fotografia Dulce Regina |
Dulce Regina
Nos meus passeios, quando viajo, estou
sempre com minha câmera a postos. Numa manhã de fevereiro, em Campos do Jordão,
caminhava distraída, maravilhando-me com um jardim de amor-perfeito, olho para
o alto e surpreendo-me com uma haste grande e, acima de todas as flores,
vislumbro uma imagem inédita para mim. Exclamei: “Que lindo!” Fui logo procurando a câmera e, aí, percebi que não estava
lá. “Que azar!”, mas fiquei tranqüila,
pois iria passar por ali várias vezes. Tirei a foto com o celular, mas não me agradou.
Ao voltar à tarde, consegui fotografar a
mais bela de todas as flores, fiquei deslumbrada, pois ali, naquele espaço, ela
reinava sozinha, sem vestígios de que alguém a tivesse plantado. Solta,
reluzente, elegante. Seu caule esguio a erguia em direção à luz para que, dali,
fosse mostrado todo seu resplendor. Eram Lírios do Campo.
Aí pensei que deveria haver mais lírios
iguais àquele. Com os olhos atentos, fui olhando para o alto em cada jardim e,
para minha surpresa e alegria, havia mais e mais. Alguns ainda em botão que ao
longo da minha estadia na cidade foram se abrindo.
No dia seguinte, saímos de carro e reparo,
ao longo da estrada, lírios desabrochando, nas encostas em meio ao mato, em
caules esguios e solitários, mas sempre em número de três ou mais flores. Como
ali floresceram? Obra da natureza. Sementes trazidas pelo vento ou pássaros.
Não precisam de regas, de adubos. Simplesmente florescem em épocas certas, sem
precisar dos cuidados da mão humana.
A beleza descoberta estava em lugares mais
inusitados e isso fazia com que me apaixonasse mais e mais.
Visitamos o Parque Amantikir - Flores que
Falam - um jardim numa área extensa, bem arborizada, com cuidados próprios, com
plantas e flores de várias espécies, mas não avistamos nenhum lírio do campo.
Dali rumamos para visitar o Museu Felicia
Lerner, um dos raros museus a céu aberto onde ficam expostas oitenta e cinco
obras dessa artista plástica, espalhadas em trinta e cinco mil metros quadrados de
extensão. Esse museu e suas obras conquistaram o reconhecimento internacional,
expandindo os conceitos da escultura contemporânea brasileira. São quarenta e
três esculturas de bronze, quarenta de cimento branco e duas de granito que
expressam o interesse da artista pela natureza.
Já tínhamos visitado e apreciado essas
esculturas bem bonitas, mas, desta vez, elas tiveram um encanto maior: Estavam
adornadas pelos lírios do campo. Eles surgiam de todos os lados como miragem e
ao lado das esculturas sobressaíam muito mais.
fotografia Dulce Regina |
Olhai os lírios do campo , eles não fiam, nem tecem. Eu, todavia, vos
asseguro que nem mesmo Salomão, em todo seu esplendor, pôde se vestir como um
deles.
Esta passagem bíblica de Lucas – 12:27,
que está também no Sermão das Montanhas, onde Jesus nos fala- sobre a “Bem-Aventurança”,
leva-nos a uma longa reflexão. Pois ela começa com uma mensagem de alegria a um
povo oprimido e sem esperança para, logo depois, a mensagem endurecer. A
alegria prometida dependia do comprimento de regras e normas.
Termino com este convite de reflexão e com
uma bela poesia de Humberto Mandetta Filho:
Lírios
Meus olhos resolveram desejar aquele
lírio, aquela flor
Salpicada de delicadezas, simplesmente me
encantou.
Em meio ao verde, sua brancura salta e
reluz.
Seu cheiro raro me entontece, já nem sei aonde
vou.
O destino nos coloca de frente com coisas
simples.
De repente numa manhã como outra qualquer.
Você me aparece do nada, me inspira e me
faz criar.
Uma poesia para uma flor em forma de
mulher.
Lírios, lírios: nos campos, espalham um
mar de beleza.
Carregam em si toda força da simplicidade.
Deitam e se levantam ao doce sabor do
vento.
Tens o cheiro do amor e a fragrância da
felicidade.
Um raro encontro se dá assim, quando menos
se espera.
Uma flor que quando se abre, explode em
sensações.
Afasta todo mal a sua volta, com um
sorriso iluminado.
Une almas que nunca se viram, numa
sintonia de paixões.
Suas palavras me trouxeram a saudade do ar de Campos de Jordão, com o perfume e beleza de suas lindas flores. Quando se está lá, estamos dentro de um imenso jardim, transbordando beleza, amor e romance... Obrigada por me proporcionar reviver essas paisagens e viagens D. Dulce"
ResponderExcluirDulce, minha amiga , tenho por costume retrucar um poema com outro e este seu post é um poema , e as suas imagens são fotos-poemas.
ResponderExcluirE então parei e pensei...Tudo bem que Drummond afirmou que "os lírios não nascem das leis" mas fez isso entre homens partidos. Discordei da Gaita de Lata da Cecília que jura de pés juntos que "não nascem lírios de lua pelos corações de pedra". Nascem, sinsinhora! E , veja você, os seus belíssimos lírios nada têm a ver com os do Bandeira , que em vez eram "tristes e alvos , franzinos e inquietos, ansiosos e doloridos". Então pedi ajuda , mais uma vez, ao Affonso, que me empresta um texto com o mesmo recado das sua pretinhas e imagens :
"Ganhei duas crisálidas de borboletas. Aprendi a ver nesses casulos as asas que se desenharão em algum céu. Seguro nas mãos essas formas vivas disfarçadas de vegetal. Imagino o futuro dessas células. Mas tal imaginação não é privilégio só meu. No meu quarto, dependuradas num vaso de samambaia, duas crisálidas me contemplam a mim. Elas sabem, mais que eu, a que horas duas estupendas borboletas sairão do útero do tempo para esbaterem contra as vidraças do dia.
A trepadeira no terraço, que avança dois-três contímetros cada jornada, seguindo o fio de náilon do tempo, me ensina a direção das coisas. O vento sopra pelas costas de suas folhas e ela navega verde na pilastra como uma caravela reinventando seu concreto mar.
No entanto, dizemos: "está difícil", "a vida está dura", "assim não é possível", "esse país não tem mais jeito", mas no dia seguinte, amarfanhados, caminhamos junto ao mar para saudar a aurora.
Sábia é a natureza, nos dizem. Olhai os lírios do campo, eles passam a vida tecendo e fiando a manhã."
Abraço
Olá Monica. Obrigada pelo carinho, Campos do Jordão é isso mesmo perfume, beleza, amor, romance. Comemoro meu aniversário de casamento quase sempre lá, lugar bem propício para renovação da vida. E por favor me chame de você, afinal somos todos amigos nessa jornada. Beijos
ExcluirMeu amigo Moacir. Você é imbativel nos poemas e ter um comentário seu com um recado do Affonso, só me dá alegria. A mão de Deus através da natureza, nos faz esquecer das agruras da vida. Abraços
Excluir1) Fotos belas, poesia idem. Texto me transportou até os jardins, contemplando as flores.
ResponderExcluir2)Parabéns, justamente hoje, 04/10 = Dia da Natureza !
3) Concordo plenamente com o nome do Parque: Flores que Falam !
O título do artigo é muito bonito, que pertence também a um livro muito conhecido de um escritor gaúcho.
ResponderExcluirDulce narra com maestria a natureza, os lírios, e descreve a beleza e o encantamento das flores, das fotos, e termina com um belo poema.
O belo texto me traz à mente uma das passagens mais famosas do Novo Testamento:
“Olhai os lírios do campo que não fiam nem tecem.
E em verdade vos digo que nem Salomão em toda a sua magnificência, se vestiu com tamanho esplendor."
(Mateus, 6;28-29)
Parabéns, Dulce, escreveste um artigo primoroso, que somente a sensibilidade da mulher poderia tê-lo escrito.
Um abraço caloroso.
Saúde e Paz!
Olá Antônio. Olha a mão de Deus agindo falar dos LIrios no dia de São Francisco de Assis, só faltou alguns pássaros. Falarei em outra ocasião do Jardim Amantikir, que dependendo da estação as flores são diferentes. Abraço Oi Antônio. Obrigada pelo comentário e fiquei devendo a você na sua pauta das músicas de filmes- estava sem WIFI - estou aos poucos ouvindo-as. Abraço
ExcluirMãe, sua sensibilidade transparece no texto e nas fotos.
ResponderExcluirBeijo
Olá, Dulce. Nunca esqueça sua câmera nesta primavera florida. Nem no verão, nem no outono, nem no inverno. Até mais.
ResponderExcluirFábio, meu filho, você além de me dar forças ainda me elogia. Fico muito feliz de ter os filhos que tenho. Te amo ! Beijos
ExcluirAna querida, estou sempre atenta às maravilhas da vida. Beijos
ExcluirDulce, mais um texto maravilhoso, de muita sensibilidade, ilustrado com fotos lindas.
ResponderExcluirParabéns!
Bjs
Só uma pessoa com sua sensibilidade é capaz de descobrir esses lírios lindos.Amo Campos do Jordão. Parabéns!
ResponderExcluirParabéns Dulce. A sua descrição e as belas fotos dos lírios de Campos do Jordão nos trazem paz e felicidade neste mundo tão conturbado. Beijos
ResponderExcluirLindos lírios do campo, Dulce Regina.
ResponderExcluirHá quem tenha 'mão boa' para plantar. Você tem 'mão boa' para fotografar.
A primeira foto então é encantadora.
Quanto aos lírios, li um livro, já não lembro qual, que falava deles, dos lírios do campo. Tinha algo a ver com simplicidade e beleza. Mas não dá para abrir a cabeça e alcançar a lembrança, o pensamento.
E também me lembrei da mesma passagem bíblica de que nos fala o Bendl.
Estou econômica hoje, Dulce Regina, falando pouco. Acho que entrei na muda (trocando penas), tal qual os passarinhos.
Abraço
Ofelia
Ofélia, interessante a sensação que a gente sente ao encontrar, virtualmente, pessoas que a gente conhece de outros blogs. Poderia ser outra Ofélia, mas sei que é a Ofélia da TI, pelo seu estilo de escrever. Também encontrei o Bendl. Adorei este blog.
ExcluirOfélia, acho que o livro que você leu é "Olhai os lirios do campo" do meu ídolo gaúcho Érico Verissimo. Foi dele que tirei por empréstimo, Clarissa, de uma biblioteca pública. Olhai os lirios de campo é um dos famosos livros dele em que ele nos ensina que precisamos olhar os lirios do campo para nossa vida ter sentido. Ganhei mais um blog. Abs
Carmen (estou calculando pela assinatura que seja a Carmen Lins), bem vinda ao nosso blog. É a Ofélia da TI sim. Tem mais gente que você conhece aqui; como você já deve ter visto, a Dulce Regina é a Dulce Liporace da TI, o Antonio Rocha e o Moacir Pimentel escrevem aqui, e eu edito o blog e escrevo de vez em quando.
ExcluirWilson - Mano)
ExcluirParabéns, pelo blog. Estou sempre aqui, discretamente, me alimentando com os belos textos. As pessoas citadas, as conheço da TI. Obrigada, por me aceitar em seu blog. Abs
Olá Ana Maria, minha amiga. Obrigada pela sua amabilidade e sei que vc também gosta muito de Campos do Jordão. // Lúcia querida sua amizade é um estímulo para mim. // Ofélia. Eu citei a passagem da Bíblia em Lucas- 12:27, ela está tb em Matheus, no Sermão da Montanha e outros Livros do Velho Testamento. Olha OFELIA, passarinho qdo entra na muda, vai para o sol esquentar-se. Faça o mesmo para absorver ENERGIA que o sol nos dá de graça, enquanto se esquenta ouça uma música bem bonita. Beijos para vocês, MULHERES maravilhosas.
ResponderExcluirWilson Mano, por que meus comentários estão sempre com uma exclamação ! dentro de um triângulo? Desculpe-me perguntar, mas gostaria de saber.
ResponderExcluirCarmen, confesso que neste momento não tenho a menor idéia. Mas vou verificar e te digo. Quando souber respondo neste mesmo post.
ExcluirUm abraço do
Mano
Wilson mano
ExcluirAlém do triângulo e exclamação vem sempre, abaixo, responder excluir. Vou ficar apenas lendo, sem nada comentar, pois sou um "pequenino grão de areia", perante tantas sumidades intelectuais deste blog. Os comentaristas leitores, para mim, também são escritores. Não se preocupe em me responder. Obrigada.
Carmen, não pare de comentar, mesmo com este triângulo cabalístico seus comentários aparecem, e são bem vindos.
ExcluirMe diga uma coisa, ao comentar, você está usando qual opção, onde diz "comentar como"? É a onde diz "nome, url"?
Uso Carlins (Google)
ExcluirCarmen, experimente usar a opção "nome / url" em vez do Google, basta colocar seu nome.
ExcluirOK, Wilson. Obrigada.
ResponderExcluir