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11/10/2016

As Gravuras, O Monge e o Rei


Antonio Rocha

As duas gravuras que ilustram o artigo de hoje foram feitas por Heloisa Pires Ferreira, que se dedica às artes plásticas desde 1952, quando eu nasci. Ela era uma menina de nove anos. Belo dia, uma consagrada astróloga disse que o meu número cabalístico era nove e... coincidência ou não, em 1978 eu e Heloisa casamos...

As fotos são de Ravi. A primeira, “O Brasil de Cabeça para Baixo”, é uma técnica mista, aquarela e gravura em metal e data de 1989. Geralmente ela tira trinta cópias de cada matriz.

O Brasil de Cabeça para Baixo - Gravura de Heloísa Pires Ferreira - foto de Ravi


A segunda chama-se “Sol Mostarda” que faz parte de uma série com outras cores.

 
Sol Mostarda - Gravura de Heloísa Pires Ferreira - foto de Ravi

As leituras e interpretações podem ser muitas, mas eu vou contar o motivo do título.

Durante uns quinze anos nós éramos vizinhos de um monge budista do Sri Lanka, aqui em Santa Teresa, no RJ. Era o Venerável Vipassi Maha Thera. Venerável é a forma como os clérigos do Budismo Theravada (Ortodoxo) são conhecidos, Vipassi o nome monástico, que era o nome de um antigo Buddha e nos remete aos tempos imemoriais. Maha significa “grande” e Thera = “sábio” por ser ele um doutor em Budologia.

Monge Vipassi depois foi para Londres e por lá faleceu. Foi ele que fez o batizado da minha filha aos doze anos e depois o casamento, aos vinte e quatro anos. Mas ele tinha uma característica interessante, ele era “amigo” do Rei da Tailândia. Vez por outra almoçava conosco e claro, nessas ocasiões, o cardápio era 100% vegetariano. Esclareço que não sou vegetariano, inclino-me mais para a macrobiótica que aceita carnes brancas.

Belo dia o Venerável nos disse que havia sido convidado para o aniversário do Rei da Tailândia e estava indo para Bangkok. De presente queria levar duas gravuras da Heloisa e foi ele quem escolheu.

O mapa do Brasil de cabeça para baixo, pensei, é porque ele morava nesta curiosa Nação. Belíssima por um lado e de outro cheia de problemas sociais. E o “Sol Mostarda” talvez devido à cor da gravura que se aproximava da cor do manto que Vipassi usava.

Na volta, ele nos disse que o Rei gostou muito e as duas obras de arte da Heloisa integram hoje o acervo pessoal do Monarca, na capital, em Bangkok.

Vipassi nasceu no Sri Lanka, mas aos onze anos entrou em um mosteiro do Budismo Theravada Siam. Esta designação “Siam” indica que é uma linhagem que vem da Tailândia, pois o antigo nome da Tailândia era Sião.

E nas minhas reflexões pondero: será que o antigo Sião de que fala a Bíblia é a Tailândia budista?

Quem lê os Lusíadas, do grande poeta português Camões, sabe que o Sião do texto camoniano é a Tailândia, por onde os antigos descobridores portugueses andaram. Aliás, quando Vasco da Gama descobriu o Caminho Marítimo para as Índias, era o apogeu da Civilização Budista na Ásia que durou um milênio e, logicamente, Sri Lanka e Tailândia são até hoje países de maioria budista.

A aura do “Sol Mostarda” e toda esta série colorida da Heloisa me faz lembrar da concentração. E eu medito que a palavra con-centro-ação é: com = junto de; centro = equilíbrio e ação = atividade, agir. É a proposta do Caminho que o monge Vipassi nos ensinava. Em sociedade estarmos no equilíbrio, na equanimidade agindo, atuando em prol do coletivo. A mostarda eu ainda vejo como o alimento temperando os nossos almoços e as nossas conversas. Tem a parábola da semente de mostarda que eu conto em outra oportunidade.

O “Brasil de Cabeça para Baixo” ainda era do tempo do Cr$ e vemos este símbolo impresso no meio da gravura. Os círculos não são perfeitos, são arredondações lembrando que nosso querido País precisa muito equilibrar-se. Evitar extremos e seguir o Caminho do Meio, do Centro-Maturidade.



5 comentários:

  1. Moacir Pimentel12/10/2016, 18:47

    Antônio,
    Um belo post e uma boa história para nos apresentar os excelentes trabalhos da sua Heloísa que nos mostram o quanto companhia é determinante de caminhada. Lemos também um Brasil de ponta à cabeça sendo vivido e cuidado com paciência e carinho e um sol mostarda em "arredondações " equilibradas temperando todos os seus relatos.
    Queria eu ter fé como você , ser um homem de certezas e não de tantas dúvidas. Se eu acreditasse o faria como você faz : por inteiro! Não deu embora eu tente seguir pelo "caminho do meio" e
    entre as poucas certezas que tenho está a da espiritualidade humana.
    Porém não penso que nos Lusíadas, Camões estivesse falando só na Tailândia ao usar a palavra Sião. Ele também falava da Índia: “Ganges, no qual os seus habitantes / Morrem banhados, tendo por certeza/ De Sião largo o império tão comprido".
    Já no poema lírico Sôbolos Rios - uma paráfrase do salmo 137 como você nos lembra - penso que Sião representa um espaço mítico, a terra prometida, outra Ilha dos Amores , um local de encontro entre o divino e o humano. Sião é uma metáfora do paraíso e portanto mora no passado pois como dizia Jorge Luis Borges:
    "Não há outros paraísos senão os perdidos".
    Sião é , na poética de Camões, a maior pergunta sem resposta da espécie humana desde que ficamos de pé e nos surpreendemos com as estrelas:
    "Mas ó tu, terra de glória,
    Se eu nunca vi tua essência
    Como me lembro na ausência?"
    Abração

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  2. Antonio,
    Que lindo o Sol Mostarda, da sua Heloísa. Só tem artista aqui.

    Sabe que estou tão 'distraída', como diz o Moacir, que eu ia perguntar pra você onde estava , afinal, o 9 cabalístico.

    Loucura perde, não?

    Dê meus parabéns pra sua Heloísa. E parabéns pra você também.
    Abraço
    Ofelia

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  3. Olá Antônio,
    Lindas gravuras! Eu queria mesmo era morar no Rio e aprender muitas coisas com a Heloisa... Até mais

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  4. 1) Queridos:Obrigadão !

    2) Moacir valeu a bela dica do Sião = metáfora.

    3)Ofélia, o número cabalístico é que Heloisa tem 9 anos a mais do que eu.

    4)Ana, quando vcs aparecerem pelo Rio, apareçam aqui em casa, já falei com Heloisa e ela mostrará as gravuras, são muitas.

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  5. 1) Registro no tempo:

    2) Li ontem que o Rei da Tailândia, faleceu ontem, quinta-feira.

    3)Budisticamente falando: que ele seja muito feliz, na outra dimensão em que se encontra.

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