Spock at console (imagem Wikimedia.com) |
Heraldo Palmeira
Tenho andado nas empresas e me assustado com o que encontro para
interlocução. Pessoas esforçadas, estressadas. Boa parte com formação sofrível,
sem traquejo e projeto profissional de longo prazo – parece pouco provável que
tenham algum para a vida pessoal. Quase sempre desanimadas, sem referências,
provocando perguntas diretas: para que tudo isso? Por que vivem assim? Aonde
pensam que vão chegar? Como sobrevivem sem resultados expressivos e presas a
uma mesmice enlouquecedora?
Ficaram viciadas em balbuciar jargões de línguas estrangeiras –
manifestação humilhada de gente colonizada –, copiar modelos que não nos
servem, se esconder atrás de diretrizes mal concebidas e produzir relatórios de
pouco sentido. Estão sempre ocupadas em reuniões intermináveis e rotinas
extenuantes.
Em boa dose, são vítimas de executivos capengas que elaboram tais
diretrizes e determinam dados para compor relatórios, escondidos atrás de
plaquinhas solenes, cargos pomposos e salas inacessíveis.
Os departamentos de comunicação e marketing, que deveriam oxigenar o
ambiente, respiram mal porque estão lotados de gente muito jovem sem qualquer
vivência mais profunda. Uma gente metida a tecnológica, deslumbrada, digna de
dó. Incapaz de elaborar algo relevante, gerar algum diferencial para a empresa.
Ao fim e ao cabo, tudo roda no limite curto entre cargos e pose.
Os da comunicação merecem poucas letras, exatamente porque conhecem
poucas letras. Não conseguem tangenciar a ciência que se meteram a estudar e
praticar com as necessidades cotidianas. Não desconfiam que a comunicação é
ferramenta poderosíssima para modificar cenários, impulsionar negócios e mudar
a vida das pessoas.
No marketing encontramos pessoas desprovidas de capacidade para fazer
uma análise conjuntural a respeito de qualquer coisa, por mais simples que
seja, de conhecer de fato o mercado em que atuam, os anseios reais dos clientes
e daí tirar estratégias de ação capazes de ampliar resultados, gerar
fidelização e diferenciar a empresa da concorrência.
Apesar do baixo nível de competência, estão encarregadas de decidir
sobre passos fundamentais para o negócio; de escolher que caminho seguir para
encontrar o futuro onde suas companhias buscarão garantir a sobrevivência.
Farão isso sem conhecer a fundo esse velho mercado que evoluiu num passo
a passo monopolista, patrimonialista, coronelista, paternalista, desleal,
antropofágico, homicida... Até que, no ambiente atual de crise e desespero,
tornou-se autofágico. E ninguém descarta seu potencial suicida.
Estão empoderadas – palavrinha ordinária que entrou na moda nos
ambientes corporativos –, apesar de completamente perdidas na escuridão da
ignorância, incapazes de enfrentar a autofagia reinante dentro e fora das
corporações. Terminam copiando os concorrentes nas “ações de marketing”,
jogando milhões no lixo porque não têm conhecimento, discernimento e capacidade
de inovar, de correr riscos, de fugir da mesmice. Uma clara comprovação de que
os inúmeros diplomas obtidos não passam de papéis voláteis.
Perderam a capacidade de ouvir, de tentar entender os desejos de quem
querem alcançar (o tal público-alvo que deveria, muito mais adequadamente, ser
chamado de público de interesse) e de planejar o que fazer a partir daí. Por
isso, soa extremamente oportuno um filme comercial da Adobe, onde os
departamentos de marketing são ridicularizados (veja aqui:
http://campanhasadobe.com.br/Analytics/).
http://campanhasadobe.com.br/Analytics/).
Para um mercado sem lógica, estrangulado pela falta de sabedoria, cabe
uma frase – que um amigo não cansa de repetir – do velho e querido Spock, da
série Jornada nas Estrelas:
“A lógica é o começo da sabedoria, não fim”.
Em tempo: esse marketing rasteiro transformou série (de televisão) em
franquia de entretenimento. Nada mais vazio. Como esse conceito tolo.
Oi Heraldo. Enquanto isso os competentes estão desempregados...muito triste ver nossos jovens na mesmice e sem nenhuma pespectiva de futuro, penso que a tecnologia está mais rápida do que o desenvolvimento do cérebro deles e aí não absorvem nada, ficam só na superfície. Abraços
ResponderExcluirHeraldo, essa situação tem vindo se desenvolvendo por muitos anos. Tem um pouco a ver com as deficiências do nosso sistema de ensino. Quando entrei para a escola de engenharia, cinquenta anos atrás, a maioria absoluta dos meus professores eram engenheiros de larga experiência que sabiam para que servia o que estavam ensinando. Quando, muitos anos depois, voltei aos bancos da escola para cursar economia e administração, já encontrei muitos professores que tinham se formado na mesma escola e imediatamente começado a dar aulas, com pouca ou nenhuma experiência da profissão para a qual estavam formando os alunos. Hoje, um aluno acaba de se formar num curso superior, entra imediatamente num curso de mestrado (sem o qual não é aceito para dar aulas) em que em vez de estudar aprofundadamente um assunto é estimulado a produzir uma multiplicidade de trabalhos intermediários porque a quantidade conta pontos para o ranking da escola, faz em seguida um doutorado, e torna-se um professor teoricamente capacitado mas que não tem a menor idéia da carreira profissional fora da academia, nenhuma vivência. Some-se a isso as deficiências do ensino básico, fundamental e médio, que fazem com que os alunos entrem nas universidades deficientes nas habilidades mais comezinhas e depreparados para pensar, e o caminho está aberto para a situação que você descreve. O Google, ferramenta poderosíssima nas mãos de quem sabe usar, eliminou nas novas gerações o hábito do raciocínio e criou a sindrome das soluções prontas sem avaliação crítica.
ResponderExcluirAcostumam-se a apertar botões de aplicativos sem saber como são gerados os resultados que obtém. Estão perdendo progressivamente a capacidade de pensar.
Pode parecer por este comentário que eu seja contra a tecnologia. De modo nenhum. Trabalho com ela desde o tempo dos grandes computadores que ocupavam salas inteiras. Aprendi muito ensinando-os a resolver problemas. Sou contra a cultura da facilidade sem nenhum esforço. Que vem progressivamente emburrecendo uma grande parte da população...
1)Concordo plenamente com o Heraldo.Com a Dulce e o Wilson.
ResponderExcluir2)Não sei o que dizer...
3)Fico então fazendo jogo de palavras, tentativas poéticas:
4)Empoderamentos ... Tormentos ... Empoderadas ... empoeiradas...
Sempre um observador atento... e o filme é ótimo.
ResponderExcluirAbração
Amigo velho das ribanceiras do Seridó e Acauã. Concordo pia e plenamente com você que está devidamente chancelado por Wilson Baptista. Quando falo nessa coisa de analfabetismo pós 64 as pessoas mas novas não conseguem entender.
ResponderExcluirSenti uma angústia muito grande. De machucar peito e fechar garganta. Transformado em filme, impactaria tanto quanto Laranja Mecânica!
ResponderExcluirLenta e interminável tortura, planejada e organizada para sufocar as almas dos impotentes adestrados desde o berço. Teria Sísifo uma alma? Ou seria esta a pedra que rola montanha acima?
Filmes de matanças, bangue-bangues e explosões são fáceis de causar impressão. Leva-nos a pensar a violência lááá longe. Você desenhou uma cultura genocida um tanto mais atroz.
Triste e absoluta realidade.
ResponderExcluir