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27/09/2016

Noite Estrelada


Moacir Pimentel

E então, Vincent, insatisfeito com as suas estrelas, pintou aquela que seria a mais espetacular das suas obras...

“Esta manhã eu contemplei a paisagem da minha janela por um longo tempo antes do amanhecer. Lá não havia nada além da estrela da manhã que parecia muito grande”
escreveu van Gogh a Theo, descrevendo sua inspiração para A Noite Estrelada.

A janela a qual ele se referia era a do seu quarto no asilo de Saint-Paul, em Saint-Rémy, perto de Arles, onde procurou refúgio do seu sofrimento emocional, para continuar a fazer a sua arte.

Além de um aposento privativo, a partir do qual ele tinha uma vista deslumbrante da Serra dos Alpilles, no asilo van Gogh também dispunha de um pequeno estúdio para a sua pintura, considerada pelos médicos como “terapia ocupacional”.

Como das janelas destes espaços o pintor não podia ver a cidade mas sim o jardim do asilo, presume-se que van Gogh tenha construído o seu mais famoso quadro usando elementos de algumas obras concluídas anteriormente e armazenadas em seu estúdio, bem como a delirante imaginação e a memória.

Van Gogh - Noite Estrelada


 Os especialistas nas tintas têm argumentado, por exemplo, que essa torre da igreja na aldeia é muito mais holandesa do que provençal, uma amálgama de várias torres de igrejas diferentes que van Gogh já teria pintado antes. Van Gogh compreendia, pelo menos nas suas cartas, a pintura como sendo um exercício de estilização deliberada, como escreveu para o irmão:

“Estes são exageros do ponto de vista da organização e suas linhas são controladas como as de xilogravuras antigas com seus contornos grossos e formas simplificadas”.

Como podemos ver, van Gogh estava ciente de que as suas composições estreladas eram surreais e estilizadas. Por outro lado, A Noite Estrelada evidencia uma observação prolongada de van Gogh do céu noturno. Depois de deixar Paris para áreas mais rurais no sul da França, van Gogh passava horas contemplando as estrelas sem a interferência do gás ou das luzes elétricas cada vez mais em uso no final do século XIX. Nas copiosas cartas ele poetava:

“A noite é ainda mais ricamente colorida do que o dia, colorida com violetas mais intensos, azuis e verdes. Se você olhar cuidadosamente, verá que algumas estrelas são cor de limão, outras têm uma cor rosada, verde, ou o fulgor azul dos miosótis. Pintar um céu estrelado não é colocar pontos brancos em azul ou preto”.

Parece que van Gogh, seguiu seu próprio conselho, pois a Noite Estrelada explode em uma variedade de cores nas sua texturas e pinceladas enlouquecidas. Sem dúvida, é esta rica mistura de invenção, lembrança e observação combinada com uso de linhas simplificadas, impasto grosso e cores ousadamente contrastantes que fez o trabalho tão atraente para as gerações subsequentes de espectadores. Inspirar e encorajar outros artistas é precisamente o que van Gogh queria alcançar com suas cenas noturnas que poderiam dar aos outros a ideia de fazer a noite melhor do que ele. Ao fim e ao cabo, o desejo do pintor foi atendido já que sua Noite Estrelada tornou-se uma imagem fundamental para o expressionismo.

Esse quadro é dominado pelo céu noturno cheio de estrelas, turbulento, agitado mesmo, em redemoinhos e espirais que parecem rolar por toda a sua superfície como ondas. O impacto desse céu é tamanho que nos é difícil, de saída, individualizar os elementos que crivam de luz o espaço pictórico. As onze estrelas amarelas são como fogueiras iluminando toda a cena em contraste com o céu que leva em uma incrível variedade de tons de azul e cinza. Há também a lua crescente no canto superior direito que irradia uma luz mais brilhante e mais laranja que as demais estrelas e Vênus, a estrela da manhã, à esquerda do centro, rodeadas ambas por círculos concêntricos de luz branca e amarela radiante.

Abaixo do céu monopolizador, mora uma aldeia silenciosa de casas humildes que cercam uma igreja, cujo campanário se eleva, acentuadamente, acima das ondulantes montanhas azul-quase-pretas no fundo. A vista para o céu, a noite e a aldeia são parcialmente bloqueadas por um enorme cipreste que tem uma qualidade contorcida e uma coloração verde muito escura, quase preta, totalmente alienígena em meio aos demais tons da tela relativamente pastel. Esse cipreste toma conta do primeiro plano da noite, cresce poderoso e quase alcança a borda superior da tela, fazendo uma ligação visual entre a terra e o céu.

Considerado simbolicamente, o cipreste poderia ser visto como uma ponte entre a vida, representada pela terra e a aldeia, e a morte comumente associada com o céu. De resto, convencionou-se que os ciprestes são árvores de cemitério e arautos do luto, pelo menos nas telas noturnas do Vincent.

“Mas a visão das estrelas sempre me faz sonhar,” van Gogh escreveu certa vez.

Ora, eu pergunto para mim mesmo, e se os pontos de luz no firmamento fossem tão acessíveis para nós como os pontos negros no mapa da França? Assim como nós pegamos o trem para ir para Tarascon ou Rouen, tomaríamos a morte para ir a uma estrela.”

Eu prefiro não espiritualizar A Noite Estrelada. As formas girando no céu, para mim são nebulosas da tempestade interna do artista. Não percebo nesta cena noturna qualquer caos mental, mas muito ao contrário, acredito que van Gogh estudou detalhadamente os céus noturnos da Provença, que planejou todo o cenário e que a ele chegou através de tentativas e erros pretéritos.

O fato da Noite Estrelada ter sido pintada a partir de uma imagem mental pode contribuir para que essa peça me passe uma sensação tão forte de deslocamento mental e intensidade emocional. É como se van Gogh não fosse capaz de conter seus sentimentos e que toda a sua angústia e paixão tivessem sido misturadas às tintas.

Ao fazer a lua e as estrelas surgirem tão grandes que até nos parece que o céu pode desabar a qualquer momento sob o peso delas ou que as estrelas estão prestes a mergulhar de cabeça no vilarejo, é como se van Gogh estivesse criando o seu próprio tipo de realidade e nela enfatizando o que era importante para ele, mesmo que isso resultasse em perspectivas distorcidas.

Ele dissera a Theo, que em vez de usar cores de forma realista, ele as usaria “mais arbitrariamente, a fim de expressar-me com mais força”.

Se eu tivesse que apontar, nessa tela, um espaço no qual van Gogh se encontra projetado, sem vacilar acusaria esse cipreste de folhas escuras que alastra seus galhos como serpentes do lado esquerdo da imagem. Ele nada tem a ver com o resto da pintura e perturba todo o equilíbrio daquilo que sem ele teria sido uma Noite Estrelada de contos de fada mas não uma obra prima.

Na sua “Sintaxe da Linguagem Visual” Donis A. Dondis jura de pés juntos que o olho humano normalmente favorece a área inferior esquerda de qualquer campo visual. Uma interpretação coerente é supor que van Gogh tenha deliberadamente pintado o cipreste em uma posição tão proeminente como uma representação da angústia interior que dentro dele também se contorcia, resultante da solidão de ver o mundo como ninguém mais via.

Como van Gogh mesmo nos esclarece:

“Nós podemos ter mais sucesso na criação de uma natureza mais excitante e reconfortante do que com esse discernimento nascido de um vislumbre da realidade.”

Apesar de toda a sua originalidade e exuberância, essa composição me parece equilibrada e é estruturada pela colocação consciente e milimétrica do cipreste inabalável porém curvilíneo e pintado da mesma maneira que o céu, com essas linhas leves que aumentam o fluxo da noite, em meio às nuvens que giram, as estrelas que brilham, a lua que se expande, todas elas com impressionantes fluidez e movimento.

É claro que na Noite Estrelada as formas e contornos são um meio de expressão e eles são usados para transmitir emoção e por isso mesmo muitos entendem que a luta de van Gogh para superar sua doença está refletida na escuridão do céu noturno e na aldeia pintada com cores escuras.

As janelas iluminadas criam uma sensação de conforto, a vila é pacífica em comparação com o céu noturno dramático e o silêncio da noite quase pode ser sentido. O campanário domina a aldeia e pode até simbolizar a unidade entre a cidade e a noite acima dela, mas em termos de composição passa uma impressão de isolamento. Os edifícios no centro da pintura são pequenos blocos de amarelos, laranjas e verdes com uma pitada de vermelho à esquerda da igreja. As casas são discretamente pintadas no canto inferior direito da pintura e se misturam muito bem com a floresta e as montanhas. A arquitetura da aldeia é simplória e sem qualquer fato luminoso a dar-lhe vida tem-se a impressão de que todos lá estão provavelmente dormindo.

A predominância do azul na Noite Estrelada é equilibrada pelo laranja dos elementos do céu noturno e pelos toques de verde no reflexo da lua. Van Gogh usou ainda o branco e o amarelo para criar um efeito em espiral e chamar a atenção para o céu. As linhas verticais, como as do cipreste e as da torre da igreja suavemente quebram a composição sem retirar qualquer brilho do poderoso céu, o dono incontestável deste show.

O certo é que o próprio van Gogh não deu maior valor a essa obra de arte excepcional, não só pela sua qualidade, mas pela raridade dentro da obra do artista, uma vez que em comparação com outros temas mais favorecidos, como íris, girassóis, ou campos de trigo, as paisagens noturnas são poucas. Van Gogh a mencionou a sua melhor Noite Estrelada brevemente em suas cartas como um “estudo da noite”.

Há várias interpretações da Noite Estrelada e uma delas é que essa tela retrata esperança, pois van Gogh nos teria expressado que mesmo na sua escura noite mental e trancafiado em um hospício, ainda lhe era possível ver a luz nas janelas das casas e estrelas brilhantes para guiá-lo. Outros lembram que durante anos a fio van Gogh dedicou sua vida à evangelização daqueles em situação de pobreza - a quem dava o salário, os alimentos e as próprias roupas - e acreditam que ele nos deixou uma mensagem religiosa refletida nas onze estrelas da pintura. Em Gênesis 37: 9 pode-se ler:

“E sonhou ainda outro sonho, e o contou a seus irmãos, e disse: Eis que sonhei um sonho a mais, e eis que o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam para mim.”

Parece-me que os que assim interpretam essa pintura não perceberam que nela não há sol (rsrs) e que nas pinturas, muito mais importante do descobrir o que o seu autor tentou dizer-nos, é o que a obra efetivamente diz a cada um de nós. Para mim, na Noite Estrelada de van Gogh, uma torre de igreja e um cipreste representam o homem - o que pinta e o que observa - e ambos falam sobre o vasto poder da natureza mas a reinventam enquanto apontam para Deus.
Essa Noite Estrelada escalou o Everest das realizações artísticas e as consequências dela são enormes. Tornou-se uma das imagens mais conhecidas na cultura moderna, bem como uma das mais replicadas e procuradas impressões. Da canção de Don McLean “Vincent”, inspirada pela pintura, a um número sem fim de produtos que ostentam esta imagem, é quase impossível se desconhecer, em qualquer lugar do vasto mundo, esta pintura surpreendente.

Pode-se começar a perguntar o que na pintura é responsável pela sua popularidade crescente. Para começo da conversa essa é uma cena com a qual todos podemos nos relacionar. O céu mantém os olhos do espectador prisioneiros e faz com que se desloquem sobre a pintura, seguindo as curvas e orientados pelas estrelas. Este movimento mantém o espectador envolvido com a pintura, o faz reconhecer a pequenina aldeia, ver as janelas iluminadas, resgatar memórias de seus próprios anos de infância cheios de imaginação e de outros céus estrelados. Trata-se de uma imagem universal, que fala ao coração humano.

Claro que para entender o seu estilo dessa pintura temos de olhar para a imagem maior: van Gogh como Hegel acreditava na supremacia da Arte, do “produto humano” sobre quaisquer produtos naturais, era convicto de que o espírito, mesmo ao produzir o maior dos absurdos, é superior à natureza que é cega, e pregava no que parecia ser um deserto que “a arte não é para imitar a forma, mas para criar formulário.”

Além disso, van Gogh tinha sido treinado em Paris por impressionistas, mas inaugurou uma nova era na pintura, tendo sido o primeiro dos pós-impressionistas da gema. Tanto o Impressionismo quanto o Pós-Impressionismo foram dois imensos e inovadores passos na história da arte. Embora ambas as tendências compartilhassem conceitos, os dois estilos foram bastante diversos quanto aos objetivos e as técnicas.

O Impressionismo, que deve a Claude Monet os seus primórdios, pretendia capturar um momento no tempo com a pintura, registrar a visão inicial de seu entorno, com objetividade pura. Embora variassem nas técnicas, todos os impressionistas  compartilharam a rejeição dos ideais românticos subjetivos e o impulso para registrar a realidade de um jeito moderno.

Já o Pós Impressionismo, que de saída pode ser definido como uma resposta ao Impressionismo, estava ligado ao desejo dos artistas de ir além de uma representação passiva da percepção. A ideia inaugurada por Monet da percepção imediata foi rejeitada por van Gogh, em favor do ponto de vista pessoal e original do artista de seus arredores. Em outras palavras, o Impressionismo foi filho da objetividade, enquanto o Pós Impressionismo foi cria da subjetividade, embora ambos falassem línguas vanguardistas.

Van Gogh era espiritual e romântico enquanto Cézanne pintava de forma mais intelectual e cerebral, mas ambos alteravam a realidade e perseguiram a auto expressão e cada um deles teve um estilo único, embora com perspectivas deliberadamente distorcidas. O Pós Impressionismo destruiu a ideia de “arte como uma janela” e deu o espectador um papel mais ativo, forçando o público a interpretar obras de arte, em vez de observá-las passivamente.

O que significa que os artistas deste período tiveram uma visão subjetiva do mundo visual e pintaram o seu mundo de acordo com suas próprias percepções artísticas.

Suas obras refletiam suas próprias personalidades originais e percepções. No caso de van Gogh, ecoaram ainda uma grande intensidade emocional. Ele gostava de pintar paisagens porque elas refletiam melhor a sua alma divorciada das fronteiras artísticas tradicionais. A Noite Estrelada é a personificação do estilo e da expressão única de van Gogh. Na verdade, peças como estas têm desempenhado uma grande influência sobre a arte moderna.

Mas essas belíssimas noites não são para mim anúncios da morte do artista. Veja o caso dos girassóis. Inicialmente, girassóis apareceram como pequenos detalhes nas paisagens de van Gogh. Então, em 1887, em uma série de quatro óleos, ele fez um estudo minucioso deles, enfatizando suas sementes, como símbolo de vida. As telas foram consideradas “risíveis” pelos críticos parisienses. E van Gogh continuou a pintá-los indiferente. Ele simplesmente gostava dessas flores.

Mas foi em Arles que o grande "período girassol" de van Gogh aconteceu. Ele estava tão satisfeito pintando seus girassóis que pendurou duas grandes telas no quarto de Gauguin, para saudá-lo quando, depois de muita relutância e atraso, o amigo chegou em 23 de outubro de 1888.

“Estou pensando em decorar meu estúdio com meia dúzia de pinturas de girassóis. Minhas pinturas são um grito simbolizando gratidão no girassol rústico.”

Van Gogh - Girassóis

Nessa versão, que hoje faz parte da coleção da National Gallery de Londres, van Gogh pintou quinze girassóis em um pobre vaso de barro contra um fundo amarelo em chamas. Algumas das flores são frescas e alegres, outras começam a murchar e a largar sementes, outras despencam tristes. Em parte a tela é uma meditação sobre os caprichos do tempo, mas a imagem confere um toque vivo, dinâmico, ferozmente colorido à longa tradição humana da pintura de flores.

O artista combinava os amarelos das flores em contrastes brilhantes, as formas e linhas das pétalas e dos caules lhe ofereciam renovados desafios, e no verão de 1888 ele pintava os girassóis de forma rápida e com grande energia e confiança. Escreveu ele ao irmão

Estou pintando girassóis com o entusiasmo com que como uma bouillabaisse Marseillaise!” (um ensopado de peixe provençal).

Van Gogh percebeu de imediato que tinha criado algo importante e apreciava o fato dos seus girassóis serem tão distintos ao ponto de funcionarem quase como sua assinatura de artista. Como ele disse a Theo, em janeiro de 1889: “O girassol é meu.” Portanto creio que a tela abaixo foi um dos bilhetes suicidas mais eloquentes de van Gogh.

Van Gogh - Girassóis Secos

Há uma extensa polêmica a respeito de qual teria sido a última tela de Vincent Willem van Gogh. Charles-Francois Daubigny era um dos pintores mais conhecidos da Escola de Barbizon. Mudou-se para Auvers por volta do ano 1860 e tinha lá uma casa que se tornara um ponto de encontro para muitos artistas. Van Gogh pintou o grande jardim em torno de sua casa várias vezes. Em julho de 1890, van Gogh completou duas pinturas do jardim e mencionou estas obras em uma carta a seu irmão em 23 de julho. Uma destas pinturas poderia ser a pintura final de Vincent van Gogh.

Alguns estudiosos acreditam, em vez, que Raízes de Árvores e Troncos foi a última tela pintada por ele.

Não importa qual das pinturas tenha sido, de fato, aquela derradeira. Todas as que mencionei aqui foram pintadas às vésperas de sua morte e, portando, influenciadas, em algum grau, pela decisão de van Gogh de acabar com a própria vida. Atualmente não existe nenhuma prova de qual das pinturas de van Gogh foi a definitiva. A menos que surjam novos dados, a questão permanecerá um mistério.

Van Gogh - Campo de Trigo com Corvos

Porém... Gosto de imaginar que tenha sido O Campo de Trigo com Corvos pois tenho certeza de que depois DISSO van Gogh teria abstraído.

Mais uma vez são imensas as leituras desta tela de van Gogh e elas vão desde as mais devotas às mais absurdas. Interpretações simbólicas podem ser muitas vezes interessantes, e, ocasionalmente, reveladoras, mas o excesso de “interpretação” de uma obra de arte coloca o espectador em risco de se perder na viagem.

As obras de Vincent van Gogh proporcionam a quem as observa uma gama incrivelmente complexa e bonita de assuntos para explorar e admirar. Suas cores são o produto de um contador de “estórias” de habilidade indescritível. Em vez de buscar respostas dentro dos campos de trigo ou no sussurro das asas dos corvos melhor é admirar a cor, a vitalidade e a harmonia turbulenta de cada pincelada. Os segredos intangíveis, se houver algum, estão dentro de nós.

“Eles são vastas extensões de trigo sob céus incomodados, a fim de tentar expressar a tristeza e a solidão extrema... Estou bastante certo de que essas telas irão dizer-lhe o que eu não posso dizer em palavras”.
Vincent van Gogh








12 comentários:

  1. 1)Parabéns Moacir, quedo-me estudando suas linhas com as linhas de van Gogh.

    2)Li alhures, não me lembro onde que, van Gogh era teólogo, vc confirma?

    3)Gravei até uma frase atribuída ao pintor que considero linda: "Eu tenho necessidade de religião, então, eu saio à noite e pinto as estrelas".

    4)Que bela profissão de fé que encanta os nossos olhos e as nossas mentes.

    5) Abraços. Antonio.

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    1. Moacir Pimentel27/09/2016, 14:38

      Olá, Antônio,
      Não, van Gogh não era um teólogo. Na verdade ele chegou a se preparar para fazer o exame de admissão para a Escola de Teologia em Amesterdam , mas se recusou a fazer a provas de Latim e foi reprovado.
      O que se prova é que o filho de um pastor luterano e de uma amante da natureza e aquarelista , teve a vida marcada por Jesus Cristo e pelo desejo de se tornar um pastor missionário e isto efetivamente ele se tornou, no sul da Bélgica, em um lugar para onde os pregadores eram normalmente enviados como punição. Ele pregou e cuidou dos doentes e ainda pintou os mineiros de carvão e suas famílias, que o chamavam de Cristo pois ele passara a viver com os pobres, a dar-lhes o salário e até as próprias roupas e a se apresentar praticamente como um mendigo, comportamento que a Igreja considerava inadequado e preocupante ,principalmente quando a coisa passou a ter um tom de martírio.
      Depois que reprimendas e castigos não resultaram em um comportamento mais "equilibrado", a Igreja Luterana se recusou a renovar-lhe o contrato e ele foi afastado das funções. Tentou continuar a pregar de forma independente por um curto período de tempo, foi também recusado pela Igreja Metodista, até que foi forçado a deixar as minas e encontrar outra fonte de renda.
      Ele então se afastou da religião pelo resto de sua vida mas procurou a fé cristã entre aqueles desencantados com a Igreja e foi atraído pelos escritos de Ernst Renan, de quem adotou muitas das filosofias mas se afastou quando Renan finalmente negou a divindade do Cristo.
      Há rumores sobre um abraço no misticismo oriental, no qual não acredito, por que não há nada nas suas caudalosas cartas que sequer sugira isso.
      Embora como pintor ele tenha rejeitado o uso das imagens cristãs tradicionais, à exceção das obras a Ressurreição de Lázaro, a Pietà, e a Parábola do Bom Samaritano já no final da vida, ele desenvolveu uma iconografia espiritual própria nesses ciprestes - segundo ele "mais belos que catedrais" - campos de trigo e céus estrelados.
      Abraço

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    2. 1) http://yukisekine.blogspot.com.br/2009/12/o-japao-que-van-gogh-sonhou.html

      2) Obrigado Moacir, eu tb já ouvi essa história do possível interesse de van Gogh por gravuras japonesas.

      3)No link acima o autor transcreve trecho de uma carta de van Gogh ao irmão Theo falando sobre pinturas japonesas ...

      4)Na faculdade uma professora de Filosofia dizia que o impressionismo ocidental tem traços japoneses ...

      5)Obrigado, de novo ! Antonio

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    3. Moacir Pimentel28/09/2016, 08:19

      Antônio, meu vizinho, se cabe a alguém é a mim e não a você, os agradecimentos por estarmos "conversando".
      Eu sou cuidadoso ao "traduzir" van Gogh.Você que é doutor em Literatura sabe que se lemos: "o rei morreu e depois a rainha morreu", estamos diante da História. Mas que se lemos, em vez, "o rei morreu e depois a rainha morreu de DESGOSTO" , trata-se de Poesia.
      No caso de van Gogh, por causa das cartas - quase mil só para o irmão Theo - a prosa não nos permite muitos versos. Van Gogh se referiu ao Japão mais de cem vezes na sua correspondência. E um fragmento dessas menções não deveria ser lido como o todo.
      O pintor foi profundamente influenciado sim pelas cultura e arte japonesas - no tempo dele a reclusão japonesa tivera fim e rolou o comércio entre o Japão e o Ocidente. Ele colecionou gravuras japonesas feitas com blocos de madeira - as ukiyo - juntamente com o irmão e Manet e Degas e Monet. Naquela época o Japão "viralizara" e , é claro, tudo isso pincelou o trabalho dos impressionistas. As centenas de peças dessa coleção de van Gogh moram no Museu de Amsterdam.
      No post A Luz da Provença eu falo das paixões nipônicas de van Gogh pois sem elas várias telas dele não teriam sido pintadas. No entanto o entusiasmo artístico de van Gogh pelo Oriente já diminuíra em julho de 1888 em favor do impressionismo, pois então ele escreveu ao irmão:
      "Felizmente, sabemos mais sobre os japoneses franceses, os impressionistas. Isso é, definitivamente, a essência e a coisa principal".
      Então termino onde você começou brilhantemente: quando ele tinha necessidade de Deus, saía à noite para pintar as estrelas.
      Abração

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  2. Flávia de Barros27/09/2016, 09:01

    Moacir,


    Estou escrevendo e ouvindo a música depois de ter passeado pelos quadros de Van Gogh no vídeo. Quadros falam tudo. Ele viveu muito além do seu tempo sofreu por isso e é comovente ver que a tristeza dele deixou o mundo mais colorido e estrelado.


    Que descanse em paz nas estrelas.

    Um abraço

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  3. Monica Silva27/09/2016, 10:06

    Moacir, de arte eu sei quase nada mas a Noite Estrelada dói de tão bonita e quem já olhou pro céu na praia de Lençóis no Maranhão entende um pouco de estrelas. Sabe o que é triste lendo os seus lindos artigos sobre Van Gogh? Imaginar a barra que não deve ter sido para este homem ver o mundo de um jeito que 'ninguém mais via'. Só podia dar no girassol que deu.

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  4. Caro Pimentel,

    Obrigado pelos artigos sobre este fenomenal Van Gogh, e que nos ensinam - a mim, pelo menos - observar esses talentos geniais com outros olhos, com mais amplitude, que não seja apenas a maestria de suas telas, o talento e vocação notáveis à pintura!

    Por outro lado, já sei o presente que vou te dar dia desses, até porque vou pesquisar para encontrar:

    A biografia deste pintor notável, Vincent van Gogh!

    Aliás, se tiveres uma sugestão de autor, por favor, me comunica.

    Um forte abraço.
    Saúde e paz, meu caro.

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  5. Dulce Regina27/09/2016, 18:08

    Olá Moacir. Mais uma bela esplanação sobre as telas de Van Gogh. Essa tela é uma das mais bonitas e expressivas dele- eu acho. No seu mundo conturbado Van Gogh consegue maravilhar-se com o céu estrelado e transmitir através das cores de sua tinta todo o esplendor capturado nessa Noite Estrelada. Cada detalhe explicado por você faz com que apreciemos quase que um céu real. Fico perguntado-me : Será que ele sentia calma nesses momentos ? Acredito que sim...e música dedicada a ele, fala-nos de sua libertação sentida quando ele pintava. Eu - como a música - gosto de imaginá-lo enlevado, calmo, numa relação direta com Deus., afinal de contas a natureza nada mais é do que o próprio Deus a nos falar. Abraços encantados, Dulce

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  6. Olá, Moacir. Van Gogh e você, dobradinha de sucesso. E um texto tào rico, que a gente vai da palavra para a imagem, para conferir, e volta para apalavra, e se perde, e começa de onde achou, um delicioso nunca acabar. Até mais.

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  7. Moacir Pimentel28/09/2016, 08:39

    Flávia, penso que sem experimentar toda essa agonia que adivinhamos nessas telas estupendas, van Gogh não teria pintado mas torço para que ele tenha alcançado as estrelas.
    Mônica, você botou o dedo na ferida: solidão é ver o mundo do nosso jeito apenas. Quando o vemos pelo olhar de mais alguém dá em... arte (rsrs)
    Caríssimo Bendl, tem um livro sim , e não é sobre van Gogh, que eu teria muito orgulho de colocar na minha estante. Mas trata-se de uma obra que jamais esteve à venda e me parece que , mesmo assim, a edição se encontra esgotada. Não tenho certeza do nome...mas a história acontecia dentro de um Táxi.
    Querida Dulce Regina, a linguagem desse gênio mais que a da Natureza era a da cor e foi com ela que van Gogh tentou expressar suas emoções. É a cor que nessas telas desenha e contorna, envolve e se distende em espirais sucessivas, num acordo rítmico com o secreto trabalho mental do pintor . Foi ela que o fragmentou. Eu sinto como se a morte o tivesse libertado tanto da realidade quanto da arte. Ou seja, como se a natureza e os seus aspectos, a vida e suas crueldades , enfim, tudo que não era invenção da cabeça dele , tivessem sido por ele abstraídos e representados com fúria,com um realismo sufocante e inexorável só dele , do qual nem mesmo o ato libertador da arte foi capaz de livrá-lo.
    Donana, me parece "bem bom" esse ir e vir por caminhos ora pretos no branco ora de variadas tintas. Afinal...
    "Caminante, no hay camino, se hace camino al andar"
    Abraços e muito obrigado a todos

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  8. Oi Moacir,
    devagar, quase parando, chego um dia atrasada.
    Para perguntar: o que há de verdade na história de miopia nos impressionistas?
    Para dizer: fiquei tão alegre por você ter encontrado um vídeo com novas pinturas, pinturas que meus olhos não conheciam.
    Abraço
    ofelia

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  9. Moacir Pimentel28/09/2016, 19:41

    Ofélia,
    Lembro que alguém na academia cogitou essa teoria há muitos anos atrás. Eu pessoalmente não acredito nela. Por várias razões. Apesar de se ter prova de que alguns impressionistas - Degas, Monet, Renoir e Pissarro - tinham problemas de visão, eles ocorreram bastante tarde em suas carreiras depois que tinham pintado por pelo menos uma década - ou duas em alguns casos - grandes pinturas impressionista.
    A miopia se caracteriza pela visão prejudicada somente à distância.Ela também não afeta a percepção da cor. Muitos míopes preferem ler sem lentes, inclusive. Ou seja, nada impediria tais artistas de ter a visão próxima e perfeita dos seus temas, se eles tivessem desejado capturar os detalhes que não podiam ver à distância.
    Eu diria que a catarata de Monet - um dos meus malucos preferidos - no final de sua vida, afetou sua pintura. Para melhor. Além dele, eu não me lembro de alguma vez ter ouvido dizer que Morisot, Sisley, Cézanne, Manet, Bazille e muitos outros tivessem problema de visão.
    Os pintores impressionistas pintaram consciente e deliberadamente e sabiam exatamente o que estavam fazendo: expressando a vida de um jeito diferente nas suas telas. Uma possível epidemia de miopia (rsrs) não seria um argumento forte o suficiente para banalizar a intenção das obras impressionistas.
    Um abraço para você

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