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Antonio Rocha
A
primeira experiência de se comunicar com o Reino Vegetal veio mais ou menos aos
14 anos de idade. Nessa época eu morava na cidade satélite do Gama, DF. E perto
da nossa casa tinha um senhor amigo do meu pai, que era uma espécie de “faz
tudo” = parte hidráulica, fiação elétrica, serviços de pedreiro etc...
Belo
dia, em ensolarada manhã, o Faz Tudo, largou o que estava consertando, pegou a
mangueira e foi regar uma goiabeira que tínhamos na frente da casa. Cena
bonita, fiquei contemplando a refração da luz do sol que estava fraco,
formou-se um arco-íris, nas gotículas de água aspergidas sobre a bonita árvore.
Parecia um batismo por aspersão de água e a goiabeira começou a balançar, claro
com o leve peso dos jatos de água.
Então
o Faz Tudo, evito citar o nome do amigo, exclamou:
- Viu? – ela (a árvore) agradece e fica
toda feliz.
Tempos
depois li o livro “O Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro de Vasconcelos
(1920-1984), infelizmente a crítica da época não entendeu, não gostou e falou
mal do livro e do autor, mas ele, a meu ver, é um dos grandes autores da
Literatura Brasileira, só este título “O Meu Pé de Laranja Lima” já vendeu, em 52
línguas, mais de 5 milhões de exemplares, foi vertido para o cinema, o teatro e
a TV e conta a história de um menino que conversava com a árvore referida.
Desde
então tive a convicção de que podemos e devemos conversar com os irmãos de
outros reinos: vegetal, animal, mineral, seres visíveis e invisíveis... a vida
fica muito mais bonita. Até porque São Francisco de Assis e Santo Antonio de
Lisboa ou de Pádua faziam o mesmo. Costumo escrever assim, Santo Antonio de
Lisboa em homenagem à querida Lisboa onde morei e tenho imenso carinho pela Nação
portuguesa e foi a cidade onde o santo nasceu, e depois Pádua onde ele terminou
o seu sagrado ministério espiritual.
Vamos
dar linha na pipa (gíria de criança), isto é, ao sabor do vento, vamos deixar a
pipa (o tempo) subir mais e mais rumo ao infinito céu. Deixemos o tempo
caminhar e “eis-me aqui” (citação bíblica) em Botafogo, na minha queridíssima
Igreja PL – Perfect Liberty, em bonita cerimônia, 2015.
Nas
cerimônias PL – Perfeita Liberdade, chega um momento, em que os peelistas
(praticantes) fazem depoimentos, contam suas vivências, experiências etc. E
nesse dia eu falei da minha felicidade visto que, lá em Madrid, Espanha, acabava
de nascer a minha netinha e eu descrevia essa Energia bela que é ser avô, uma
alegria difícil de explicar, mas que eu agradecia a Deus, ao Criador, que em
japonês nós chamamos de Mioyaookami (termo vem do multimilenar xintoísmo) o
presentão da Vida. Minha esposa já estava lá, auxiliando e apoiando, eu iria
mais tarde.
No
final da cerimônia, muitos vieram me abraçar, cumprimentar e tal pelo
testemunho, mas uma determinada sra sorrindo me disse:
- Que inveja santa, eu queria ter uma
neta.
Expliquei
para ela que podia adotar uma planta e a mesma fazer o papel de netinha. Quem
mora em apartamento recomendo plantas, quem mora em casa e tem quintal sugiro
pequenos animais domésticos.
- Mas a planta não vai me chamar de
vovó, não vai me abraçar, me beijar...
- Vai sim! –
respondi enfático e ficamos todos rindo.
Em
tempo: sugeri à minha filha e ao meu genro que plantassem uma árvore pelo
nascimento da filha e, não sendo possível, que na praça próxima “adotassem” uma
árvore simbolizando minha netinha.
Meu
mestre Buddha, nesta última vida terrena nasceu, atingiu a Iluminação
(santidade) e desencarnou em bosques.
Gratidão,
portanto, ao Reino Vegetal.
Oi Antonio,
ResponderExcluirnão lembro quando foi que li O Meu Pé de Laranja Lima. Era nova ainda. Mas o fenômeno que me aconteceu foi quase inexplicável. O livro mexeu tanto, mas tanto comigo, que botei uma toalha de rosto no ombro.
Chorava sem parar com a história do menino e do 'Portuga'. Lágrimas abundantes, só uma toalha de rosto dava conta de secá-las. Já viu isso?
Não sei onde foi parar o livro. Nunca mais reli. Difícil explicar o tamanho daquela emoção toda.
Ah: e tenho conversado com minha velha plantinha, comigo desde os anos 70. Ela tem umas caídas e depois se recupera.
Não conversava com ela. Agora dou um alô quando chego na cozinha.
Bom dia, abraço
Ofelia
Olá, Antônio, abusando da sua generosidade budista com a qual fui acolhida, te mando pequena oração de uma atéia:
ResponderExcluirDebaixo da folha
Tem uma cor
Da asa de um inseto
De um resto de sol
De um brilho da água
Ou de um resto de flor?
E debaixo da pedra
Mora um som
De terra amassada
Ou de areia moída
De lama ou de barro
Amarelo, vermelho ou marrom?
Até mais.
1)Ofélia, qto mais o tempo passa, mais eu gosto do livro "O Meu Pé de Laranja Lima". Uma grande obra literária.
ResponderExcluir2)Ana, belíssima poesia. Natureza é Sagrada. Natureza é Buddha.Parabéns, escreva mais.
Prezado vizinho,
ResponderExcluirNos últimos tempos , por precisão e não por boniteza, tenho lido muito sobre agricultura. Dia destes descobri que algumas plantas - uma delas é o agrião - possuem mecanismos de defesa química sofisticados e produzem enzimas ou óleos para afugentar insetos. Tem mais. Não sei em qual laboratório de primeiro mundo foi cientificamente provado que a produção do veneno dispara nas verdinhas quando sons de insetos mastigando folhas vira a trilha sonora no mundinho vegetal. O simples som de lagartas comendo é suficiente para alertar os prezados pés de agrião do perigo e , em seguida, para fazê-los produzir e liberar toxinas defensivas face ao suposto ataque inimigo iminente.
Então a ideia de que plantas são capazes de responder de alguma forma ao som não é poesia. Se as conversas são boas para o crescimento delas é outra questão. Afinado como sou tenho certeza de que eu mataria de profunda dor de cabeça vegetal qualquer plantinha que adotasse ao fazer-lhe uma serenata(rsrs)
Abração
1) Moacir, creio que as plantas vão gostar de ouvir uma serenata sua. Elas tem humor e, se por acaso, vc desafinar, elas saberão compreender que todos somos falhos...
ResponderExcluir2) Elas vão aceitar de bom grado a sua "intenção" de presenteá-las com a música.
3) Bons recitais.