Despedida

Publicamos hoje, contra a minha vontade, contra todos os meus sentimentos, mas porque não posso negar isso ao meu amigo Chico, cuja decisão devo respeitar, sua despedida do nosso blog, que espero devotamente que seja temporária.

Francisco Bendl

Já dizia o filósofo:

“Mente sã em corpo são”.

Não sei se daria certo ao contrário, mente sã em corpo doente ou corpo são em mente doente, acho que não.

Ambos, corpo e mente, devem estar bem, então a dificuldade de se manter paralelos quando a idade avança e surgem as doenças, em consequência.

O corpo não acompanha a mente, que ainda fervilha, cria, imagina, sonha, planeja, mas interrompe seus devaneios quando percebe – a própria mente se dá conta - que seu aliado renunciou à função, desistiu, pois o físico frágil e alquebrado não pode mais conduzir a mente para onde determina, restando limitações e resignações.

Creio que jamais a minha mente esteve tão lúcida, tão produtiva, de acordo com os meus parâmetros, evidente, nada comparável às demais inteligências dos que frequentam e escrevem para este blog extraordinário, que me tornaram um admirador confesso dos textos postados com tanto requinte e sofisticação literárias, e narrativas de viagens inesquecíveis!

Diferente do meu caso, dos meus rabiscos, das minhas mal traçadas, que apenas me ajudam a suportar o dia, tornando-o mais rápido e menos doloroso.

Hoje, pela manhã, fui ao nefrologista.

Os meus rins estão em colapso.

Disse o especialista que, em trinta dias, se eu não melhorar, o meu destino é a Hemodiálise.

Uma tortura. A cada dois dias, com chuva, sol, neblina, frio, calor, inverno, outono, verão, primavera, domingos, feriados, carnaval, Páscoa, Natal, Dia da Criança, das Mães, dos Pais, dos Avós, Proclamação da República, Independência do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, Corpus Christi, Dia da Árvore, do Índio, feriados regionais, municipais... durante seis horas ligado por tubos que filtram o sangue, vínculos com a máquina sabe-se lá por quanto tempo.

Divorciados, o corpo da mente e, de forma litigiosa, tento descobrir uma maneira de conviverem em paz, sem maiores problemas, elaborando planos que a mente aceite a decisão corpórea, e o físico não dificulte mais ainda a inteligência encontrar meios para auxiliar essa dependência de um elemento estranho a ambos, a máquina cheia de tubos!

Quem irá tratá-la melhor, com mais carinho, a mente ou o corpo?

Ou quem irá se rebelar primeiro, o corpo ou a mente?

Não sei, mas pressinto uma certa rejeição inicial à prisão com intervalo de dois dias, uma revolta comigo mesmo por ter sido negligente com os “ronhão”, como os chamava uma tia minha, que me levaram para este estágio de ser humano meio homem, meio aparelho, que vai consumir o que resta do corpo e deteriorar o que ainda tenho de mente!

Nessas alturas, penso até que ponto a máquina ajuda, se terei mais problemas ocasionados pela intrusa que soluções, salvo um sangue limpo, porém com a cabeça e o corpo contaminados pela poluição de pensamentos pessimistas, ideias negativas, que me deixarão preocupado com o resto dos dias que terei e, se eu os tiver, por quanto tempo ainda.

Não é uma propriedade do ser humano a vida infinita, mas um de seus sofrimentos é saber que um dia desaparecerá e como se dará esta despedida!

Quando a vida é interrompida de surpresa não há o padecimento, porém ao saber da forma como poderá ter a sua existência interrompida porque gradativamente, aos poucos, então a tristeza, a cabeça baixa, a introspecção.

Este é o meu último artigo para este blog extraordinário, Conversas do Mano, pertencente ao meu amigo Wilson.

Agradeço, emocionado, a oportunidade que me concedeu ao publicar alguns registros que eu fizera quando motorista de táxi, e que me levou a conhecer e admirar o blog Conversas do Mano, e ter uma satisfação imensa ao ler as crônicas tão bem escritas ao longo desses meses por amigos e amigas talentosos.

Mas eu não tenho mais ânimo ou disposição para escrever, confesso.

A minha mente entrou em conflito com o corpo, que se nega a obedecê-lo no que ainda tenho de disposição, bloqueando raciocínios e temas que poderiam ser desenvolvidos.

Assim, só me resta encerrar o “expediente”, desejando a todos, indistintamente, muita saúde, exageradamente muita saúde, e vida longa!

Um forte abraço.

Muito Obrigado.