-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

03/10/2016

Conversando com o Reino Vegetal

Desert Garden - en.wikipedia.com - Commons


Antonio Rocha

A primeira experiência de se comunicar com o Reino Vegetal veio mais ou menos aos 14 anos de idade. Nessa época eu morava na cidade satélite do Gama, DF. E perto da nossa casa tinha um senhor amigo do meu pai, que era uma espécie de “faz tudo” = parte hidráulica, fiação elétrica, serviços de pedreiro etc...

Belo dia, em ensolarada manhã, o Faz Tudo, largou o que estava consertando, pegou a mangueira e foi regar uma goiabeira que tínhamos na frente da casa. Cena bonita, fiquei contemplando a refração da luz do sol que estava fraco, formou-se um arco-íris, nas gotículas de água aspergidas sobre a bonita árvore. Parecia um batismo por aspersão de água e a goiabeira começou a balançar, claro com o leve peso dos jatos de água.

Então o Faz Tudo, evito citar o nome do amigo, exclamou:

- Viu? – ela (a árvore) agradece e fica toda feliz.

Tempos depois li o livro “O Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro de Vasconcelos (1920-1984), infelizmente a crítica da época não entendeu, não gostou e falou mal do livro e do autor, mas ele, a meu ver, é um dos grandes autores da Literatura Brasileira, só este título “O Meu Pé de Laranja Lima” já vendeu, em 52 línguas, mais de 5 milhões de exemplares, foi vertido para o cinema, o teatro e a TV e conta a história de um menino que conversava com a árvore referida.

Desde então tive a convicção de que podemos e devemos conversar com os irmãos de outros reinos: vegetal, animal, mineral, seres visíveis e invisíveis... a vida fica muito mais bonita. Até porque São Francisco de Assis e Santo Antonio de Lisboa ou de Pádua faziam o mesmo. Costumo escrever assim, Santo Antonio de Lisboa em homenagem à querida Lisboa onde morei e tenho imenso carinho pela Nação portuguesa e foi a cidade onde o santo nasceu, e depois Pádua onde ele terminou o seu sagrado ministério espiritual.

Vamos dar linha na pipa (gíria de criança), isto é, ao sabor do vento, vamos deixar a pipa (o tempo) subir mais e mais rumo ao infinito céu. Deixemos o tempo caminhar e “eis-me aqui” (citação bíblica) em Botafogo, na minha queridíssima Igreja PL – Perfect Liberty, em bonita cerimônia, 2015.

Nas cerimônias PL – Perfeita Liberdade, chega um momento, em que os peelistas (praticantes) fazem depoimentos, contam suas vivências, experiências etc. E nesse dia eu falei da minha felicidade visto que, lá em Madrid, Espanha, acabava de nascer a minha netinha e eu descrevia essa Energia bela que é ser avô, uma alegria difícil de explicar, mas que eu agradecia a Deus, ao Criador, que em japonês nós chamamos de Mioyaookami (termo vem do multimilenar xintoísmo) o presentão da Vida. Minha esposa já estava lá, auxiliando e apoiando, eu iria mais tarde.

No final da cerimônia, muitos vieram me abraçar, cumprimentar e tal pelo testemunho, mas uma determinada sra sorrindo me disse:

- Que inveja santa, eu queria ter uma neta.

Expliquei para ela que podia adotar uma planta e a mesma fazer o papel de netinha. Quem mora em apartamento recomendo plantas, quem mora em casa e tem quintal sugiro pequenos animais domésticos.

- Mas a planta não vai me chamar de vovó, não vai me abraçar, me beijar...

- Vai sim! – respondi enfático e ficamos todos rindo.

Em tempo: sugeri à minha filha e ao meu genro que plantassem uma árvore pelo nascimento da filha e, não sendo possível, que na praça próxima “adotassem” uma árvore simbolizando minha netinha.

Meu mestre Buddha, nesta última vida terrena nasceu, atingiu a Iluminação (santidade) e desencarnou em bosques.

Gratidão, portanto, ao Reino Vegetal.



5 comentários:

  1. Oi Antonio,
    não lembro quando foi que li O Meu Pé de Laranja Lima. Era nova ainda. Mas o fenômeno que me aconteceu foi quase inexplicável. O livro mexeu tanto, mas tanto comigo, que botei uma toalha de rosto no ombro.

    Chorava sem parar com a história do menino e do 'Portuga'. Lágrimas abundantes, só uma toalha de rosto dava conta de secá-las. Já viu isso?

    Não sei onde foi parar o livro. Nunca mais reli. Difícil explicar o tamanho daquela emoção toda.
    Ah: e tenho conversado com minha velha plantinha, comigo desde os anos 70. Ela tem umas caídas e depois se recupera.

    Não conversava com ela. Agora dou um alô quando chego na cozinha.
    Bom dia, abraço
    Ofelia

    ResponderExcluir
  2. Olá, Antônio, abusando da sua generosidade budista com a qual fui acolhida, te mando pequena oração de uma atéia:

    Debaixo da folha
    Tem uma cor
    Da asa de um inseto
    De um resto de sol
    De um brilho da água
    Ou de um resto de flor?

    E debaixo da pedra
    Mora um som
    De terra amassada
    Ou de areia moída
    De lama ou de barro
    Amarelo, vermelho ou marrom?

    Até mais.

    ResponderExcluir
  3. 1)Ofélia, qto mais o tempo passa, mais eu gosto do livro "O Meu Pé de Laranja Lima". Uma grande obra literária.

    2)Ana, belíssima poesia. Natureza é Sagrada. Natureza é Buddha.Parabéns, escreva mais.



    ResponderExcluir
  4. Moacir Pimentel03/10/2016, 14:23

    Prezado vizinho,
    Nos últimos tempos , por precisão e não por boniteza, tenho lido muito sobre agricultura. Dia destes descobri que algumas plantas - uma delas é o agrião - possuem mecanismos de defesa química sofisticados e produzem enzimas ou óleos para afugentar insetos. Tem mais. Não sei em qual laboratório de primeiro mundo foi cientificamente provado que a produção do veneno dispara nas verdinhas quando sons de insetos mastigando folhas vira a trilha sonora no mundinho vegetal. O simples som de lagartas comendo é suficiente para alertar os prezados pés de agrião do perigo e , em seguida, para fazê-los produzir e liberar toxinas defensivas face ao suposto ataque inimigo iminente.
    Então a ideia de que plantas são capazes de responder de alguma forma ao som não é poesia. Se as conversas são boas para o crescimento delas é outra questão. Afinado como sou tenho certeza de que eu mataria de profunda dor de cabeça vegetal qualquer plantinha que adotasse ao fazer-lhe uma serenata(rsrs)
    Abração

    ResponderExcluir
  5. 1) Moacir, creio que as plantas vão gostar de ouvir uma serenata sua. Elas tem humor e, se por acaso, vc desafinar, elas saberão compreender que todos somos falhos...

    2) Elas vão aceitar de bom grado a sua "intenção" de presenteá-las com a música.

    3) Bons recitais.

    ResponderExcluir

Para comentar, por favor escolha a opção "Nome / URL" e entre com seu nome.
A URL pode ser deixada em branco.
Comentários anônimos não serão exibidos.