegrias ou
imensas tristezas, transcende à compreensão do que significa ser pai, e que
também se torna maior que o próprio genitor pelas consequências desta decisão
incomparável!
No entanto,
na razão direta deste compromisso imenso, surgem as alegrias, a felicidade
inaudita, a vida prolongada do pai na existência dos filhos.
Nada se
compara ao sorriso da criança, o pedido de ajuda, quando ela estende a mão,
quando pede por colo e nos dá aquele beijo longo e babado, nada!
Acompanhar o
crescimento dos filhos é destinar muita atenção e cuidados, ao mesmo tempo que
o pai precisa se aproximar desta criança para que ela sinta o quanto é amada e
protegida.
Adolescente, acontecem os primeiros enfrentamentos entre o
que o pai ensinou e as ideias do “mancebo”, que viceja forte, com
personalidade, grupo de amigos, colegas de escola, elaborando um perfil que
inevitavelmente colocará o pai em palpos de aranha, ao emitir os primeiros “não”,
ao impor limites, ao estabelecer horários para chegar em casa.
Nesse meio
tempo, alguns conflitos são inexoráveis, pequenas discussões, argumentações
referentes à independência de casa, a vontade de ter experiências próprias,
apesar de o pai querer evitá-las porque sabe no que vão resultar.
Não importa,
o desejo é maior que o alerta, então aquela criança, que depois foi
adolescente, e que apresenta as primeiras penugens no rosto, opta por sofrer, e
inicia a sua longa jornada para vencer as dificuldades de sua existência por
mais que o pai avise e tenta explicar que tem razão.
Os primeiros
namoros, as decepções, as saídas aos fins de semana, a preocupação com o
retorno são e salvo, o aproveitamento na escola, o pai jamais deixa de ser um
sentinela avançado, ainda mais quando ele tem TRÊS FILHOS PARA OBSERVAR, e com
intervalos de dois anos para cada um deles!
Portanto,
cinco, três e um, depois dez, oito e seis, mais adiante dezoito, dezesseis e
catorze ... e o pai se vê em grande desvantagem numérica e mental, pois a
avalanche de razões, argumentos, motivos, em favor de levarem as suas vidas
conforme entendam é avassaladora, mesmo que se queira ainda preservar o
pequeno, o caçula, mas a atração gravitacional dos maiores com relação ao mundo
lá fora é tão convidativa, que o pai é vencido naturalmente, redobrando os
cuidados e as atenções.
Ao
ingressarem na Universidade a vida é deles. Não admitem interferências, pensam
que sabem mais que a velha experiência paterna, mas estão no caminho certo, de
se formarem e buscar seus lugares no mercado de trabalho.
Mas as
preocupações não diminuem, as atenções continuam, pois queremos que vençam na
vida, que superem obstáculos, que não sofram, que estejam atentos ...
Meus filhos
casaram-se depois de formados.
Não foram
pais tão jovens como fui, que, aos vinte e seis, eu era pai dos três!
E agiram
corretamente, diante deste mundo de hoje muito mais difícil e enigmático com
referência à época que me casei, em 1970.
Entretanto,
como um passe de mágica, surgem os netos!
E a vida, que
eu pensava muito pesada de levá-la pelo peso da idade, físico alquebrado, a
mente com suas falhas naturais é renovada, volta a ser animada, retorna ao
embalo inicial de um jovem cheio de esperanças e certezas, decisões e vontades!
Os netos são
a compensação pelos anos insones, pelo temor do futuro, pelas expectativas,
pelas orações, pelos pedidos a Deus que protegesse os filhos!
Os netos são
a alegria, a baderna, a balbúrdia, os senhores dos avós!
Os netos são
a materialização dos sonhos, os pensamentos que tomaram formas, os anseios
finalmente atendidos quanto aos seus aspectos positivos.
Os netos
reatam os laços familiares de forma indelével, coesos, inquebrantáveis.
Eu, que sou
pai de três filhos homens, o nascimento do primeiro neto ter sido uma menina,
me trouxe uma felicidade jamais sentida antes porque inédita, diferente, uma
alegria indescritível.
A segunda
neta foi outra miragem. Duas, e com intervalo de apenas seis meses!
Então vieram
dois netos, também muito próximos um do outro, sete meses, até que brotou mais
uma neta, com um ano menos que os dois guris!
Três netas e
dois netos, nada mais sublime, mais importante, mais significativo, que essas
vidas advindas dos filhos, que terão agora os sentimentos do pai com relação a
eles, mas contando com a ajuda dos avós quanto a orientar, ensinar, e
transmitir um carinho enorme, um amor infinito!
A cada mês a
família se reúne em minha casa. Assamos um lauto churrasco, e libero a casa
para os cinco netos, cuja atração é o meu escritório, onde a hierarquia se
estabelece naturalmente!
A neta Luíza,
que nasceu primeiro, comanda a turma. A Sarah é o Imediato. Bernardo e Matheus,
os dois sargentos e a Helena, a mais nova, o soldado ...
ERRADO!
A HELENA
COMANDA OS SARGENTOS!!!
Simplesmente
os dois guris, ambos de quatro anos, têm uma afeição especial pela prima de
três, que os orienta quanto às brincadeiras do jeito que ela quer e exige!
Se hoje em
dia o cavalheirismo está fora de moda, decididamente com relação aos meus netos
e a neta caçula esta qualidade nos homens ainda está em vigor na minha casa,
tanto pela concessão quanto pela bronca que aquela menininha dá nos primos, que
a obedecem plenamente!
A diversão é
contagiante quando eles se encontram. Corridas, gritos, montagem de mesas no
pátio, laranjadas que eles mesmos fazem colhendo laranjas nos dois pés que
tenho no minúsculo pomar – e vendem para o vovô, evidentemente – ou limonada,
também com limões do belo limoeiro que plantei há quatro anos - na verdade eu e
a mulher!
A casa se
sacode, e parece que tem vida com eles me visitando, e entra no ritmo acelerado
da criançada!
Lá pelas
tantas, quando esmorecem os ânimos porque almoçaram e estão cansados das
correrias, e o pouco silêncio reinante me põe a pensar é inevitável a resenha
que faço da vida.
Percebo que
os netos são a recompensa que os filhos me deram, o prêmio pela vigilância
exercida enquanto eram crianças, adolescentes e jovens, a retribuição por
tê-los cuidado, protegido, e sempre à disposição quando precisaram do pai!
Nesse
momento, confesso, aproximo-me de Deus. Não do seu poder, mas de ter um “povo”
a que dei origem, que dependeu dos meus esforços para que chegasse ao patamar
de proporcionar tanta satisfação, orgulho e honra!
Ser pai e avô
me classificam como ter compreendido a sensação espiritual do Paraíso, a
felicidade eterna, a alma salva dos percalços diários!
Agradeço
emocionado à minha mulher pelo que me possibilitou nesta existência, de eu ter
me realizado plenamente como homem, pai e avô, de eu ter dado um sentido à
minha vida quando me casei com ela e termos tido os filhos que tivemos, que
sustentamos, educamos e formamos.
E que nos
deram os netos que tanto amamos, que tanto nos divertem, que renovaram as
nossas funções de voltar a cuidar de crianças, de protegê-las, ensiná-las,
educá-las, e nos fazerem sentir ainda úteis e necessários à relação familiar!
O Super Herói
que criei quando brinco com os netos, em consequência, que estão na fase dos
bonecos, da imaginação fértil, eu o denominei de Super Duplo!
Quando me
perguntaram o que era, respondi que o avô era um pai duas vezes, portanto, se
para ser pai somente sendo um super homem, o vovô seria um Super Duplo!
E é quando
vestido com esta fantasia que viajo mais rápido que a luz, e me ponho em frente
ao Criador!
Olhamo-nos
respeitosamente.
Não
conversamos, pois não é necessário.
Nossos olhos
transmitem as mensagens que queremos transmitir um para o outro.
Eu,
prostrado, em agradecimento pela Graça concedida;
Ele,
certamente, concordando que trato bem a espécie que me possibilitou gerar!
Amigo Chico, tenho certeza de que todos nós que somos avôs ou avós nos encontramos nas linhas do seu belo texto.
ResponderExcluirContinue a nos brindar com outros como este.
Só mesmo tu, Wilson, para me fazer escrever como se fosse um compromisso!
ExcluirGrato pelas palavras gentis, mas exijo de mim mesmo que eu seja verdadeiro, autêntico, legítimo, pois os sentimentos que brotaram a partir do momento que Deus me reservou a Graça de ser avô, posso te afirmar que me deixam feliz, alegre, e permanentemente agradecendo ao Criador por esta dádiva!
Um forte abraço, parceiro.
Saúde e Paz!
1)Outro dia, na escola onde leciono, os colegas de trabalho observaram a minha cara de felicidade. Me perguntaram o motivo de tanta alegria.
ResponderExcluir2)Cheguei a conclusão de que o contentamento reinante é porque agora me encontro no Reino Encantado dos Avôs e Avós.
3)À distância,na Espanha, vejo a minha netinha crescer, já está com um ano de 8 meses.
4) Ainda bem que inventaram o skipe e tecnologias afins.
5)Parabéns Chicão, excelente crônica.
Rocha, meu caro,
ResponderExcluirQuando falamos de netos a mente brilha, e mesmo uma pessoa dotada de poucas luzes como este teu amigo, o que escrevi nasceu deste sentimento inigualável de alegria e felicidade por ser avô!
E são momentos como este que lamento a minha falta de cultura e conhecimentos porque era para eu ter escrito uma crônica espetacular sobre filhos e netos, mas a carência de palavras, de expressões, de ter as condições de colocar no papel este êxtase por ser avô, se evidenciam pela falta de Ensino!
Mas, eis a minha mensagem, o que sinto, as emoções que passei a ter como avô, meu amigo budista!
Aliás, te deixo uma sugestão, Rocha:
Escreve algo sobre os avós na concepção budista, por favor.
Um forte abraço.
Saúde e Paz!
Bom dia, Francisco. Hoje você expressou todo sentimento de um pai responsável e um avô amoroso e " babão " . Não leve a mal... Somos " babões " sim, qdo se trata de netos, e porque não ? De filhos... É sempre uma alegria ouvir ou ler pretinhas sobre o relacionamento entre avós X netos, mesmo aquelas pessoas que não são avós, se deslumbram. Você relatou exatmente o que acontece nos corações e n'alma de nós- avós. E cada um tem uma história para contar, mais fantástica que o outro, nesse relacionamento indescritível. E se me permite, Francisco, não é o nível cultural ou conhecimentos que levam uma crônica ser espetacular, nem carência de palavras ou expressões, e SIM O AMOR SENTIDO, O SER VERDADEIRO E AUTÊNTICO, e isso você tem de SOBRA. Então sugiro que deixe essas bobagens para trás...embora nova no blog, percebo que aqui todos falam de coração aberto. Deixo uma indicação de uma reflexão - talvez você já conheça -, que acho muito interessante: Autor- Içami Tiba, " Filhos são como Navios " . E o meu desejo de um belo Fim de Semana, junto aos seus. Abraços, Dulce. PS : Wilson . A pintura escolhida para ilustrar o texto primoroso do Francisco, nos mostra a imagem de um avô terno e meigo, com um olhar de sabedoria envolvendo seus dois netos, talvez com uma bela história sobre o nascimento do Menino Jesus. Linda ! Linda ! E que me levou a entrar no mundo desse importante artista - Normandia Rockwell - Obrigada e abraços, Dulce
ResponderExcluirDulce, Norman Rockwell foi, talvez, o maior ilustrador dos Estados Unidos, e um dos maiores do mundo em sua época. Suas obras são um retrato de um país que não existe mais, os Estados Unidos da década de vinte até os anos sessenta, por aí. E suas ilustrações são universais pela humanidade dos sentimentos que retratam. Fico feliz que por este post você tenha querido conhecê-lo.
ExcluirMinha querida Dulce,
ExcluirMuito obrigado pelo comentário, que entendeu perfeitamente o recado que eu quis transmitir com relação aos sentimentos que nutrimos pelos netos!
De fato eles não só nos renovam a existência como nos deixam a visão mais ampla sobre o mundo e a realidade que nos cercam!
E nos ensinam a brincar, de novo, a participar de suas ilusões, imaginações, viagens pelas mentes que fervilham, que não se aquietam, que inventam, e que nos deixamos levar pela emoção do momento!
Falar de netos e filhos somente com o amor na ponta dos dedos, o afeto no teclado, e os agradecimentos pelas alegrias e felicidades em cada palavra elaborada.
Um abraço, Dulce.
Saúde e Paz!
Excelente domingo junto aos teus amados.
Bendl,adorei o "senhores dos avós". Eles são verdadeiros feitores de velhinhos!
ResponderExcluirMinha querida Ana,
ExcluirA expressão saiu do fundo do meu coração, te garanto, pois mesmo doente, às vezes com dores fortes pelo corpo, pego o meu carro e vou para Porto Alegre comprar os presentes encomendados nos aniversários, Dia da Criança, Natal, Páscoa ...
E não me importo se chego em casa, após rodar 250 km ida e volta, extenuado, mas com a alegria da "obrigação" feita, do presente adquirido, e de antecipar a visão dos sorrisos que vão receber o brinquedo solicitado.
Acho que a função dos avós é primordialmente encantar os netos, propiciar-lhes alegrias, brincadeiras, espaços, liberar a casa para que possam ser os donos dela - claro, impedindo que quebrem ou danifiquem algum objeto ou aparelho doméstico -, enfim, permitir a liberdade que não têm em casa porque cabe aos pais impor os limites que eu e a esposa demos aos filhos, então a liberalidade, a falta de compromisso com as balizas impostas, principalmente no que tange às refeições.
Se quiserem a sobremesa antes, tudo bem, se querem batata frita, a vó faz, se querem passear o vô os leva, afinal das contas eu e a mulher estamos na reta final da vida, portanto, viva a alegria, e com os netos!
Um abraço, Ana.
Saúde e Paz!
Excelente domingo junto aos teus queridos.
Homem de 'poucas luzes'(só se for nos cabelos), você me fez lembrar do meu pai e das diabruras que meus sobrinhos e filho faziam na casa dele. Marcelo, o mais velho, era o mais levado. E volta e meia meu pai dizia pra ele: "Você procede, hem, Marcelo?.
ResponderExcluirUm luxo só aquele vida de bagunça na mesa, minha mãe e avó tentando dizer que 'na hora da mesa'(sagrada para ela) não se podia isto, isso nem aquilo. Em vão.
Na época, eu era mãe e tia. Então inventava gincanas. Para cada um deles, uma obrigação: trazer uma cueca do vovô, pegar dois ovos na geladeira, o rolo de papel higiênico da casa do vovô, por aí (eram dois apartamentos, o meu e o dos meus pais. Um rebuliço só. Uma felicidade sem igual.
Meu pai, que sempre gostou de ensinar as coisas, às vezes subia a ladeira da outra rua com o Marcelo para ele 'matar cumiga' (matar formiga) com o vovô.
Hoje, todos homens, cada um morando em um estado. Apenas um está no RIO, a moça, que na época não existia ainda, se divide entre Rio e SP, onde trabalha.
Meu filho também mora lá, e gosta, e respeita São Paulo. Quem diria?
A vida dividiu todo mundo, Bendl. Mas, na memória, todos permanecem nas melhores lembranças dos tempos infantis.
Você é um felizardo, amigo. Saiba aproveitar. O tempo passa muito depressa, eles crescem rapido. É um chavão, mas muito verdadeiro.
Abraço, Bendl
Saúde e Paz
Ofelia
Minha querida Ofélia,
ResponderExcluirDisseste uma verdade apodítica, estocástica, que o tempo passa muito rápido, principalmente quando nos encontramos alegres e felizes!
Estar ao lado dos netos, aproveitar com eles o ânimo e a energia inerentes de suas tenras idades é retornar neste tempo implacável é como enganá-lo, ludibriá-lo.
Claro, quando vão embora o tempo nos cobra a "mentira" pelo cansaço, fadiga, mas não consegue nos tirar a alegria e felicidade que permanecem no coração, na mente, na satisfação de voltarmos a ser crianças após tantos anos, e de nos sentirmos tão bem!
Caso a vida me permitir, sei que amanhã esses momentos serão apenas lembranças, agradáveis, memoráveis, inesquecíveis, mas recordações tão somente, então quero vivê-las intensamente, e meus netos parecem que entendem esse meu esforço em acompanhá-los porque pulam em cima do avô, sobem pelos meus ombros, adoram quando imito estar tossindo exageradamente, quando lhes dou susto, quando jogo bola, quando faço os aviões de papel, quando assisto os desenhos com eles na TV e imito as vozes dos animais, assim como uma sonoplastia própria do vovô, que eles se divertem e muito!
Ainda mais quando toca a música da pulga na cueca do vovô, então a bagunça é generalizada, e eu fazendo gestos e contorcionismos referentes às coceiras do dito inseto!
Inegavelmente, momentos sublimes!
Um forte abraço, Ofélia.
Saúde e paz, minha cara!